Books

Combatendo a Ansiedade com o Antigo Testamento

As antigas Escrituras são uma fonte surpreendente de apoio em nossa luta contra o estresse.

Christianity Today April 24, 2020
Illustration by Matt Chinworth

Este é o terceiro de uma série de seis artigos escritos por estudiosos renomados, que revisitam o lugar do "Primeiro Testamento" na fé cristã contemporânea. — Os editores

Eu sou uma estatística dos millennials. Apelidada de “geração ansiosa”, a maioria de nós está estressada e experimenta uma ansiedade que é capaz de nos afastar do trabalho duas vezes mais do que a taxa média. Somos líderes da crise de saúde mental em um mundo onde muitos pensam que a ansiedade de forma geral está aumentando.

Até pouco tempo atrás, eu não achava que era uma pessoa ansiosa. Então, em um único ano, terminei de escrever minha tese de doutorado na Inglaterra, trabalhei em vários empregos de meio período para pagar as contas, rompi meu ligamento colateral medial (com uma esposa grávida de 36 semanas), tornei-me pai pela primeira vez, conquistei um emprego acadêmico, consegui um visto de trabalho, mudei-me para o outro lado do Atlântico, encontrei moradia, concluí meu primeiro semestre docente e defendi minha tese de doutorado. De modo algum tudo isso foi ruim ou o fim do mundo – algumas coisas foram muito boas. Mas, ao fim de tudo, eu estava exausto e ansioso.

Minha história não é única. Os locais de trabalho são cada vez mais móveis, o que cria o risco de isolamento e excesso de trabalho. Os jovens são instruídos a ir a qualquer lugar e fazer qualquer coisa, mas sua saúde mental está arcando com as consequências. E isso sem falar de problemas mais pesados. como vícios, abusos, doenças crônicas, desemprego, falta de moradia e uma série de outros males que afligem tantos em nossos dias. Em resposta, uma próspera indústria voltada para o bem-estar se desenvolveu, com terapeutas do Instagram, cães de terapia e brinquedos para aliviar o estresse. Como cristão, você pode sentir tensão – até culpa – quando um médico ou um livro de autoajuda melhora sua saúde mental mais que a leitura da Bíblia.

Como alguém que buscou ajuda profissional por causa da ansiedade, posso dizer que minha recuperação sempre esteve enraizada na Bíblia, especialmente em uma passagem do Antigo Testamento: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (Is 41.10). Se você aceita a sabedoria da mídia, ou mesmo de alguns líderes cristãos, vai acreditar que minha libertação não deveria ter acontecido dessa maneira – não com a ajuda daquele Antigo Testamento seco e empoeirado. Mas, enquanto alguns compram um caixão e recitam um rito fúnebre para esses textos, eu os vejo cheios de vida.

Felizmente, eu não sou o único. Muitas de nossas canções de adoração mais terapêuticas estão repletas de referências ao Antigo Testamento, incluindo “Raise a Hallelujah” e “Blessed Be Your Name”. O livro premiado de Fleming Rutledge, The Crucifixion, relata como as comunidades que por gerações enfrentam a marginalização encontram consolo nas histórias de exílio e libertação do Antigo Testamento. Isso é visto no discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King Jr., no qual King emprega temas do Antigo Testamento, incluindo uma alusão a Salmos 30, a fim de confortar seu público ansioso.

Os textos da Bíblia – especialmente no Antigo Testamento – são antigos e foram escritos muito antes de nossa crise de saúde mental. Mas eles não são irrelevantes para nossas preocupações, nem meramente um pano de fundo para o mais útil Novo Testamento. De fato, ao contar as histórias de várias pessoas e suas experiências mais difíceis, o Antigo Testamento não é tão antigo – ele oferece uma forma especial de terapia de grupo.

Aprendendo com a experiência

A relevância do Antigo Testamento na abordagem da ansiedade começa com sua composição. Ele é o produto de dezenas de autores, ao longo de todo um milênio. Por isso, ele registra um número esmagador de eventos traumáticos, desde o assassinato de Abel e a opressão de Israel no Egito até o estupro de Tamar e o exílio na Babilônia, para citar alguns. Isso é diferente do Novo Testamento, que é tão focado e foi concluído de forma tão rápida que eventos importantes do primeiro século – a destruição do templo ou a erupção que atingiu Pompeia e pode ter matado dezenas de cristãos primitivos – não foram registrados.

Imagine que você está próximo ao local do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Que pensamentos e sentimentos você experimentaria? Quase todos os americanos que estavam vivos durante os ataques lembram onde estavam naquele dia fatídico e como foi assistir às notícias que mostravam, repetidamente, o colapso dos edifícios. As experiências subjacentes aos textos do Antigo Testamento não são muito diferentes. Pelo menos um evento perturbador para a sociedade em geral – de um desastre natural ou uma invasão militar a um exílio nacional ou um escândalo político – está por trás de quase todos os escritos do Antigo Testamento.

Não é de surpreender, portanto, que o Antigo Testamento esteja mais saturado com as famosas declarações de "não temas" na Bíblia do que o Novo Testamento. Esses documentos destilam a sabedoria de séculos, conduzindo-nos ao conselho dos anciãos mais vividos e dos sábios mais instruídos, a fim de aprender o que significa confiar em Deus.

Mostrando solidariedade

Uma das maneiras pelas quais o Antigo Testamento traz conforto aos ansiosos é por sua dependência de dois gêneros literários. A primeira é a narrativa histórica, encontrada em livros como Gênesis ou Josué. Ao contrário de alguns perfis de mídia social que são cuidadosamente criados para apresentar apenas os melhores, mais emocionantes e bem-sucedidos lados de uma pessoa, essas narrativas revelam um panorama mais completo. Os personagens são apresentados tanto com conquistas quanto com fragilidades. Há Moisés, o orador amedrontado (Ex 4.10); Acaz, o monarca desesperado (2 Rs 16.7); e Noemi, a sogra amargurada (Rt 1.20–21). Esses personagens removem o estigma da ansiedade e nos lembram que Deus trabalha por meio de pessoas que estão aos frangalhos.

Os salmos complementam as narrativas, oferecendo instantâneos de indivíduos que reagem à ansiedade. Em vez de um resumo organizado e embalado para compartilhamento retrospectivo, a pergunta penetrante de Davi: "Até quando, Senhor?" (Sl 13.1) convida-nos a entrar no seu sofrimento e nos dá permissão para suplicar a Deus que também acabe com o nosso. Asafe expressa o inexprimível quando diz que Deus lhe deu apenas "o pão de lágrimas" (Sl 80.5). Mais importante ainda, esse grupo de vozes humanas fornece soluções teológicas: “O Senhor está comigo; não temerei. O que me poderá fazer o homem? (Sl 118.6). O conforto dos salmos é especialmente sentido ao recordar que são canções destinadas a ser cantadas e são a Palavra de Deus inspirada. Isso significa, como observou João Calvino, que, ao cantarmos os salmos durante as provações, é como se o Espírito de Deus estivesse cantando por nosso intermédio.

Obviamente, os textos do Antigo Testamento nem sempre parecem um bom recurso para combater a ansiedade. Há momentos que soam como um soco no estômago literário, como a promessa de julgamento de Miqueias sobre o povo de Israel (Mq 2.3–5) e histórias de provações severas, como o quase sacrifício de Isaque por Abraão (Gn 22.1-18). Longe de nos confortar, esses textos apenas aumentam nossa ansiedade. Mas, se os lermos de perto, descobriremos que cada história é redentora, porque a ansiedade é momentânea e pretende nos aproximar de Deus com fé e esperança. Nunca é intenção de um autor bíblico atiçar constantemente os medos de um crente ou afastá-lo de sua fé em um Deus bom.

Apresentando a questão existencial

Depois de compartilhar histórias e oferecer segurança, os textos do Antigo Testamento geralmente apresentam um desafio: Você proclama a fé que professa? Pode parecer banal, mas é exatamente o que precisamos ouvir caso a ansiedade seja, pelo menos parcialmente, resultado de nossa vontade – um hábito mental que pode ser combatido. Esse era o problema que um profissional com quem eu me aconselhava em busca de fortalecimento continuava discutindo comigo. “O seu Deus não é um Deus de infinito amor e cuidado? Como isso se relaciona com a sua ansiedade?” É perturbador ouvir um não cristão denunciar a desconexão entre sua ortodoxia e sua ortopraxia, mas ele estava certo. Você só pode fazer a Oração da Serenidade até que a expressão “coragem para mudar o que me for possível” se torne menos uma declaração e mais um imperativo.

O Antigo Testamento se encaixa perfeitamente nesse movimento, do conforto ao comando. Josué diz aos israelitas que entrem em Canaã com coragem (Js 1.18). Provérbios contrasta os ímpios e os piedosos com base em como eles se relacionam com o medo e a ansiedade: "Os maus fogem quando ninguém os persegue, mas o homem honesto é valente como o leão." (28.1, NTLH). Em Isaías, o profeta desafia Acaz enquanto se preocupa com a ameaça de invasão militar: “Se o não crerdes, certamente não permanecereis.” (7.9).

Indiscutivelmente, esses mandamentos não são ordenados por um Deus acusador que se afasta quando somos lançados aos terrores da vida. Esse Deus está sempre presente e, na medida em que nos dá ordens, caminha conosco, levando-nos por caminhos que não podemos percorrer sozinhos. Esta é a mensagem de Salmos 23.4, que algumas traduções trazem: “Mesmo que eu caminhe pelo vale mais escuro, não terei medo de nada, porque o Senhor está comigo” (VFL). Essa tradução nos ajuda a ver que Deus caminha conosco não apenas quando nos aproximamos da morte, mas em todos os momentos sombrios da vida. Ele está sempre lá.

Quando esse Deus sempre presente pede que sejamos fortes e corajosos, encontramos um paradigma surpreendente para lidar com a ansiedade. A vida de fé é difícil e requer confiar em Deus além do que os olhos podem ver. Mas uma vida de incredulidade é ainda mais difícil, porque cede ao medo e perde Deus de vista no pânico que se segue. De qualquer maneira, este não é o típico caso de dúvida que extingue a fé. A dúvida é uma ferramenta para questionar os medos. É a ansiedade que mina a fé. Nossa vocação como crentes ansiosos é ver e apreciar a contradição entre nossa ansiedade e o Deus que nos ama. Com a ajuda de outras técnicas e, possivelmente, de medicamentos, combatemos a ansiedade simplesmente crendo em Deus.

Esse desafio foi impactante para mim. Sou muito bom em controlar minha vida. Posso antecipar demandas, gerenciar projetos e perseverar. Planejo meus dias minuciosamente (às vezes nos mínimos detalhes) e trabalho com outras pessoas, seja minha esposa, seja um colega de trabalho, a fim de garantir que estou cuidando de minhas responsabilidades pessoais e profissionais. Mas, nos meus momentos mais sombrios, principalmente quando estou cansado, fico ansioso sobre o que nunca consigo controlar. Eu me preocupo com acidentes de avião, câncer e até com interações com estranhos.

Se eu não prestar atenção, esses pensamentos se tornam o cenário da minha vida. Portanto, há graça em saber que minha ansiedade está criando ilusões ou, nas palavras de Martinho Lutero – um teólogo que lutou contra a ansiedade como nenhum outro -, a ansiedade é tudo o que Satanás pode fazer conosco agora, pois o Senhor é uma "torre forte" "à qual o justo se acolhe e está seguro.” (Pv 18.10).

Terapia trina

Mesmo que o Antigo Testamento reúna uma multidão de personagens, de profetas a reis, para levar a uma reflexão sobre sua luta contra a fé e a ansiedade, permanece uma sensação de incompletude. Seu conselho humano só vai até certo ponto. Assim, por meio de um coro de vozes, somos envolvidos no conselho do próprio Deus. Deus apóia Moisés com pragas; Isaías entrega a palavra do Senhor a Acaz; Naomi recebe uma resposta para suas orações. Essas vozes humanas apontam para uma solução divina. Mesmo assim, Jó grita: “Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos” (Jó 9.33).

É aqui que o Novo Testamento entra em cena. Ele foca no maior cataclismo da história – a morte do Filho de Deus – e em como os cataclismos do Antigo Testamento encontram nele sua resolução. Mas o Novo Testamento nunca abandona o padrão de redenção do Antigo Testamento, especialmente o conforto de um Deus que caminha conosco "em um vale de trevas". A encarnação de Jesus naquela noite fatídica, em Belém, permite que Deus lide mais plenamente com nosso sofrimento, até mesmo com nossa doença mental.

