Cuide de si mesmo, antes de cuidar dos outros

O autocuidado parece egoísta e incoerente, mas não é.

Christianity Today July 30, 2024
Illustration by Keith Negley

Aos 24 anos, quando eu era recém-formado no seminário e tinha me casado há apenas seis dias, comecei meu primeiro ministério como capelão hospitalar. Nunca tinha visto um cadáver antes. Não tinha experiência com luto e dor. Estava completamente fora da minha zona de conforto.

Assim que cheguei, fui brevemente recepcionado pela equipe do hospital, que me entregou quatro bips (dispositivos de notificação de mensagens populares nos anos 1980 e 1990) e me levou para conhecer as instalações. Poucos minutos depois, um dos bips começou a piscar e logo me vi em um quarto pequeno, cheio de pessoas descontroladas e gritando. Elas tinham acabado de ser informadas que a mãe havia morrido na mesa de cirurgia. Eu não tinha ideia do que fazer. Foi ali que fiquei cara a cara com a minha ansiedade pela primeira vez.

As semanas seguintes foram semelhantes. Não há nada como uma morte súbita, testes de medula óssea, crianças carecas e cirurgias de emergência para gerar ansiedade. Fiquei surpreso com o quanto tudo isso gerava ansiedade em mim.

Capelães entram em dezenas de quartos repletos de ansiedade todos os dias. Nós nos conectamos profundamente com estranhos, nos piores e mais íntimos momentos de suas vidas. Damos testemunho da presença de Cristo em meio a isso tudo. Como fazermos isso, dia após dia, sem absorver toda a ansiedade ao nosso redor? Como não contaminarmos o ambiente com a nossa própria ansiedade? Aquelas primeiras semanas como capelão revelaram uma grande inquietação que borbulhava sob a superfície da minha consciência. Isso afetava minha capacidade de estar presente e conectado com Deus e com as pessoas, em seus piores momentos.

No ano em que servi como capelão, fui apresentado à teoria dos sistemas, que ajuda especificamente a identificar a ansiedade — primeiro, em nós mesmos e, depois, nas pessoas ao nosso redor. Estudei mais sobre isso na pós-graduação e venho estudando e ensinando essa teoria desde então. Agora viajo pelo mundo ajudando líderes a aprenderem ferramentas para identificar seus próprios gatilhos, perceber quando estão reativos, em vez de conectados, e reconhecer os padrões de ansiedade que se desenvolvem em suas equipes.

Passei a ver a gestão da ansiedade como um caminho essencial para o bem-estar. É um trabalho complexo, pois a maioria dos líderes tem o foco tão voltado para a missão a ser cumprida ou para os outros que sente dificuldade em perceber a ansiedade em si mesmos. Eles não percebem com naturalidade quando estão sob o controle da ansiedade ou quando a estão absorvendo e espalhando por aí.

Depois de um turno particularmente exaustivo, durante meus dias de capelania, o médico responsável saiu do quarto de um paciente e me disse: “Quando o coração de alguém parar de bater, primeiro verifique seu próprio pulso”. Você provavelmente já ouviu um comissário de bordo dizer a mesma coisa com palavras diferentes: “Primeiro coloque a máscara de oxigênio em você, antes de ajudar os outros.”

Você não é capaz de ajudar outra pessoa, quando seu próprio corpo está faminto por oxigênio. Você não pode ser um servo eficaz para Deus, quando seus próprios gatilhos e pressupostos falam mais alto em seus ouvidos do que a orientação do Espírito.

E assim começou uma lição de vida que contrariava todas as minhas expectativas, uma lição que ainda estou aprendendo: primeiro, devo verificar meu próprio pulso, colocar a máscara de oxigênio em mim e me conectar comigo mesmo, antes de me conectar com os outros. Isso não é egoísmo; é o caminho mais rápido para prestar atenção ao que realmente está acontecendo, a fim de que eu possa entregar isso a Deus e relaxar em sua presença. Seguir esse caminho aumenta a chance de eu agir com base na força e no mover de Deus, e não com base na minha própria reatividade desenfreada.

Líderes equilibrados sabem o que está acontecendo sob a superfície. Eles sabem como focar nas dinâmicas entre as pessoas tanto quanto na missão em questão. São capazes de entrar em locais repletos de alta ansiedade ou de alta ambiguidade e, em vez de absorver e espalhar a ansiedade, descansar na presença de Deus. Eles são capazes de ouvir para aprender, e não para se defender ou para sair consertando tudo. Têm clareza a respeito do fardo que lhes pertence e precisa ser carregado por eles, do fardo que pertence ao outro e do fardo que pertence a Deus. (A maioria dos líderes assume responsabilidades demais. Carregamos mais do que Deus nos pediu para carregar.)

Líderes equilibrados conhecem e gerenciam seus gatilhos antes de uma reunião, para aumentar sua capacidade de conexão naquele momento. Eles se permitem ter uma estatura humana, em vez de tentarem ser sempre super-humanos. Não precisam provar nada a si mesmos nem parecer impressionantes e gerenciam o desejo de exagerar ou de se exibir. São capazes de ter uma conversa difícil com um crítico sem se tornarem defensivos ou agressivos.

Quando você percebe que não está bem, o que faz logo em seguida? Muitos de nós simplesmente continuam em frente, alguns até chegar ao burnout ou ao fracasso. Quando um pastor ou um líder não está bem e, ainda assim, oferece Jesus a alguém, pode causar danos colossais em nome de Cristo.

Pense nos líderes cristãos dos últimos oito anos que ofereceram Jesus, enquanto eles mesmos não estavam bem. É uma lista longa, dolorosa e que gerou graves consequências. Você teve uma experiência pessoal com algum líder cristão local que não estava bem, mas tentava proclamar a Cristo? O que teria sido diferente [nessa experiência], se esse líder tivesse primeiro verificado o próprio pulso?

Mas chega de falar dos outros. Deus nos convida a assumir as nossas próprias responsabilidades.

Eu apresento um podcast para a Christianity Today chamado Being Human [Sendo Humano]. Em uma das partes do podcast faço a cada convidado uma série de perguntas chamadas “Desafio: Perguntas sobre Ansiedade”. Como você pode imaginar, o título basicamente se vende sozinho. Uma das perguntas mais populares do desafio é: “Como você sabe quando não está bem?”

Aqui está outra: “Quem percebe que você não está bem, antes de você mesmo perceber?”

Mas a pergunta mais provocativa sobre o bem-estar não está no meu desafio. É uma pergunta que Jesus fez: “Você quer ser curado?”

Essa pergunta me incomoda desde a primeira vez que a li nas Escrituras.

Jesus estava em Jerusalém, para uma festividade, quando passou pelo famoso tanque de Betesda. Dizia-se que, se alguém conseguisse entrar no tanque quando a água se agitava, seria curado. Vou deixar que João continue a contar a partir daqui:

Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles esperavam um movimento nas águas. De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque, depois de agitada as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.

Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?” Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”.

Então Jesus lhe disse: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”. Imediatamente o homem ficou curado, pegou a maca e começou a andar. (João 5.3-9)

Note que o homem não respondeu apenas com um “Sim, quero, por favor”. Ele rebateu a pergunta de Jesus com uma espécie de desculpa. Penso muito nisso. Você quer ser curado? Em vez de dizer “sim”, tenho a tendência de dizer: “Deixe-me explicar minha situação.”

Acontece que minhas respostas cheias de ansiedade como líder muitas vezes são mecanismos de enfrentamento que uso desde criança. Há décadas, eles têm sido uma ajuda constante, mas insuficiente em tempos de dificuldade. Embora sejam pouco confiáveis, continuo a depender deles. Desvencilhar o que minha ansiedade me chama a fazer daquilo que Deus me chama a fazer é um trabalho difícil e lento. Embora atualmente eu ensine pessoas nessa área, em tempo integral, o bem-estar não é uma experiência corriqueira para mim. Exige intencionalidade, coragem e prática.

Você quer ser curado? Espero que sim. Estamos carentes de líderes cristãos que assumam a responsabilidade pelo próprio bem-estar. A liderança está se tornando algo cada vez mais complexo, e as pessoas parecem estar mais reativas e mais reservadas do que nunca. Precisamos de líderes que saibam como se conectar profundamente — com os outros, é claro, mas também com Deus e consigo mesmos, o que é ainda mais importante.

Fiquei surpreso ao descobrir que, às vezes, eu precisava me conectar comigo mesmo, antes de me conectar com Deus. Ao prestar atenção primeiro naquilo que estava acontecendo em mim, eu tinha mais para levar a Deus, mais para entregar a ele, mais para lhe confiar. Isso me ajudou a relaxar, a descansar na presença de Deus.

Duas superpotências na gestão da ansiedade são a percepção e a curiosidade. Se você aprender a perceber a ansiedade — em você e nos outros —, é menos provável que a assimile e a espalhe. Se você conseguir adotar uma postura de curiosidade, para consigo mesmo e para com os outros — mesmo com pessoas mais desafiadoras —, aumentará suas chances de estar bem. Aqui estão algumas perguntas que você pode se fazer:

Como sei quando estou ansioso?

Quem sabe antes de mim [que estou ansioso], e quais são os sinais?

O que me pertence e devo carregar, o que pertence a eles, o que pertence a Deus?

O que acho que preciso, mas na verdade não preciso?

Qual é a prática que leva cinco minutos ou até menos e me ajuda a relaxar na presença de Deus?

Nos últimos tempos, quando me senti completamente amado(a)?

Como uma pessoa de fé, seu bem-estar é um presente que você pode dar às pessoas que fazem parte dos seus círculos de convivência. Elas serão gratas, e isso as ajudará a estar bem também. Mas, decididamente, você vale o esforço necessário para ficar bem. Seu bem-estar também é importante para Deus. Espero que você possa fazer uma pausa e descansar na presença de Deus hoje.

Steve Cuss é o apresentador do podcast Being Human da CT.

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Books

Uma tentativa de assassinato no Brasil levou a política para dentro das igrejas

Jair Bolsonaro, o então candidato presidencial, foi esfaqueado um mês antes da eleição de 2018. De lá para cá, a polarização e o nacionalismo cristão só cresceram.

Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem uma vigília de oração em apoio ao candidato, após ele ter sido esfaqueado.

Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem uma vigília de oração em apoio ao candidato, após ele ter sido esfaqueado.

Christianity Today July 30, 2024
Suamy Beydoun / AP Images

Em 6 de setembro de 2018, véspera do Dia da Independência do Brasil, uma multidão carregava Jair Bolsonaro pelas ruas de Juiz de Fora, quando um homem se aproximou e esfaqueou o então candidato presidencial no abdome.

Bolsonaro foi levado às pressas para o hospital; a facada havia lesionado o intestino delgado e uma artéria próxima, causando forte hemorragia interna. Os ferimentos o mantiveram hospitalizado por mais de três semanas, durante o auge da campanha presidencial.

“Deus agiu e desviou a faca”, disse o filho de Bolsonaro, Flávio, horas após o fato.

Embora Bolsonaro não tenha saído do ataque à sua vida dando socos no ar e com um olhar desafiador, sua recuperação da tentativa de assassinato inflamou sua base e aumentou a quantidade de apoiadores, entre os quais se encontrava um número significativo de cristãos evangélicos que o levariam à presidência alguns meses depois.

Poucas semanas antes do atentado, pesquisas mostravam que 26% dos evangélicos brasileiros, o que inclui protestantes tanto de denominações históricas quanto neopentecostais, apoiavam Bolsonaro. Após o esfaqueamento, esse número subiu para 36%. No primeiro turno das eleições, em 7 de outubro, 48% dos evangélicos votaram em Bolsonaro, número que aumentou para 69% durante seu segundo turno vitorioso, em novembro.

Antes do incidente, Bolsonaro não tinha sido tímido em suas tentativas de cortejar o voto evangélico. O jornalista Ricardo Alexandre observa em seu livro E a verdade vos libertará: reflexões sobre religião, política e bolsonarismo:

Em agosto de 2018, durante uma entrevista à GloboNews, o então candidato declarou: “Eu sou cristão” e, sugerindo uma natureza sobrenatural para seu sucesso, continuou: “Olhe o apoio popular que estou tendo. Não é inimaginável que isso esteja acontecendo? Como eu consegui isso? Quando falo sobre ‘missão de Deus’, penso no seguinte: Qual será meu lema? Qual será minha bandeira? Então fui para João 8.32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.’”

Até o ataque, o apoio evangélico ao candidato havia sido amplamente manifestado durante a campanha e comícios — ou seja, fora da igreja. A separação entre igreja e Estado está consagrada na Constituição brasileira, e são vedadas todas as formas de propaganda política em quaisquer “bens de uso comum”, o que inclui igrejas. O apoio formal de uma igreja a um candidato pode resultar em uma multa para o candidato e para o líder religioso ou, possivelmente, até forçar um candidato a renunciar à corrida eleitoral.

No entanto, após a violência sofrida, o nome de Bolsonaro começou a ser invocado destemidamente nos púlpitos das igrejas.

“Para a maioria, era momento de trazer uma palavra de reconciliação entre os apoiadores de Bolsonaro e aqueles que se opunham a ele”, disse o sociólogo Igor Sabino, especialista em relações internacionais, que se lembrou de ouvir pastores ensinando sobre as Escrituras relacionadas ao apoio a autoridades governamentais, como Romanos 13, 1Timóteo 2 e o Salmo 72.

A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), a maior das organizações da Assembleia de Deus do país, organizou uma campanha de oração logo após o atentado, pedindo a Deus que “nos direcione a votar em homens e mulheres que estejam comprometidos não apenas com o bem e o futuro da nação, mas, acima de tudo, comprometidos com Deus e sua Palavra”.

Na Igreja Batista Atitude, que fica no Rio de Janeiro e é frequentada pela esposa de Bolsonaro, Michelle, os líderes pararam para orar pelo candidato, durante uma conferência que estava sendo realizada no mesmo dia do esfaqueamento, e os que estavam no santuário se ajoelharam.

