Quando pastores e congregações discordam sobre a reabertura da igreja

A submissão aos pastores em meio a uma pandemia: A quem os cristãos devem ouvir quando seguir Romanos 13 e Hebreus 13 parecer conflitante?

Christianity Today October 7, 2020
KL Yuen / Getty Images

Conforme as igrejas em todo o país começam a reabrir com cautela, muitos membros podem se sentir presos entre as recomedações de seu governo e as de seu pastor. Enquanto os fiéis decidem se retornam às igrejas reabertas ou se ficam frustrados com a falta de uma movimentação para reabri-las, como eles devem agir? O que fazer quando discordamos? CT pediu a vários líderes cristãos que dessem sua opinião.

Aaron Reyes, pastor titular da Hope Community Church e reitor da instituição Vida House

Hebreus 13.17 diz “Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles”. Mas submissão, ou “sujeição” (como se sugere no grego), não significa obediência cega. Independentemente de quais escolhas os pastores façam sobre a reabertura de igrejas, todos nós devemos agir de acordo com nossa consciência. Respeitar nossos líderes não significa que não podemos escolher livremente se vamos ou não participar de um culto presencial, no templo, na manhã de domingo. Pelo contrário, significa escolher, por exemplo, ficar em casa até acharmos mais segura a convivência em público, porém, sem criticar abertamente a decisão de seu líder. Não devemos tentar influenciar outros membros da igreja, explicando por que a liderança está errada e tentando fomentar desconfiança. Em vez disso, expresse gentilmente sua posição para a liderança. Informe-os em amor sobre sua decisão, e continue a amar sua igreja, esteja você perto ou longe.

Daniel Patterson, vice-presidente executivo da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa

Independentemente de você achar que sua igreja é ansiosa ou cautelosa em excesso, pode ser que o melhor lugar para começar seja com a simples decisão de presumir que seus pastores e líderes estão fazendo o melhor. Não há cursos sobre pandemias e contágio no seminário, nem respostas fáceis ou soluções padronizadas que digam quando e como as igrejas devem reabrir. Isso significa que as igrejas em todo o país estão tendo de tomar decisões difíceis, as quais seus líderes sabem que não alcançarão unanimidade. Seja como for, tome as melhores decisões que puder no que diz respeito à sua saúde e à de sua família, especialmente no caso daqueles que pertencem a grupos de risco. Ao mesmo tempo, tenha em mente que é quase certo que sua igreja compreenderá, se você estiver ansioso ou cauteloso em voltar a frequentar a igreja imediatamente. O que é mais necessário, segundo penso, é que todos nos esforcemos para manter a segurança e a unidade em proporções iguais.

Jamaal Williams, pastor titular da Sojourn Church Midtown

Em geral, quando os membros da igreja discordam de seus pastores sobre quando devem voltar a se reunir, eles devem expressar suas preocupações com respeito, conscientes de que seus líderes têm de tomar decisões difíceis. Afinal, a maioria de nós está enfrentando esse tipo de crise pela primeira vez, e as comunidades processam informações de forma diferente e são impactadas de forma diferente. Além disso, cada pessoa deve ter cuidado para não causar divisão entre os outros membros, pois a unidade do corpo é essencial. Cada membro do corpo deve “considerar os outros superiores a si mesmo”. As igrejas que caminham em amor são igrejas em que tanto os membros quanto os pastores respeitam as consciências uns dos outros e concedem uns aos outros o benefício da dúvida; enquanto trabalham pela segurança de todos os membros, em especial a dos mais vulneráveis.

Raymond Chang, ministro do campus do Wheaton College e presidente da Asian American Christian Collaborative

Eu encorajaria as pessoas a manterem a postura que presume que pastores e líderes estão fazendo o melhor que podem com o que sabem. As decisões sobre quando e como reabrir são difíceis. E podem se tornar ainda mais desafiadoras quando posicionamentos e abordagens de caráter racional se tornam desnecessariamente politizados. O povo de Deus deve buscar nas Escrituras posturas piedosas para guiá-los. Amar a Deus amando o próximo deve ser o princípio que nos move. Além disso, acho que 1Coríntios 10.23-24 é útil. É verdade que nem tudo o que é permitido é necessariamente benéfico, mas o versículo 24 realmente dá uma orientação para a tomada de decisões: “ninguém deve buscar o seu próprio bem, mas sim o dos outros”. Precisamos entender como a Bíblia define o próximo e estender nosso cuidado a todos eles. A partir daí, também devemos procurar especialistas em virologia e epidemiologia para determinar a natureza do vírus, como ele se espalha e, em função disso, como deve ser a segurança, e, assim, tomar decisões (tendo em mente os mais vulneráveis) que sejam baseadas nos conhecimentos desses especialistas.

