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Descobri na Itália o Poder de Três Tipos de Oração

Salmos de lamento pareciam exagerados antes do COVID-19. Mas, em meio a 10.700 mortes, minha igreja em quarentena em Roma se identifica mais do que nunca com Davi.

Um mural dedicado a todos os profissionais de saúde da Itália, em uma das paredes do Hospital Papa Giovanni XXIII em Bergamo, cidade epicentro do surto de COVID-19 no país, próximo a Milão.

Um mural dedicado a todos os profissionais de saúde da Itália, em uma das paredes do Hospital Papa Giovanni XXIII em Bergamo, cidade epicentro do surto de COVID-19 no país, próximo a Milão.

Christianity Today March 29, 2020
Emanuele Cremaschi / Stringer / Getty Images

A pandemia do COVID-19 mudou a maneira como os cristãos italianos oram e vivem sua fé, numa nação que chora a morte de mais de 10.700 pessoas – o maior número de mortes no mundo – entre 97.600 casos confirmados, perdendo apenas para os Estados Unidos [em 29 de março].

Durante a quarentena não podemos mais nos reunir aos domingos ou mesmo socialmente em pequenos grupos. Viagens e casamentos foram suspensos, assim como a maioria dos estabelecimentos comerciais. Se alguém for pego fora de casa sem um motivo contundente, estará sujeito a uma multa pesada.

Mas esta temporada de afastamento nos ajudou a descobrir três facetas da oração que nós facilmente negligenciamos em tempos de abundância.

1) Orações de Lamento

Salmos de lamento pareciam exagerados há um mês atrás. Por exemplo, a queixa de Asafe de que Deus fez seu povo “beber copos de lágrimas” poderia parecer um pouco exagerada; O clamor de Davi a Deus perguntando “até quando esconderás de mim o teu rosto?” era uma realidade distante.

Mas, à medida que as nações lutam para conter uma pandemia que causa medo e ansiedade, o lamento parece ser bastante apropriado para todos nós. Em março de 2020, o Salmo 44 parece perfeito:

Desperta, Senhor! Por que dormes?
Levanta-te! Não nos rejeites para sempre.
Por que escondes o teu rosto e esqueces
o nosso sofrimento e a nossa aflição?
Fomos humilhados até o pó;
nossos corpos se apegam ao chão.
Levanta-te! Socorre-nos!
Resgata-nos por causa da tua fidelidade.

Poucos cristãos ocidentais já experimentaram a pobreza, a injustiça ou a perseguição. Conseqüentemente, nossa adoração normalmente reflete as inclinações de indivíduos de fartos recursos em tempos de prosperidade e paz: é bem comportada e convencional. Sim, sofremos no âmbito pessoal; no entanto, raramente nosso culto corporativo é alimentado por protestos e luto diante de Deus.

O lamento é o sofrimento transformado em oração. É a adoração de pessoas que perderam o chão e se sentem deslocadas. Historicamente, é a oração das minorias, dos pobres e dos perseguidos – de pastores chineses em celas de prisões e escravos negros cantando a justiça e a volta de Cristo.

Se o lamento parecia estranho para a maioria dos italianos há cerca de um mês, pastores têm identificado ecos de histórias bíblicas no que está acontecendo atualmente no país. “Ver esposas que não podem realizar os ritos fúnebres ou dizer adeus aos seus maridos me faz pensar em como Jesus foi enterrado às pressas e nas mulheres que voltaram ao seu túmulo para ungir seu corpo.” Gaetano di Francia, diretor da União das Igrejas Bíblicas Cristãs na Itália, me disse. “Não fechar esse ciclo produzirá uma dor ainda mais profunda.”

A linguagem do lamento pode ser uma das lições difíceis que os cristãos podem aprender com essa crise. Pode ajudar os crentes a se distanciarem da espiritualidade do centro e aprenderem a espiritualidade das margens (como o pastor Abraham Cho nos ensina).