Silas Malafaia, que lidera a megaigreja pentecostal Assembleia de Deus Vitória em Cristo, abordou a questão das eleições durante o culto da noite, naquele 6 de setembro, citando as palavras de Paulo em 1Timóteo 2.1-2 “que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade”.

Enquanto Bolsonaro se recuperava no hospital e, nos dias que se seguiram, em que fez aparições públicas, muitos cristãos que oravam pelo candidato ferido tornaram-se mais vocais sobre seu apoio a ele.

“As orações não eram apenas pela saúde de Bolsonaro em um momento de crise — algo que é obrigação de todo cristão”, disse Paulo Won, pastor da Igreja Presbiteriana Metropolitana de Campinas. “Eram orações por sua vitória. Do espectro pentecostal até as igrejas históricas mais tradicionais, a própria liderança estabeleceu uma direção muito clara em favor da candidatura dele.”

Parte desse fenômeno se manifestou em ação. Quatro dias após o atentado, um grupo de pastores que incluía a Coalizão Pelo Evangelho (filial brasileira da The Gospel Coalition) publicou uma carta aberta que parecia fazer referência a pontos de discussão da campanha de Bolsonaro.

Um dos pontos da carta, por exemplo, pedia a Deus para “frustrar todas as tentativas de fraude ao sistema eleitoral”. (Na época, apenas a campanha de Bolsonaro estava fazendo alegações de fraude em urnas de votação eletrônicas.) O documento também recomendava “rejeitar candidatos com ênfases intervencionistas nas esferas familiar, educacional, eclesiástica e artística”, refletindo as alegações que Bolsonaro e seus aliados faziam contra o partido adversário, o Partido dos Trabalhadores.

A carta foi amplamente compartilhada nas mídias sociais, sites e boletins de igrejas reformadas.

No mesmo dia do ataque, Malafaia, conhecido por suas profecias políticas, declarou em um vídeo postado em seu canal do YouTube que a tentativa de assassinato era na verdade “um sinal de que Bolsonaro deveria ser o próximo presidente do Brasil”, ecoando as palavras de apoiadores de Bolsonaro do lado de fora da igreja.

Vendedores ambulantes vendiam camisetas com o rosto de Bolsonaro e as palavras Ele sangrou por você, lembra Sabino. Brasileiros compartilharam memes de Jesus caminhando ao lado de Bolsonaro no hospital e de pé, ao lado dos cirurgiões que o operaram.

“Sua sobrevivência trouxe elementos de batalha espiritual para a campanha, como se houvesse evidências de um plano sobrenatural para ele, de que ele seria o ungido de Deus”, disse Sabino.

Para os apoiadores evangélicos de Bolsonaro, esse “plano” era Deus levantando alguém para “salvar o Brasil das garras de um governo esquerdista e ateu”, disse Victor Fontana, pastor da Comunidade da Vila, uma igreja reformada em São Paulo.

Aqueles que buscavam uma linha condutora messiânica se apegaram a qualquer coisa que parecesse dar maior significado ao ataque. “Isso foi tolice”, disse Fontana, em retrospecto. “[O ataque] não foi um ato moral. Ele não escolheu ser esfaqueado.”

As semanas entre o ataque e a eleição se tornaram uma “união do messianismo brasileiro com o nacionalismo cristão”, de acordo com o jornalista Alexandre. “Bolsonaro se apresentava como alguém enviado por Deus, um portador da verdade e da salvação para o Brasil. E quem se levantará contra o ungido do Senhor? Por essa perspectiva, votar contra ele seria o mesmo que se opor aos planos de Deus.”

Essa mentalidade impediu muitos cristãos brasileiros de examinar criticamente Bolsonaro como candidato, inclusive de refletir sobre seus aparentes endossos à ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 e sobre declarações que muitos consideraram misóginas e preconceituosas.

Em vez disso, depois que ele ganhou a presidência naquela eleição de 2018, os evangélicos raramente o criticaram durante seu mandato. Muitos se juntaram à invasão do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do palácio presidencial, em 8 de janeiro de 2023, apelando ao exército por um golpe militar, depois que Bolsonaro perdeu a eleição do ano anterior e a acusou de ter sido roubada. Vários manifestantes carregavam Bíblias, oraram antes de invadir o Congresso e cantaram hinos, enquanto eram presos pela polícia federal. Entre os detidos estavam pelo menos quatro pastores.

“Parece que muitos evangélicos no Brasil não entendem inteiramente como a democracia funciona, com a alternância natural de poder”, disse Won. “É como se a democracia não importasse, e o que importasse fosse a permanência do ungido de Deus.”

Seis anos após o incidente do esfaqueamento, alguns pastores agora questionam o que aconteceu. “Cometemos o erro de fechar os olhos para aqueles que se dizem cristãos, mas cujas ações estão longe de Cristo”, disse Ziel Machado, pastor metodista e vice-reitor do Seminário Servo de Cristo em São Paulo.

Líderes e fiéis evangélicos brasileiros poderiam ter defendido ideais democráticos em 2018, e nos anos seguintes, diz Daniel Guanaes, pastor da Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro. Ele acredita que incidentes como o esfaqueamento de Bolsonaro e o recente atentado a tiros contra o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, oferecem uma oportunidade para a igreja se posicionar contra a violência política, enfatizando como tais atos são antagônicos ao cristianismo e à democracia.

“Legalmente falando, são crimes; teologicamente, são pecados”, disse ele. Mas esse não foi o caminho que a igreja brasileira tomou. “Nós partidarizamos o atentado. E estávamos errados sobre isso.”

A igreja de Jesus Cristo não deve ser confundida com o movimento evangélico no Brasil (ou nos Estados Unidos ou em qualquer outro país), nem com o movimento social estudado por cientistas políticos, diz Alexandre, e misturar os dois trará repercussões negativas de peso para o crescimento da igreja.

“Essa identificação da igreja com uma facção política é o beijo da morte para o evangelicalismo brasileiro”, disse ele. “Isso ficará muito claro nas estatísticas de filiação religiosa nos próximos anos.”

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Books

Com ou sem penalidades, atletas falam de sua fé

O espaço público está cada vez mais hostil à religião. Mas não se espante quando atletas olímpicos transbordarem de agradecimento a Deus.

Christianity Today July 29, 2024
Bongarts / Staff / Getty / Edits by CT

As cerimônias de abertura das Olimpíadas são celebrações deslumbrantes de glórias nacionais e de união global. Mas, se além da abertura você assistir os jogos em si, notará um padrão incomum: verá que os atletas estão sempre falando sobre Deus.

Se você assistiu às eliminatórias olímpicas do mês passado, notará a mesma coisa. Atletas de todos os tipos continuamente deram crédito a Deus, muitas vezes em termos abertamente cristãos. Era quase como uma competição dentro da competição, para ver quem conseguia superar os demais em redirecionar os louvores para o céu.

Para mim, Sydney McLaughlin-Levrone, a estrela do atletismo dos EUA, venceu essa competição. Depois de quebrar o recorde mundial (de novo) nos 400 metros com barreiras femininos, ela respondeu à pergunta de um repórter desta forma: “Sendo bem sincera, louvado seja Deus. Eu não esperava por isso, mas ele pode fazer qualquer coisa. Tudo é possível em Cristo. Estou simplesmente espantada, perplexa e em choque.” O repórter deu um riso nervoso e passou para o próximo atleta das eliminatórias.

Não é novidade ver atletas agradecerem ao Senhor por seu sucesso. Mas assistir a essas demonstrações públicas de piedade me fez pensar: por que isso ainda é normal? A cerimônia do Oscar não pode ser confundida com um espaço para a igreja. Assim como também [não podem] os grandes encontros de escritores, jornalistas, músicos, investidores ou políticos. Os eventos esportivos parecem ser o último refúgio “aceitável” para a fé pública em nossa cultura secular.

Afinal, quase ninguém critica McLaughlin-Levrone e outros atletas que se professam publicamente cristãos por seus elogios. Isso é permitido. Os repórteres podem achar peculiar ou até mesmo bizarro, mas os atletas geralmente não são punidos por sua religiosidade. E, mesmo se fossem, fica claro que eles não se importariam. Em uma época em que a fé é menosprezada, ignorada ou relegada à vida privada, os atletas são assumidamente fiéis em público. Mas por quê?

Acho que o lugar por onde devemos começar é a natureza do esporte em si. A disciplina dos atletas é algo rigorosamente controlado, pois, quando o apito soa, nada está sob controle. É puro caos, contingência e acaso ao longo de todo o percurso da prova. Os céus se enchem de nuvens de chuva; a quadra fica escorregadia com o suor; a pista, porosa; a estratégia dos oponentes é imprevisível.

A variável mais importante é o corpo. Os atletas de ponta tratam seu corpo quase como uma entidade separada — dipensam-lhe cuidados, tratamentos, alimentação, descanso, confiança, e fazem dele alvo até mesmo de culpa. Um atleta que comete algum deslize, tropeça ou sofre uma lesão diz: Meu corpo falhou comigo. Sabemos o que isso significa. Quem pode prever, com absoluta certeza, quando um ligamento irá romper ou quando terá uma cãibra muscular?

No Jogo 1 das Finais da NBA de 2014, LeBron James — na época, o melhor jogador de basquete do planeta — teve que sair prematuramente devido a cãibras. Por quê? O estádio estava um pouco mais quente do que o normal. Ele era conhecido por pedir ar condicionado gelado onde quer que jogasse, tanto que os fãs especularam que o time adversário, meu amado San Antonio Spurs, manteve o local aquecido para ter uma vantagem competitiva. Seja verdade ou não, os Spurs venceram o jogo e a série, e tudo porque o jogador mais importante da liga não conseguiu evitar que seus músculos tivessem espasmos.

É com razão, portanto, que os atletas se voltam para Deus. Ninguém além de Deus é soberano. Não posso controlar o clima, mas ele pode. Não posso impedir que meu corpo falhe, mas ele pode. Até o vento e as ondas lhe obedecem (Mateus 8.27). Bolas de futebol e de softball não deveriam lhe obedecer também?

É por isso que os atletas, assim como os fãs, podem ser tão supersticiosos. Eles podem ou não acreditar em Deus, mas usam as mesmas meias em todos os jogos, esfregam estatuetas para dar sorte, comem a mesma refeição no mesmo horário do dia: é como uma mágica esportiva. Os “deuses do esporte” são bastante exigentes e podem ser apaziguados por meio de rituais complexos ou ficar irritados pela menor das transgressões. Invoca-se o “carma” para apóstatas, traidores e trapaceiros. Até mesmo um cético como Michael Jordan, depois de espiar os companheiros de equipe, se curvará à meditação Zen, desde que o técnico Phil Jackson prometa que isso os ajudará a vencer.

Para os atletas, Deus não está apenas no comando do momento. É ele quem governa a história. Isso é verdade para todos nós, em todos os momentos, mas os atletas de elite são visceralmente lembrados disso com uma frequência que poucos de nós experimentam.

Não deveria ser nenhuma surpresa, portanto, que um atleta vitorioso mencione nada mais do que Deus respondendo a uma oração. Ele contará ao mundo uma história — uma saga divinamente dirigida pelo dramaturgo celestial. E dirá: Eu nasci para isso; fui criado para fazer isso; esse resultado foi ordenado desde o início. Claro, ele pode estar influenciado pela emoção do momento. Lá no fundo, porém, ele está expressando sua fé na providência divina. É mais uma maneira de ser claro sobre o controle. Nenhum de nós tem controle, pois somente Deus o tem, e quanto mais cedo se reconhece isso, mais cedo é possível ter paz, quando se perde, e alegria genuína, quando se ganha.

Por fim, as competições atléticas são sobre nada mais do que glória. Homero disse justamente isso, há quase 3.000 anos: “Que maior glória acompanha um homem, enquanto vive, / do que a que ele conquista com pés que correm e mãos que lutam?” A glória brilha sobre o último homem que se mantém de pé, sobre a primeira mulher a cruzar a linha de chegada, sobre o time com a pontuação mais alta quando o jogo acaba. Os vencedores são celebrados com status, fama, dinheiro e aplausos. No entanto, o que os próprios vencedores parecem sentir? Alguns deles se pavoneiam e contam vantagem, mas muitos caem de joelhos e choram como crianças. Pergunte a eles o que sentem e lhe dirão: gratidão.

Visto de uma perspectiva secular, não faz sentido: mas você é grato a si mesmo? Você é quem acabou de fazer isso!

O que os atletas intuem, porém, é que, de alguma forma, essa conquista é verdadeiramente deles e é uma dádiva. Assim, eles agradecem a seus companheiros de equipe, a sua família e aos pais — especialmente à mãe — porém, mais do que a qualquer um deste mundo que tenha lhes dado algo, eles agradecem ao “Pai das luzes”, pois sabem que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto” (Tiago 1.17, RSV). Os atletas se esforçam além dos limites de sua capacidade e, no êxtase do triunfo, não podem deixar de declarar a verdade: Eu não pertenço a mim mesmo, mas pertenço — de corpo e alma, na vida e na morte — ao meu fiel Criador, o Senhor soberano.

Os esportes, assim como outras formas de arte, são canais potenciais de transcendência. É por isso que assistimos e admiramos os atletas. É por isso que os atletas às vezes não conseguem dizer por que fizeram determinada escolha em campo ou o que estavam pensando naquele momento. Eles mergulham tanto no fluxo, tão esquecidos de si mesmos, tão presentes para os companheiros de equipe e para as circunstâncias, que se perdem. A beleza que resulta disso, para eles e para nós, é maravilhosa. Nossa respiração fica presa na garganta. David Foster Wallace disse que assistir a uma partida de Roger Federer é “uma experiência religiosa”. Em certo sentido, ele não estava errado.