Quando Jesus chega ao Getsêmani, ele diz que está sofrendo ou "profundamento triste" até o ponto da morte (Mt 26.38, NVT). Essa expressão deriva do termo grego lýp (pronuncia-se lu-pêi), indiscutivelmente a emoção mais temida na antiguidade. Alguns estudiosos sugerem que é o equivalente à nossa noção de depressão. Era tão problemático que os estóicos, filósofos gregos famosos por tentar evitar emoções negativas, acreditavam que não havia cura para isso. Era um estado mental irremediável.

Quando esse Deus-homem desesperado está pendurado na cruz, ele se volta – advinha para onde? – para o Antigo Testamento. "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46; Sl 22.1). Aqui entramos no mistério do Deus trino. Enquanto Jesus expressa sua angústia agonizante, não podemos saber com certeza o que o Espírito lhe disse. Mas, provavelmente, tinha a ver com o conteúdo do salmo que ele estava recitando: “Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez.” (v. 31).

A nota final de esperança e expectativa no salmo 22 prenuncia a ressurreição de Jesus e é um evento que tem muito mais implicações do que podemos imaginar. Se Jesus pode ir aos lugares mais obscuros da mente humana no Getsêmani e emergir ressuscitado e justificado, nós também – pela fé nele – seremos elevados à nova vida e a uma nova psicologia. Essa percepção fornece grande encorajamento para os ansiosos.

Para mim, a ansiedade sempre foi uma sensação de destruição iminente. É difícil se livrar dela, e o desastre parece inevitável. Não há sessão de aconselhamento ou nenhum conselho sábio que a afaste completamente. Mas, na terapia de Pai, Filho e Espírito Santo, há a promessa de que nossa ansiedade acabará, e essa perspectiva nos ajuda a enfrentar nossa vida frequentemente ansiosa. Melhor ainda, a promessa prevê total libertação da ansiedade e de todas doenças mentais, quando recebermos novos corpos e nos levantarmos para celebrar a vitória de Cristo com mentes que conhecem apenas o “amor perfeito” de Deus, que “expulsa o medo” (1Jo 4.18, NVI).

B. G. White é professor adjunto de estudos bíblicos no The King's College, em Nova York, e integrante do Center for Pastor Theologians.

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve the quality and quantity? Share your feedback here.

Books

Sobreviver ao COVID-19 na Espanha Mudou Minha Fé

Seis lições do presidente da Aliança Evangélica Espanhola para as igrejas.

Christianity Today April 24, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Courtesy of Iglesia Buenas Noticias Lugo / Wikimedia Commons/ De an Sun / Unsplash

A Espanha enfrenta a pior crise de que se tem notícia desde que nosso país se tornou uma democracia moderna, há 40 anos. O novo coronavírus já matou mais de 22 mil pessoas e infectou pelo menos 220 mil.

Nossas igrejas evangélicas não foram poupadas desta pandemia e eu estou entre os que foram hospitalizados com o COVID-19.

Sou pastor de uma congregação com 350 pessoas em uma pequena cidade na costa do Atlântico. Também sirvo como líder nacional da minha denominação e como presidente da Aliança Evangélica Espanhola. Mas fiquei estagnado após ter sido infectado.

Depois de 21 dias de luta contra a doença, tanto em casa quanto no hospital, recebi alta. Fiquei agradecido e cheio de alegria; também estava muito consciente de que outros, mesmo mais jovens e saudáveis que eu, haviam perdido a vida.

Ainda estamos sofrendo como país, à medida que caminhamos em direção a um futuro incerto. Na minha família, alguns ainda estão combatendo o vírus – incluindo minha esposa e minha sogra. Com base em nossa experiência na Espanha, apresento seis lições sobre amor a Deus e ao próximo em meio a uma pandemia.

1. Devemos nos lembrar de que não somos invencíveis.

A primeira conclusão é para aqueles que, como eu, atuam na liderança cristã. Enquanto me recuperava, a lição óbvia que extraí é que não sou um super-humano. Como pastores, vivemos no mesmo mundo que todos os outros, com os mesmos conflitos e riscos. Somos vulneráveis – e é exatamente isso que nos qualifica para a liderança.

A liderança daqueles que parecem alheios ao sofrimento nunca produzirá discípulos, somente admiradores. Meu tempo de sofrimento e luta contra a doença me lembrou mais uma vez que o Pai já enviou um Salvador – e eu não sou ele.

Ficar doente também me mostrou a importância de pertencer a uma comunidade. À medida que as pessoas ficavam sabendo que eu estava infectado, reagiam imediatamente, em oração, em minha igreja local, em igrejas de toda a Espanha e até em outras partes do mundo. Amigos e pessoas que eu não conhecia me enviaram mensagens de apoio e orações de fé e amor. Tudo isso foram doses de encorajamento em meus momentos mais difíceis.

Naqueles dias, confirmei a verdade bíblica de que somos um único corpo. Temos uma fé em comum e somos uma família. Isso não é algo abstrato ou uma teoria que veremos na prática algum dia no futuro, mas uma realidade imediatamente palpável. É isso que sustenta aqueles que estão sofrendo entre nós.

2. Devemos reavaliar nossa vida.

Quando você está envolvido em uma igreja que cresce em números, com projetos sociais, plantação de igrejas etc., doenças inesperadas surgem como uma pausa repentina e indesejada para muitas coisas.

Inicialmente, é um choque e, depois, chegam as fases de raiva, barganha e, finalmente, aceitação. A doença leva a um processo pessoal que, se tudo correr bem, pode durar horas ou dias.

No começo, eu tinha dúvidas sobre o propósito do meu sofrimento por meio do COVID-19. Mas, depois que aceitei minha situação, fiz duas constatações.

A primeira foi quanto Deus cuida de mim e ainda se importa comigo. Nos dias em que eu estava gravemente doente, tive de considerar a morte uma possibilidade real. Como eu avaliaria minha vida? Na área de ministério e profissão, eu estava em paz; fiz o que pude no tempo que Deus me deu. Mas a tristeza apareceu quando pensei em meus filhos. Será que eu conseguiria testemunhar a realização de seus sonhos e objetivos? Mesmo assim, experimentei a tranquila paz de saber que, se eu morresse, Deus cuidaria de minha esposa e meus filhos.

A segunda foi me identificar com a dor de tantas pessoas que estão passando pelo mesmo sofrimento. É inestimável o que a doença pode trazer à sua alma se você estiver pronto para, ao longo do processo, deixar Deus expandir seu coração. Acredito firmemente que Deus é poderoso o suficiente para me curar, assim como foi poderoso o suficiente para me salvar. E não acredito que a doença seja um castigo enviado por Deus. Mas, enquanto esperava com fé pela cura de Deus – diretamente ou por meios médicos – pude entender melhor que outros estavam sofrendo também. Eu podia sentir empatia por eles e percebi que Deus continuava sendo Senhor, a despeito do que acontecesse comigo.

3. Não devemos brincar com teologias triunfalistas.

Se minha experiência pode ser usada para alguma coisa, que seja, pelo menos, para pedir a nossos irmãos e irmãs cristãos nas Américas que aprendam com nossos erros na Europa. Infelizmente, os Estados Unidos já estão vivendo a realidade dessa pandemia e espero que nossos amados países da América Latina mantenham e ampliem as medidas que foram adotadas.

Vimos a crise na China e dissemos: “Isso é na China; está longe” e não nos preparamos. Depois, aconteceu na Itália e dissemos: “É na Itália; não virá para a Espanha”. Na verdade, alguns torcedores de futebol até mesmo viajaram à pior área do país vizinho em termos de contaminhação a fim de assistir a um jogo da Liga dos Campeões. (A competição foi suspensa mais tarde e, agora, é irrelevante.)

Dias depois, o COVID-19 desembarcou em Madri e aqueles que moram em outras partes da Espanha disseram, mais uma vez: “Isso é na capital; estamos seguros”, e não fomos prudentes. Finalmente, chegou à nossa cidade e a nossas famílias. Demoramos a reagir e pagamos um alto preço. Por favor, aprenda com nossos erros e leve esta pandemia muito a sério.

As igrejas têm um papel fundamental a desempenhar, respondendo com sabedoria a esta crise. O problema que estamos vendo é uma teologia débil que afirma que precauções se opõem à fé – uma teologia triunfalista que alega sermos imunes ao vírus em razão de nossa fé. A partir disso, surgem ideias como a de que os cristãos não precisam obedecer às diretrizes das autoridades, pois Deus nos protegerá. Esse é um erro grave e terá consequências desastrosas. Os pastores que pregam tais ensinamentos terão de prestar contas a Deus e aos homens.

4. Devemos acompanhar aqueles que choram.

Na Espanha, vimos centenas de centros de saúde sobrecarregados com o que equipes médicas e militares descrevem como um "cenário de guerra". Médicos e enfermeiros cristãos nos contaram como choraram quando chegaram em casa depois de longos dias de trabalho. Não há pessoal suficiente, equipamento de proteção suficiente, leitos de UTI e muito mais. E eles estão cientes do grave impacto emocional que essa pandemia terá sobre a nossa sociedade nos próximos anos.

Em nossas igrejas, também tivemos de nos despedir apressadamente de muitos irmãos. A maioria dos que partiram para a glória nas últimas semanas foram pais e avós de uma geração que lutou para construir nossas comunidades evangélicas. Muitos morreram sozinhos, em um quarto de hospital, despedindo-se de seus entes queridos por telefone. Embora tenhamos uma esperança compartilhada que vai além da morte, a maneira como eles partiram ainda deixa marcas.

Temos de reaprender a acompanhar as pessoas em seus processos de luto, cristãos e não cristãos. As autoridades de saúde estão pedindo às famílias que autorizem a cremação de seus familiares. Um telefonema fornece instruções sobre como recolher as cinzas e preencher o relatório da morte. É como se as vítimas do COVID-19 tivessem desaparecido, de repente, de nossa vida.

Muitos, que não tiveram permissão de ficar com seus entes queridos nos momentos finais, terão de lidar com sentimentos de culpa e raiva. Dezenas de milhares nunca verão o corpo de seus entes queridos, nem mesmo o caixão. As famílias não serão capazes de elaborar a perda – a ausência – de forma concreta.

Como expressamos o luto sem um ritual funerário ou uma cerimônia? Temos de equipar as pessoas para expressar tristeza à distância. Nossa aliança evangélica já está trabalhando em um guia para o luto nestes tempos estranhos.

5. Devemos voltar ao essencial, começando pela comunidade.

Atividades que reúnem pessoas em espaços físicos foram proibidas em toda a Europa e não há um cronograma claro que estabeleça quando os governos permitirão que os locais de culto retomem as atividades.

Isso desafia nossa maneira de ser igreja. As congregações que já tinham uma boa estrutura para pequenos grupos preservarão melhor o senso de comunidade – bem como o cuidado pastoral e o trabalho missionário – neste período de crise. E, é claro, as tecnologias e os sistemas de comunicação disponíveis na internet são uma bênção.

Mas os líderes cristãos precisam usar esta crise para repensar a igreja do ponto de vista comunitário. O centro não é o culto, ou a reunião de domingo, mas Cristo. Quando esta crise terminar, será importante retornar a uma estrutura celular para a igreja que enfatize o compromisso pessoal e ponha um fim ao consumismo religioso das últimas décadas.

As prioridades que emergem agora são claras. Primeiro, nas palavras de Gálatas 6.10, precisamos fazer “bem a todos, especialmente aos da família da fé”. Temos de ser muito vigilantes, para garantir que nenhum irmão ou irmã sofra financeira, emocional ou socialmente. Depois disso, também devemos ampliar essa preocupação para os bairros e as cidades em que vivemos.

Este também é momento para manter nosso trabalho pastoral em todas as áreas, incluindo o cuidado com crianças, jovens, casais e o culto comumitário. Em nossa igreja local, celebramos o domingo de Páscoa à distância, com a hashtag #santacenaibnlugo: todos participamos da Ceia do Senhor em nossas casas e compartilhamos fotos usando essa hashtag.

Sempre pregamos que uma igreja não é um edifício ou um lugar, mas um povo. O COVID-19 será uma prova de fogo para testar essa afirmação, assim como nossa teologia e as estruturas da igreja.

6. Sejamos igrejas vivas e ativas, mais do que nunca.

Vivemos em um mundo aos pedaços, carente de cristãos que respondam ao chamado de ser sal e luz. É assim que, por meio do nosso testemunho, muitos serão capazes de glorificar a Deus.

Permita-me terminar com um exemplo da igreja que lidero. Nossa comunidade não é muito grande e estamos em uma cidade rural, com cerca de 100 mil habitantes. Poderíamos pensar que somos fracos e pequenos diante desta pandemia. A crise também reduziu consideravelmente a arrecadação financeira de nossa igreja.

