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Denominação presbiteriana dos EUA debate sobre pastores gays celibatários

Por ter pessoas vindas de outras denominações presbiterianas, a Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC) sente tensão para chegar a um acordo.

O secretário da Igreja Presbiteriana Evangélica, Dean Weaver, na 44ª reunião da Assembleia Geral na Hope Church, em Memphis.

O secretário da Igreja Presbiteriana Evangélica, Dean Weaver, na 44ª reunião da Assembleia Geral na Hope Church, em Memphis.

Christianity Today July 21, 2024
YouTube screenshot / EPC

Uma denominação presbiteriana que se orgulha de sua liberdade nas coisas não essenciais viu seu modelo cooperativo de ministério se tornar alvo de tensões, por causa das recentes discussões sobre sexualidade.

O historiador presbiteriano Donald Fortson é membro da Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC) desde sua criação em 1981, e diz que nunca viu uma Assembleia Geral mais “turbulenta” do que a deste ano, que foi realizada em junho, na cidade de Memphis.

Entre os tópicos debatidos, discutiu-se se a denominação deveria admitir uma congregação cujo pastor se identifica como homossexual, mas diz ser celibatário e apoiar uma ética sexual cristã tradicional, posicionamento que se enquadra no que alguns chamam de cristianismo “lado B”.

Greg Johnson, pastor da Igreja Presbiteriana Memorial, em St. Louis, levou sua congregação a deixar a Igreja Presbiteriana na América (PCA), dois anos atrás, depois que essa denominação votou — em uma votação apertada, com poucos votos de diferença — para desqualificar para o cargo ministerial “homens que se descrevem como homossexuais, mesmo aqueles que se descrevem como homossexuais e afirmam praticar o celibato, abstendo-se de conduta homossexual”.

Johnson descreveu a si mesmo dessa forma, defendendo o cristianismo “lado B” tanto na polêmica conferência Revoicequanto em seu livro Still Time to Care: What We Can Learn from the Church’s Failed Attempt to Cure Homosexuality[Ainda há tempo para se importar: o que podemos aprender com a tentativa fracassada da Igreja para curar a homossexualidade].

Agora, sua igreja questionou se deveria juntar-se à EPC.

“Isso gerou todo tipo de controvérsia”, disse Fortson, professor emérito de história da igreja e teologia pastoral no Reformed Theological Seminary [Seminário Teológico Reformado], “porque temos alguns na EPC que parecem estar muito abertos a trazê-la [a igreja de Johnson] para a EPC, e temos outros grupos que são absolutamente contra a sua entrada.”

Durante a reunião de 18 a 20 de junho, a EPC votou por um estudo de dois anos sobre “o uso contemporâneo da autoconcepção sexual e como tal linguagem se concilia com as Escrituras e os Padrões de Westminster”. Foi pedido a todos os presbitérios locais da denominação que façam uma pausa na consideração de assuntos relacionados ao estudo, enquanto este estiver em andamento. Isso significa que a igreja de Johnson não será admitida ao menos até 2026.

O tempo dirá se uma denominação que concordou em discordar sobre a ordenação de mulheres e as práticas carismáticas, em prol da cooperação ministerial, conseguirá manter a mesma postura quanto a questões LGBTQ.

Nas coisas essenciais, unidade

A EPC foi fundada há mais de quatro décadas, por um grupo de cerca de 20 igrejas preocupadas com a inclinação liberal assumida pela Igreja Presbiteriana do Norte (que, na época, era oficialmente conhecida como Igreja Presbiteriana Unida nos Estados Unidos da América). Para os fundadores da EPC, três pontos de preocupação eram a crescente aceitação da ordenação de homossexuais, o questionamento sobre a divindade de Jesus por parte de alguns presbiterianos do Norte e um empenho para forçar a aceitação de pastoras.

A tentativa da EPC para dar uma solução a essas preocupações foi uma igreja presbiteriana na qual todos os líderes aderem a uma lista de pontos “essenciais”, entre os quais estão a infalibilidade das Escrituras, a divindade de Cristo e a necessidade de evangelismo. A EPC também adere à Confissão de Fé de Westminster, mas de uma forma menos rigorosa, que reconhece “que ela contém o sistema de doutrina ensinado pela Bíblia” e permite que os ministros discordem em alguns pontos.

Tanto complementaristas quanto igualitaristas são bem-vindos na EPC, assim como o são presbiterianos que tenham visões diferentes sobre práticas carismáticas. Uma gama de visões sobre a criação (do criacionismo da Terra jovem à evolução teísta) e o sábado (do sabatismo estrito a uma visão mais permissiva do sábado) também coexistem na EPC.

“Existe tensão entre aqueles que podem enfatizar mais os princípios essenciais da EPC e aqueles que podem enfatizar mais a Confissão de Westminster na EPC”, disse o secretário da EPC, Dean Weaver. Alguns membros da EPC “são evangelicais com E maiúsculo e reformados com r minúsculo, e há alguns que são reformados com R maiúsculo e talvez evangelicais com e minúsculo”.

Até agora, esse arranjo deu certo. Em 2008, a EPC havia crescido para 77.794 membros. Cinco anos depois, saltou para 134.833. No ano passado, informou estar com 125.870 membros, o que faz dela a terceira maior denominação presbiteriana na América, atrás apenas da maior delas, a PCUSA, que tem pouco mais de 1 milhão de membros, e da denominação PCA, mais conservadora, com quase 400.000 membros.