Isso deve ajudar a explicar a aquiescência ocasional de fãs e jornalistas seculares ao entusiasmo religioso inabalável dos atletas. Para muitos, acompanhar esportes é o mais próximo que eles chegam de uma liturgia. A observância — termo em si já religioso — é uma espécie de testemunho, e uma experiência que está longe de ser passiva: os fãs participam de forma vicária, indiretamente, por meio de gritos, vaias, palmas, pulos e cânticos. Os atletas, por sua vez, extraem energia, força e encorajamento desse relacionamento único.

Dito isso, há outras razões menos agradáveis pelas quais a fé dos atletas é tolerada entre a imprensa e o público não religioso. Uma opinião mais cínica seria que muitos jornalistas veem isso como o preço a pagar para cobrirem esportes. Eles devem fingir que ouvem o devoto falando sobre Jesus, antes de perguntar, pela enésima vez: “Então, o que estava passando pela sua cabeça, quando você deu aquele tiro?”

Essa não é a interpretação mais condenável, no entanto.

Às vezes, quando olhamos mais de perto, vemos em ação o que parece ser uma dinâmica hedionda. Em muitos esportes americanos populares, uma mídia cada vez mais privilegiada, irreligiosa e ainda majoritariamente branca escreve sobre uma liga majoritariamente religiosa, majoritariamente não branca, na qual relativamente poucos vêm de uma situação privilegiada. O resultado é um abismo entre jornalistas e atletas — seja ele marcado por classe, educação, raça ou por todas as opções anteriores. Nesse aspecto, os liberais estão certos e os conservadores estão errados: não se pode tirar a política dos esportes. E, ironicamente, isso nunca fica mais evidente do que quando se coloca Deus na conversa.

Para citar um exemplo memorável, alguns anos atrás, o jornalista esportivo Dave Zirin criticou o quarterback Russell Wilson por atribuir uma vitória a Deus, acusando que “jogadores de futebol americano falam de Deus como se Ele… fosse o Grande Treinador no Céu, anotando um roteiro de resultados como Vince McMahon, com um moletom largo e um fone de ouvido”. Se existe mesmo um Deus, Zirin acrescentou, “essa força todo-poderosa não se importa muito com futebol”. A gente se pergunta como ele sabe disso.

A cobertura foi igualmente desdenhosa quando o linebacker do Ravens, Ray Lewis, entrou para o Hall da Fama. O periódico Deadspin ficou perplexo com a convicção desse atleta de que Deus falou com ele e cuidou dele em meio à tragédia, e o SB Nation deu o seguinte subtítulo a uma seção que fala sobre a paráfrase que Lewis fez de Isaías 54.17 (“Nenhuma arma forjada contra mim prosperará”): “Armas, Deus, e coisas desse tipo”.

Criticar é um jogo justo, e os jornalistas não devem reprimir discordâncias substanciais só para serem educados. A ótica desses encontros não é das melhores, no entanto, e reagir à piedade dos atletas com escárnio ou fingida indulgência não é respeito nem tolerância. É um desprezo mal disfarçado — e uma revelação do enorme abismo que há entre o modo que nossa cultura secularizada pensa sobre a religião e o modo que atletas fiéis se veem em um mundo extasiado com Deus.

O fato adorável é que os atletas em questão parecem não se importar nem um pouco [com esse desprezo], o que é bastante libertador para aqueles de nós que os aplaudem e compartilham de sua fé. Eles são um exemplo, para todos os crentes, do que é ser alegre e descaradamente cristão em público.

Como muitos fazem na mídia esportiva, eu também costumava revirar os olhos para tais demonstrações de piedade. Aquilo me parecia fora de lugar, desnecessário, talvez até uma fraude. E talvez seja mesmo, às vezes. Mas eu tive de admitir que eu teria a inclinação de ficar de boca fechada no pódio dos vencedores — eu ficaria envergonhado demais para ser tão ousado sobre a minha fé. No entanto, essas irmãs e irmãos são totalmente destemidos. Eu, por exemplo, tenho algo a aprender com a atitude deles.

Brad East é professor associado de teologia na Abilene Christian University. Ele é autor de quatro livros, entre eles The Church: A Guide to the People of God [A Igreja: Um guia para o povo de Deus] e Letters to a Future Saint: Foundations of Faith for the Spiritually Hungry [Cartas para um Futuro Santo: Fundamentos da fé para quem tem fome espiritual].

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28 atletas cristãos por quem torcer nas Olimpíadas de Paris 2024

Conheça esportistas de alto nível do mundo todo que amam a Deus.

Christianity Today July 25, 2024
Illustration by Mallory Rentsch Tlapek / Source Images: Getty / WikiMedia Commons

Muitos amantes das Olimpíadas descobrem que seus atletas favoritos também amam Jesus por meio de postagens nas redes sociais ou de entrevistas que são feitas após sua performance bem-sucedida nas quadras, nas pistas, nos campos ou nas piscinas dos jogos. No entanto, a grande maioria dos cristãos que competem nas Olimpíadas não acabará no pódio.

Para muitos desses atletas, simplesmente conseguir participar dos Jogos será um testemunho de superação de lesões, de desafios de saúde mental ou do luto pela perda de entes queridos. Abaixo estão as histórias de atletas cristãos de 13 esportes e de 20 nações diferentes, todos ansiosos para inspirar orgulho em seus países — e em seu Senhor.

Reportagem de Annie Meldrum, Isabel Ong, Angela Lu Fulton, Franco Iacomini, Mariana Albuquerque e Morgan Lee.

Badminton

Anthony Sinisuka Ginting (Indonésia)

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Conhecido como o “matador de gigantes” do badminton, por derrotar os maiores astros do esporte, Anthony Sinisuka Ginting levou para casa a medalha de bronze no individual masculino de badminton, em Tóquio. Este ano, ele está de volta às Olimpíadas acompanhado de Jonathan Christie, jogador de badminton que é seu colega indonésio e também cristão.

Ginting nasceu em Cimahi, em Java Ocidental, e é de etnia Karo, um grupo étnico do norte de Sumatra, onde os cristãos representam 70% da população. Seu pai o apresentou ao badminton quando Ginting tinha apenas cinco anos, e ele passou, então, a competir aos nove. Daí em diante, ganhou medalhas e venceu inúmeras competições.

No Instagram, Ginting não esconde sua fé. Em uma postagem de março, ele mencionou ter terminado em segundo lugar, atrás de Christie, no All England Open, escrevendo: “Obrigado, Jesus, pela tua bondade. Tudo foi além da minha expectativa.” Em resposta, Christie comentou: “Juntos escrevemos a história que nunca imaginamos, Deus é bom em todo tempo.”

Basquete

Kayla Alexander, Canadá

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A jogadora de basquete da equipe canadense, Kayla Alexander, 33 anos, frequentemente escreve no Instagram e em seu blog sobre como Deus direcionou sua carreira. “Deus superou cada sonho que tive quando criança, de maneiras que nunca imaginei que fossem possíveis”, escreveu ela, em 2018.

A estrela do time já jogou na WNBA (Associação Nacional de Basquetebol Feminino) e atualmente está no time profissional espanhol do Valencia Basket — um lugar onde ela nunca imaginou estar, quando tinha 12 anos e não foi nada bem-sucedida em sua primeira tentativa de entrar no basquete. Em 2020, ela sofreu lesões no joelho que a deixaram fora das quadras e muito abalada. Mas sua fé em Deus a manteve motivada: “Infelizmente, acontecem coisas que não fazem sentido, não entendemos a razão ou o porquê, mas acredito que [Deus] faz tudo para o bem e a glória dele.”

Quando o Japão derrotou o Canadá, no torneio de qualificação para as Olímpiadas, Alexander pensou que suas esperanças olímpicas estivessem destruídas. Mas a equipe se recuperou, terminando em terceiro lugar e garantindo uma vaga na qualificação. “Deus disse que nossa jornada ainda não tinha acabado! Quando disserem que Ele trabalha de maneiras misteriosas, que esse episódio sirva de exemplo!” declarou ela.

Carlik Jones, Sudão do Sul

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Desde que se tornou uma nação independente, há 12 anos, o Sudão do Sul tem enfrentado conflitos e desastres humanitários. No entanto, neste ano, o país está enviando sua primeira seleção de basquete para as Olimpíadas, liderada por Carlik Jones, 26 anos, cujo sangue sul-sudanês vem da mãe.

Jones, que já jogou pelo Chicago Bulls e atualmente está no Zhejiang Golden Bulls, nasceu com uma condição cerebral que o afastou dos esportes competitivos por vários anos, pois uma concussão poderia deixá-lo gravemente ferido. Mais tarde, na segunda série, os médicos o liberaram para a prática esportiva e sua carreira no basquete começou a partir daí.

Jones frequentemente menciona Deus em suas redes sociais. “Estou colocando minha confiança e fé em DEUS, deixando Ele me guiar”, tuitou, em outubro de 2022. No mês seguinte, ele escreveu, “EU SOU EXTREMAMENTE ABENÇOADO, OBRIGADO, DEUS,” e no mês seguinte, “DEUS, VOCÊ É INCRÍVEL.”

Apesar da falta de experiência internacional de sua equipe, Jones acredita neles. “O Sudão do Sul é subestimado, seu povo é subestimado e nós como time somos subestimados”, disse ele, no ano passado. “Estamos apenas tentando colocar o Sudão do Sul no mapa.”

Boxe

Saidel Horta, Cuba

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Saidel Horta conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de Boxe de 2023 e garantiu sua qualificação olímpica na categoria peso-pena, no mesmo ano, durante os Jogos Pan-Americanos. Mas, em 2021, Horta havia cogitado se aposentar. Depois de perder um lugar no pódio da categoria juvenil, ele se perguntou se era bom o suficiente para competir no nível da elite do esporte. No final das contas, seu amor pelo boxe o motivou a continuar treinando, levando a seu forte desempenho em 2023, que culminou em uma vaga olímpica.

Com apenas 21 anos, Horta hoje é reconhecido como um dos defensores da estimada tradição do boxe cubano. Em uma foto nas redes sociais, o atleta está dentro do ringue com a mão levantada para o céu. A legenda da foto parafraseia o Salmo 121: “Meu socorro vem do alto.” Em outra postagem, ele escreveu: “Deus, toda honra e toda glória a ti.”

Ginástica artística

Aleah Finnegan, Filipinas

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Aleah Finnegan, 21 anos, é a primeira ginasta feminina das Filipinas a se qualificar para as Olimpíadas desde 1964. (Vários meses depois, Emma Malabuyo, outra ginasta filipino-americana, também se qualificou.)

“Obrigada pela oportunidade de representar este belo país… Deus seja louvado!”, ela escreveu na legenda de uma foto no Instagram em que segura a bandeira das Filipinas.

Finnegan é filipina por parte de mãe e representou os EUA de 2019 a 2021. Em 2021, ela se aposentou da ginástica de elite para competir em nível universitário na Louisiana State University. Um ano depois, ela mudou de nacionalidade, assumindo a nacionalidade filipina.

No Campeonato Nacional da NCAA (Associação Atlética Universitária Nacional) de 2024, as altas pontuações de Finnegan ajudaram a equipe de ginástica da Louisiana State University a conquistar o título de campeã pela primeira vez na história do campeonato.

“É OBRA DE DEUS!! SOMOS CAMPEÃS NACIONAIS!!” ela escreveu, celebrando a vitória. “Obrigada, Jesus, por nos permitir competir por algo muito maior do que nós mesmas.”

Brody Malone, EUA

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Depois de passar por uma terceira cirurgia na perna direita, apenas um ano atrás, as chances de Brody Malone para as Olimpíadas de 2024 não pareciam boas. Ele deslocou o joelho depois de uma aterrissagem malfeita que o deixou com uma fratura na tíbia e vários ligamentos rompidos.

Hoje, pouco mais de um ano depois, ele venceu a competição geral de ginástica dos EUA e está a caminho de sua segunda Olimpíada. Após terminar em quarto lugar na competição de barra fixa em Tóquio, ele tem como objetivo conquistar uma medalha em Paris.

Malone teve um processo de recuperação brutal — ele essencialmente teve de “reaprender a andar.” Sua vida pessoal também não tem sido livre de provações. Sua mãe faleceu de câncer em 2012, e em 2019, sua madrasta morreu de aneurisma cerebral.

Ainda assim, ele continua louvando a Deus.

“Eu só tenho que dar toda a glória a Deus,” disse ele, no início deste ano. “É tudo obra dele… Então, eu só quero agradecer a ele por isso.”

Judô

Geronay Whitebooi, África do Sul

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A judoca Geronay Whitebooi já passou por muita coisa na vida para poupar palavras. Quando recentemente terminou em segundo lugar no Marrakech Africa Open 2024, ela postou uma foto de si mesma, após o torneio, com uma expressão séria no rosto.

“Meu coração desejava a medalha de ouro, mas não era o plano que Deus tinha para mim hoje. DEUS é minha força e poder,” escreveu ela em uma longa postagem no Instagram. “DEUS está comigo e dentro de mim.”

Whitebooi, que também se qualificou para as Olimpíadas em 2021, ganhou vários títulos em torneios africanos e europeus. No entanto, para chegar a este ponto em sua carreira no judô, ela disse que teve de abrir mão de sua vida social e passar um tempo longe da família, especialmente quando enfrentou perdas trágicas de dois membros da família: seu pai, quando ela tinha 13 anos, e sua irmã, há dois anos.

“A medalha representa com orgulho mais um esforço que fiz para quebrar barreiras, mas é uma medalha para a qual olho com tristeza, porque deixei minha irmã orgulhosa, mas não estive presente o suficiente para minha família e para mim mesma durante esse tempo,” disse ela sobre sua vitória na Copa Europeia Sênior de 2022.

“Nossa dor tem um propósito,” ela escreveu recentemente. “Também podemos nos alegrar quando enfrentamos problemas e tribulações, pois sabemos que nos ajudam a desenvolver perseverança.”