No entanto, conseguimos aumentar nossa ajuda social, a fim de aliviar os efeitos da crise entre as famílias vizinhas. Tentamos aplicar Mateus 5.16, que diz: "suas boas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai, que está no céu".

No nosso caso, isso significou desenvolver um plano de ação com três frentes. A primeira é a ajuda de emergência, fornecendo assistência financeira às famílias mais vulneráveis. A segunda é um programa de distribuição de alimentos. Entregamos três toneladas de produtos frescos a cada quinze dias e entregaremos 72 toneladas de alimentos não perecíveis nos próximos dias. Graças à rede que construímos nos últimos anos, agora estendemos essa ajuda a 900 famílias – ou cerca de 3 mil pessoas.

A terceira é uma nova linha ministerial que iniciamos, em relação ao suprimento de itens de saúde. Isso é possível graças a nove membros da nossa igreja, que fazem jalecos médicos, capas de sapatos e bonés. Eles criam essas peças com uma matéria-prima fácil de encontrar: sacolas plásticas.

Já doamos alguns desses itens a centros médicos e casas de repouso, onde eram muito necessários. A reação da mídia local foi significativa desde o início, o que levou ao aumento no número de pedidos. A equipe médica e os enfermeiros expressaram sua gratidão e nos parabenizaram pela qualidade do trabalho. Esperamos fazer, nas próximas semanas, mais de 2 mil unidades de cada peça: jalecos, toucas e proteções para sapatos.

Terminaremos este programa quando os recursos prometidos pelo governo chegarem a esses locais. Enquanto isso, seguiremos servindo nossa comunidade.

É verdade que estamos confinados – mas o Espírito Santo não. E, como cristãos, continuamos a fazer parte da vida da sociedade à nossa volta em meio a esta crise. É hora de mostrar que "a igreja está viva e ativa". Esse lema de nossa igreja manterá o foco de nossos membros nas semanas que virão. Oro que ele também inspire a sua igreja.

Marcos Zapata é pastor da Iglesia Buenas Noticias (Igreja das Boas-novas) em Lugo, Espanha, e atua como presidente da Aliança Evangélica Espanhola.

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve the quality and quantity? Share your feedback here.

Books

O Que os Acadêmicos Céticos Admitem Sobre as Aparições de Jesus Após a Ressurreição

A evidência histórica é clara: aqueles que afirmaram vê-lo ressuscitado devem ter visto alguma coisa.

Christianity Today April 15, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: ZU_09 / Getty Images / Annie Spratt / Unsplash

Em 26 de junho de 2000, a emissora de TV americana ABC exibiu um documentário chamado The Search for Jesus. O principal apresentador da rede, Peter Jennings, entrevistou acadêmicos liberais e conservadores especialistas em cristianismo primitivo a respeito daquilo que podemos saber, historicamente, sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. A série terminou com uma declaração decisiva da especialista em Novo Testamento Paula Fredriksen, que não é cristã.

Comentando as aparições pós-ressurreição de Jesus, Fredriksen disse:

As palavras [das testemunhas] me mostram que elas viram o Jesus ressuscitado. É o que elas dizem e todas as evidências históricas posteriores atestam sua convicção de que foi o que viram. Não estou dizendo que elas realmente viram o Jesus ressuscitado. Eu não estava lá. Não sei o que elas viram. Mas, como historiadora, sei que devem ter visto alguma coisa.

Em outras palavras, ela está admitindo que as melhores evidências históricas disponíveis confirmam que seguidores de Jesus, como Maria Madalena, seu irmão Tiago, Pedro, os outros discípulos e até um inimigo (Paulo) estavam absolutamente convencidos de que Jesus, o homem que havia sido crucificado, lhes apareceu vivo, ressuscitado dentre os mortos.

Fredriksen não está sozinha ao supor que esses seguidores devem ter visto alguma coisa. Praticamente todos os estudiosos da Bíblia do mundo ocidental, a despeito da crença religiosa, concordam que os primeiros seguidores de Jesus acreditavam que ele lhes havia aparecido vivo. Essa realidade foi o que inaugurou a maior religião do mundo. Como resultado dessas aparições, os pescadores judeus começaram a proclamar às multidões, em Jerusalém, que "Foi esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso" (Atos 2.32). Dois mil anos depois, a mensagem da morte e da ressurreição de Jesus é proclamada por bilhões de cristãos em quase todas nações e línguas do planeta Terra.

O que todas essas testemunhas viram?

Uma confissão fundamental

De acordo com a fonte mais antiga de que temos registro acerca da morte e da ressurreição de Jesus, uma pérola escondida encontrada em 1Coríntios 15, Jesus apareceu a diferentes indivíduos e grupos, e a pelo menos um inimigo. Esta tradição de fé, de acordo com virtualmente todos os acadêmicos, data de cinco anos após a morte de Jesus. Por meio dessa fonte, podemos voltar aos primeiros anos do movimento cristão em Jerusalém, à confissão fundamental dos primeiros seguidores de Jesus.

Aqui está o que Paulo diz em 1Coríntios 15.3–8:

Eu lhes transmiti o que era mais importante e o que também me foi transmitido: Cristo morreu por nossos pecados, como dizem as Escrituras. Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como dizem as Escrituras. Apareceu a Pedro e, mais tarde, aos Doze. Depois disso, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda está viva, embora alguns já tenham adormecido. Mais tarde, apareceu a Tiago e, posteriormente, a todos os apóstolos. Por último, apareceu também a mim, como se eu tivesse nascido fora de tempo.

Essa lista de aparições após a ressurreição não encontra comparação no Novo Testamento ou em toda literatura antiga. Descobrimos, com essa lista, que Jesus apareceu a três indivíduos: Cefas (Pedro), seu principal discípulo; Tiago, seu irmão; e Paulo, seu antigo inimigo. Também descobrimos que ele apareceu a três grupos: os Doze (discípulos, menos Judas); mais de 500 dos primeiros seguidores; e todos os apóstolos.

Afirmar que Jesus apareceu a mais de 500 homens e mulheres ao mesmo tempo é verdadeiramente notável. Paulo corajosamente põe sua credibilidade em risco quando menciona que a maioria deles ainda está viva. Afinal, essencialmente, ele está convidando os membros da igreja de Corinto a viajar a Jerusalém e falar com essas testemunhas, investigando por si mesmos como foi ver o Jesus ressuscitado. Podemos perceber, portanto, que um sólido testemunho ocular acerca do Jesus ressuscitado estava prontamente disponível nas décadas seguintes à sua ressurreição. Como G.K. Chesterton observou em O homem eterno: “Esse é o tipo de verdade difícil de explicar, porque é um fato; mas é um fato sobre o qual podemos recorrer a testemunhas”.

Maria Madalena também está na lista das principais testemunhas oculares, pois, de igual modo, ela estava prontamente disponível para ser questionada sobre sua experiência com o Jesus ressuscitado. Como escreve o agnóstico estudioso do Novo Testamento Bart D. Ehrman em Como Jesus se tornou Deus, é “significativo que Maria Madalena desfrute de tal destaque em todas as narrativas dos Evangelhos sobre a ressurreição, mesmo estando virtualmente ausente em todas as outras partes dos Evangelhos. Em todo o Novo Testamento, ela é mencionada em apenas uma passagem em conexão com Jesus durante o ministério público dele (Lucas 8.1–3) e, ainda assim, ela é sempre a primeira a anunciar que Jesus ressuscitou. Por quê? Uma explicação plausível é que ela também viu Jesus depois que ele morreu”. Maria Madalena recebeu a grande honra de ser não apenas a primeira pessoa a ver o Jesus ressuscitado, mas, também, a primeira na história a proclamar: "Eu vi o Senhor!" (João 20.18).

O que quer que essas testemunhas oculares tenham visto transformou sua vida, a ponto de estarem dispostas a sofrer e morrer por isso. Em 2 Coríntios 11.23–33, Paulo relata seu sofrimento quase diário por sua convicção de que Jesus lhe apareceu. Em suas viagens pelo Império Romano, ele foi espancado, aprisionado e apedrejado; passou fome; naufagou e enfrentou diariamente todo tipo de perigos e males.

Também há fortes evidências históricas de que certas testemunhas oculares foram martirizadas por sua fé. Pedro, por exemplo, foi crucificado. Tiago foi apedrejado. Paulo foi decapitado. Valeu a pena dar a vida pelo que quer que eles tenham visto. Eles selaram seu testemunho com o próprio sangue.

A varinha mágica da 'histeria em massa'

Com a finalidade de explicar essas aparições após a ressurreição, alguns acadêmicos especularam que as testemunhas oculares estavam apenas alucinando.

Em seu excelente livro Resurrecting Jesus, o estudioso do Novo Testamento Dale Allison examina os estudos científicos e a literatura disponíveis sobre alucinações. Em casos documentados, ele conclui, há quatro fatos que não acontecem (ou acontecem raramente). Primeiro, alucinações raramente são vistas por vários indivíduos e grupos por um longo período de tempo. Segundo, as alucinações raramente são vistas por grandes grupos de pessoas, especialmente grupos com mais de oito pessoas. Terceiro, alucinações nunca levaram à alegação de que um morto ressuscitou. E, quarto, alucinações não afetam um inimigo da pessoa. (Também podemos acrescentar o fato de que alucinações normalmente não são conhecidas por inaugurar movimentos globais ou religiões mundiais.)

No entanto, no caso das aparições após a ressurreição de Jesus, todas essas últimas circunstâncias raras ou aparentemente impossíveis aconteceram.

Allison resume de forma incisiva as implicações: “Esses parecem ser os fatos e levantam a questão: como devemos explicá-los? Os defensores da fé dizem que os avistamentos de Jesus devem, de acordo com os relatos, ter sido objetivos. Uma pessoa pode alucinar, mas doze ao mesmo tempo? E dezenas por um longo período de tempo? Essas são perguntas legítimas, e agitar a varinha mágica da 'histeria em massa' não fará com que desapareçam”.

Agnosticismo cauteloso

A única outra resposta que dão acadêmicos respeitáveis que lutam contra esse forte registro histórico é alguma variação de "não sei". Assim como Fredriksen, o renomado estudioso do Novo Testamento E.P. Sanders também representa essa abordagem cautelosa e agnóstica quando escreve, em A verdadeira história de Jesus: “Que os seguidores de Jesus (e mais tarde Paulo) tiveram experiências com a ressurreição é, em minha opinião, um fato. Qual foi a realidade que deu origem às experiências eu desconheço”.

Jordan Peterson, o popular professor de psicologia da Universidade de Toronto, também pertence a essa categoria. Ele não afirma nem rejeita a historicidade da ressurreição de Jesus. Quando perguntado diretamente sobre se Jesus literalmente ressuscitou dentre os mortos, Peterson respondeu : "Preciso pensar nisso por mais três anos antes de arriscar uma resposta além da que já dei".

É de se respeitar a posição do agnosticismo cauteloso. Mesmo os apóstolos originais não acreditaram no relato da ressurreição quando as mulheres lhes contaram pela primeira vez (Lucas 24.8-11). No entanto, se alguém como Peterson, com mente e coração abertos, segue as evidências até onde elas conduzem, estou convencido de que ele se encontrará aos pés do Jesus ressuscitado, proclamando, com Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!" (João 20.28).

Convencendo Horácio

A natureza extraordinária da ressurreição de Jesus me lembra a minha cena favorita de Hamlet, de Shakespeare. A peça começa com as aparições “maravilhosas e estranhas” do pai morto de Hamlet para Bernardo e Marcelo e, depois, para Horácio, amigo de Hamlet. Horácio é o cético do grupo, e Hamlet desafia sua falta de fé no sobrenatural deste modo:

Horácio: Ó dia e noite, mas isso é maravilhosamente estranho!

Hamlet: E, portanto, como estrangeiro, seja bem-vindo. Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que você sonha em sua filosofia.

Shakespeare fala por meio de Hamlet, dizendo-nos para esperar o inesperado. Dê boas vindas ao estranho e extraordinário. É realmente estranho que o fantasma do pai de Hamlet apareça para as pessoas, mas não o rejeite apenas por esse motivo. Sua filosofia deve ser ampla o suficiente para o sobrenatural. Mais coisas estão acontecendo em nosso maravilhoso mundo (e além) do que você pode imaginar. Se sua filosofia não é ampla e aberta o suficiente para incluir o milagroso e o extraordinário, você precisa de uma nova filosofia.

Deveríamos estar abertos a reivindicações milagrosas do mundo antigo e dos nossos tempos. Nossas filosofias devem abrir espaço para o inesperado, o estranho e o extraordinário. E, ainda assim, a pergunta mais importante a ser feita sobre qualquer afirmação milagrosa é: "Quais são as evidências?".