A filiação à EPC estabilizou um pouco nos últimos anos, caindo 15% desde 2018. A estabilização se deveu em parte, segundo Weaver, a congregações “não saudáveis” que vieram transferidas da PCUSA, entre 2008 e 2018, e posteriormente fecharam. No entanto, um “crescimento modesto pós-COVID” incluiu um aumento de 7,4% nos batismos de adultos e um impulso para o plantio de igrejas.

A maior parte do crescimento da EPC ocorreu por meio da transferência de igrejas vindas da PCUSA.

“Muitos de nós somos refugiados da PCUSA, inclusive eu, e vimos a PCUSA se tornar extremamente liberal”, disse Carolyn Poteet, pastora principal da Igreja Presbiteriana Evangélica Mt. Lebanon, em Pittsburgh.

Mas parte do crescimento veio de congregações da PCA, que deixaram esta denominação por conta da discordância a respeito dos papéis das mulheres no ministério.

Entre essas igrejas está a Igreja Presbiteriana Evangélica Hope, em Columbus, Ohio. Após um “período de discernimento”, a Hope abriu a possibilidade de indicar mulheres para a diaconia. Eles ainda precisam decidir se permitirão presbíteras. O pastor Joe Haack diz que sua congregação pode prosperar em uma denominação com a visão da EPC.

“Queremos os essenciais. Queremos ter isso [quais são esses essenciais] definido”, disse Haack. Mas “pelo bem da missão, achamos que a liberdade nas coisas não essenciais é muitíssimo importante”.

No entanto, à medida que o estudo de dois anos sobre a sexualidade prossegue, observadores da EPC estão se perguntando se a denominação continuará a concordar sobre o que exatamente constitui algo não essencial.

Um futuro incerto

Durante o debate no plenário da Assembleia Geral, um pastor de Ohio disse que o estudo sobre a sexualidade não ajudará a EPC a promover suas agendas de unidade ou de fidelidade doutrinária.

“Embora esse acordo pareça razoável à primeira vista, não é um acordo real”, disse Joseph Yerger, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana Evangélica de Mansfield, em Mansfield, Ohio. As consequências da aprovação do comitê de estudo “incluirão, e devem incluir, por influência de um falso senso de justiça e caridade, uma consideração ativa e positiva para apoiar a possibilidade dessa posição socialmente influenciada e teologicamente errônea que é comumente chamada de cristianismo “lado B”, nos moldes promovidos pela conferência Revoice.”

Uma carta aberta — escrita por Fortson e dois presbíteros da EPC, Nate Atwood e Rufus Burton — adota uma linha semelhante. Ela argumenta que as pessoas que “se identificam como homossexuais”, mesmo que “aleguem praticar o celibato nessa autoidentificação”, devem ser “desqualificadas para ocupar cargos” na EPC.

Em apoio à sua posição, a carta cita as Escrituras, os Padrões de Westminster e “lições da história presbiteriana tradicional sobre a ordenação de homossexuais celibatários”. Até o momento, mais de 370 membros da EPC assinaram a carta.

Atwood chama a discussão da denominação sobre a homossexualidade de “fazer teologia em tempo real”, algo semelhante ao que fizeram reformadores protestantes como Martinho Lutero e João Calvino. Ele se preocupa que permitir que pessoas que se identificam como homossexuais sejam ordenadas pode negar, involuntariamente, uma doutrina da Reforma, a sola Scriptura, substituindo o chamado da Bíblia para se arrepender de desejos pecaminosos por uma acomodação cultural.

“Eu concordo com a crítica feita à igreja conservadora de que exibimos uma espécie de hostilidade à comunidade LGBTQ que realmente prejudicou nosso testemunho”, disse Atwood, pastor da Igreja Presbiteriana St. Giles, em Charlotte, Carolina do Norte. “E acho que devemos nos arrepender em algum nível com relação ao nosso temperamento e à nossa atitude”. Mas “vamos comprometer o evangelho”, que exige arrependimento de atos pecaminosos e dos “desejos do coração”?

Outros dizem que o estudo sobre sexualidade da EPC está de acordo com a visão da denominação. O compromisso que levou ao comitê de estudo foi “um momento lindo” e “faz parte da identidade da EPC”, disse Poteet, presidente do comitê da EPC que recomendou o estudo. “Vamos descobrir uma maneira de sermos zelosos, matizados e submetidos a Cristo e às Escrituras, e vamos fazer isso juntos.”

Integrantes da EPC concordam que “a expressão sexual precisa ser celibato — não se casar — ou casamento entre homem e mulher”, disse ela. A questão é se um pastor pode dizer sobre sua atração por alguém do mesmo sexo: Isso é parte da minha experiência, mas estou vivendo uma vida submetida a Deus.

Burton, secretário do Presbitério de New River, na Pensilvânia, está otimista sobre o estudo, embora se oponha à ordenação de homossexuais celibatários.

Ele disse, durante o debate no plenário sobre esse estudo de dois anos, que “é uma resposta às orações da equipe de liderança do Presbitério de New River”. Esse estudo “irá esclarecer nosso testemunho e trazer nossa constituição e nossos documentos a uma maior conformidade com o evangelho”.

Ainda assim, está longe de ser garantido que estudar o cristianismo “lado B” por dois anos produzirá o resultado desejado.

“Estou na denominação há 10 anos”, disse Poteet, “e essa foi a primeira vez que vi a EPC tão dividida, sem uma direção clara. Isso foi um pouco assustador”.

David Roach é repórter freelancer da CT e pastor da Igreja Batista Shiloh, em Saraland, Alabama.

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