Rúgbi

Siya Kolisi, África do Sul

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Siya Kolisi, capitão da seleção de rúgbi da África do Sul que venceu a Copa do Mundo por duas vezes consecutivas, agora lidera sua equipe nas Olimpíadas. Quando tinha 15 anos, sua mãe morreu, e teve uma infância marcada pela pobreza, o que o fez se questionar se conseguiria fazer uma faculdade. Mas, no ensino médio, ele foi descoberto e recebeu uma bolsa de estudos para jogar rúgbi.

Por vários anos, os esportes se tornaram sua prioridade, e ele deixou a tentação e o pecado influenciarem algumas de suas decisões. Embora sua avó o tenha criado como cristão, ele não se apropriou de sua fé até ficar mais velho. No entanto, quando sua luta contra o abuso de álcool veio à tona, ele chegou a uma conclusão: “Eu sabia que tinha de mudar de vida ou perderia tudo. Decidi perder minha vida e encontrá-la em Cristo.”

Kolisi dá créditos a sua fé quando lida com contratempos, entre os quais menciona uma ruptura parcial do ligamento cruzado anterior, explicando que seu “alicerce está em Deus” e que ele encontrou paz ao ler a Bíblia e orar. Ele e a esposa também lideram uma instituição que combate a desigualdade na África do Sul.

Jerry Tuwai, Fiji

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O jogador de rúgbi fijiano Jerry Tuwai, 35 anos, liderou suas equipes na conquista do ouro no Rio de Janeiro, em 2016 — a primeira vitória olímpica do país— e em Tóquio. Em ambas as vezes, Tuwai e seus companheiros de equipe se abraçaram em um círculo e cantaram o hino tradicional “We Shall Overcome,” ou, como é conhecido em Fiji, “E Da Sa Qaqa.” A letra diz: “Nós vencemos / Pelo sangue do Cordeiro / E a palavra do Senhor.”

“Sempre começamos… e sempre terminamos com nossas orações e canções. Essa canção diz que nosso Deus é um Deus amoroso,” disse Tuwai.

Tuwai cresceu em um dos distritos mais pobres nos arredores de Suva, capital de Fiji, e vivia em uma casa de um cômodo com paredes de chapa de ferro ondulado. Ele usava garrafas plásticas ou roupas emboladas como bola de rúgbi. Quando perguntado o que o fez ter sucesso no esporte, Tuwai creditou [seu sucesso] à disciplina e à dependência de Deus.

Em janeiro, Tuwai foi cortado do time de Rúgbi Sevens de Fiji, por não estar com o condicionamento físico esperado. Seis meses depois, foi anunciado como capitão da equipe para Paris — justo quando Tuwai pensava que sua carreira no rúgbi havia acabado. “Você tem planos, mas Deus tem outro plano para nós… talvez seja este e talvez seja o próximo grande evento,” ele disse. “Eu não sei. Só Deus sabe.”

Skateboarding

Rayssa Leal, Brasil

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Com apenas 7 anos, Rayssa Leal teve seu primeiro momento de fama, quando um vídeo mostrando a estudante de ensino fundamental vestida de fada e executando um heelflip perfeito foi compartilhado por Tony Hawk, um dos maiores nomes do skate mundial.

Aos 11 anos, Rayssa já competia internacionalmente e, aos 13, tornou-se a mais jovem medalhista olímpica do Brasil, ganhando a prata na categoria street skateboarding no Japão, em 2021. “Obrigada, Deus, por me dar a oportunidade de fazer o que eu amo!”, ela escreveu na noite anterior à competição.

Em dezembro passado, Rayssa alcançou a maior pontuação de sua carreira, na final do SLS Super Crown, em São Paulo. “Toda honra e glória a Deus”, escreveu ela. Hoje, aos 16 anos, a garota que frequenta uma igreja Batista em Imperatriz, no estado do Maranhão, está de olho no ouro.

Futebol

Rasheedat Ajibade, Nigéria

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Na final do torneio de qualificação olímpica, Rasheedat Ajibade marcou o gol da vitória — e o único — que levou a seleção feminina de futebol da Nigéria a Paris, em sua primeira participação nos Jogos desde 2008.

Ajibade comemorou sua vitória com uma camiseta que dizia: “Jesus Revelado, Jesus Glorificado, Aleluia”; na legenda de uma foto pós-jogo, ela escreveu: “SÓ A TI, SENHOR, SEJA TODA A GLÓRIA. O MANDATO CONTINUA CRISTALINO COMO ÁGUA.”

Apesar dessas declarações ousadas, Ajibade se vê como uma pessoa reservada e muitas vezes recorre a expedientes como pintar o cabelo de azul para expressar sua personalidade. Para ela, seu cabelo é uma referência às suas lutas contra a depressão na adolescência e um símbolo de seu encorajamento no sentido de que todos podem superar suas dificuldades de saúde mental.

Ajibade começou sua carreira profissional no futebol aos 13 anos. Em 2022, ela terminou como artilheira da Copa Africana Feminina de Nações. Ela também joga pelo Atlético de Madrid, que venceu a Copa da Rainha em 2023.

Apesar de seu sucesso, Ajibade continua atenta aos menos favorecidos em seu país. No ano passado, ela visitou uma favela em Lagos, escrevendo posteriormente: “Nossa missão era dupla: estender atos de bondade e compartilhar a luz do evangelho (Marcos 16.15).”

Taishi Brandon Nozawa, Japão

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Em um país onde apenas 1% da população é cristã, o goleiro de 21 anos do Japão, Taishi Brandon Nozawa, está comprometido em usar sua plataforma para compartilhar sua fé. Sua conta no Instagram mostra imagens dele no campo de futebol intercaladas com versículos bíblicos, reflexões sobre seus devocionais e uma canção de adoração.

Sob a imagem de uma citação de Charles Spurgeon “Seja uma Bíblia ambulante,” Nozawa escreveu: “Para os cristãos, a Bíblia é lâmpada e luz que ilumina o caminho que percorremos. No entanto, para aqueles que não leem a Bíblia, ela não é luz. Então, o que faremos? Devemos nos tornar uma Bíblia que é lida por nossos próximos e, assim, nos tornamos uma luz para eles!”

Nozawa, originário da província de Okinawa, joga pela seleção nacional do Japão desde os 14 anos. Em 2023, ele jogou pelo F. C. Tokio.

“Gostaria de expressar minha sincera gratidão por cada bênção que o Senhor preparou e colocou em nosso caminho nesta temporada,” escreveu ele em uma postagem no Instagram, no final do ano passado. “Mesmo quando os tempos são difíceis, quando as coisas não vão bem e fazemos coisas que desagradam ao Senhor, seu amor imutável é verdadeiramente maravilhoso. É por isso que adoro ao Senhor.”

Natação

Adam Peaty, Grã-Bretanha

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Adam Peaty venceu os 100 metros peito masculino nas Olimpíadas do Rio e de Tóquio, e também conquistou oito medalhas de ouro em campeonatos mundiais. Mesmo assim, o nadador britânico enfrentou grandes lutas pessoais, entre elas a depressão e o alcoolismo.

Ele se tornou cristão em 2022, depois que uma lesão no pé o afastou das piscinas. Ele começou a frequentar a igreja regularmente, após um encontro com o capelão Ashley Null, e essa nova rotina “parecia a peça que faltava no quebra-cabeça”, disse ele. Hoje, ele exibe uma grande tatuagem de cruz no abdômen, acompanhada das palavras “Into the Light” [Na luz].

Caeleb Dressel, EUA

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Caeleb Dressel diz que a tatuagem de águia em seu ombro faz referência a Isaías 40: “mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam bem alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam” (v. 31).

Considerado sucessor de Michael Phelps, Dressel está bem encaminhado para viver à altura dessa falma. Em Tóquio, ele levou para casa cinco medalhas de ouro.

No entanto, sua jornada nem sempre foi tranquila. Antes das últimas Olimpíadas, Dressel se viu lutando contra depressão e ataques de pânico. A pressão para estar à altura de um dos nomes mais conhecidos do esporte pesava muito sobre ele.

Mas sua fé o ajudou a sair dessa situação. “Eu realmente aprendi a ver a luz no fim do túnel e a confiar no que Deus está fazendo, seja um momento difícil ou um momento de sucesso em minha vida”, disse ele.

Georgia-Leigh Vele, Papua-Nova Guiné

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Quando recebeu a medalha de bronze nos 50 metros peito feminino, nos Jogos do Pacífico de 2023, Georgia-Leigh Vele, 25 anos, disse: “Eu estava esperando por isso. Você nunca sabe o que pode acontecer, mas eu tentei fazer o melhor e Deus fez o resto.”

Para Vele, ser atleta a levou a sentir gratidão e contentamento. “Rendo-me completamente ao Senhor com gratidão e louvor”, escreveu ela, no ano passado. “É uma coisa incrível quando você encontra aquele lugar onde sabe que pode estar e estará por causa d’Ele.”

A estreante olímpica competirá nos 50 metros livre em Paris, continuando o legado da família no campo da natação competitiva.

Taekwondo

Lolohea Naitasi, Fiji

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O taekwondo não foi o primeiro amor de Lolohea Naitasi. A jovem de 17 anos começou jogando netball, mas descobriu a arte marcial coreana em uma aula de educação física na escola, há três anos, e continuou praticando esse esporte após ganhar uma bolsa de estudos.

Ela conquistou uma medalha de prata em sua primeira participação nos Jogos do Pacífico, no ano passado, e a medalha de prata no torneio de qualificação deste ano garantiu sua vaga em Paris.

“A preparação para a Olimpíada não é fácil, mas quando você coloca Deus em primeiro lugar, tudo — tudo é possível”, disse ela.

Atletismo

Julien Alfred, Santa Lúcia

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“Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.” (Romanos 8.18). Julien Alfred, uma estrela em ascensão do atletismo de Santa Lúcia, por duas vezes escolhida a atleta do ano em seu país, destaca este versículo em seu perfil do Instagram.

Alfred conquistou a medalha de prata nos 100 metros rasos feminino, nos Jogos da Commonwealth de 2022. Em 2024, ela terminou em primeiro lugar na final dos 60 metros, no Campeonato Mundial de Atletismo Indoor [em pista coberta].

Enquanto se prepara para correr os 100 (e talvez os 200) metros, ela acredita que sua fé em Deus e seu trabalho árduo podem colocá-la entre as melhores. “Sou uma mulher de Deus forte e trabalhadora, e isso me fez quem sou”, disse ela. “É por isso que estou aqui hoje.”

Rasheed Broadbell, Jamaica

https://www.instagram.com/p/C72Ao0ARv3z/

O atleta jamaicano Rasheed Broadbell, 23 anos, destaca-se nos 110 metros com barreiras, tendo conquistado a medalha de ouro na prova dos Jogos da Commonwealth de 2022.

A performance notável de Broadbell criou expectativas para o Campeonato Mundial de Atletismo de 2023. Contudo, nas eliminatórias, ele bateu em várias barreiras e caiu.

Apesar desses desafios, Broadbell expressou gratidão a Deus. “Essa jornada tem sido uma montanha-russa até agora; [sou] grato por cada parte dela. Acima de tudo, só agradeço a Deus por me guiar em cada trecho dela.”

Refletindo sobre sua qualificação como corredor de barreiras para Paris, ele compartilhou no Instagram: “Abençoado por fazer parte da minha terceira seleção nacional, mas super grato por ter chegado a meus primeiros Jogos Olímpicos. Se eu tivesse que contar a história de como cheguei aqui sem os vídeos da corrida, pareceria insano, mas Deus continua a fazer seus milagres em minha vida e estou verdadeiramente honrado em mostrar o que o Senhor fez por mim.”

Olivia Lundman, Canadá

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Olivia Lundman, 21 anos, participará da primeira corrida de revezamento misto de marcha atlética da história das Olimpíadas, ao lado de seu companheiro de equipe e treinador, o medalhista olímpico Evan Dunfee. No evento de qualificação em abril, Lundman lutou nos últimos 10 quilômetros e vomitou duas vezes. Mas ela se forçou a continuar e terminou entre os 22 primeiros lugares para se qualificar para os Jogos. “Sinto-me incrivelmente abençoada por ter esta oportunidade e estou empolgada para a jornada que está por vir”, escreveu Lundman no Instagram.

Lundman também fundou o Beneath the Surface [Por baixo da superfície] para compartilhar histórias de jovens que convivem com desafios de saúde mental. “Aprendi a me abrir com os outros, a abraçar quem sou e a me apoiar na minha fé”, escreveu ela. “É algo em que ainda tenho de trabalhar todos os dias, mas sei que fui colocada neste planeta por uma razão.”

Durante um sermão em sua igreja, em novembro passado, Lundman testemunhou que a oração a ajudou em meio às suas experiências de depressão e ansiedade. “Quando eu estava lutando, costumava pensar: Deus, por que você me abandonou? Onde você está? Não percebi que, durante esses momentos de luta, ele era o único que me fazia seguir em frente e me carregava a cada dia.”

Sydney McLaughlin-Levrone, EUA

https://www.instagram.com/p/C71lLUXuhAo/

Sydney McLaughlin-Levrone quebrou seu próprio recorde mundial por três centésimos de segundo, nas provas olímpicas dos EUA, em junho, correndo os 400m com barreiras em 50,65 segundos. Sua performance a distanciou da segunda colocada por quase dois segundos.

McLaughlin-Levrone estabeleceu o recorde mundial dos 400m com barreiras cinco vezes desde 2021. Em Tóquio, ela trouxe para casa duas medalhas de ouro, uma nos 400 metros com barreiras e outra no revezamento 4×400. Em 2022, a World Athletics a escolheu como atleta do ano, ao lado do saltador com vara sueco Mondo Duplantis.

Enquanto redefine os limites de seu esporte, McLaughlin-Levrone sempre aponta para sua fé. “Louvado seja Deus”, disse ela, após estabelecer seu recorde em junho. “Eu não esperava isso. Ele pode fazer qualquer coisa. Tudo é possível em Cristo.”