Vimos que, mesmo da perspectiva dos acadêmicos mais céticos, o peso do registro histórico atesta que um grande número de indivíduos e grupos cria ter visto o Jesus ressuscitado. Todas as evidências que temos sugerem que as testemunhas oculares eram confiáveis e honestas. Por que não acreditar nelas?

E, se isso não convencer nossos modernos Horácios, podemos ir além, convocando os Doze e os mais de 500 que viram o Messias ressuscitado.

Podemos até ir além do primeiro século, explorando como a crença na ressurreição lançou os fundamentos de toda a civilização ocidental, inspirando algumas das maiores obras de arte, literatura, música, cinema, filosofia, moralidade e ética que o mundo já viu. Tudo isso se baseia em uma mentira?

E, se tudo isso ainda não for suficiente, que os nossos Horácios contemplem os bilhões de pessoas em todo o mundo que, hoje, testemunham prontamente como o Cristo vivo transformou sua vida. Isso inclui gigantes intelectuais que se converteram ao cristianismo de todas as religiões do mundo (ou do ateísmo e do agnosticismo). Em Cristo, eles encontraram todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.

Na Páscoa, esses bilhões proclamaram a mesma mensagem que os apóstolos proclamaram no dia de Pentecostes: "Foi esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso".

Agora, mais que nunca, neste mundo sombrio e cheio de males, sua família, seus amigos e vizinhos estão buscando ter esperança. O Cristo vivo é a única esperança para todos nós. Antes que a Páscoa fique para trás na correria do dia a dia, pergunte ao seu próximo: o que (ou quem) todas essas testemunhas viram?

Eles viram a esperança encarnada, a nova criação, a vida em sua plenitude, Deus encarnado.

Isso, de fato, é maravilhosamente estranho! Incentive seus amigos céticos a não pararem em "Eu não sei". Dê boas-vindas ao Jesus ressuscitado.

Justin Bass é professor de Novo Testamento no Jordan Evangelical Theological Seminary, em Amã, na Jordânia. Ele é o autor de The Bedrock of Christianity: The Unalterable Facts of Jesus’ Death and Resurrection (Lexham Press) e de The Battle for the Keys: Revelation 1:18 and Christ's Descent into the Underworld (Wipf e Stock).

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve the quality and quantity? Share your feedback here.

Books

A Esperança da Ressurreição Se Estende Além do Domingo de Páscoa

Mesmo quando a morte vem, a Boa Nova permanece.

Christianity Today April 15, 2020
Buda Mendes / Getty Images

Este artigo foi publicado em abril de 2020, durante a Pandemia do COVID-19.

Enquanto a pandemia do COVID-19 causava muitos sofrimentos e mortes em todo o mundo, nas últimas semanas, os cristãos aguardavam ansiosamente pelo domingo de Páscoa, com sua promessa de uma nova vida.

Agora que o feriado chegou e se foi, os cristãos podem ser tentados a apenas seguir em frente. Com as dimensões do sofrimento em todo o mundo e realidades demonstrando que o pior ainda não passou, seria fácil deixar de lado a alegria e a esperança da Páscoa. Mas a ressurreição de Jesus não é reservada a um único domingo. A Páscoa pode ter passado, mas a esperança da ressurreição é nova a cada manhã, porque Jesus ressuscitou fisicamente dentre os mortos.

Jesus morreu por nossos pecados, ressuscitou fisicamente dentre os mortos e apareceu a muitas testemunhas oculares, fatos registrados nos evangelhos e nas epístolas. No Novo Testamento, a esperança é uma expectativa confiante de que Deus cumpriu e cumprirá suas promessas de redenção para seu povo e para o mundo em seu Filho, Jesus Cristo.

Os cristãos precisam especialmente se lembrar desse fato durante os tempos de sofrimento. Como o próprio Paulo atesta, porque fomos justificados pela fé em Jesus Cristo, temos paz com Deus e esperança em Deus quando sofremos (Rm 5.1–5). Essa esperança "não nos deixa decepcionados" (v. 5, NTLH).

Entendo como pode ser difícil manter a ressurreição em primeiro plano quando a morte nos ameaça, e também ameaça nossas comunidades e aqueles que amamos.

Em 2018, minha tia amada, que me criou como se eu fosse seu filho, morreu uma morte horrível. Foi o resultado de uma longa e dolorosa batalha contra várias doenças, e a esperança parecia sem esperança.

Ao cuidar dela nas semanas finais, muitas vezes senti que a esperança da ressurreição de Jesus era uma verdade bíblica e teológica que afirmava intelectualmente, mas que não me sustentava nessas circunstâncias. Parecia impossível fazer qualquer coisa além de sentir o desespero naqueles quartos de hospital, quando minha tia gritava a Deus por ajuda enquanto ela sofria; ou na UTI, quando ela estava em coma; ou em uma casa de repouso, enquanto eu a observava passar lentamente desta vida para a próxima, cerca de duas semanas antes do Natal.

Esta pandemia nos está lembrando, a todos, que a vida é incerta, frágil e muito curta. Os cristãos devem gritar, junto com o restante da criação, com gemidos agonizantes, decepções, medos e quebrantamento, enquanto esperamos que cessem as infecções, as doenças, o sofrimento e as mortes. Sabemos que não é assim que as coisas deveriam ser (Rm 8.18).

Lamentamos a situação atual do mundo. Contudo, não desistimos da alegria do domingo da ressurreição, com seus hinos triunfantes que proclamam um Salvador ressurreto. Nossas lágrimas fluem de corações cheios de um lamento esperançoso. Esperamos ansiosamente que Deus, em Cristo, traga a redenção da criação de sua escravidão ao pecado, à doença, à morte e ao sofrimento, enquanto trabalhamos e desejamos a manifestação de todos os portadores da imagem de Deus (Rm 8.19–21, Gl 6.10).

Ainda podemos ter esperança em meio a uma pandemia e até celebrar enquanto lamentamos, porque acreditamos em um Deus que provou que a doença e a morte não têm a palavra final (1Co 15).

Mesmo agora, Deus está agindo em nosso favor, porque Jesus ressuscitou dos mortos. O Espírito combina gemidos de lamento da criação com orações em gemidos inexprimíveis, enquanto nos ajuda e intercede por nós, no momento em que não sabemos o que orar quando nosso sofrimento presente é insuportável (Rm 8.26–27). A intercessão do Espírito garante que Deus trabalhará nosso sofrimento para o nosso bem, por causa de sua obra redentora em Jesus Cristo (Rm 8.28–30).

Há pouco mais de um ano, quando minha tia estava na UTI — no mesmo hospital cujas enfermarias hoje estão cheias de pacientes frágeis e com problemas decorrentes do coronavírus — o Senhor mostrou à nossa família a esperança da ressurreição de Jesus. Antes de minha tia morrer, depois de 22 anos orando por ela e testemunhando, tive o privilégio de levá-la à fé em Jesus Cristo.

E Deus continuou seu trabalho. Um ano depois, tive o privilégio de levar minha mãe e sua irmã à fé em Jesus Cristo e, em seguida, meu filho de 11 anos. Não sei o propósito do sofrimento e da morte de minha tia, aos 59 anos, e ainda lamento sua morte. Mas, por causa da morte e da ressurreição de Jesus, minha família tem esperança.

O sofrimento que inevitavelmente acompanha essa pandemia — morte, doença, medo, perda, isolamento e dificuldade financeira — será difícil de suportar. Vai parecer avassalador e inexplicável. E, no entanto, é incomparável em relação à glória que Deus revelará, em nós, quando libertar toda a criação da escravidão ao pecado (Rm 8.18).

Mesmo durante esse inexplicável tempo de sofrimento como nunca vimos antes, quando a morte parece atravessar o mundo e ao mesmo tempo espreitar ao nosso lado, os cristãos devem lembrar que somos mais que vencedores por meio de Cristo (Rm 8.31–39). Estamos unidos ao amor de Deus em Jesus Cristo pela fé, porque ele morreu por nossos pecados, ressuscitou dos mortos e está sentado à direita de Deus, reinando em vitória triunfante sobre o poder do pecado e da morte (Cl 1–2).

Enquanto ele reina, Jesus intercede por nós em antecipação àquele grande dia em que seus remidos reinarão com ele na terra, em um mundo glorificado (Ap 19.1–22.21).

Até lá, vivemos com a esperança da ressurreição e praticamos uma ética de amor que nos mostra como amar sabiamente o nosso próximo e buscar o bem comum de todas as pessoas, mesmo quando isso significa que devemos praticar o distanciamento social e permanecer em casa. Buscamos novas maneiras de compartilhar a mensagem da salvação de Deus — e mostrar o amor de Cristo — às nossas famílias e àqueles para quem o domingo de Páscoa foi apenas mais um dia no calendário. À medida que o sofrimento à nossa volta cresce, oramos que o evangelho e o reino de Deus continuem avançando.

O domingo de Páscoa chegou e se foi, e o que está por vir é desconhecido até para os melhores analistas, estatísticos e cientistas. Mas a verdade da ressurreição não mudou e nossa esperança em Jesus ainda é certa, porque ele ressuscitou dos mortos!

Jarvis J. Williams é professor adjunto de interpretação do Novo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary, em Louisville, Kentucky. Ele é autor de muitos livros, incluindo um recente comentário de Gálatas.

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve the quality and quantity? Share your feedback here.

Books

Mais 20 Orações Para Fazer ao Nos Aproximarmos do Pico da Pandemia

Clamar a Deus ainda é a melhor resposta a essa crise.

Christianity Today April 15, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: The New York Public Library / Igor Rodrigues / CDC / Unsplash

Na semana passada, os paramédicos vieram buscar o meu vizinho idoso que morava do outro lado da rua, enquanto meus filhos e eu assistíamos, impotentes, da nossa janela da frente. Eles usaram máscaras e amarraram os longos jalecos azuis um do outro. "Por que o caminhão de bombeiros também está aqui?" meu filho perguntou.

"Eu acho que isso sempre acontece quando uma ambulância é chamada", eu disse, tentando ser útil, quando, na verdade, sentia-me inútil.

Com mais da metade do mundo sob ordens de ficar em casa, muitos de nós estamos experimentando esse sentimento de desesperança diante do sofrimento de outras pessoas. Em condições normais, haveria refeições a serem feitas e visitas a hospitais para fazer. Mas estes não são dias normais.

E, ainda assim, não estamos impotentes. De jeito nenhum! Uma das atitudes mais eficazes que podemos tomar em favor do próximo, em todo o mundo, é nos ajoelharmos e buscarmos a Deus, a fonte de toda ajuda.

Escrevi “20 Orações Para Serem Feitas Durante Esta Pandemia” para nos lembrar que Deus é quem ele diz que é: “Vede agora que Eu Sou, Eu somente e mais nenhum deus além de mim.” (Dt. 32.39).

Nas semanas seguintes à publicação do artigo, pessoas de todo o mundo o leram, oraram (presumivelmente) e compartilharam as orações em larga escala. Esses números são uma amostra de como a igreja está se unindo durante a crise.

À medida que continuamos a dar as mãos, mesmo à distância, aqui estão mais 20 orações por nosso próximo:

1. Pela igreja, que luta para ter fé em meio ao sofrimento global: Deus, acreditamos no teu desejo de curar e no teu poder para fazê-lo. Ajuda-nos em nossa falta de fé.

2. Por aqueles que se renderam a Jesus pela primeira vez durante esta pandemia: Deus, ajuda nossos novos irmãos e irmãs a crescer na graça e no conhecimento de nosso Salvador.

3. Por aqueles que ainda não conhecem Jesus, mas cujos corações estão instigados por curiosidades espirituais e anseios eternos: Deus, em tua bondade, leva muitos ao arrependimento e à fé obediente em teu Filho.

4. Por socorristas e profissionais da área de saúde que estão na linha de frente, especialmente em epicentros de infecção: Deus, reforça suas fileiras e fortalece-os com energia sobrenatural.

5. Por empresas com a capacidade (e o mandato) de fabricar os equipamentos de proteção necessários para os profissionais de saúde que estão na linha de frente: Deus, confirma as obras de suas mãos.

6. Por agentes de tráfego, policiais e outros funcionários públicos que trabalham incansavelmente, muitas vezes sem proteção adequada: Deus, dá-lhes resistência, todos os dias, e não permita que fiquem doentes.

7. Por casas de repouso de idosos, centros de reabilitação e outras instalações de assistência a longo prazo: Deus, encoraja os residentes solitários e fortalece os funcionários que os auxiliam. Evita a disseminação de infecções e conforta as famílias que não podem mais visitar seus entes queridos.