Mateus de Campos, professor-assistente de Novo Testamento e diretor de discipulado do Gordon-Conwell Theological Seminary

A Carta de Paulo aos filipenses foi escrita para uma comunidade que enfrentava forte pressão que dividia a igreja. O apóstolo, portanto, exorta-os a fazer o que for preciso para alcançar um só espírito (Fp 1.27), moldado pela mente de Cristo (Fp 2.5), pois esta era a única maneira pela qual eles seriam capazes de permanecer firmes. Unidade de espírito não significa ter as mesmas opiniões, mas buscar o que temos em comum — Cristo, o Espírito, o Evangelho, a afeição fraternal — para encontrar um espaço de unidade. O ponto principal da admoestação de Paulo é este: “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”(Fp 2.3-4). Os pastores que decidem reabrir suas igrejas devem ser sensíveis aos membros que podem se sentir inseguros em retornar aos cultos presenciais. Em contrapartida, alguns dos que estão lutando contra a solidão podem descobrir que reunir-se é o melhor para eles. Acima de tudo, a unidade deve ser mantida, para que, quando a pressão diminuir, a igreja ainda esteja de pé.

Kathryn Freeman, seminarista, escritora e coapresentadora do Melanated Faith Podcast

Devemos ouvir as decisões dos líderes da igreja com humildade e amor. Acreditamos que eles consideraram, em espírito de oração, todos os riscos e benefícios envolvidos para os membros da congregação e a região em que se encontra. Com amor e humildade, nos unimos a eles em oração sobre essas decisões, e depois confiamos neles, mesmo quando não concordamos com as decisões ou não as entendemos. Nossa capacidade de nos submetermos uns aos outros pode ser o verdadeiro teste de nosso compromisso com a comunidade cristã, e também deve ser o que diferencia a igreja. Devemos nos perguntar: Eu me comprometo apenas em meus termos e desde que minhas necessidades individuais sejam atendidas? Se a resposta for sim, eu diria que você está procurando um clube de recreação. A igreja é muito maior do que nosso conforto pessoal.

Brian Gibson, pastor sênior da His Church e líder do Peaceably Gather Movement

Eu acredito que as igrejas devem reabrir, com um protocolo cuidadoso e compassivo, ao mesmo tempo mantendo nossas liberdades garantidas pela Primeira Emenda. A Primeira Emenda da Constituição fornece proteção aos locais de culto. Não estou incentivando uma corrida maluca para os templos, mas simplesmente um posicionamento racional em defesa da Primeira Emenda. Acredito que a maneira de lidar com as divergências sobre esse assunto é com um espírito de honra. Quem semeia honra, colhe favor. Estou orando para que Deus dê sabedoria aos líderes e fiéis de toda esta grande nação.

Tony Suarez, vice-presidente executivo da National Hispanic Christian Leadership Conference

Dizem que uma das características de um líder diferenciado é sua capacidade de se adaptar às mudanças. Os pastores, compreendendo a essencialidade da igreja, adaptaram-se logo no início desta crise, para garantir que o ministério não cessaria, mas continuaria por via de todos os meios de comunicação possíveis. Acredito que seus esforços foram recebidos com gratidão. Muitos de meus colegas relataram um número sem precedentes de visualizações e perguntas sobre sua igreja. O que parecia uma catástrofe (no que se refere à suspensão dos cultos presenciais) se transformou em uma oportunidade de estender o alcance da igreja local. Os pastores merecem e precisam do nosso apoio, pois agora lutam com a decisão de quando recomeçar as reuniões presenciais. Não existe uma resposta do tipo “tamanho único”. Nossa resposta nestes tempos difíceis deve ser orar por nosso pastor, compartilhar nossas opiniões com ele e, finalmente, apoiar sua decisão. Vivemos tempos sem precedentes e eles exigem que nos unamos.

Traduzido por Erlon Oliveira

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