McLaughlin é extremamente expressiva sobre sua fé, agradecendo a Deus e dando-lhe glória em quase todas as entrevistas que fez em sua carreira atlética vitoriosa. Sua conta no Instagram está repleta de versículos e citações extraídas de livros cristãos. Entre os destaques do seu Instagram estão trechos de suas passagens favoritas da Bíblia e fotos de sua Bíblia com passagens sublinhadas e anotações pessoais.

Tarsis Orogot, Uganda

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Os corredores de longa distância de Uganda colocaram o país no mapa como uma potência do atletismo. Este ano, Tarsis Orogot pode tornar seu país famoso nas provas de velocidade. Estudante na Universidade do Alabama, o recordista nacional dos 100 e 200 metros se descreve como “apenas um garoto com um sonho.” Mas suas fortes atuações no Campeonato de Atletismo da NCAA podem transformar esse sonho em realidade.

Fora das pistas, Orogot é conhecido por sua paixão por meias e diz que geralmente leva 15 pares para as competições, incluindo meias com estampas do Sonic, Bob Esponja e Vingadores. “Quando corro mais rápido, geralmente estou usando as meias com asas,” disse ele ao Olympics.com.

Apesar desse lado brincalhão, quando seus treinos o levaram a se mudar de Uganda para o Quênia, e depois para os EUA, ele escreveu: “Toda glória e louvor ao Deus altíssimo.”

Marileidy Paulino, República Dominicana

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Ao contrário de muitos atletas profissionais que começam suas carreiras na infância, Marileidy Paulino, representante da República Dominicana no atletismo, começou sua jornada aos 19 anos como uma forma de sustentar a família.

Uma ex-corredora descalça, Paulino se tornou medalhista olímpica de prata nos 400 metros individuais e no revezamento 4×400 (Tóquio 2020). Além disso, ela conquistou três medalhas nos Campeonatos Mundiais de Atletismo.

Em 2021, Paulino chamou atenção por uma mensagem em seus tênis: “Deus é minha esperança. Amém.” Mais tarde, uma imagem da atleta segurando a bandeira da República Dominicana e a Bíblia foi um dos momentos mais marcantes dos Jogos de Tóquio.

“Carrego a Bíblia comigo porque tenho fé em Deus e Ele tornou possível eu conquistar essa medalha,” explicou. “Dedico-a ao povo dominicano e os incentivo a acreditar em Deus porque só Ele é nossa esperança.”

Yemisi Magdalena Ogunleye, Alemanha

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Yemisi Ogunleye é uma arremessadora de peso da Alemanha cujo perfil no Instagram declara audaciosamente: “NÃO EU, MAS JESUS EM MIM.” Ogunleye conquistou uma medalha de prata no Campeonato Mundial Indoor deste ano, com seu recorde pessoal de 20,19 metros, além de ter levado prata em duas outras competições europeias e bronze no Campeonato Europeu.

A fé de Ogunleye a sustentou tanto em períodos de lesões quanto nos de sucesso. “Sou amada do jeito que sou,” disse ela. “Com ou sem medalha, tenho valor.”

Filha de pai namibiano e mãe alemã, Ogunleye já falou sobre ter enfrentado comportamentos racistas. No entanto, ela permaneceu fiel a Deus e ao chamado dele para sua vida. “Sei que Deus preparou o caminho, assim, toda a glória seja dada a Jesus,” disse ela.

Vôlei

Micah Christenson, EUA

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Conhecido como o “Homem de Aço” nas quadras, Micah Christenson está pronto para seus terceiros Jogos Olímpicos. Como atleta que compete contra os melhores do mundo, o levantador aprendeu a gerenciar seu próprio estresse quando joga.

“Sou cristão,” disse ele. “Acredito em Deus e sei que conquisto muita liberdade por essa minha fé em Deus. Quando estou lá [na quadra], eu me sinto livre para tomar diferentes decisões e correr um pouco de risco porque sei onde está minha identidade e que o amor sempre estará lá.”

Pai de três filhos, Christenson disse que a experiência de ser pai o ajudou a construir relacionamentos mais próximos com seus colegas de equipe que também são pais. Ele acrescenta que ter filhos lhe deu uma nova perspectiva sobre o esporte e que está empolgado por vê-los assistir o pai competindo este ano.

Nyeme Nunes, Brasil

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Nyeme Nunes é carinhosamente chamada de “doutora Nyeme” pelos fãs brasileiros. Esse apelido não é um elogio às suas conquistas acadêmicas, mas um testemunho de sua habilidade nas quadras — ela gerencia a equipe toda, como um médico cuidando de um paciente.

Nyeme começou a jogar vôlei aos 9 anos, por influência da mãe, que a levava para praticar o esporte nas ruas de sua cidade natal, Barra do Corda, no estado nordestino do Maranhão. Aos 13 anos, ela já fazia parte de um time adulto. Desde 2015, ela joga pela Seleção Brasileira e conquistou várias medalhas de prata com a equipe. Em 2017, ela foi escolhida a melhor líbero do Campeonato Mundial Sub-20.

Nyeme celebrou suas conquistas postando versículos bíblicos em suas redes sociais. Após vencer o Campeonato Sul-Americano de Clubes este ano com seu time, ela compartilhou o Salmo 147.11: “O Senhor se agrada dos que o temem, dos que depositam a esperança no seu amor leal.”

Levantamento de peso

David Liti, Nova Zelândia

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Após uma temporada desanimadora em 2017, David Liti conquistou a medalha de ouro nos Jogos da Commonwealth de Gold Coast, em 2018, quando levantou um total combinado recorde de 403 quilos. Surpreso com a vitória, ele chorou no chuveiro por uma hora, perguntando a Deus o que ele estava tentando lhe dizer.

O atleta tonganês-neozelandês percebeu que nunca esteve sozinho. “Deus me deu todos esses desafios para que eu pudesse melhorar, para que eu pudesse estar pronto quando ganhasse,” disse ele.

Liti competiu em Tóquio, ficando em quinto lugar no levantamento de peso na categoria de 109 quilos. Para os próximos jogos, o atleta de 27 anos brincou que espera ficar conhecido como um “comedor profissional de croissants” durante sua estadia. Ele também afirmou: “Sou abençoado por fazer o que amo com todo o meu potencial e estou animado para ir lá e representar todos que fizeram parte dessa jornada.”

Don Opeloge, Samoa

https://www.instagram.com/p/C3_voTLRTc0/

Depois de estabelecer um novo recorde nos Jogos do Pacífico do ano passado, e ganhar ouro na categoria masculina de 102 quilos, a primeira coisa que Don Opeloge fez foi agradecer a Deus por lhe dar força. O atleta de 25 anos atribuiu seu sucesso a Deus: “Eu só queria louvar a Deus por me dar a força e a confiança que me guiam a fazer o meu melhor para conquistar essas medalhas de ouro para Samoa.”

Opeloge planejava competir em Tóquio, mas não pôde participar porque o governo samoano manteve seus atletas em casa, devido à pandemia de COVID-19. Quando se qualificou para Paris, em abril, Opeloge disse a mesma coisa: “Toda a glória a Deus pela força e por sempre estar comigo ao longo da minha jornada.”

Don não é o único Opeloge a chegar às Olimpíadas. Sua irmã Mary representou o país no Rio, enquanto outra irmã, Ele, recebeu a única medalha olímpica de Samoa (uma medalha de prata) nos Jogos de Pequim, em 2008, após duas atletas serem desclassificadas por doping.

“Qualquer que seja o talento que Deus lhe deu, ele deve ser encarado como algo para servir a Deus, sua família e Samoa,” disse Opeloge.

Yenni Álvarez, Colômbia

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Aos 13 anos, Yenny Álvarez se qualificou para sua primeira competição nacional. O único problema era que ela não tinha documento de identidade nem certidão de nascimento. A adolescente estava vivendo com uma tia, depois que sua mãe morreu e seu pai a abandonou. Somente com a ajuda de seu treinador ela conseguiu passar pelas complexidades da burocracia governamental, obter os documentos necessários para viajar e competir.

Agora, Álvarez competirá na categoria de levantamento de peso de 59 quilos em Paris. Depois de subir nas classificações do levantamento de peso, em 2015 Álvarez testou positivo para a poresença de boldenona e foi banida das competições por cinco anos. No entanto, ela continuou a treinar. No ano passado, ela quebrou o recorde pan-americano em sua categoria de peso e celebrou sua vitória no Instagram: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso SENHOR JESUS CRISTO!” Álvarez garantiu sua vaga nas Olimpíadas em abril, quando ficou em terceiro lugar na Copa do Mundo.

No início deste ano, o Comitê Olímpico Colombiano a escolheu como atleta do ano. Álvarez comemorou a honra postando João 3.27 em suas redes sociais: “Ninguém pode receber coisa alguma, a menos que lhe seja concedida do céu”.

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Books

El Salvador: sobram prisioneiros e faltam ministérios prisionais

Organizações cristãs enfrentam dificuldades para alcançar prisioneiros em um país onde 1 em cada 56 pessoas está presa.

Presos aguardam, enquanto 2.000 detentos são transferidos para o Centro de Confinamento de Terroristas, em El Salvador.

Presos aguardam, enquanto 2.000 detentos são transferidos para o Centro de Confinamento de Terroristas, em El Salvador.

Christianity Today July 25, 2024
Handout / Getty

Em pouco mais de dois anos, o governo de El Salvador enviou 80.000 pessoas para a prisão. Com mais de 111.000 pessoas encarceradas, o país possui hoje a maior proporção de pessoas atrás das grades no mundo — um preso para cada 56 habitantes.

A situação atual decorre de uma política de tolerância zero em relação às gangues que outrora proliferavam no país. As gangues salvadorenhas são consideradas organizações criminosas transnacionais responsáveis por elevar os índices de homicídio a níveis vistos apenas durante a guerra civil de 1979-1992.

Em março de 2022, o presidente Nayib Bukele decretou um régimen de excepción [estado de exceção], que suspende um número significativo de direitos civis e facilita a prisão e o julgamento de pessoas suspeitas de serem membros de gangues. Embora o governo inicialmente tenha prometido que o decreto ficaria em vigor apenas por um mês, ele já foi renovado 27 vezes pelo congresso salvadorenho, e já dura quase dois anos e meio.

El Salvador nunca teve uma presença significativa de ministérios prisionais. No entanto, para os poucos que atuam nas prisões, o régimen de excepción tanto representou uma oportunidade quanto revelou uma série de problemas.

Por um lado, líderes dizem que há uma chance real para um número substancial de presos transformarem suas vidas por meio do evangelho. “A maioria deles sabe que precisa de uma transformação física. A evangelização pode mostrar a eles que precisam também de uma transformação espiritual”, disse Raúl Orellana, um líder de ministério regional que atua nas prisões de El Salvador desde 2008.

Por outro lado, por uma série de razões, poucos cristãos demonstraram interesse no ministério prisional, um trabalho que se tornou ainda mais difícil, pois o governo aumentou as restrições às visitas de civis nas prisões.

Todos os centros de detenção de El Salvador, exceto a penitenciária de segurança máxima, historicamente foram abertos aos ministros do evangelho. “O governo é muito aberto às igrejas cristãs evangélicas que querem pregar nas prisões”, disse Orellana — mas a recente política de mão forte contra as gangues também dificultou o acesso de igrejas e pastores.

Há cerca de doze anos, os pastores podiam passar as noites [na cadeia] sentados lado a lado com os presos, aconselhando-os e compartilhando o evangelho. Quando visitava a prisão naquela época, conforme Orellana lembra, ele sabia sobre a disponibilidade de drogas e dispositivos eletrônicos para os presos, e às vezes se deparava com visitantes questionáveis.

Hoje, a maior supervisão governamental nas prisões aumentou as restrições à evangelização dos encarcerados. Muitas prisões proibiram interações face a face entre pastores e presos. Em vez disso, os pastores só podem falar com grupos e por uma hora, no máximo.

“Eu entendo a perspectiva das autoridades”, disse Orellana. “Os presos tinham o controle total e não deveria ter sido assim. Hoje, as autoridades estão no controle.”

Antes de 2022, em algumas prisões, toda semana vários ministérios vinham pregar. Hoje, as autoridades prisionais permitem que grupos cristãos entrem uma vez por semana, em um horário fixo, com algumas exceções para eventos evangelísticos. Por exemplo, no Dia das Mães deste ano, Kenton Moody, um missionário americano que lidera o Vida Libre, um centro de reabilitação para jovens infratores, organizou uma grande festa na prisão feminina de Santa Ana.

O ministério serviu refrigerantes, pan dulce [um tipo de pão doce salvadorenho] e Bíblias para 10.000 pessoas. Embora as autoridades tenham permitido a participação de apenas 2.800 mulheres, ao final do culto, 295 levantaram as mãos em resposta a um chamado de conversão.

Problemas com gangues e com o governo

Embora líderes como Orellana e Moody digam ter visto Deus agindo nas prisões salvadorenhas, muitos cristãos que eles conhecem relutam em participar do ministério prisional, com medo de encontrar criminosos perigosos. Durante anos, grandes áreas do país viveram sob violência e derramamento de sangue causados por gangues como a Mara Salvatrucha (MS-13) e o Barrio 18 (também conhecida como 18).

Historicamente, o país teve um dos índices de homicídio mais altos do mundo; no seu auge, em 1995, havia 139 assassinatos para cada 100.000 habitantes. Desde o início dos anos 2000, as gangues MS-13 e Barrio 18 travaram uma batalha territorial de longa duração, com um enorme número de mortes. Em 2015, as gangues decretaram a proibição de todas as rotas de ônibus na capital, San Salvador, e no primeiro dia da proibição, cinco motoristas de ônibus foram assassinados. Em 2016, alguns estimaram que os grupos extorquiram cerca de 70% de todos os negócios do país, e as taxas de extorsão cobradas eram tão altas que acabaram levando a um aumento nos preços ao consumidor.

Números oficiais mostram uma redução de 70% no índice de homicídios em 2023, em comparação a 2022, em consequência de mudanças na lei e da aplicação do estado de exceção. O governo editou o código penal para formalmente equiparar o terrorismo a associações criminosas locais, e uma nova lei criminalizou tatuagens, grafites de rua e qualquer outra marca que se assemelhe a símbolos de gangues.