8. Pelos encarcerados, que são particularmente vulneráveis à propagação desse vírus: Deus, dá sabedoria aos funcionários das prisões. Protege os presos e os funcionários da violência e da doença. Livra-os, todos, do medo.

9. Por mulheres e crianças em situações abusivas: Deus, reprime aqueles que lhes infligem dor. Oferece proteção e resgate às vítimas e, em sua vulnerabilidade, conforta-as.

10. Pelos países em desenvolvimento: Deus, contém a disseminação da infecção nas cidades mais densamente povoadas e nas mais pobres. Poupa os países já sobrecarregados com doenças e problemas de saúde crônicos.

11. Pelas pessoas de origem asiática nos Estados Unidos, pelos africanos na China e por outras pessoas em todo o mundo sujeitas ao preconceito relacionado ao COVID: Deus, enfrenta esse mal com tua rápida justiça e liberta nossos irmãos e irmãs da crueldade.

12. Por todos que estão preocupados com seu futuro financeiro – como pagarão por moradia, comida e medicamentos essenciais: Deus, conecta-os a fontes de ajuda, por meio da igreja, do governo e da comunidade. Capacita-os a olhar para ti em busca da provisão de que necessitam.

13. Pelas igrejas pequenas que não dispõem de reservas de dinheiro: Deus, mantém suas portas abertas e conclama teu povo a doar generosamente.

14. Pelos educadores, forçados a adaptar os currículos ao aprendizado on-line, e pelos alunos, obrigados a agir com mais autonomia: Deus, faze dos lares um local de curiosidade, investigação e estudo. Dá ajuda especial a crianças sem acesso regular à Internet e outras ferramentas digitais.

15. Por aqueles decepcionados com o cancelamento de comemorações importantes, como formaturas, casamentos ou chás de bebê: Deus, conforta-os em suas decepções e faze com que consigam se reunir com seus amigos e familiares.

16. Pelas gestantes, que enfrentam a perspectiva de entrar em trabalho de parto sem a equipe de apoio que planejaram: Deus, liberta-as do medo e enche-as de alegria ao testemunhar a chegada de uma nova vida.

17. Pelas mulheres que enfrentam uma gravidez inesperada neste momento de crise econômica: Deus, ajuda-as a encontrar o apoio prático e emocional necessário, para impedir que elas busquem a alternativa do aborto.

18. Por igrejas, ministérios paraeclesiásticos e outras organizações cristãs que fazem evangelismo e discipulado on-line: Deus, abençoa nossos esforços digitais imperfeitos e continua a promover o reino de Jesus por meio do seu povo.

19. Por aqueles que morrem sozinhos nos hospitais e por seus entes queridos: Deus, aproxima-te deles e, por tua misericórdia, faze-os encontrar Cristo, o amigo que nunca vai embora e nunca abandona.

20. Pelos envolvidos com a política, em todos os níveis: Deus, ajuda nossos líderes a trabalhar em colaboração e a se comunicar com eficiência, deixando de lado o interesse próprio pelo bem comum.

Deus, reconhecemos que tu criaste o mundo e continuas a sustentá-lo pela tua palavra. Confiamos em tua sabedoria, teu poder e tua bondade. Ajuda-nos, em todas oportunidades, a amar como tu amas e a servir como tu serves. Dá-nos coragem para falar de nossa esperança em Jesus, que sofreu por nós, ressuscitou dos mortos e em breve voltará. Amém.

Jen Pollock Michel é a autora de Teach Us to Want, Keeping Place e Surprised by Paradox. Ela vive em Toronto, com o marido e cinco filhos.

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve the quality and quantity? Share your feedback here.

Books

Pesquisas na Internet Sobre o Coronavírus Levam Milhões a Ouvir Sobre Jesus

Dezenas de milhares de pessoas clamaram pela salvação através de um click desde o início do surto. O aumento é temporário ou o prenúncio de maior testemunho do evangelho online?

Christianity Today April 9, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Kari Shea / Unsplash / Pearl / Lightstock

Milhões de pessoas preocupadas que se voltaram ao Google ansiosas por causa do COVID-19 se conectaram com evangelistas cristãos em seus resultados de busca — levando a um aumento nas conversões online em março.

Nas Filipinas, uma mulher chamada Grace chegou a um site sobre o medo de coronavírus hospedado pela organização de evangelismo da Internet Global Media Outreach (GMO). "Por favor, ajude-me a não me preocupar com tudo", escreveu ela em uma conversa com um conselheiro voluntário. "O que está acontecendo agora é muito confuso." O conselheiro explicou que somente Jesus pode trazer paz duradoura, e Grace recebeu Jesus como seu Salvador.

Já nos EUA, uma voluntária da Associação Evangelística Billy Graham (BGEA) conversou on-line com uma jovem mãe chamada Brittany, preocupada com a possibilidade do COVID-19 tirar a sua vida e a de seus filhos. O voluntário ofereceu esperança e paz, e Brittany também aceitou a Cristo.

Três dos maiores ministérios de evangelismo on-line — OGM, BGEA e Cru — respondem cumulativamente por pelo menos 200 milhões de apresentações do evangelho na Internet a cada ano. Todas as três organizações afirmam que o número de pessoas que buscam informações on-line a respeito de Jesus aumentou desde que o surto do COVID-19 foi declarado uma pandemia no início de março.

Entre meados de março até o final do mês, o OGM registrou um aumento de 170% nos cliques nos anúncios de mecanismos de busca para encontrar esperança. Os cliques nos anúncios sobre medo aumentaram 57% e a preocupação, 39%. As 12,4 milhões de apresentações do evangelho do ministério em março representaram um aumento de 16% em relação à media mensal em 2019.

Essa recente onda corresponde a uma constatação mais ampla de um professor da Universidade de Copenhague: em março pesquisas na Internet relacionadas à oração em 75 países dispararam para seus níveis mais altos em cinco anos.

"Estamos vendo milhões de pessoas dispostas a falar sobre fé diante do medo", disse Michelle Diedrich, diretora de jornada de investigadores da OGM, "e estamos nos preparando para estar disponível para elas".

Pastores, evangelistas e ministérios online tendem a contar uma história semelhante: o COVID-19 escalou uma tendência já significativa em direção ao evangelismo na Internet. À medida que a disseminação do vírus diminui, eles procurarão determinar se o aumento no testemunho on-line pode ser sustentado — e como eles podem melhorar o discipulado para esses novos crentes. Apenas uma fração das pessoas que crêem on-line se envolve em grupos de acompanhamento ou relata começar a frequentar uma igreja local.

Evangelismo via 'elétrons e avatares'

Em março, a BGEA lançou páginas de entrada com recursos sobre coronavírus em seis idiomas (inglês, espanhol, português, coreano, chinês mandarim e árabe). A associação também lançou campanhas de mídia social com o tema "medo".

Nas primeiras quatro semanas, 173.000 pessoas visitaram os sites e mais de 10.000 clicaram em um botão indicando que tomaram decisões por Cristo, disse Mark Appleton, diretor de evangelismo na Internet da BGEA. Isso além do tráfego já registrado nos sites evangelísticos da BGEA, que inclui o SearchForJesus.net e o PeaceWithGod.net, e recebe cerca de 30.000 visitantes por dia. (A CT relatou em 2015 que as apresentações on-line do evangelho pela BGEA eram equivalentes a uma cruzada diária de Billy Graham.)

Um visitante da página do coronavírus, um jovem de 17 anos chamado Donmere, disse a um voluntário no chat: "Eu realmente não sou uma pessoa religiosa, mas não sei mais a quem recorrer, exceto Deus". Quarenta e cinco minutos depois, Donmere era um seguidor de Cristo e materiais de discipulado já haviam sido indicados a ele.

A conversão de Donmere se encaixa no perfil de experiências típicas de salvação na Internet.

O pastor Mark Penick, em sua dissertação de doutorado em 2013 na Dallas Baptist University, estudou convertidos que vieram a Cristo através do site evangelístico IAmSecond.com . Por meio de entrevistas aprofundadas com 37 indivíduos em 17 estados, Penick constatou que todos os seus entrevistados “experimentaram um dilema intransitável” como um divórcio, perda de emprego ou crise financeira que os deixou procurando e questionando. 88% disseram que encontrar um site cristão não era planejado, mas ocorreu "por iniciativa própria" (através de ações como clicar em um anúncio ou resultado de um mecanismo de busca). Cerca de 75% tinham "problemas pessoais de disfunção e dependência" antes de suas conversões online.

Poucas análises acadêmicas sobre evangelismo na Internet já foram registradas — a maioria são dissertações e projetos de doutorado em iniciativas evangelísticas específicas — mas em 2014, o Pew Research Center descobriu que o testemunho on-line informal era relativamente comum. Um em cada cinco americanos disse que compartilhava sua fé online pelo menos semanalmente, e 60% disseram ter visto a religião compartilhada online pelo menos uma vez por semana.

Em 2018, a Barna Research relatou que a maioria dos cristãos concorda que a tecnologia está facilitando a evangelização e que 58% dos não-cristãos disseram que alguém compartilhou sua fé com eles no Facebook, enquanto outros 14% ouviram um testemunho através de outros canais de mídia social.

Ed Stetzer, diretor do Centro de Evangelismo Billy Graham no Wheaton College, disse que os missiologistas geralmente têm uma visão favorável do evangelismo na Internet.

"Historicamente, sempre pensamos em evangelismo sendo feito com os pés e o rosto", disse ele. “Nós vamos e pregamos. Mas as pessoas se sentem bem com a possibilidade de envolver elétrons e avatares ”no século XXI.

Na Cru, testemunhar também envolve emojis. Entre as ferramentas de evangelismo digital da Cru para os campi das faculdades, há uma pesquisa a ser respondida com emojis para iniciar uma conversa espiritual. A presença online da Cru também inclui aplicativos evangelísticos para celular, apresentações do evangelho em vários idiomas e artigos online usando as necessidades detectadas como pontes para o evangelho. Um dos sites evangelísticos mais eficazes do ministério, o EveryStudent.com, recebeu 56 milhões de acessos no ano passado e registrou 657.000 decisões para Cristo.

Em resposta ao COVID-19, a Cru adicionou 52 novos recursos aos seus sites. Um aumento semelhante no tráfego levará o ministério a ultrapassar o número total de visitantes do EveryStudent.com no ano passado em 20 milhões em 2020 e o número de decisões para Cristo em mais de 300.000.

O ministério InterVarsity USA, que foca em universitários, relatou um aumento semelhante no interesse espiritual em meio ao COVID-19. Em um anúncio on-line de angariação de fundos, exibido na primeira semana de abril, o ministério afirmou: Na última semana vimos mais decisões iniciais de seguir Jesus do que em qualquer outra época do ano passado".

Um estudo do American Enterprise Institute sugeriu que os jovens alvos de ministérios como Cru e InterVarsity podem estar mais preocupados com o coronavírus — pelo menos em alguns aspectos — do que com os colegas nas gerações mais velhas.

A pesquisa constatou que 53% dos jovens de 18 a 29 anos estão preocupados em poder pagar os custos básicos de moradia em meio à pandemia. 59% das pessoas entre 30 e 49 anos expressaram a mesma preocupação, em comparação com apenas 29% dos americanos com 65 anos ou mais. Em todas as gerações, as pessoas disseram que o surto de coronavírus fez com que elas se sentissem mais próximas de Deus, incluindo 14% dos não religiosos.

Apesar do aumento documentado do interesse religioso à medida que o COVID-19 varre o mundo, ainda não está claro quanto do aumento do tráfego religioso na Internet se deve ao aumento desse interesse e quanto é simplesmente uma substituição temporária da atividade religiosa pessoal. A Cru, por exemplo, colocou todos os seus grupos de evangelismo e discipulado on-line através do software de videoconferência Zoom. Em um único dia no final de março, a Cru realizou 746 ligações Zoom, em comparação com 474 durante todo o mês de fevereiro, antes do início do distanciamento social para os EUA.

Em 29 de março, apenas 7% das igrejas americanas ainda estavam realizando reuniões presenciais e a maioria havia se mudado para a Internet, de acordo com uma pesquisa da LifeWay Research. Apenas 8% dos pastores protestantes disseram que não haviam fornecido sermões ou cultos on-line para suas congregações durante o mês de março.

A Grande Comissão digital

Independente do impacto no tráfego da Internet ser permanente ou temporário, fica claro que o alcance do evangelismo on-line é global. Durante uma semana em março, os recursos digitais da Cru foram acessados de todos os países do mundo, disse o vice-presidente da Cru, Mark Gauthier.