2) Orações de Intercessão

Nunca passei tanto tempo em oração intercessória como atualmente. Tenho vergonha de confessar que, no passado, muitas vezes já disse a pessoas “Estarei orando por você”, mas depois me esqueci.

Mas agora que o vírus arrasa a Itália, fico emocionado com imagens de médicos sobrecarregados e pessoas em hospitais improvisados. Um membro de nossa igreja ficou gravemente doente, mas o pronto-atendimento o preteriu por estar atendendo a muitos casos do novo coronavírus.

Não posso encontrá-lo ou impor as mãos sobre ele devido à quarentena nacional em vigor, mas tenho orado por sua recuperação. Enquanto igreja, temos orado por médicos, criamos um fundo para assistir aos necessitados de ajuda financeira e também temos jejuado pelo nosso país.

A crise do coronavirus uniu os evangélicos italianos, que observaram um Dia Nacional de Oração no último domingo [22 de março]. “Pentecostais, reformados, wesleyanos, batistas, congregacionais, entre outros, se encontraram aos pés do Senhor unidos pelo Espírito Santo”, me disse Giacomo Ciccone, presidente da Aliança Evangélica Italiana.

“É como se Deus tivesse preparado líderes e denominações em todo o país para se unirem em oração pela nação e pela igreja”, disse-me Leonardo de Chirico, vice-presidente da aliança. “Foi um evento muito fácil de organizar. Não foi necessário convencer ninguém; todos já estavam empolgados a respeito.” Mila Palozzi, uma pastora na minha congregação em Roma, a igreja Hopera, concorda que os evangélicos têm o desejo de se unirem.

“Na Terra Prometida Israel se via como um conjunto de tribos, mas no exílio se via como uma nação”, falou. “Assim também está acontecendo com a Itália: esta crise está causando uma união entre igrejas e tribos diferentes para juntos orarem como um só corpo pelo nosso país.”

É uma amostra do espírito de unidade e intercessão que está se espalhando pelo mundo. Por exemplo, neste domingo [29 de março] a Aliança Evangélica Mundial convocará um Dia Global de Jejum e Oração.

3) Orações do Silêncio

No entanto, as notícias são tão sombrias e o sofrimento tão global nos dias de hoje que podemos nos sentir pequenos em nossa oração. Como minhas orações podem fazer jus a esse momento? Nossa resposta honesta pode ser: “Senhor, estou pasmo. Eu não sei o que dizer.”

Quando vi caminhões do exército levando corpos para serem cremados porque não havia mais espaço em cemitérios em algumas partes da Itália, fiquei sem palavras.

Mas, confiar no Senhor é válido. Colocar nele nossa confiança silenciosa é uma oração legítima. Quando Paulo escreve sobre nossa fraqueza e sofrimento presente ele declara:

“Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.” (Rom. 8:26-27, NVI)

Quando palavras nos faltam, podemos nos aquietar e saber que Deus é Deus.

“Como família nós escolhemos preencher nossos silêncios cheios de dúvidas com as promessas certas de Deus,” Stefano Picciani, um pastor da igreja Stadera em Milão, me disse. “A declaração de confiança de Asafe no Salmo 73 – ‘Contudo, sempre estou contigo’ – preenche com palavras nossas orações.”

Desejamos, com certeza, retornar à normalidade e ao culto corporativo. Imagine as festas celebrando a vitória e o apertar das mãos!

Quando esta pandemia for derrotada muitos ecoarão o senso de alívio do Salmo 126 (“Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.”) e a alegria do Salmo 150 (“Todo ser que respira, louve ao Senhor.”).

Mas, paralelamente às celebrações, será sábio lembrarmos das orações que fizemos neste tempo de doença. Que esta pandemia humilhe nossos corações e nos ensine a oração dos fracos, dos ansiosos e dos sem-palavras.

René Breuel é pastor fundador da Hopera, uma igreja em Roma, Itália, e autor de The Paradox of Happiness (O Paradoxo da Felicidade).

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