Mas a diminuição no índice de homicídios também teve um custo. A organização Human Rights Watch [Observatório dos Direitos Humanos] descreveu as mudanças como uma política de “podemos prender quem quisermos”, que permite detenções com base na aparência e no histórico social dos detidos, em ligações anônimas ou até mesmo em postagens nas redes sociais.

Neste ambiente, praticamente qualquer pessoa que tenha qualquer relação com um membro de gangue corre o risco de ser detida e enviada para a prisão. Isso inclui ex-membros de gangues que já cumpriram sua pena e voltaram à vida civil, sendo que alguns deles se converteram ao cristianismo. Até mesmo pastores que ministram para atuais membros de gangues podem ser vistos como colaboradores ou simpatizantes de gangues e correm o risco de serem encarcerados.

“Meu trabalho com os presos e ex-prisioneiros costumava ser perigoso por causa das gangues. Agora, ele é perigoso por causa do governo”, disse Moody. “Eles podem nos jogar na prisão a qualquer momento por supostamente ajudar as gangues.”

As igrejas locais têm medo de se envolver em problemas tanto com as gangues quanto com o governo, se tiverem ministérios prisionais, disse ele. “Os pastores nos dizem: ‘Que maravilhoso o que vocês estão fazendo’, e ‘Deus os abençoe’— mas eles não participam.”

O trabalho contínuo do testemunho

Em toda a América Central, os evangélicos quase ultrapassaram os católicos em termos de crescimento numérico. Em El Salvador, perto de um terço (30,9%) da população hoje se identifica como evangélica.

A porcentagem de evangélicos é mais alta nas camadas mais pobres da sociedade — os mesmos segmentos dos quais saem as pessoas que entram para as gangues e acabam no sistema prisional, diz Stephen Offutt, autor de Blood Entanglements: Evangelicals and Gangs in El Salvador [Emaranhados de sangue: Evangélicos e gangues em El Salvador].

Entre 50% e 70% das pessoas nas prisões de El Salvador vêm de famílias evangélicas. “Eu me atreveria a dizer que todos que estão na prisão já ouviram falar de Jesus Cristo”, diz Orellana, mas acrescenta que o número de verdadeiros convertidos provavelmente é pequeno.

Para os membros de gangues cansados da violência, o cristianismo oferece uma rota de saída.

“As gangues permitem que as pessoas saiam, se mostrarem uma conversão real”, disse Offutt. Não é algo tão simples quanto se declarar cristão e ficar livre. “Aqueles membros de gangues que supostamente se convertem ao cristianismo são mantidos sob vigilância, porque também acontecem falsas conversões e falsos pastores que tentam manipular as gangues.”

Sob o régimen de excepción, alguns membros de gangues genuinamente convertidos estão sendo arrastados de volta para a prisão, e abrindo uma porta para que a evangelização ocorra onde a igreja institucional não pode ir.

“Um discípulo na prisão pode levar o evangelho a muitos outros”, diz Lucas Suriano, coordenador da América Latina para a Prison Alliance [Aliança Prisional], ministério sediado na Carolina do Norte que cria programas de discipulado e distribui Bíblias e literatura cristã para presos ao redor do mundo.

Embora ninguém veja o que acontece dentro de prisões como o Centro de Confinamento de Terrorismo — centro de detenção de segurança máxima para 40.000 pessoas, que o presidente Bukele abriu no ano passado —, Offutt está certo de que Deus continua a trabalhar lá.

“Há alguns anos”, ele relembra, “tinha um amigo pastor cuja casa ficava à sombra de uma prisão em El Salvador. Nas noites de domingo, podíamos ouvir canções cristãs vindas da prisão.”

“As pessoas estão tentando testemunhar o evangelho da melhor maneira possível. Elas estão encontrando formas de adorar [nas prisões] — é inconcebível para mim que isso não esteja acontecendo.”

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Um só corpo, muitas denominações

Nossa ansiedade a respeito das divisões e facções da igreja deveria nos levar a uma maior dependência de Cristo.

Christianity Today July 23, 2024
Illustration by Mallory Rentsch Tlapek / Source Images: Unsplash / AP Images

Quando eu estava no seminário, há 12 anos, a maioria dos meus colegas de classe e eu estávamos discernindo sobre a qual denominação nos filiar. Como, em nosso seminário não denominacional, muitos de nós nos sentíamos chamados para a liderança da igreja, essa foi uma grande decisão. Uma coisa é escolher um lugar para cultuar e ser membro; outra bem diferente é fazer votos de ordenação.

Ser pastor é um pouco como ser casado: prometemos fidelidade a Deus dentro de uma família específica de pessoas. As apostas pareciam altas, à medida que ponderávamos com qual família denominacional deveríamos nos comprometer — e nisso se incluíam posicionamentos teológicos, peculiaridades interpessoais e problemas estruturais. Nossos professores de seminário mostraram que mesmo os líderes de igreja com a mentalidade mais ecumênica que houver continuam a ser profundamente impactados por seu contexto denominacional.

Isso em si não é algo ruim. Pertencer a um corpo específico nos encoraja a investir na saúde e na integridade não apenas de nossas congregações individuais, mas também de nossas redes congregacionais. Ordenados ou não, devemos estar dispostos a nos envolver em conversas difíceis sobre as estruturas de liderança, as convicções teológicas e os valores essenciais que caracterizam nossas respectivas tradições.

No verão deste ano [no hemisfério Norte], cristãos de várias denominações (entre eles, da Convenção Batista do Sul, da Igreja Presbiteriana na América, da Igreja Anglicana na América do Norte e da Igreja Reformada Cristã) realizaram reuniões nacionais para discutir essas convicções e esses valores.

Esses encontros de denominações nem sempre são agradáveis. Este ano, os batistas debateram se mulheres que trabalham em sua equipe pastoral poderiam ser chamadas de pastoras; os presbiterianos discordaram sobre como lidar com a polarização política em suas igrejas; e os anglicanos discutiram sobre como responder à má conduta do clero e o que dizer sobre ela. Essas discussões todas valem nosso investimento e esforço.

Mas elas também podem gerar ansiedade, especialmente quando ocasionam mudanças. Na minha própria denominação, a Igreja Anglicana na América do Norte, a ansiedade às vezes aumentou, durante os preparativos para o nosso encontro nacional, pois antecipávamos a eleição de um novo líder para a denominação.

A ansiedade é uma reação natural à preocupação. É um sinal de que estamos pensando no futuro. Mas se agirmos com base na ansiedade, é mais provável que exacerbemos os problemas que esperamos resolver. Ficamos ainda mais polarizados e mais enraizados em nossas facções ideológicas; caricaturamos aqueles de quem discordamos ou expressamos nossas opiniões de maneiras pouco caridosas. À medida que os encontros das denominações aconteciam este ano, meu feed nas redes sociais me lembrava que essa tentação não conhece fronteiras teológicas.

Mas essa ansiedade de que todos compartilhamos também pode nos levar a uma humildade comum. Ela pode ser um lembrete de que toda denominação tem seus desafios e suas incertezas. Todos nós estamos lutando com questões difíceis sobre pontos importantes, como questões de segurança relacionadas ao ministério infantil, de transparência e de qualificações para liderança, para citar apenas algumas.

Algo que nos deixa humildes é perceber que nenhum tipo de política, tamanho ou estrutura de igreja pode eliminar completamente os conflitos ou a corrupção. Até mesmo igrejas e redes de igrejas não denominacionais enfrentam essas realidades. Nenhuma tradição — seja ela protestante ou não — é imune a problemas. Se algum dos meus colegas de seminário ou eu mesma pensávamos que poderíamos encontrar uma denominação perfeita para nos juntarmos a ela, estávamos redondamente enganados.

Mas reconhecer isso não deve nos fazer substituir a ansiedade pela apatia. Reconhecer nossa necessidade universal de renovação não é o mesmo que fazer as pazes com nossos problemas. Nem é desculpa para evitarmos trabalhar duro na autorreflexão sobre nossos contextos individuais. Pelo contrário, é um convite para aprofundarmos nossa confiança naquele que é o único que pode trazer a renovação que buscamos.

Em Mateus 16, Jesus confronta seus discípulos com uma pergunta. Seu ministério estava crescendo, e as multidões começaram a levantar teorias sobre a identidade de Jesus; assim, em um momento de privacidade, ele pergunta a seus seguidores: “Quem vocês dizem que eu sou?” (v. 15).

A resposta ousada de Pedro e sua profissão de fé — “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” — diferencia os discípulos das multidões e introduz a primeira menção à igreja no Evangelho de Mateus. Jesus responde a ele: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! […] E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la” (v. 16-18).

Seja lá qual for nossa compreensão da profissão de Pedro e sua primazia na igreja primitiva, podemos ser encorajados pelo fato de que a promessa de Jesus ainda soa verdadeira: a igreja é projeto de Deus. É Deus quem nos edificará, e que não pode ser detido por nenhum poder do inferno. Nosso trabalho principal é praticar a fidelidade a ele em todas as coisas — sejamos batistas ou presbiterianos, sejamos pastores ou congregantes, estejamos orgulhosos de nossa tribo teológica ou desiludidos com ela. O fato de não sabermos exatamente para onde isso nos levará é parte da questão. Não somos soberanos sobre os planos de Jesus.

À medida que buscamos ser fiéis em nossos respectivos territórios eclesiásticos, a confissão histórica de Pedro aponta outro exemplo para nós: ela nos lembra que qualquer que seja a influência ou a liderança que tenhamos, ela repousa no entendimento de que nós não somos o Cristo. Nenhum líder da igreja, com suas respectivas opiniões, é o Cristo. Nenhuma congregação, nenhuma denominação, nenhum sistema de governança é o Cristo. A igreja não é feita de pessoas que acertam tudo. Ela é feita de pessoas que acertam em uma coisa só: que Jesus é o Cristo. Nossa força está no fato de não sermos nós a fonte [da igreja].

A igreja pertence a Jesus, e não a nós. Contudo, do mesmo modo que ele chamou Pedro e os demais discípulos, também nos chama para sermos parceiros dele em seu projeto. Este projeto é muito maior do que qualquer denominação. Mas podemos oferecer nossas pequenas esferas de autoridade e de responsabilidade a Jesus, confiantes de que, por meio de nós, ele continuará a construir sua igreja.

Exercitar essa verdade nos protege tanto do cinismo quanto do esgotamento, à medida que buscamos saúde e santidade em nossas denominações. Podemos e devemos continuar a agir de acordo com nossas convicções, pelo bem do povo de Deus, mesmo quando isso levar a desentendimentos. Mas devemos fazê-lo com integridade, sabendo a quem prestaremos conta de nosso ministério.

Paulo modela isso em sua carta aos Coríntios:

Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus. […] Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que o poder que a tudo excede provém de Deus, não de nós. (2Coríntios 4.1-2, 7)

Em qualquer canto da igreja global que formos chamados a servir, nosso trabalho é limitado, mas não é em vão. Jesus prometeu terminar o que começou. Nossos ganhos e perdas de curto prazo são parte de uma obra maior, que inclui todos os filhos de Deus.

Hannah King é escritora e sacerdotisa na The Vine Anglican Church [Igreja Anglicana A Videira], em Waynesville, Carolina do Norte, e é autora de um livro que será lançado em breve sobre viver com esperança na presença da dor.

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Um novo convite para buscar o Reino de Deus

Em uma época marcada por divisões, voltemos o foco para o chamado de Jesus, a fim de buscarmos a sua vontade.

Christianity Today July 22, 2024
Illustration by Elizabeth Kaye / Source Images: Unsplash

Considere isso uma nova apresentação.

Em nossa edição de março, expliquei que 2024 seria um ano transformador para a Christianity Today. A edição impressa de Julho/Agosto é o primeiro pagamento dessa promessa. Tudo, desde a logomarca até as cores, fontes, layout e estrutura, foi repensado e refeito. Esperamos que você concorde que isso proporciona uma experiência mais atraente. Queremos que cada edição seja uma joia, uma obra de arte, um banquete de histórias e ideias que transmita a riqueza de viver e pensar junto com Cristo e sua igreja.

Ao longo do que resta deste ano, explicarei por que estamos traçando esse rota. Por enquanto, desejo explicar a linguagem que você verá frequentemente ao lado da nossa logomarca.

Antes de vir para a Christianity Today, liderei uma agência de criação que ajudou centenas de organizações a refinarem suas respectivas marca e mensagem. No entanto, nunca pensei na Christianity Today como uma marca. A CT é um esforço para esclarecer o que significa seguir a Jesus fielmente em nosso tempo.

Temos, no entanto, um convite fundamental. Não é um lema nem um slogan, mas um convite: Busquem o reino.

Falarei mais sobre nosso chamado ao reino de Deus nas próximas edições. Hoje, quero dizer uma coisa só, e é simples.

O reino de Deus é difícil de descrever. Jesus o compara a coisas como uma semente, uma pérola, um tesouro, uma vinha e um banquete. Ele fala dos “mistérios do Reino dos céus” (Mateus 13.11) e nos chama a não correr atrás das coisas do mundo, mas a “buscar, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (6.33).

Buscai primeiro” foi a primeira música que me lembro de cantar. Foi antes do meu batismo, antes de conhecer Jesus, antes de saber o quão belos e quebrados o mundo e a igreja poderiam ser. Mas essa música, em sua simplicidade, foi o convite que me chamou para Cristo e para servir a seu reino de amor no mundo.

Talvez nem sempre reconheçamos o reino, quando o vemos. Mas devemos saber o que ele não é. O mundo de hoje está dividido por guerras e ódio, por opressão e abuso, por desprezo pela verdade e pela virtude. Nossa imagem de capa mostra uma igreja dividida por poder e lucro, como as vestes de Jesus aos pés da cruz. Isso não é igreja. Este não é o reino de Deus.