Graças às ferramentas on-line, o corpo de Cristo "tem a capacidade de plantar igrejas em todo grupo de pessoas não alcançadas" com menores custos de recursos do que qualquer outra época, disse ele. "Este é um dos maiores momentos da história da igreja para o cumprimento da Grande Comissão."

Os locais críticos do COVID-19 receberam um foco evangelístico on-line específico. A BGEA lançou uma campanha de mídia social em espanhol voltada para a Espanha, onde cerca de 120.000 testaram positivo para o coronavírus e quase 11.000 morreram. Durante a primeira semana da campanha, 93.000 pessoas visualizaram postagens direcionadas do Facebook por pelo menos 10 segundos. Mais de 1.000 pessoas conversaram em mensagens sociais em uma única semana com voluntários da BGEA em inglês e espanhol.

O evangelista batista Sammy Tippit tem planos de pregar o evangelho nos próximos meses no Irã, onde 45.000 casos do COVID-19 foram relatados. Aos 72 anos, Tippit experimentou o poder do evangelismo na Internet apenas nos últimos quatro anos. Sua jornada on-line começou pregando sermões evangelísticos para aldeias na Índia via Skype. Isso levou a um evento do Skype, onde 10.000 indianos se reuniram para assistir à pregação de Tippit por vídeo, e 5.000 indicaram o desejo de dedicar suas vidas a Cristo.

Para acompanhar esses novos crentes, Tippit começou a fazer vídeos de discipulado de três minutos e a distribuí-los nas mídias sociais. Os vídeos decolaram e agora uma rede global de seus parceiros ministeriais está se preparando para distribuir vídeos de dois sermões de Tippit a seus amigos não-cristãos nos dias 30 e 31 de maio. Os sermões serão traduzidos para 10 idiomas e distribuídos pelo aplicativo de mensagens WhatsApp em quase 70 países, com um público previsto de 10 milhões de pessoas.

Uma estação de televisão no Irã soube dessa ênfase e está firmando parceria com Tippit para distribuir os sermões evangelísticos para mais 6 milhões de pessoas.

Apenas uns poucos evangelistas estão realizando ministérios online nessa escala, disse Tippit, presidente da Conferência dos Evangelistas Batista do Sul. Mas "muitas pessoas que conheço" estão "fazendo algo no Facebook" e atingindo centenas. Tippit planeja treinar outros evangelistas para expandir seu alcance através da Internet.

Ponto fraco do evangelismo de massa

A maior dificuldade com o evangelismo online é o acompanhamento. Enquanto 60.000 pessoas por dia no ano passado indicaram nos sites da OGM que haviam tomado decisões por Cristo (compromissos pela primeira vez ou rededicações), o ministério só conseguiu rastrear 5.244 pessoas durante todo o ano que se conectaram a uma igreja local depois de iniciar sua jornada com Cristo. "Este foi o nosso maior desafio", disse Diedrich.

Agora, com o coronavírus mantendo as portas das igrejas fechadas por enquanto, os novos crentes precisarão depender ainda mais dos recursos da web para o discipulado.

Das 10.000 pessoas que indicaram decisões de salvação durante a campanha COVID-19 da BGEA, cerca de 2.030 solicitaram acompanhamento. Para a BGEA, canalizar novos convertidos para cursos de discipulado on-line é uma parte importante do processo de acompanhamento, além de incentivar novos crentes a se conectarem a uma igreja local. Em março, o ministério viu 3.043 pessoas matriculadas em cursos de discipulado, 37% acima da média mensal de matrículas. A Cru afirma que 40% dos indivíduos que registram decisões pela salvação através do EveryStudent.com seguem para o acompanhamento on-line. Isso inclui trabalhar através de uma série de lições de discipulado e a oportunidade de interagir com alguém pelo chat para discutir o que está aprendendo.

No entanto, a dificuldade de acompanhar aqueles que professam a fé não é exclusiva do evangelismo na Internet. O mesmo problema afetou cruzadas e outras formas de evangelismo em massa, disse Stetzer.

"Este tem sido o ponto fraco de todo mundo nos últimos cem anos", disse ele. No entanto, “não devemos nos afastar porque esse é o desafio. Deveríamos lidar com a questão ”através de“ laços mais fortes com as igrejas locais”.

Apesar do desafio de acompanhamento, os benefícios do evangelismo on-line parecem superar suas desvantagens. Os missiologistas observam a disposição dos candidatos a discutir assuntos espirituais em maior profundidade por causa do anonimato oferecido on-line. As pessoas também geralmente confiam no aconselhamento bíblico em sites que aparentam ser respeitáveis e profissionais. Além disso, o testemunho na Internet cria uma oportunidade de menor estresse para as tentativas iniciais de evangelismo de cristãos que podem se sentir hesitantes em compartilhar sua fé pessoalmente.

Um voluntário on-line da BGEA relatou: “Eu moro em frente ao meu vizinho há 10 anos e acabei de compartilhar o evangelho com ele pela primeira vez, porque comecei a evangelizar na Internet e aprendi como realmente conversar com as pessoas”, disse Appleton.

Entre as próximas fronteiras no compartilhamento on-line do evangelho está o Dia Mundial de Divulgação 2020 . Com previsão para 30 de maio, o dia foi amplamente divulgado on-line pelo COVID-19 e pela natureza cada vez mais digital do mundo. Uma coalizão internacional de organizadores estabeleceu uma meta de mobilizar 100 milhões de crentes para compartilhar o evangelho com 1 bilhão de pessoas em todo o mundo em maio.

Entre os principais métodos evangelísticos, serão postados testemunhos pessoais on-line, que depois serão compartilhados com amigos via texto ou mídia social. (A Convenção Batista do Sul lançou uma campanha semelhante, já que a pandemia causou ajustes forçados no seu esforço evangelístico Who's Your One?).

Se todo cristão enviasse uma apresentação do evangelho para uma pessoa on-line e pedisse a sua opinião, Gauthier disse: "você veria muitas pessoas tendo a chance de conhecer a Cristo e também muitos frutos".

David Roach é escritor em Nashville.

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve the quality and quantity? Share your feedback here.

Books

20 Orações Para Serem Feitas Durante Esta Pandemia

O coronavírus (COVID-19) lança o mundo em uma crise, mas também nos coloca de joelhos.

Christianity Today April 9, 2020
Image: Illustration by Rick Szuecs / Source images: Diana Simumpande / Unsplash / The New York Public Library

[CT tem mais de 60 artigos traduzidos em português, incluindo: “Os 50 países em que é mais difícil ser cristão em 2021”]

Nos últimos dias, enquanto o coronavírus foi declarado como uma pandemia global e países tomaram medidas urgentes para conter a propagação da infecção, eu gostaria de poder dizer que meu primeiro impulso foi orar. Mas, provavelmente, é mais honesto dizer que o que fiz foi me atualizar obsessivamente nos canais de notícias de minha confiança.

A crise é urgente e me sinto impotente. Mas talvez me sentir assim seja o melhor lembrete para orar. A oração é uma forma de praticarmos ativamente nossa fé de que Deus tem o mundo inteiro em suas mãos, de uma maneira simples e confiante. É onde permitimos "que as súplicas e os louvores transformem nossos receios em orações, permitindo que Deus os conheça" (Fil. 4. 6–7, A Mensagem). A oração nunca é o último recurso para o povo de Deus. Mas é a nossa primeira e mais importante atitude.

Com isso em mente, reuni uma lista de 20 orações para fazermos durante esta pandemia. Cada uma delas aborda as necessidades específicas de uma comunidade específica. Tenho a alegria de fazer parte de uma igreja com muitos profissionais da área médica, alguns dos quais me deram conselhos sobre a melhor maneira de orar por eles neste momento. Incluí aqui o que eles me disseram. Eu também tentei pensar de uma forma mais ampla sobre como o restante de nós está sendo impactado pela crise atual.

Sem dúvida esta lista não é completa, mas vai servir como um bom ponto de partida. Minha esperança é a de que ela possa nos fornecer palavras apropriadas ao orarmos coletivamente (e também virtualmente!) como corpo de Cristo. Cremos que existe um Deus que inclina os seus ouvidos para ouvir, e por isso oramos:

1. Para os doentes e infectados: Deus, os cure e ajude. Sustente seus corpos e espíritos. E contenha a propagação da infecção.

2. Para as populações vulneráveis: Deus, proteja nossos idosos e aqueles que sofrem de doenças crônicas. Sustente os pobres, especialmente os que não possuem acesso ao sistema público de saúde, ou planos privados.

3. Para os jovens e os fortes: Deus, dê a eles o cuidado necessário para impedir que eles espalhem involuntariamente esta doença. Os inspire a colaborar.

4. Para nossos governos locais, estaduais e federais: Deus, ajude nossos políticos eleitos à alocarem de forma sábia os recursos necessários para combater essa pandemia. E os ajude a disponibilizarem mais testes de contaminação pelo vírus.

5. Para a nossa comunidade científica, que lidera a tarefa de compreender com profundidade a doença e comunicar sua gravidade: Deus, dê a eles conhecimento, sabedoria e uma voz persuasiva.

6. Para a mídia, comprometida em fornecer informações atualizadas: Deus, ajude-a a se comunicar com a seriedade apropriada, sem causar pânico.

7. Para os que confiam na mídia, procurando estar bem informados: Deus, os ajude a encontrar as informações mais úteis que os prepare para serem bons vizinhos. Os mantenha afastados da ansiedade e do pânico e os permita implementar as recomendações dadas, mesmo que isso custe algo para eles mesmos.

8. Para aqueles com problemas de saúde mental que se sentem isolados, ansiosos e desamparados: Deus, dê a eles todo o apoio e suporte de que necessitam.

9. Para os sem-teto, incapazes de praticar os protocolos de distanciamento social: Deus, proteja-os de doenças e forneça a cada um deles abrigos que sirva de isolamento em todas as cidades.

10. Para viajantes internacionais retidos em países estrangeiros: Deus, ajude-os a voltar para casa com segurança e rapidez.

11. Para os missionários cristãos em todo o mundo, especialmente em áreas com altas taxas de infecção: Deus, forneça a eles palavras de esperança e os capacite para amar e servir as pessoas ao seu redor.

12. Para trabalhadores das variadas indústrias que enfrentam demissões e dificuldades financeiras: Deus, livre-os do pânico e capacite sua igreja para apoiá-los generosamente.

13. Para famílias com crianças pequenas em casa: Deus, ajude mães e pais a se unirem criativamente para o cuidado e o desenvolvimento de seus filhos. Para mães e pais solteiros, amplie suas redes de apoio.

14. Para pais que não conseguem trabalhar de casa, mas precisam cuidar de seus filhos: Deus, dê a eles a capacidade para elaborar soluções criativas.

15. Para aqueles que precisam de terapias e tratamentos regulares que por esse tempo precisam ser adiados: Deus, ajude-os a permanecer pacientes e esperançosos.

16. Para os empresários que tomam decisões difíceis que afetam a vida de seus funcionários: Deus, dê sabedoria a essas mulheres e homens e ajude-os a liderar sacrificialmente.

17. Para os pastores e líderes de igrejas confrontados com os desafios do distanciamento social: Deus, ajude-os a imaginar criativamente como pastorear suas congregações e ao mesmo tempo amar as pessoas de suas cidades.

18. Para os estudantes cujos cursos estão sendo alterados, ou as vagas estão sendo canceladas, e cuja graduação é incerta: Deus, mostre a eles que, embora a vida seja incerta, a confiança deles está no Senhor.

19. Para cristãos em todos os bairros, comunidades e cidades: Que seu Espírito Santo os inspire a orar, a doar, a amar, a servir e a proclamar o evangelho, para que o nome de Jesus Cristo seja glorificado em todo o mundo.

20. Para os profissionais de saúde da linha de frente, agradecemos o chamado vocacional para nos servir. E oramos também:

  • Deus, mantenha-os seguros e saudáveis. Mantenha suas famílias seguras e saudáveis.
  • Deus, ajude-os a conhecer o diagnóstico e o tratamento desta doença, bem como a mudança de protocolos.
  • Deus, ajude-os a manter a mente atenta no meio do pânico ao redor.
  • Deus, liberte-os da ansiedade pelos seus entes queridos (pais idosos, filhos, cônjuges, colegas).
  • Deus, dê-lhes compaixão por todos os pacientes sob seus cuidados.
  • Deus, providencie para eles o sustento financeiro, especialmente se adoecerem e forem incapazes de trabalhar.
  • Deus, ajude os cristãos na área da saúde a exibirem uma "paz além de todo entendimento", para que muitos perguntem sobre o motivo de sua esperança.
  • Dê-lhes oportunidades para proclamar o evangelho.