Nós convidamos vocês a buscá-lo conosco, porém. Nas Escrituras. Na obra de Deus [que está sendo feita] ao redor do mundo. Nas vidas de indivíduos e famílias, de perto e de longe, que levam Jesus a lugares fragmentados. Busquem esperança, busquem a Jesus, busquem o reino, e, talvez, todos juntos o encontremos.

Timothy Dalrymple é presidente e CEO da Christianity Today.

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Books

Denominação presbiteriana dos EUA debate sobre pastores gays celibatários

Por ter pessoas vindas de outras denominações presbiterianas, a Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC) sente tensão para chegar a um acordo.

O secretário da Igreja Presbiteriana Evangélica, Dean Weaver, na 44ª reunião da Assembleia Geral na Hope Church, em Memphis.

O secretário da Igreja Presbiteriana Evangélica, Dean Weaver, na 44ª reunião da Assembleia Geral na Hope Church, em Memphis.

Christianity Today July 21, 2024
YouTube screenshot / EPC

Uma denominação presbiteriana que se orgulha de sua liberdade nas coisas não essenciais viu seu modelo cooperativo de ministério se tornar alvo de tensões, por causa das recentes discussões sobre sexualidade.

O historiador presbiteriano Donald Fortson é membro da Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC) desde sua criação em 1981, e diz que nunca viu uma Assembleia Geral mais “turbulenta” do que a deste ano, que foi realizada em junho, na cidade de Memphis.

Entre os tópicos debatidos, discutiu-se se a denominação deveria admitir uma congregação cujo pastor se identifica como homossexual, mas diz ser celibatário e apoiar uma ética sexual cristã tradicional, posicionamento que se enquadra no que alguns chamam de cristianismo “lado B”.

Greg Johnson, pastor da Igreja Presbiteriana Memorial, em St. Louis, levou sua congregação a deixar a Igreja Presbiteriana na América (PCA), dois anos atrás, depois que essa denominação votou — em uma votação apertada, com poucos votos de diferença — para desqualificar para o cargo ministerial “homens que se descrevem como homossexuais, mesmo aqueles que se descrevem como homossexuais e afirmam praticar o celibato, abstendo-se de conduta homossexual”.

Johnson descreveu a si mesmo dessa forma, defendendo o cristianismo “lado B” tanto na polêmica conferência Revoicequanto em seu livro Still Time to Care: What We Can Learn from the Church’s Failed Attempt to Cure Homosexuality[Ainda há tempo para se importar: o que podemos aprender com a tentativa fracassada da Igreja para curar a homossexualidade].

Agora, sua igreja questionou se deveria juntar-se à EPC.

“Isso gerou todo tipo de controvérsia”, disse Fortson, professor emérito de história da igreja e teologia pastoral no Reformed Theological Seminary [Seminário Teológico Reformado], “porque temos alguns na EPC que parecem estar muito abertos a trazê-la [a igreja de Johnson] para a EPC, e temos outros grupos que são absolutamente contra a sua entrada.”

Durante a reunião de 18 a 20 de junho, a EPC votou por um estudo de dois anos sobre “o uso contemporâneo da autoconcepção sexual e como tal linguagem se concilia com as Escrituras e os Padrões de Westminster”. Foi pedido a todos os presbitérios locais da denominação que façam uma pausa na consideração de assuntos relacionados ao estudo, enquanto este estiver em andamento. Isso significa que a igreja de Johnson não será admitida ao menos até 2026.

O tempo dirá se uma denominação que concordou em discordar sobre a ordenação de mulheres e as práticas carismáticas, em prol da cooperação ministerial, conseguirá manter a mesma postura quanto a questões LGBTQ.

Nas coisas essenciais, unidade

A EPC foi fundada há mais de quatro décadas, por um grupo de cerca de 20 igrejas preocupadas com a inclinação liberal assumida pela Igreja Presbiteriana do Norte (que, na época, era oficialmente conhecida como Igreja Presbiteriana Unida nos Estados Unidos da América). Para os fundadores da EPC, três pontos de preocupação eram a crescente aceitação da ordenação de homossexuais, o questionamento sobre a divindade de Jesus por parte de alguns presbiterianos do Norte e um empenho para forçar a aceitação de pastoras.

A tentativa da EPC para dar uma solução a essas preocupações foi uma igreja presbiteriana na qual todos os líderes aderem a uma lista de pontos “essenciais”, entre os quais estão a infalibilidade das Escrituras, a divindade de Cristo e a necessidade de evangelismo. A EPC também adere à Confissão de Fé de Westminster, mas de uma forma menos rigorosa, que reconhece “que ela contém o sistema de doutrina ensinado pela Bíblia” e permite que os ministros discordem em alguns pontos.

Tanto complementaristas quanto igualitaristas são bem-vindos na EPC, assim como o são presbiterianos que tenham visões diferentes sobre práticas carismáticas. Uma gama de visões sobre a criação (do criacionismo da Terra jovem à evolução teísta) e o sábado (do sabatismo estrito a uma visão mais permissiva do sábado) também coexistem na EPC.

“Existe tensão entre aqueles que podem enfatizar mais os princípios essenciais da EPC e aqueles que podem enfatizar mais a Confissão de Westminster na EPC”, disse o secretário da EPC, Dean Weaver. Alguns membros da EPC “são evangelicais com E maiúsculo e reformados com r minúsculo, e há alguns que são reformados com R maiúsculo e talvez evangelicais com e minúsculo”.

Até agora, esse arranjo deu certo. Em 2008, a EPC havia crescido para 77.794 membros. Cinco anos depois, saltou para 134.833. No ano passado, informou estar com 125.870 membros, o que faz dela a terceira maior denominação presbiteriana na América, atrás apenas da maior delas, a PCUSA, que tem pouco mais de 1 milhão de membros, e da denominação PCA, mais conservadora, com quase 400.000 membros.

A filiação à EPC estabilizou um pouco nos últimos anos, caindo 15% desde 2018. A estabilização se deveu em parte, segundo Weaver, a congregações “não saudáveis” que vieram transferidas da PCUSA, entre 2008 e 2018, e posteriormente fecharam. No entanto, um “crescimento modesto pós-COVID” incluiu um aumento de 7,4% nos batismos de adultos e um impulso para o plantio de igrejas.

A maior parte do crescimento da EPC ocorreu por meio da transferência de igrejas vindas da PCUSA.

“Muitos de nós somos refugiados da PCUSA, inclusive eu, e vimos a PCUSA se tornar extremamente liberal”, disse Carolyn Poteet, pastora principal da Igreja Presbiteriana Evangélica Mt. Lebanon, em Pittsburgh.

Mas parte do crescimento veio de congregações da PCA, que deixaram esta denominação por conta da discordância a respeito dos papéis das mulheres no ministério.

Entre essas igrejas está a Igreja Presbiteriana Evangélica Hope, em Columbus, Ohio. Após um “período de discernimento”, a Hope abriu a possibilidade de indicar mulheres para a diaconia. Eles ainda precisam decidir se permitirão presbíteras. O pastor Joe Haack diz que sua congregação pode prosperar em uma denominação com a visão da EPC.

“Queremos os essenciais. Queremos ter isso [quais são esses essenciais] definido”, disse Haack. Mas “pelo bem da missão, achamos que a liberdade nas coisas não essenciais é muitíssimo importante”.

No entanto, à medida que o estudo de dois anos sobre a sexualidade prossegue, observadores da EPC estão se perguntando se a denominação continuará a concordar sobre o que exatamente constitui algo não essencial.

Um futuro incerto

Durante o debate no plenário da Assembleia Geral, um pastor de Ohio disse que o estudo sobre a sexualidade não ajudará a EPC a promover suas agendas de unidade ou de fidelidade doutrinária.

“Embora esse acordo pareça razoável à primeira vista, não é um acordo real”, disse Joseph Yerger, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana Evangélica de Mansfield, em Mansfield, Ohio. As consequências da aprovação do comitê de estudo “incluirão, e devem incluir, por influência de um falso senso de justiça e caridade, uma consideração ativa e positiva para apoiar a possibilidade dessa posição socialmente influenciada e teologicamente errônea que é comumente chamada de cristianismo “lado B”, nos moldes promovidos pela conferência Revoice.”

Uma carta aberta — escrita por Fortson e dois presbíteros da EPC, Nate Atwood e Rufus Burton — adota uma linha semelhante. Ela argumenta que as pessoas que “se identificam como homossexuais”, mesmo que “aleguem praticar o celibato nessa autoidentificação”, devem ser “desqualificadas para ocupar cargos” na EPC.

Em apoio à sua posição, a carta cita as Escrituras, os Padrões de Westminster e “lições da história presbiteriana tradicional sobre a ordenação de homossexuais celibatários”. Até o momento, mais de 370 membros da EPC assinaram a carta.

Atwood chama a discussão da denominação sobre a homossexualidade de “fazer teologia em tempo real”, algo semelhante ao que fizeram reformadores protestantes como Martinho Lutero e João Calvino. Ele se preocupa que permitir que pessoas que se identificam como homossexuais sejam ordenadas pode negar, involuntariamente, uma doutrina da Reforma, a sola Scriptura, substituindo o chamado da Bíblia para se arrepender de desejos pecaminosos por uma acomodação cultural.

“Eu concordo com a crítica feita à igreja conservadora de que exibimos uma espécie de hostilidade à comunidade LGBTQ que realmente prejudicou nosso testemunho”, disse Atwood, pastor da Igreja Presbiteriana St. Giles, em Charlotte, Carolina do Norte. “E acho que devemos nos arrepender em algum nível com relação ao nosso temperamento e à nossa atitude”. Mas “vamos comprometer o evangelho”, que exige arrependimento de atos pecaminosos e dos “desejos do coração”?

Outros dizem que o estudo sobre sexualidade da EPC está de acordo com a visão da denominação. O compromisso que levou ao comitê de estudo foi “um momento lindo” e “faz parte da identidade da EPC”, disse Poteet, presidente do comitê da EPC que recomendou o estudo. “Vamos descobrir uma maneira de sermos zelosos, matizados e submetidos a Cristo e às Escrituras, e vamos fazer isso juntos.”

Integrantes da EPC concordam que “a expressão sexual precisa ser celibato — não se casar — ou casamento entre homem e mulher”, disse ela. A questão é se um pastor pode dizer sobre sua atração por alguém do mesmo sexo: Isso é parte da minha experiência, mas estou vivendo uma vida submetida a Deus.

Burton, secretário do Presbitério de New River, na Pensilvânia, está otimista sobre o estudo, embora se oponha à ordenação de homossexuais celibatários.

Ele disse, durante o debate no plenário sobre esse estudo de dois anos, que “é uma resposta às orações da equipe de liderança do Presbitério de New River”. Esse estudo “irá esclarecer nosso testemunho e trazer nossa constituição e nossos documentos a uma maior conformidade com o evangelho”.

Ainda assim, está longe de ser garantido que estudar o cristianismo “lado B” por dois anos produzirá o resultado desejado.

“Estou na denominação há 10 anos”, disse Poteet, “e essa foi a primeira vez que vi a EPC tão dividida, sem uma direção clara. Isso foi um pouco assustador”.

David Roach é repórter freelancer da CT e pastor da Igreja Batista Shiloh, em Saraland, Alabama.

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A paternidade não está morta

Dizer isso é um flagrante exagero. Há muitos pais bons e fiéis, como o meu, abençoando silenciosamente seus filhos.

Christianity Today July 19, 2024
Cohen / Ostrow / Getty / Edits by CT

Problemas relacionados a pais não são novidade. Eles remontam às origens. Se considerarmos somente o livro de Gênesis, veremos um vasto catálogo de pecados cometidos por pais, sejam os de Adão, de Noé e de Ló, ou dos próprios patriarcas.

E quanto aos bons pais? Veja o que C. S. Lewis escreveu na década de 1940:

Aprendemos com Freud e outros sobre essas distorções de caráter e erros de pensamento que resultam dos conflitos iniciais de um homem com seu pai. De longe, a coisa mais importante que podemos saber sobre George MacDonald é que toda a sua vida ilustra o processo oposto. Um relacionamento quase perfeito com seu pai foi a raiz terrena de toda a sua sabedoria. De seu próprio pai, segundo ele, primeiro aprendeu que a paternidade deve estar no centro do universo. Ele foi, portanto, preparado de uma forma incomum para ensinar aquela religião, na qual a relação Pai e Filho é, de todas as relações, a mais central.

Li essas palavras pela primeira vez na minha adolescência, quando um ministro de jovens — que foi, de uma certa maneira, um pai espiritual — começou a colocar livros de Lewis, G. K. Chesterton e Dietrich Bonhoeffer em minhas mãos. Este trecho vem da página de abertura de uma antologia de MacDonald editada por Lewis. Os escritos do pastor, pregador e romancista escocês foram cruciais para a conversão de Lewis, tanto que este o chamava de “meu mestre”.

Lewis escreve que MacDonald tinha “um relacionamento quase perfeito com seu pai”. Isso é algo notável, à primeira vista. Mas será que é algo único [sem igual]?

Não acredito nisso. A ausência paterna é um problema real, mas os relatos sobre a morte da paternidade têm sido imensamente exagerados. Na verdade, a razão pela qual o comentário de Lewis repercutiu [em mim], quando eu estava no ensino médio, foi porque ele, na verdade, descrevia a minha própria experiência. É bem verdade que poucos de nós usariam a expressão quase perfeito para falar de nossos pais. Mas bom, amoroso e fiel são adjetivos bem adequados [para descrever muios pais]. Alguns de nós realmente querem ser como os pais, quando crescerem — mesmo que, tecnicamente falando, já tenham crescido e se tornado maridos e pais.

Você pode não saber disso pela forma como costumamos celebrar o Dia dos Pais. Às vezes, essa comemoração assume um tom de envergonhar os pais por seus fracassos, reais e imaginários. Em maio, ninguém consegue usar adjetivos suficientes para falar das glórias da maternidade. Mas, quando chega o Dia dos Pais, essa abundância se volta para as deficiências do pai moderno. Outras vezes, em nossa ânsia (compreensível) de louvar a Deus como o Pai perfeito, nossas palavras sobre a paternidade se desviam para abstrações e ideais fora do alcance. Os pais de carne e osso que estão nos bancos da igreja jamais estarão à altura; afinal, quem conseguiria [estar]?

Assim, para o Dia dos Pais deste ano, deixo aqui minha proposta: em vez de focar na paternidade de modo geral, vamos falar sobre pais específicos. Nenhum de nós tem um pai abstrato. Os únicos pais que encontramos por aí são 3D (tridimensionais). Alguns deles, é verdade, são culpados de muitos dos crimes paternos que conhecemos tão bem. Mas isso está muito longe de acontecer com todos os pais. Então, quais são as virtudes específicas de pais específicos, como o seu ou o meu?

Quando penso no meu próprio pai, três virtudes me vêm à mente de imediato.

A primeira tem a ver com bênção. Os pais são agentes de bênção. Sem ela, os filhos definham; com ela, eles se aventuram pelo mundo como se estivessem protegidos por um escudo impenetrável. Pense na tragédia da família Von Erich, retratada no filme Garra de Ferro: um pai que tinha seis filhos, dos quais cinco o precederam na morte, três deles por suicídio.

Meu colega Randy Harris (aliás, outro pai espiritual para mim) falou recentemente sobre a suposta “maldição” de Von Erich:

O filme nos faria pensar que isso não é bem verdade. Não é bem uma maldição. É o que acontece quando os filhos perseguem uma bênção ilusória de seu pai, uma bênção que nunca chega de fato. E talvez eu esteja um pouco interessado nessa leitura porque já trabalhei com alunos e ministros por tempo suficiente para ver o que acontece, quando um filho ou uma filha não tem a bênção de seu pai… Se você é pai e não deu essa bênção a seu filho ou a sua filha recentemente, deve cogitar fazer isso. É uma das coisas mais importantes [que um pai deve fazer].

Sabemos, pelas Escrituras, que a bênção de um pai tem um significado enorme. Mas o que é exatamente essa bênção? Não é aprovação ou afirmação. Nem é amizade ou ter coisas em comum. Não, a bênção de um pai é seu favor — é o seu sim incondicional, ousado, sem remorso e insaciável para a pessoa toda [de seu filho]. É o seu amor em forma de dádiva para toda a vida, imune à ameaça de perdas. É a declaração pública: “Este é meu filho amado; que me dá grande alegria” (Mateus 3.17, NVT).

As bênçãos dos patriarcas da Bíblia são eventos únicos, e são ainda mais vulneráveis ​​por isso. Em nossas vidas, a bênção paterna é mais uma postura que se estende pela infância e para além dela, do que um momento único. A bênção de um pai diz: Eu estou aqui para você, aconteça o que acontecer — mesmo que esse acontecimento vindouro, como na parábola do filho pródigo, seja um filho que o rejeite.

Nunca passei sequer um dia da minha vida sem a bênção do meu pai. Isso dá uma segurança sem medida, é uma dádiva sem igual nesta Terra. Além da fé em Cristo, é a coisa que mais espero estar transmitindo aos meus próprios filhos — mais do que felicidade, mais do que saúde, mais do que um futuro bem-sucedido. Tomás de Kempis chama a vida sem Cristo de “um inferno implacável”. Eu não diria o mesmo de uma vida sem a bênção de um pai, mas a nossa cultura está inundada de histórias que não compartilham dessa minha reticência.

Isso me faz lembrar da segunda virtude do meu pai: a disposição de romper ciclos destrutivos e a determinação de proteger aqueles ciclos que geram vida.

Meu pai não cresceu querendo ser como o pai dele, que era um homem mau, distante e que bebia demais. Pela graça de Deus, meu pai era ateu quando entrou na faculdade, mas saiu casado e cristão. Conhecer a Cristo significou uma revolução para sua trajetória como homem, e acima de tudo como marido e pai. Com a ajuda do Espírito, ele seria fiel: a Cristo, à sua esposa e, eventualmente, a seus três filhos.

O “sucesso” para ele não era medido pelos padrões do mundo — prazer, dinheiro, imagem ou outros sinais exteriores. Era medido pela fidelidade. Não pela perfeição, não pela ausência de pecado, mas pela fidelidade. Uma fidelidade que incluía arrependimento, que é o único tipo de fidelidade que se oferece aos cristãos.

Há uma citação famosa atribuída a Frank Clark: “Um pai é um homem que espera que seu filho seja um homem tão bom quanto ele pretendia ser”. Uma interpretação pessimista veria essa frase como um lamento por todas as maneiras pelas quais os pais falham em ser tudo o que deveriam (ou buscam) ser. Uma leitura mais cheia de esperança a veria como uma visão realista da paternidade — eu falharei — e também abnegada — eu terei êxito se meu filho me superar. Se, em outras palavras, meu filho se tornar um pai melhor do que eu fui, e o filho dele for um pai melhor do que ele mesmo foi, e assim por diante, para sempre. Isso é o que meu próprio pai queria.

A paternidade como melhoria marcada por um caráter aspiracional, incremental e geracional — que garante que os passos lá detrás nunca superem os passos à frente — requer uma determinação poderosa em dois sentidos. Por um lado, significa repudiar com ferocidade tudo que diga respeito a história, circunstâncias e tentações que tornariam a fidelidade menos provável. Por outro lado, significa proteger, renovar e transmitir todo o bem que recebemos de outros ou que construímos nós mesmos. Esse tipo de paternidade exige uma disposição indomável: a disposição de amar, a disposição de se sacrificar, a disposição de ser fiel, não importa a que preço.

Por fim, a terceira e última virtude é que um pai é um professor, um mestre. O meu certamente foi. Gostem ou não, todos os pais instruem, ensinam, e não apenas pelo exemplo.

Minha catequese aconteceu no carro. Mal sabia eu que nossa minivan não era um meio de me transportar para torneios de basquete pelo Texas. Era um dispositivo tortuoso, e de alguma forma legal, projetado para me prender por horas de conversas indesejadas: sobre Deus, sobre garotas, sobre ética no trabalho. Conversas sobre tudo e sobre qualquer coisa que eu não queria falar. Mas o que eu podia fazer? Mesmo se eu não falasse, era forçado a ouvir.

Essas conversas eram sementes que, em alguns casos, demoraram muito tempo para brotar, e mais ainda para florescer. E, sem dúvida, às vezes eram tão dolorosas para meu pai quanto para mim. Mas eram muito mais importantes do que as lições habituais, algumas das quais tive (como andar de bicicleta ou arremessar um lance livre) e outras que não tive (como consertar um carro ou fazer uma planilha).

“Vocês os conhecerão pelos seus frutos”, disse Jesus sobre seus discípulos (Mateus 7.16, NASB). O mesmo vale para os pais.

Em dezembro do ano passado, eu, meus irmãos e nossas esposas nos reunimos no salão do fundo de um restaurante em Austin, com algumas dezenas de amigos dos meus pais (e por “amigos” quero dizer irmãs e irmãos em Cristo, ao lado de quem eles viveram, lideraram, se alegraram, choraram, adoraram e serviram, desde que eu usava fraldas). Estávamos reunidos ali para comemorar a aposentadoria do meu pai, que estava deixando a empresa onde trabalhou por mais de 40 anos.

Meus irmãos e eu falamos algumas palavras em homenagem ao nosso pai, na tentativa de explicar o que fazia dele um pai tão bom — como mentor, como professor, como fiel seguidor de Cristo. Para nós, a pergunta respondia a si mesma: este homem viveu uma vida boa porque viveu a boa vida. Ele sabia o que importava e se dedicou inteiramente a isso.

Os pais vivem bem não quando suas vidas correm bem, mas quando vivem como Deus quer, independentemente de como sua vida vai. Seus filhos veem isso. Eu vi. Uma vida assim é em si toda a bênção de que uma criança precisa; ela abre todas as portas certas e fecha todas as portas erradas.

Meus filhos chamam meu pai de Pop-E. Como o filho mais velho, eu levantei um brinde [a meu pai] e disse a todos: Quando eu crescer, quero ser como o Pop-E.

Brad East é professor associado de teologia na Abilene Christian University. Ele é autor de quatro livros, entre eles The Church: A Guide to the People of God [A Igreja: Um guia para o povo de Deus] e Letters to a Future Saint: Foundations of Faith for the Spiritually Hungry [Cartas para um Futuro Santo: Fundamentos da fé para quem tem fome espiritual].

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Contra as estratégias de marketing na igreja

Dizer o que as pessoas querem ouvir não é nosso papel. Nossa mensagem não pode passar por testes de mercado nem ser fabricada para agradar.

Christianity Today July 17, 2024
Illustration by Abigail Erickson / Source Images: Getty

Já faz algum tempo que estou intrigado com quem e o que andam sussurrando por trás de portas fechadas.

Quando estou com grupos de direita, inevitavelmente alguém olha ao redor para se certificar de que estamos sozinhos, antes de expressar sua preocupação sobre o extremismo crescente que vem sendo exigido pela “base” — especialmente em relação ao nacionalismo branco.

Quando estou com pessoas de esquerda, alguém silenciosamente dá de ombros diante do uso de pronomes e expressões defendidos pelas ideologias de gênero — coisas como exigir que se diga “pessoas grávidas”, por exemplo, em vez de dizer “mulheres grávidas”.

Debates sobre essas questões são importantes, mas o que mais me interessa é que essas preocupações nunca são ditas em público — apenas em espaços seguros, longe das respectivas tribos às quais cada um pertence.

Michael Schaffer, da revista Politico, resumiu essa situação política com uma manchete: “As elites liberais têm medo de seus funcionários. As elites conservadoras têm medo de seu público”. Como Schaffer disse, “Na esquerda, eles têm medo que subordinados descontentes se organizem no Slack [plataforma para troca de mensagens entre funcionários de uma empresa]. Na direita, eles tremem diante de estranhos enfurecidos aos berros na TV.”

Pessoas da esquerda compartilharam amplamente um artigo de Ryan Grim, do The Intercept, que mostra que organizações progressistas estão vivendo um impasse, pois funcionários jovens insistem que seus líderes assumam uma posição política sobre as emissões de carbono ou a diplomacia no Oriente Médio.

Em contrapartida, um antigo líder republicano conservador me disse que deixou a política porque estava cansado dos velhos que tomam café da manhã no Hardee's [uma rede de fast-food] gritarem com ele por não apoiar Donald Trump o suficiente.

Os últimos anos nos mostraram que esse tipo de medo não se limita às “elites”. Esses indivíduos, com sua performance indignada, que essas elites estão tentando apaziguar, muitas vezes se sentem igualmente assustados — com medo de não se mostrarem ideologicamente puros o bastante para permanecerem no grupo.

Analistas da cultura chamaram a esse fenômeno de “captura de audiência”. Uma vez que alguém ofereça “carne vermelha” (ou soja vegana) para a audiência que deseja atrair, essa pessoa acaba sendo capturada por esse público — e, então, espera-se que continue atacando aqueles e tudo aquilo que for considerado “o outro lado”. É assim que as pessoas se tornam hacks [pessoas que fazem coisas apenas por sucesso comercial]. Elas não dizem o que realmente pensam; dizem o que se espera que pensem — ​​e fazem isso tão radicalmente quanto as multidões exigirem.

Essa tendência já seria ruim o suficiente se estivesse limitada a instituições ou elites. Contudo, em uma época em que praticamente todo mundo tem uma audiência — mesmo que seja apenas por meio de um feed de mídia social — as consequências podem ser desmoralizantes. A expertise e a autoridade das quais toda instituição depende — seja ela uma classe de escola dominical até uma república democrática — são varridas para longe.

As apostas são ainda mais altas no caso da igreja. Jesus se afastou dessa captura de audiência — da demanda, por exemplo, de deixar que a multidão fizesse dele um rei que rivalizasse com César (João 6.15) ou de se deixar definir pelas expectativas de que ele os suprisse continuamente de comida (v. 26).

Em vez disso, Jesus falou justamente sobre aquilo que seus seguidores menos queriam — o “difícil” ensinamento de que “se não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos” (v. 53).

Se ele tivesse feito o contrário, você e eu não estaríamos aqui hoje. As palavras que ele falou eram Espírito e vida (v. 63), não meros pontos de um discurso de outro aspirante a guru ou demagogo galileu.

Da mesma forma, o apóstolo Paulo se recusou a usar de engano ou a torcer a palavra de Deus, mas, “mediante a clara exposição da verdade, recomenda[va-se] à consciência de todos, diante de Deus” (2Coríntios 4.2).

O cristianismo evangélico deve ser um movimento “antielitista”. Acreditamos que aquilo que forma e reforma a igreja é o evangelho, é a Bíblia — e não um magistério. Não buscamos a permissão de ninguém para pregar a Palavra de Deus e acreditamos que é Deus quem ajuntará seu povo. Mas o lado sombrio desse tipo de liberdade é a tentação de pensar que consenso é um sinal de verdade, ou que popularidade é um sinal de sucesso.

Uma vez que somos capturados pela audiência — e ficamos testando por meio de pesquisas o que ouvidos com coceira (2Timóteo 4.3) ouvirão e ficamos calados sobre o que não ouvirão — não estamos mais falando diante de Deus. As pessoas discernirão quem está levando uma mensagem de outra pessoa e quem está dizendo o que elas esperam que seja dito.

Aqueles que são capturados pela audiência não podem entregar as verdadeiras boas-novas de grande alegria — as quais não podem ser testadas no mercado nem fabricadas para agradar, mas podem apenas ser ditas, ouvidas, podem apenas ser objeto de nossa fé e de nossa confissão.

Alguns temem seu público; outros, seu eleitorado. Mas nós devemos temer apenas a Deus.

Russell Moore é editor-chefe da Christianity Today e lidera seu Projeto de Teologia Pública.

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