Deus, confiamos que o Senhor é bom e sempre faz o bem. Nos ensine a ser seu povo fiel, neste momento de crise global. Nos ajude a seguir os passos de nosso fiel pastor Jesus, que deu sua vida por amor. Glorifique o seu nome ao nos capacitar com tudo o que for necessário para fazer a sua vontade. Amém.

Jen Pollock Michel é o autor de Ensine-nos a querer, mantendo-se e surpreendido pelo Paradox. Ela mora com o marido e os cinco filhos em Toronto. Esta peça foi adaptada de seu blog recente.

Editado por Marcos Simas

What do you think of this translation? Share your feedback here. Interested in helping us promote our Portuguese content on social media? Find out more here.

This article is 1 of 500+ CT Global translations—including Portuguese.

You can also now follow CT in Portuguese on Facebook, Twitter and Telegram.

Ideas

Por Que as Igrejas Brasileiras Fecharam, Apesar de Presidente Bolsonaro Discordar

Líderes evangélicos explicam por que seguir as orientações dos especialistas em saúde pública sobre o COVID-19 não viola sua fé, mas a demonstra.

A missa do Domingo de Ramos, na Catedral de Brasília, foi fechada ao público devido à pandemia de coronavírus, em 5 de abril de 2020.

A missa do Domingo de Ramos, na Catedral de Brasília, foi fechada ao público devido à pandemia de coronavírus, em 5 de abril de 2020.

Christianity Today April 8, 2020
Andressa Anholete / Stringer / Getty Images

Igrejas brasileiras estão na linha de frente de um desacordo entre os governadores de estados e o presidente Jair Bolsonaro sobre as medidas de quarentena destinadas a conter a disseminação do novo coronavírus, que já infectou mais de 11.100 brasileiros e matou 486. Bolsonaro se opõe ativamente aos governadores e diz que um isolamento total acabará por destruir a economia brasileira.

No final de março, Bolsonaro aprovou um decreto que acrescentou atividades religiosas à lista de “serviços essenciais”, o que significa que as igrejas podem permanecer abertas, mesmo que os cidadãos sejam solicitados a ficar em casa. O decreto foi anulado por um tribunal federal no dia seguinte. Nas ruas, no domingo seguinte, ele novamente defendeu que as pessoas voltassem ao trabalho.

“Abra as igrejas, por favor, precisamos delas”, implorou repetidamente uma mulher em um dos vídeos que Bolsonaro postou nas mídias sociais. Ele respondeu com palavras tranquilizadoras.

Analistas políticos afirmam que Bolsonaro está atendendo sua base eleitoral – os politicamente influentes evangélicos, que ajudaram a levar o presidente de extrema direita ao poder nas eleições de 2018 -, deixando que saibam que não foram esquecidos. O Brasil abriga o maior número de católicos do mundo – cerca de 123 milhões, de acordo com o último censo oficial. Mas os evangélicos são uma força crescente. O censo de 2010 contou 42 milhões de fiéis, cerca de 20% da população do país. Uma pesquisa divulgada em janeiro pelo Datafolha concluiu que os protestantes agora representam 1 em cada 3 brasileiros.

"Nenhum partido político no Brasil consegue reunir tantas pessoas, em tantos lugares, tantas vezes por semana como as igrejas", disse à Associated Press Carlos Melo, professor de ciências políticas do instituto Insper, em São Paulo. "E as pessoas tendem a seguir as instruções dos pastores."

Pastores bastante influentes apoiam a posição do presidente com relação ao COVID-19, embora respeitando, relutantemente, as determinações dos governadores e cancelando cultos ou os realizando online. "Pergunto o que é pior: coronavírus ou caos social?", disse à AP Silas Malafaia, um dos pastores mais proeminentes e controversos do Brasil, que lidera a Assembléia de Deus Vitória em Cristo. "Posso garantir que a convulsão social é pior."

Embora os protestos de figuras neopentecostais como Malafaia tenham atraído as atenções da mídia, muitas igrejas evangélicas do Brasil há bastante tempo decidiram seguir o conselho dos especialistas em saúde e suspender os cultos.

Miguel Uchôa, bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, em Recife, que representa igrejas evangélicas alinhadas ao conservador movimento anglicano GAFCON, proibiu todas as suas igrejas de realizar “qualquer tipo de reunião presencial”. Desde 26 de março, dos cultos dominicais aos pequenos grupos estão acontecendo online.

"Entendemos que a igreja deve colaborar como puder para deter o avanço do vírus e ajudar a salvar mais vidas", disse ele à CT.

“Templo e Igreja são coisas diferentes”, disse à CT Alexandre Ximenes, bispo da Igreja Episcopal Carismática do Brasil em Recife. “Concordo com o fechamento dos templos para grandes reuniões, por acatar as orientações dos sanitaristas e não contribuir para o aumento do problema! Bom senso e exemplo!”

“A missão da Igreja não se resume a preparar o homem para viver no céu, mas, também, cabe a ela a missão fundamental de ensinar a ele como se comportar na terra, o que eu chamo de evangelho horizontal”, disse à CT Fernando Firmino, bispo da Igreja Nova Vida em Araripina. “Sendo assim, devemos aproveitar esse tempo para mostrar aos nossos liderados a necessidade de sermos bons cidadãos, usando uma fé que não nos arrebata do bom senso e da razão.

"Por isso, acredito que o culto online, neste período de isolamento, tem sido, além de uma ferramenta reveladora de nossa fé e espiritualidade, uma revelação da nossa responsabilidade social", disse ele.

“Para nossa surpresa, essas reuniões na internet com grupos de igrejas tiveram um efeito surpreendente no incentivo e no fortalecimento das pessoas”, disse Augustus Nicodemus Lopes, pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, à CT. "A maioria está confiante em Deus e está sendo confortada, mesmo diante das terríveis perspectivas que se apresentam."

"Preparamos nosso povo para enfrentar as dificuldades da vida, que aconteceram até com fiéis como Jó, João Batista e o apóstolo Paulo", disse Lopes. "Eles aprenderam que o sofrimento serve para nos tornar semelhantes a Cristo, desejar mais as coisas de Deus e tirar nosso coração das coisas deste mundo."

Lopes e cinco outros líderes brasileiros explicaram mais à CT sobre sua decisão de suspender os cultos presenciais:

Robinson Grangeiro, pastor da Igreja Presbiteriana de Tambaú, em João Pessoa; fundador do Instituto Kuyper; e chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie:

“A postura da Igreja Presbiteriana de Tambaú, sob a orientação do Sínodo da Paraíba, do qual sou presidente, tem sido, desde o início, de irrestrito apoio às medidas que as autoridades sanitárias brasileiras têm adotado para a prevenção e o combate à ameaça da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Apesar do grande valor da celebração comunitária do povo de Deus, o entendimento é que, em uma situação de claro risco de contágio e morte, a nossa teologia instrui claramente à participação cidadã consciente e colaboradora. É assim que nos ensina a Sagrada Escritura e a boa e saudável teologia reformada acerca da autoridade do magistrado civil, que tem sua esfera de atuação, enquanto cabe à Igreja o exercício dos meios de graça, da proclamação do evangelho e do envolvimento nos grandes desafios de transformação social. Desta forma, a excepcionalidade de não podermos nos reunir está nos levando ao uso massivo das tecnologias de informação e comunicação, como forma de continuar assistindo espiritualmente as ovelhas e testemunhando da nossa confiança que o Senhor do tempo e da História passará conosco, em sua providência, por esta travessia, até chegarmos ao porto seguro da sua vontade boa, perfeita e agradável.”

Lisânias Moura, pastor da Igreja Batista do Morumbi, em São Paulo:

“Não devemos manter nossos cultos presenciais por três razões. Primeiro, porque é cuidado com o rebanho. Creio que essa é a maior razão. Segundo, porque não devemos tentar a Deus. Ele não nos pediu para sermos heróis da fé, mas para obedecermos inclusive às autoridades. E cultuar não se resume à adoração no templo. Não estamos sendo perseguidos. Se abrirmos, mesmo que proibamos os mais velhos de virem aos cultos, os mais novos virão e poderão ser contaminadores ou contaminados. Terceiro, indiretamente, a Igreja sentirá que Igreja nao é o templo e que adoração nao se resume a culto comunitário, mas, sim, a adorar a Deus sozinho ou com a família. Aqui na Igreja Batista do Morumbi, tomamos a decisão de nao termos cultos presencias, mesmo antes de o governo pedir ou determinar. E nossa razão primária foi cuidar melhor do rebanho, bem como comunicar que estamos cuidando.”

Hideide Brito Torres, episcopisa da Igreja Metodista do Brasil, em Brasília:

“A Igreja Metodista, por meio de seu colégio de bispos e episcopisas, optou por, logo de início, interromper as atividades nos templos. Procuramos orientar pastores e pastoras a conduzir cultos online, fazer fonovisitas, gravar mensagens nos aplicativos e realizar reuniões de célula por programas para esse fim. Nosso entendimento é que a aglomeração num momento como este contraria toda a perspectiva de ser pastor e pastora, que é manter o rebanho seguro. Há um texto em Provérbios que, embora se aplique aos rebanhos de animais, simbolicamente representa a tarefa do pastoreio também na igreja e o temos usado neste contexto: Provérbios 27.23. Nas orientações escritas a pastores e pastoras, lembramos as recomendações de Martinho Lutero durante a epidemia de peste bubônica: nossa tarefa é cuidar dos doentes e amparar os que sofrem, mas não podemos, nós mesmos, nos tornar motivo de que mais pessoas fiquem doentes. Seguindo essa prescrição, estamos tomando todos os cuidados necessários e obedecendo às orientações para manter a quarentena pelo tempo necessário, entendendo que, depois, teremos muito tempo para os abraços e beijos, que estamos guardando para o reencontro físico. Por enquanto, estamos vivendo um tempo precioso, em que a Igreja de Cristo se reinventa e redescobre suas origens neotestamentárias, nas casas e nos grupos menores. Também estamos tendo de nos voltar à Palavra de Deus, optando pela mensagem do arrependimento, do quebrantamento, da esperança e da firmeza, em vez de centralizar em vaticínios ou declarações que podem alarmar e não confrontar e consolar biblicamente. Que Deus nos ajude e poupe muitas vidas nesta pandemia.”

Jorge Henrique Barro, professor de teologia da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), em Londrina:

“Este tem sido um momento na história do Cristianismo, em nível mundial, que tem exigido e requerido que igrejas e lideranças religiosas reflitam sobre o significado da palavra 'culto', como também o significado de 'ajuntamento'. O 'isolamento social', dentre muitas implicações para a Igreja, leva-a a refletir sobre o conceito bíblico de 'comunhão'. Em 'Vida em comunhão', Dietrich Bonhoeffer escreveu que 'a pessoa que não suporta a solidão deve tomar cuidado com a comunhão'. Estar 'juntos fisicamente' não é sinônimo de 'comunhão'. Pode não passar de um ajuntamento de pessoas. Por outro lado, 'a pessoa que não se encontra na comunhão, que tome cuidado com a solidão', conclui Bonhoeffer. Os cristãos estão sendo forçados a experimentar a comunhão de outras formas que não apenas a presencial. Graças à tecnologia, mesmo isolados socialmente, aqueles que podem dela usufruir já experimentam a comunhão em Jesus Cristo que não se limita ao culto presencial (1Co 1.9). As igrejas e os cristãos devem manter seus cultos e buscar a comunhão de outros modos que não a presencial. Deus não está deixando de ser adorado neste 'isolamento social', mas, certamente, deixará de ser honrado se seus filhos e filhas forem instrumentos de morte para o próximo. Neste momento, honrar a Deus é cuidar de si para cuidar do próximo.”

Ziel Machado, vice-reitor do Seminário Servo de Cristo e pastor da Igreja Metodista Livre Nikkei, em São Paulo:

“Tenho dificuldade em entender o conceito de culto online. Suspeito que por trás deste conceito exista uma 'gramática do espetáculo', onde o evento tem primazia sobre a relação. É algo sobre o qual ainda estou meditando. Não posso ser tão categórico e não desejo julgar os meus irmãos. Minha reflexão tem uma base teológica. Por exemplo, quando o Senhor nos diz que estará sempre conosco e que quando dois ou três (e não dois mil ou três mil) estiverem juntos, em seu nome, ali ele estaria. Para mim, o culto acontece neste lugar: em seu nome. Há um aspecto histórico, de aprender a ser Igreja na eclesia, mas, também, na diáspora, que são duas realidades ligadas à dinâmica da igreja peregrina no mundo. Ou seja, é lindo estarmos juntos fisicamente, mas podemos estar juntos sem ser fisicamente. Então, ainda estou refletindo. Em nosso caso, encorajamos o culto de 'dois ou três', nos lares, em nome de Jesus. O que tenho gravado pelo YouTube são videos como recursos devocionais para que as pessoas em casa possam ter algo para orientá-las em seu tempo de culto. Assim, em minha igreja, não estão ocorrendo cultos no ambiente do templo, somente nos lares. O que fazemos online são as reuniões de pequenos grupos.”

Augustus Nicodemus Lopes, pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Recife:

“A crise causada pela pandemia de coronavírus provocou reações diferentes nos membros da minha congregação. Somos uma igreja reformada com cerca de 800 pessoas. Damos grande ênfase à pregação da Palavra de Deus e ao cuidado pastoral. No entanto, seguindo a orientação das autoridades brasileiras, suspendemos nossos cultos e nossa atividades por um tempo, para evitar contaminação. Muitos de nossos membros enfrentaram este momento de crise com confiança e paz em Cristo. Mas há outros que sofrem de solidão, medo e ansiedade.

“Nossos pastores estão cuidando ativamente do rebanho, por meio de reuniões virtuais na internet, onde ensinam as Escrituras e oram juntos. Nós aprendemos a usar aplicativos de conferências para esse fim. Para nossa surpresa, essas reuniões da internet com grupos da igreja tiveram um efeito surpreendente no incentivo e no fortalecimento das pessoas. A maioria delas está confiante em Deus e sente-se consolada, mesmo diante das terríveis perspectivas diante de nós. Outras estão realmente muito angustiadas e exigem mais cuidado pastoral direto. A maioria está em sua casa, esperando o fim da quarentena. Distribuímos diretrizes para cultos domésticos, sugerimos livros para leitura e transmitimos mensagens de conforto e esperança pela internet. Eu diria que, em geral, pelo menos até agora, quando a crise ainda está no início, os crentes em nosso entorno estão reagindo bem.

“Eles aprenderam há muito tempo que nosso Deus está no controle de todas as coisas. Ele governa as nações. Ele faz todas as coisas funcionarem juntas, pelo bem de seus filhos. Ao contrário de muitas igrejas neopentecostais, que sempre dizem que Deus quer nos dar prosperidade financeira, saúde e felicidade neste mundo, preparamos nosso povo para enfrentar as dificuldades da vida, que ocorreram até mesmo para crentes fiéis como Jó, João Batista e o apóstolo Paulo. Eles aprenderam que o sofrimento serve para nos tornar semelhantes a Cristo, desejar mais as coisas de Deus e tirar nosso coração das coisas deste mundo. Eu acredito que a maioria da congregação pensa assim.

“Nada acontece no mundo se não for da vontade de Deus. Jesus disse no sermão escatológico (Mateus 24) que epidemias, guerras, pragas, fomes e terremotos acontecerão antes da vinda do Senhor. Essas coisas ocorrem para nos fazer perceber que somos fracos e pecadores, incapazes de controlar nosso destino, e nos fazer olhar para Deus e buscar ajuda dele. Um único vírus, em questão de meses, trouxe o caos ao mundo inteiro e abalou a civilização da humanidade até as fundações. Quão fraca, frágil e vulnerável é a humanidade! Desastres como esse nos ajudam a ver nossa total cegueira diante de nossa situação real e a repensar nosso otimismo e nossa esperança no homem.

“Isso não significa que, no meio de todo esse sofrimento, nosso Deus não sinta compaixão por quem está sofrendo. A mesma Bíblia que mostra que ele governa as nações também diz que simpatiza com os pobres, os aflitos e os necessitados. No meio de tudo isso, ele está abençoando cada pessoa de maneiras que, por enquanto, não podemos perceber ou entender. Existem muitos relatos de pessoas que encontraram Deus no meio da crise, outras que aprenderam a amar seus vizinhos e a ajudar com suas necessidades. Nosso Deus está sempre presente, na calma e na tempestade. Vivemos coram Deo – na presença de Deus.”

Reportagem adicional de Diane Jeantet, da Associated Press

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve our quality and quantity? Share your feedback here. Mention CT Global.

Books

CT em Português: O Coronavírus e a Igreja

O que a Bíblia diz sobre COVID-19? O que devemos fazer em resposta? Leia aqui.

Christianity Today April 5, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Ezra Acayan / Stringer / Mario Tama / Staff / Getty Images / Nagesh Badu / Unsplash

Esta é uma coleção de artigos da CT, traduzidos para o português, sobre o coronavírus e o papel da Igreja frente a este desafio:

Siga a CT em português no Facebook, Twitter ou Telegram.

O que você acha da qualidade dessas traduções? Gostaria que a CT fizesse mais? Interessado em nos ajudar a melhorar a qualidade e a quantidade? Compartilhe seus comentários aqui.

Books

Descobri na Itália o Poder de Três Tipos de Oração

Salmos de lamento pareciam exagerados antes do COVID-19. Mas, em meio a 10.700 mortes, minha igreja em quarentena em Roma se identifica mais do que nunca com Davi.

Um mural dedicado a todos os profissionais de saúde da Itália, em uma das paredes do Hospital Papa Giovanni XXIII em Bergamo, cidade epicentro do surto de COVID-19 no país, próximo a Milão.

Um mural dedicado a todos os profissionais de saúde da Itália, em uma das paredes do Hospital Papa Giovanni XXIII em Bergamo, cidade epicentro do surto de COVID-19 no país, próximo a Milão.

Christianity Today March 29, 2020
Emanuele Cremaschi / Stringer / Getty Images

A pandemia do COVID-19 mudou a maneira como os cristãos italianos oram e vivem sua fé, numa nação que chora a morte de mais de 10.700 pessoas – o maior número de mortes no mundo – entre 97.600 casos confirmados, perdendo apenas para os Estados Unidos [em 29 de março].

Durante a quarentena não podemos mais nos reunir aos domingos ou mesmo socialmente em pequenos grupos. Viagens e casamentos foram suspensos, assim como a maioria dos estabelecimentos comerciais. Se alguém for pego fora de casa sem um motivo contundente, estará sujeito a uma multa pesada.

Mas esta temporada de afastamento nos ajudou a descobrir três facetas da oração que nós facilmente negligenciamos em tempos de abundância.

1) Orações de Lamento

Salmos de lamento pareciam exagerados há um mês atrás. Por exemplo, a queixa de Asafe de que Deus fez seu povo “beber copos de lágrimas” poderia parecer um pouco exagerada; O clamor de Davi a Deus perguntando “até quando esconderás de mim o teu rosto?” era uma realidade distante.

Mas, à medida que as nações lutam para conter uma pandemia que causa medo e ansiedade, o lamento parece ser bastante apropriado para todos nós. Em março de 2020, o Salmo 44 parece perfeito:

Desperta, Senhor! Por que dormes?
Levanta-te! Não nos rejeites para sempre.
Por que escondes o teu rosto e esqueces
o nosso sofrimento e a nossa aflição?
Fomos humilhados até o pó;
nossos corpos se apegam ao chão.
Levanta-te! Socorre-nos!
Resgata-nos por causa da tua fidelidade.

Poucos cristãos ocidentais já experimentaram a pobreza, a injustiça ou a perseguição. Conseqüentemente, nossa adoração normalmente reflete as inclinações de indivíduos de fartos recursos em tempos de prosperidade e paz: é bem comportada e convencional. Sim, sofremos no âmbito pessoal; no entanto, raramente nosso culto corporativo é alimentado por protestos e luto diante de Deus.

O lamento é o sofrimento transformado em oração. É a adoração de pessoas que perderam o chão e se sentem deslocadas. Historicamente, é a oração das minorias, dos pobres e dos perseguidos – de pastores chineses em celas de prisões e escravos negros cantando a justiça e a volta de Cristo.

Se o lamento parecia estranho para a maioria dos italianos há cerca de um mês, pastores têm identificado ecos de histórias bíblicas no que está acontecendo atualmente no país. “Ver esposas que não podem realizar os ritos fúnebres ou dizer adeus aos seus maridos me faz pensar em como Jesus foi enterrado às pressas e nas mulheres que voltaram ao seu túmulo para ungir seu corpo.” Gaetano di Francia, diretor da União das Igrejas Bíblicas Cristãs na Itália, me disse. “Não fechar esse ciclo produzirá uma dor ainda mais profunda.”

A linguagem do lamento pode ser uma das lições difíceis que os cristãos podem aprender com essa crise. Pode ajudar os crentes a se distanciarem da espiritualidade do centro e aprenderem a espiritualidade das margens (como o pastor Abraham Cho nos ensina).

2) Orações de Intercessão

Nunca passei tanto tempo em oração intercessória como atualmente. Tenho vergonha de confessar que, no passado, muitas vezes já disse a pessoas “Estarei orando por você”, mas depois me esqueci.

Mas agora que o vírus arrasa a Itália, fico emocionado com imagens de médicos sobrecarregados e pessoas em hospitais improvisados. Um membro de nossa igreja ficou gravemente doente, mas o pronto-atendimento o preteriu por estar atendendo a muitos casos do novo coronavírus.

Não posso encontrá-lo ou impor as mãos sobre ele devido à quarentena nacional em vigor, mas tenho orado por sua recuperação. Enquanto igreja, temos orado por médicos, criamos um fundo para assistir aos necessitados de ajuda financeira e também temos jejuado pelo nosso país.

A crise do coronavirus uniu os evangélicos italianos, que observaram um Dia Nacional de Oração no último domingo [22 de março]. “Pentecostais, reformados, wesleyanos, batistas, congregacionais, entre outros, se encontraram aos pés do Senhor unidos pelo Espírito Santo”, me disse Giacomo Ciccone, presidente da Aliança Evangélica Italiana.

“É como se Deus tivesse preparado líderes e denominações em todo o país para se unirem em oração pela nação e pela igreja”, disse-me Leonardo de Chirico, vice-presidente da aliança. “Foi um evento muito fácil de organizar. Não foi necessário convencer ninguém; todos já estavam empolgados a respeito.” Mila Palozzi, uma pastora na minha congregação em Roma, a igreja Hopera, concorda que os evangélicos têm o desejo de se unirem.

“Na Terra Prometida Israel se via como um conjunto de tribos, mas no exílio se via como uma nação”, falou. “Assim também está acontecendo com a Itália: esta crise está causando uma união entre igrejas e tribos diferentes para juntos orarem como um só corpo pelo nosso país.”

É uma amostra do espírito de unidade e intercessão que está se espalhando pelo mundo. Por exemplo, neste domingo [29 de março] a Aliança Evangélica Mundial convocará um Dia Global de Jejum e Oração.

3) Orações do Silêncio

No entanto, as notícias são tão sombrias e o sofrimento tão global nos dias de hoje que podemos nos sentir pequenos em nossa oração. Como minhas orações podem fazer jus a esse momento? Nossa resposta honesta pode ser: “Senhor, estou pasmo. Eu não sei o que dizer.”

Quando vi caminhões do exército levando corpos para serem cremados porque não havia mais espaço em cemitérios em algumas partes da Itália, fiquei sem palavras.

Mas, confiar no Senhor é válido. Colocar nele nossa confiança silenciosa é uma oração legítima. Quando Paulo escreve sobre nossa fraqueza e sofrimento presente ele declara:

“Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.” (Rom. 8:26-27, NVI)

Quando palavras nos faltam, podemos nos aquietar e saber que Deus é Deus.

“Como família nós escolhemos preencher nossos silêncios cheios de dúvidas com as promessas certas de Deus,” Stefano Picciani, um pastor da igreja Stadera em Milão, me disse. “A declaração de confiança de Asafe no Salmo 73 – ‘Contudo, sempre estou contigo’ – preenche com palavras nossas orações.”

Desejamos, com certeza, retornar à normalidade e ao culto corporativo. Imagine as festas celebrando a vitória e o apertar das mãos!

Quando esta pandemia for derrotada muitos ecoarão o senso de alívio do Salmo 126 (“Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.”) e a alegria do Salmo 150 (“Todo ser que respira, louve ao Senhor.”).

Mas, paralelamente às celebrações, será sábio lembrarmos das orações que fizemos neste tempo de doença. Que esta pandemia humilhe nossos corações e nos ensine a oração dos fracos, dos ansiosos e dos sem-palavras.

René Breuel é pastor fundador da Hopera, uma igreja em Roma, Itália, e autor de The Paradox of Happiness (O Paradoxo da Felicidade).

What do you think of this translation? Want to see CT do more? Interested in helping us improve our quality and quantity? Share your feedback here. Mention CT Global.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube