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Tim Keller pede orações por ter câncer de pâncreas

O pastor e autor de Nova York anunciou seu diagnóstico no domingo passado e começa a quimioterapia na próxima semana.

Christianity Today June 12, 2020
Tim Keller

Tim Keller pediu orações nas mídias sociais aos seus seguidores, enquanto começa a quimioterapia para tratar um câncer de pâncreas.

O conhecido escritor e pastor anunciou a notícia de seu diagnóstico em uma postagem no Instagram e no Twitter, na manhã de domingo [7 de junho].

“Menos de três semanas atrás, eu não sabia que tinha câncer”, escreveu Keller. “Hoje vou para o Instituto Nacional do Câncer, no Instituto Nacional de Saúde (NIH), para exames adicionais, antes de iniciar a quimioterapia para o câncer de pâncreas, na próxima semana, em Nova York.”

Keller, de 69 anos, disse que sentiu a presença de Deus e se sentiu bem fisicamente ao passar por testes iniciais, biópsias e cirurgia. Ele vê o fato de os médicos terem detectado o câncer no estágio atual como uma intervenção providencial de Deus.

“Tenho excelentes médicos humanos, mas o mais importante é que o Grande Médico está cuidando de mim”, escreveu.

Keller deixou o cargo de pastor sênior da Redeemer Presbyterian Church, em Manhattan, em 2017, após 28 anos de ministério naquela congregação. Ele continua escrevendo, pregando e trabalhando junto à organização global de apoio à plantação de igrejas City To City, da Redeemer Presbyterian Church. Keller pediu orações para que ele pudesse continuar seu trabalho, apesar dos efeitos colaterais do tratamento.

Nas últimas semanas, Keller compartilhou sua série Gospel in Life, sobre evangelho e raça, e promoveu o Uncommon Ground, livro sobre o testemunho cristão em meio a divisões, que ele coeditou com John Inazu.

Keller foi diagnosticado com câncer de tireoide, em 2002, sobre o qual escreveu em seu livro Caminhando com Deus em meio à dor e ao sofrimento. Ele tem um conhecido no NIH: o diretor Francis Collins. Keller conversou no mês passado com Collins, cristão reconhecido e geneticista premiado, durante uma conversa on-line sobre fé em meio à pandemia de coronavírus. Collins liderou o NIH em meio a um esforço histórico de pesquisa em torno da imunoterapia contra o câncer, incluindo avanços para o tratamento do câncer de pâncreas, próstata e mama.

O câncer de pâncreas pode ser uma forma particularmente difícil de diagnosticar e agressiva, e representa cerca de 3% dos diagnósticos de câncer nos EUA e 7% de todas as mortes por câncer.

Na última década, outros líderes evangélicos, incluindo o teólogo Dallas Willard e o ex-presidente da InterVarsity Christian Fellowship, Steve Hayner, morreram após lutar contra o câncer de pâncreas.

Keller concluiu seu comunicado com uma referência a Hebreus 12.1–2: “Correndo a corrida diante de mim com alegria, porque, por mim, Jesus correu, com alegria, uma corrida infinitamente mais difícil”.

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Books

Os pentecostais ainda fazem jus ao seu nome?

Mais de um quarto da igreja global se enquadra no novo e debatido rótulo: “Cristianismo capacitado pelo Espírito”.

Christianity Today June 4, 2020
Illustration by Rick Szuecs / Source images: Jantanee / Lightstock

"Você é pentecostal?"

Todd Johnson, codiretor do Centro para o Estudo do Cristianismo Global, do Seminário Teológico Gordon-Conwell, não conseguiu compreender bem os cristãos chineses que conheceu em uma conferência na África do Sul. Teologicamente, eles pareciam pentecostais, por isso, a pergunta.

Eles responderam: "Absolutamente, não".

"Vocês falam em línguas?" Johnson disse.

"Claro."

"Vocês acreditam no batismo com o Espírito Santo?"

"Claro."

“Vocês manifestam os dons do Espírito, como cura e profecia?”

"Claro."

Johnson disse que, nos Estados Unidos, essas eram algumas das marcas distintivas dos pentecostais. Mas, talvez, fosse diferente na China. Por que não usar o termo?

"Oh, há um pregador americano no rádio que é transmitido para a China", explicaram os cristãos chineses. "Ele é pentecostal e não somos como ele."

Rótulos podem ser complicados. Como você chama um pentecostal que não se chama de pentecostal? A pergunta soa como um enigma, mas é um desafio para os estudiosos. Eles lutaram por anos para estabelecer o melhor termo para o amplo e diversificado movimento de cristãos que enfatizam o relacionamento do crente com o Espírito Santo e falam sobre ser cheios do Espírito, batizados com o Espírito ou capacitados pelo Espírito.

Globalmente, o movimento inclui 644 milhões de pessoas, cerca de 26% de todos os cristãos, de acordo com um novo relatório do Centro para o Estudo do Cristianismo Global. O estudo foi realizado em colaboração com a Universidade Oral Roberts, cujo nome se refere a um dos mais famosos evangelistas pentecostais do século 20, a fim de ser compartilhado na conferência Empowered21, com 70 palestrantes como Bill Johnson, da Bethel, e George Wood, líder das Assembleias de Deus. A conferência, que originalmente seria em Jerusalém, está sendo realizada on-line desde domingo [31 de maio].

O relatório representa a primeira tentativa de uma análise demográfica abrangente desse grupo de cristãos em quase 20 anos. Essas descobertas serão amplamente citadas por estudiosos e jornalistas que procuram entender esses cristãos, especialmente porque afetam lugares como Catar, Camboja e Burkina Faso, onde seus números estão crescendo mais rapidamente, e países como Zimbábue, Brasil e Guatemala, onde, agora, representam mais da metade de todos os cristãos.

No debate sobre como chamar o movimento — que já foi apelidado de "pentecostalismo global", "pentecostal / carismático" e "renovacionista" — Todd Johnson e sua coautora e codiretora, Gina Zurlo, propõem outra opção: Cristianismo capacitado pelo Espírito.

"A nomenclatura tem sido um problema perene", disse Johnson à Christianity Today. “Uma das primeiras coisas que perguntamos é o que é comum a todos esses grupos. Acabou sendo o batismo com o Espírito Santo. As pessoas falam sobre serem cheias do Espírito Santo e o termo mais antigo é 'cheio do Espírito'. Mas muitos grupos enfatizaram o poder.”

Como os cristãos chineses observaram, o termo "pentecostal" está associado a igrejas americanas, disse Johnson, como as Assembleias de Deus e a Igreja de Deus em Cristo. O termo indica uma conexão com o reavivamento multirracial da rua Azusa, iniciado em Los Angeles, em 1906, onde o Los Angeles Times relatou que “uma nova seita de fanáticos está se alastrando” com uma “estranha babel de línguas”. O termo "carismático" está ligado a um movimento de renovação que começou nas décadas de 1960 e 1970, no qual os cristãos receberam o batismo com o Espírito Santo, mas permaneceram em suas denominações — especialmente igrejas anglicanas e católicas.

Mas existem muitos outros grupos que são independentes das principais denominações e desconectados da história americana da rua Azusa. Eles também enfatizam o poder do Espírito Santo e a importância da experiência do batismo com o Espírito, mas não são realmente “carismáticos” ou “pentecostais”.

“Perguntar a esses grupos: 'Você acredita no batismo com o Espírito Santo ou o pratica?' — foi uma atitude muito boa”, disse Johnson. "O que descobrimos no final é que a questão do batismo é algo em comum."

Nem todos os estudiosos estão convencidos do uso desse novo termo. Alguns até acham que um único nome não pode descrever um movimento tão diversificado.

"É difícil pregar gelatina na parede", disse Daniel Ramírez, professor de religião da Universidade de Pós-graduação Claremont e autor de Migrating Faith: Pentecostalism in the United States and Mexico in the Twentieth Century.

Ramírez disse que parte do poder do pentecostalismo sempre foi que as pessoas podem personalizá-lo. É uma linha infinitamente adaptável, portátil e regenerativa. Um mexicano indígena, por exemplo, recebeu o dom do Espírito Santo no avivamento da rua Azusa e um tradutor registrou que ele estava agradecendo às pessoas daquela igreja. Mas ele foi embora, disse Ramírez, e ninguém na rua Azusa tinha controle sobre sua teologia ou autoridade sobre como ele compartilharia essa experiência religiosa com outras pessoas.

"Isso faz parte do que torna o movimento interessante", disse Arlene Sánchez-Walsh, professora de estudos religiosos na Azusa Pacific University e autora de Pentecostals in America. “Ele foi diversificado desde o começo. Você procura um termo genérico que seja vago e amplo, e eu uso 'pentecostal' para colá-lo de volta às origens, mas depois quero que as pessoas pensem duas vezes sobre as origens do movimento. O pentecostalismo não começou em um só lugar, seja na rua Azusa, seja no avivamento do País de Gales, seja na Índia e, por isso, é sempre diversificado.”

Um único nome também pode sugerir que diferentes cristãos sejam mais intimamente associados do que realmente são, argumenta Anthea Butler, professora de estudos religiosos da Universidade da Pensilvânia e autora de Women in the Church of God in Christ.

Ao se agrupar pessoas por suas tradições e culturas, corre-se o risco de obscurecer as diferenças históricas e teológicas entre um grupo católico que fala em línguas, a Igreja Vineyard, que pratica a unção do riso, e a Igreja Celestial de Cristo, que enfatiza a pureza e a profecia.

“Você diz 'capacitado pelo Espírito' e um pentecostal antigo diria 'Bem, esse Espírito pode ser um demônio'”, disse Butler. “E ninguém vai convidar um padre católico para uma igreja carismática na Nigéria, a menos que seja para um exorcismo. Você não pode simplesmente comprimir as diferenças teológicas e achatar a história.”

A conferência Empowered21, que começou no último domingo de Pentecostes, adotou o rótulo de “capacitados pelo Espírito”. Parte da amplitude do movimento já se reflete na programação da conferência: evangélicos americanos, como o pastor de uma megaigreja Chris Hodges e o membro do conselho do Hobby Lobby Mart Green, dividem a plataforma virtual com Cindy Jacobs, parte da Nova Reforma Apostólica, e Todd White, Pregador da Word of Faith, além de líderes da Ásia e da África.

Qualquer termo aproximará algumas pessoas e criará uma barreira entre outras, de acordo com Cecil M. Robeck, professor de história da igreja no Fuller Theological Seminary. Robeck participa de diálogos ecumênicos desde 1984 e acha que o termo "cristão capacitado pelo Espírito" poderia ajudar alguns crentes a ver o que eles têm em comum. Mas também pode erguer muros onde eles não precisam existir.

"Eu me preocupo com o desenho de linhas", disse Robeck. “Quero saber: temos um futuro ecumênico juntos? Quero que as pessoas experimentem o Espírito Santo, mas não quero dizer que elas precisam passar por outro obstáculo para falar comigo.”

Johnson não se incomoda com as críticas. Ele não acha que "cristão capacitado pelo Espírito" é um termo perfeito, mas argumentará que "é tão bom quanto qualquer outro".

"Usamos 'renovacionista' por um tempo", disse Johnson, "mas decidimos que é um neologismo e pensamos: 'Bem, queremos usar algo mais natural.' […] Se você está tentando entender o que todos esses grupos têm em comum, a 'capacitação' não é uma má escolha, mas também não é a única.”

O novo estudo, intitulado Introdução ao Cristianismo Capacitado pelo Espírito, estará amplamente disponível em setembro. Ele prevê que, até 2050, o número de cristãos capacitados pelo Espírito crescerá para mais de 1 bilhão, o que representará cerca de 30% de todos os cristãos. Mas, enquanto quase um em cada três cristãos pratica o batismo com o Espírito, os estudiosos provavelmente ainda debatem como chamá-los.

"Essa discussão está sempre acontecendo", disse Nimi Wariboko, teólogo pentecostal da Universidade de Boston. “O que eles estão tentando identificar é o movimento do Espírito. Os americanos geralmente buscam um termo que lembre as pessoas da conexão com o Ocidente. Mas a essência não é de origem geográfica. A essência não é a história, não é a doutrina e também não são os números. É o Espírito. E o Espírito se move.”

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Uma nação em chamas precisa do fogo do Espírito

À medida que o racismo despedaça o país, a mensagem do Pentecostes pode ajudar a igreja a encontrar sua voz.

Christianity Today June 4, 2020
Alex Wong / Staff / Getty Images

[Read in English]

Neste fim de semana, igrejas ao redor do mundo se reuniram virtualmente para celebrar o Pentecostes, aquele momento milagroso em que línguas de fogo caíram sobre os seguidores de Cristo e o evangelho foi ouvido nas diversas línguas do mundo. Pentecostes é o milagre que segue outro milagre (a Ascensão), que ocorre logo após um episódio maravilhoso e fascinante (a Ressurreição).

Em contraste com os discípulos de Cristo, vivemos o Pentecostes este ano após um sofrimento, que veio depois de um trauma, no contexto de uma tragédia. Os protestos e tumultos de Minneapolis (e tantas outras cidades) seguem a morte de George Floyd, que foi sufocado até a morte enquanto algemado implorava por sua vida. Por nove minutos, um policial manteve o joelho no pescoço de Floyd enquanto o homem chamava por sua mãe. Isso ocorreu após os assassinatos de Breonna Taylor e Ahmaud Arbery . E tudo isso ocorre dentro do contexto mais amplo de uma pandemia global que já matou mais de 100.000 pessoas, apenas nos Estados Unidos. Parece mais que estamos ainda no meio dos 40 dias que precedem a Páscoa, mas de uma forma prolongada.

Alguns podem achar que estou trazendo política para os assuntos da igreja. Eles se perguntam por que não estou chateado com crimes de negros contra negros, ou com o colapso da família de raça negra, ou com abortos ou saques, ou qualquer outro tópico que nos ajude a evitar olhar para o problema em si. Esse "problema" é a história de 400 anos de trauma e opressão racial que ainda assola os negros neste e em outros países.

O que protestos, tumultos e brutalidade policial têm a ver com o Pentecostes e a passagem bíblica de Atos 2:1–21? A morte do Messias por nossos pecados tem alguma coisa a ver com a maneira como abordamos as chamas de Minneapolis? A igreja tem algo a dizer ou seremos discipulados pela mídia mais à direita, por um lado, ou pela mídia mais à esquerda, por outro? Como nosso país está dividido, o que as palavras das Escrituras significam agora?

Não existe outro mundo para falar sobre Jesus além desse mundo em que os homens negros podem ter seus pescoços pisados por nove minutos. Ou seja: A única maneira de responder a essas perguntas é olhar as palavras das Escrituras com as cidades em chamas, como um pano de fundo interpretativo.

Aqui está o que a Palavra de Deus nos diz.

Primeiro, o evangelho nos une.

Atos 2:1–21 começa com os seguidores de Jesus reunidos em um só lugar. É incrível pensar que em um determinado momento da história, todos os cristãos do mundo pudessem caber em uma única sala. Apesar do que os livros de história possam dizer, o cristianismo não é uma religião de terror patrocinada pelo Estado, criada por Constantino para manter a população sob controle. Começou humildemente com um grupo misturado e pouco organizado de 120 pessoas, na maioria de origem simples, que haviam encontrado o Deus vivo.

Entre elas, mulheres como Maria, a mãe de Jesus, originária de campos rurais, e pessoas como Mateus, o ex-cobrador de impostos. Os dois não poderiam ser mais diferentes. Mateus colaborou com os opressores de Israel e extorquiu dinheiro de pessoas para encher seus bolsos. Pessoas como Maria foram vítimas de tais atrocidades.

Que tipo de igreja tem espaço para oprimidos e ex-opressores? A igreja cristã. O que uniu aquela igreja primitiva? Suas convicções compartilhadas sobre Jesus.

O que nos une como igreja agora? Como seria essa unidade hoje para a família de George Floyd? O que significaria estarmos juntos com eles? O que significaria estar ao lado da comunidade negra nos Estados Unidos, que ao longo dos anos sofreu sequestros, escravidão, a injustiça da era Jim Crow e a repetição de sofrimentos contemporâneos que marcam nossas vidas agora?

Isso significaria que, como um ato de amor, a igreja diz: "Não deveria ser assim, e passarei minha vida ao seu lado testemunhando os valores que a tradição cristã coloca em sua vida como negro".

A igreja tem o poder de fazer essa afirmação, porque o mesmo Espírito desce sobre todos na sala. Não existe um Espírito Santo que permita às mulheres declarar a palavra de Deus e um outro apenas para os homens. Não existe um Espírito que dê determinadas palavras aos ricos e outras aos pobres. Não existe um Espírito Santo que nos permita falar com os povos africanos e um outro que nos permita falar com asiáticos ou europeus. O único Espírito envia o único evangelho a diversos povos da terra.

A obra do evangelho por meio do Espírito surge de nosso status comum a toda a humanidade de portadores da imagem divina. Todos caímos e precisamos da graça de Deus. Qualquer ideologia que funcional ou verbalmente negue esse status comum a todos é uma heresia. E quem não vê que a heresia do preconceito racial infecta alguns cristãos nesta terra, faz isso diante de fatos avassaladores.

Segundo, o evangelho nos move para fora.

O evangelho chamou os primeiros discípulos para fora de sua própria cultura, para falar e viver com pessoas muito diferentes deles. Todos no Pentecostes eram judeus, mas esse judaísmo havia sido transferido para as diversas línguas e comunidades do Império Romano. A primeira coisa que o evangelho fez foi reunir as pessoas sob o senhorio de Cristo.

Se o evangelho nos leva a um espaço compartilhado para ouvir sobre as poderosas obras de Deus, por que não estamos mais juntos? E o que significaria para o mundo observar e ver um cristianismo que é realmente unido, espiritualmente e de uma forma prática?

Os cristãos, que são negros como eu, podem lidar com pessoas que não têm motivos para nos apoiar. Podemos lidar com racistas seculares e incrédulos. O que é doloroso e desgastante é estarmos lutando pelo nosso direito de existir e depois descobrir que o inimigo é nosso irmão em Cristo. Como dizem os Salmos: “Se um inimigo me insultasse, eu poderia suportar; se um adversário se levantasse contra mim, eu poderia defender-me; mas logo você, meu colega, meu companheiro, meu amigo chegado, você, com quem eu partilhava agradável comunhão enquanto íamos com a multidão festiva para a casa de Deus!” (Sl 55:12–14, NVI).

Nossa vida em comunhão, se quisermos ficar juntos, não pode vir às custas de nossa liberdade. Não devemos ter que lutar contra nossos irmãos e irmãs para obtê-la.

Aqui, novamente, a história do Pentecostes fornece ensinamentos. Enquanto as nações estão sendo reunidas, há duas respostas: Um grupo diz com suas fortes palavras: "Eles estão bêbados" (At 2:13). O outro pergunta: "O que isso significa?" (At 2:12). Um grupo se recusa a reconhecer o que está acontecendo e aproveita sua experiência conhecida para descartar a obra de Deus. O outro faz uma pergunta mais profunda: o que Deus está fazendo no meio deles?

Pedro aborda o primeiro grupo com uma ou duas frases, mas leva mais tempo para abordar a questão do significado. Ele diz à multidão que eles estão experimentando o Espírito prometido em Joel 2:28–32. O profeta Joel afirma que quando Deus redime seu povo, ele redime homens e mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres. Pedro quer lembrar à igreja primitiva que o dom universal do Espírito é um testemunho do poder salvador universal do evangelho.

Em outras palavras, a forma do Pentecostes, sejam mulheres, homens, ricos e pobres, declarando as poderosas obras de Deus, apoia a teologia do Pentecostes, e a ideia de que o evangelho é para todos.

Isso se aplicava à igreja primitiva. E isso também vale para a igreja americana do século XXI.

Hoje, algumas pessoas olham para as demandas dos negros por justiça e só conseguem uma explicação política. Esses críticos respondem dizendo: "Eles são apenas democratas tentando arruinar a igreja" ou "Eles são de fato liberais teológicos, adeptos do marxismo". Mas talvez essas sejam maneiras de evitar olhar para o problema real em si. O que as irmãs e irmãos negros, latinos e asiáticos realmente estão dizendo quando pedem justiça? O que isso significa? E o que Deus está fazendo? Ele está reunindo pessoas diferentes e depois nos movendo para novos espaços plenos do evangelho, pelo poder do Espírito Santo.

Terceiro, o evangelho nos dá esperança no reino vindouro.

Estou convencido de que a esperança para este país não se encontra em nenhuma eleição ou partido político. O voto é importante, mas nem o Partido Democrata nem o Partido Republicano nos salvarão. O que precisamos é de um cristianismo cheio do Espírito, grande o suficiente para reunir pessoas diferentes.

Essa unidade envolve duas coisas. Primeiro, temos que reconhecer que o problema não está apenas "lá fora". Está em nossos corações. O problema não é apenas o fato de que os racistas existem no mundo. O problema é que todos nós, de várias maneiras, vivemos em rebelião contra Deus e sua vontade. O evangelho exige uma decisão de cada um de nós sobre nossos próprios pecados. Uma das mensagens muitas vezes repetidas de Jesus foi: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (Mt 4:17).

Ele nos chama ao arrependimento individual pelos nossos pecados. Por quê? Porque o Reino de Deus está chegando. E aqui está o segundo ponto. Esse reino é descrito no primeiro sermão de Jesus, no qual ele proclamava boas novas para os pobres e liberdade para os cativos (Lc 4:16–21). Jesus veio para salvar pecadores, mas esses pecadores salvos agora testemunham em suas vidas a visão do reino de Deus. Sabemos que este reino está chegando porque Cristo ressuscitou. Pedro diz o seguinte: “Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:36).

Quem controla o futuro? Quem desenrola a história de acordo com o seu propósito? Aquele que é o Leão e o Cordeiro ao mesmo tempo (Ap 5:5–6). Aquele que encarna a justiça e a misericórdia.

Nós, a igreja norte-americana, temos uma mensagem para um país e um mundo em chamas: há um Deus que te ama e morreu para que você o conheça. Esse amor é suficiente para reunir os povos divididos do mundo, mesmo quando todos os políticos e filósofos falham. Existe um Deus de justiça que vê e age em nome dos povos oprimidos do mundo, pessoas como George Floyd. Há um rei e um reino. E ele nos deu seu Espírito para torná-lo conhecido até os confins da terra.

Esau McCaulley é ministro na Igreja Anglicana na América do Norte, professor assistente do Novo Testamento no Wheaton College e autor do livro Reading While Black: African American Biblical Interpretation as an Exercise in Hope (IVP Academic).

Este artigo foi adaptado de um sermão pregado na Igreja Anglicana do Redentor em Greensboro, Carolina do Norte, em 31 de maio.

Speaking Out é uma coluna de opinião de convidados da Christianity Today e não representa necessariamente a opinião dos editores.

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George Floyd deixou um legado cristão em Houston

Como pessoa de paz, “Big Floyd” abriu oportunidades ministeriais em comunidades carentes.

Christianity Today June 2, 2020
Nijalon Dunn / Courtesy of Resurrection Houston

Os Estados Unidos conhecem George Floyd a partir de vários minutos de filmagens de celular, capturadas durante seus últimos momentos de vida. Mas, na região de Houston chamada "Third Ward", Floyd é conhecido pela forma como viveu por décadas — um mentor para uma geração de jovens e uma "pessoa de paz" que liderava ministérios na área.

Antes de se mudar para Minneapolis, em busca de uma oportunidade de emprego por meio de um programa de trabalho cristão, o homem de 46 anos passou quase toda a vida na Third Ward, localidade historicamente de pessoas negras, onde, segundo seus parceiros de ministério, era chamado de "Big Floyd" e considerado um "OG" — líder comunitário e mediador veterano.

Floyd falava sobre quebrar o ciclo de violência que viu entre os jovens e usou sua influência para trazer ministérios externos à área, a fim de promover discipulado e evangelismo, principalmente no projeto habitacional de Cuney Homes, conhecido localmente como "os tijolos".

“George Floyd era uma pessoa de paz, enviada pelo Senhor, que ajudou o evangelho a avançar em um lugar em que nunca morei”, disse Patrick PT Ngwolo, pastor da Resurrection Houston, que prestava serviços em Cuney.

"A base para alcançarmos essa região e as centenas de pessoas que alcançamos até agora foi construída pelo esforço de pessoas como Floyd", disse ele à Christianity Today.

Ngwolo e outros líderes conheceram Floyd em 2010. Ele era um convidado imponente, de 2 metros de altura, que apareceu em um show beneficente que organizaram para a Third Ward. Desde o início, Big Floyd deixou suas prioridades claras.

“Ele disse: 'Eu amo o que vocês estão fazendo. A vizinhança precisa, a comunidade precisa e, se vocês se interessam pelos negócios de Deus, então quero participar'”, relatou Corey Paul Davis, um artista de hip-hop cristão que congrega na Resurrection Houston. “Ele disse: 'O que você precisar, aonde quer que vá, diga que o Floyd disse que vocês são do bem. Eu estou com vocês.'”

A igreja expandiu seu envolvimento na área, realizando estudos bíblicos e ajudando com compras e o transporte a consultas médicas. Floyd não apenas forneceu acesso e proteção; ele ajudava a igreja a realizar cultos, torneios de basquete, churrascos e batismos comunitários.

“Ele ajudou a carregar a banheira do batismo, por acreditar que as pessoas tomariam uma decisão de fé e seriam batizadas bem ali, no meio da comunidade. Ele achou isso incrível”, disse Ronnie Lillard, que se apresenta com o nome de Reconcile. “O que ele dizia aos rapazes sempre mostrava que Deus supera a cultura de rua. Acho que ele queria ver os jovens largarem as armas e seguirem Jesus em vez de ficar pelas ruas.”

Mais de 50 pessoas foram mortas, nos últimos anos, no que as autoridades descrevem como uma guerra de gangues que se espalha pela Third Ward e pelo sudeste de Houston.

Por conta própria, pode ser difícil para pessoas de fora ganharem confiança ou, até, transitarem por ali em segurança. O “selo de aprovação”, concedido por alguém como Floyd, é crucial para o discipulado urbano, que, para ser eficaz, exige acesso, direção e contexto.

“Sua fé era preciosa para a Third Ward, região que foi radicalmente transformada pelo evangelho, e sua missão estava capacitando outros crentes a entrar e levar o evangelho adiante”, disse Nijalon Dunn, que foi batizado em Cuney. “Há coisas que Floyd fez por nós que nunca saberemos até o outro lado da eternidade. Houve momentos em que teríamos a Igreja nos Tijolos até as três horas da tarde e, às 16h30, pessoas começavam a dar tiros diretamente nas quadras de basquete.”

Dunn compartilhou fotos de Floyd em seu batismo e em jogos de basquete. O nome de usuário de Floyd nas redes sociais incluía o nome "BigFloyd4God".

Homenagens e orações de lamento de companheiros cristãos apareceram nas mídias sociais quando as notícias da morte de Floyd se espalharam. No Twitter, Davis descreveu Floyd como "a definição de 'Seja a mudança que deseja ver'" e compartilhou uma homenagem em vídeo que foi vista 1,1 milhão de vezes. O popular artista cristão de hip-hop Propaganda repostou as reflexões de outros artistas que conheciam Floyd, dizendo: "Ele era amigo dos meus amigos".

Floyd se mudou para Minnesota por volta de 2018, relatou sua família ao jornal Houston Chronicle. Ele se mudou para participar de um programa de discipulado e para buscar emprego, de acordo com pastor Ngwolo. "Um 'garoto dos tijolos' não sai da Third Ward e vai para Minnesota!" ele disse. Floyd disse a Dunn que tinha planos de voltar no próximo verão.

Apesar de que ele nunca conseguirá voltar para casa, será "imortalizado na comunidade da Third Ward para sempre", disse Lillard. “O mural com sua imagem estará nas paredes. Todo jovem em crescimento conhecerá George Floyd. As pessoas que o conheceram pessoalmente se lembrarão dele como uma luz do bem. Os caras das ruas olharão para ele e pensarão: 'Cara, se ele pode mudar de vida, eu posso mudar a minha'. ”

Líderes do ministério ouviram membros da comunidade Third Ward chamarem Floyd de irmão, tio ou mesmo pai, porque não tinham figuras masculinas mais velhas para servir como influência positiva.

Os presentes se reuniram na noite de terça-feira para uma vigília de oração no Emancipation Park, local histórico da Third Ward que já foi o único parque aberto para negros em Houston durante a era Jim Crow de segregação. Ngwolo se reunirá esta semana com pastores da área para lamentarem juntos.

O vídeo viral de Floyd pressionado contra o chão de asfalto por um policial de Minnesota se junta a uma quantidade devastadora de filmagens feitas por telefones celulares que mostram o uso da força por policiais contra homens negros. Os amigos de ministério de Floyd disseram que, quando chegou a notícia, eles não estavam prontos para assistir a outro vídeo do gênero tão pouco tempo após terem visto as imagens de Ahmaud Arbery sendo baleado enquanto corria na Geórgia e as de uma mulher ligando para o telefone de emergência da polícia por conta de um homem negro que estava observando pássaros no Central Park de Nova York. Mas, então, Lillard mandou uma mensagem de texto: Era Big Floyd.

Esse tipo de assassintato gera muita descrença entre eles. Afinal, eles também são homens negros. Apesar de sua inocência, sua fé e suas boas ações, eles têm suas próprias histórias de suspeita, humilhação e ameaça da parte das autoridades, disse Lillard à CT.

E, agora, eles foram obrigados a se lembrar de um homem que eles conheciam como um gigante gentil, uma inspiração para a vizinhança e uma força positiva de mudança. Mas eles também dizem que isso não deveria importar. Ele era um companheiro exemplar e isso deveria ter sido suficiente para mantê-lo longe do tratamento agressivo que viram no clipe viral. A família e os apoiadores de Floyd dizem que os policiais envolvidos — que foram demitidos do departamento — deveriam ser acusados de assassinato.

O pastor Ngwolo ainda está tentando digerir as notícias, mas um tema ao qual ele sempre volta é o derramamento de sangue inocente. Depois que o ego e a animosidade de Caim o levaram a matar Abel, as Escrituras nos dizem: “O Senhor disse: 'O que você fez? Eu escuto! O sangue de seu irmão clama por mim do chão'” (Gênesis 4.10).

“Se você avançar dois mil anos, há outro inocente sofredor cujo sangue falou de coisas melhores do que o de Abel. […] O sangue de Jesus diz que ele pode nos redimir nestes tempos sombrios e perigosos”, disse Ngwolo. “Tenho esperança porque, assim como Abel é um tipo de Cristo, também vejo meu irmão [Floyd] como um tipo de Cristo, apontando-nos para uma realidade maior. Deus realmente nos ouve. Ele ouve o grito de Floyd, mesmo do chão em que agora ele está. A vingança acontecerá — ou na cruz ou no dia do julgamento.”

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Para Dietrich Bonhoeffer, o dever cívico começou em casa

Como um passeio por seus aposentos particulares nos ajuda a entender melhor suas responsabilidades públicas – e as nossas.

Christianity Today May 28, 2020
Source: Axel Mauruszat / Wikimedia Commons

Laura Fabrycky, seu marido e os três filhos do casal se mudaram para Berlim, em 2016. De lá, ela assistiu, consternada, à eleição presidencial americana. “Algo parecia ter se rompido em nossa política tribal e hiperpolarizada que não poderia ser facilmente consertado”, ela escreve na introdução do livro "Keys to Bonhoeffer's Haus: Exploring the World and Wisdom of Dietrich Bonhoeffer". Embora seja improvável que seu livro conserte nossa dividida cena política, ele pode servir para unir e inspirar os cristãos que lutam para encontrar uma posição fiel em meio ao cenário atual.

Keys to Bonhoeffer's Haus: Exploring the World and Wisdom of Dietrich Bonhoeffer

Keys to Bonhoeffer's Haus: Exploring the World and Wisdom of Dietrich Bonhoeffer

Fortress Press

275 pages

$25.99

"Keys to Bonhoeffer's Haus" não é, em princípio, uma biografia, embora seja rica em informações biográficas. Fabrycky sabe do que está falando. Durante três anos, ela serviu como guia turístico voluntária na casa Bonhoeffer, enquanto mergulhava em estudos, entrevistas e investigações sobre a ética e os eventos que cercaram a ascensão e a queda da Alemanha nazista.

Na medida em que Fabrycky nos conduz pelos cômodos da espaçosa casa de Bonhoeffer, ela apresenta histórias sobre as tentativas de sua família de compreender aquela terra estrangeira. Em um capítulo, ela passa de uma pesquisa sobre a história da Alemanha e a evolução do conceito de cidadania para a visita de sua família ao Colonial Williamsburg, onde dois atores realizam um animado debate sobre liberdade religiosa. Ela nos leva ao treinamento árduo e obrigatório de sua filha para aprender a andar de bicicleta com segurança, a fim de analisar seu instinto de ceder ao autoritarismo. Nós a vemos lutando para amar um vizinho irritadiço que desaprova suas habilidades de jardinagem.

Em tudo isso, ela nos lembra a definição mais completa de política: "vida doméstica cívica", que, para ela, significa "o trabalho árduo e muitas vezes chato de viver uma vida comum" e a prática do amor ao próximo "expressa no preenchimento de buracos e na pavimentação de estradas, na coleta de lixo e em soluções para a poluição, no compromisso e na deliberação, na justiça e na restauração.” Mesmo em tempos de desordem social, não podemos evitar nossas responsabilidades domésticas.

O que, então, podemos aprender a respeito do cumprimento dessas responsabilidades no período de doença e ruptura política em que vivemos? O leitor encontrará advertências por toda parte. Quando Adolf Hitler chegou ao poder, a maioria da igreja protestante na Alemanha, como seus concidadãos, apoiou sua liderança carismática e as promessas de restaurar a economia e o status da Alemanha. Discordando, Bonhoeffer juntou-se a outros na fundação da "Igreja Confessante". Ele acreditava que a igreja estava em "status confessionis" – um estado de confissão, como uma testemunha em um tribunal que jurou dizer a verdade. Se a igreja alemã abandonou sua confissão de fé, a Igreja Confessante prometeu agir de acordo com as Escrituras.

Mas ler e até confessar as Escrituras é insuficiente, como Fabrycky nos lembra. Em meio ao fervor antissemita, os cristãos das duas igrejas consultavam, em oração, o "Die Losungen", uma leitura diária de passagens selecionadas do Antigo e do Novo Testamento. Bonhoeffer também. No entanto, "alguns ainda marchavam à luz das tochas, com os braços erguidos, sob a Hakenkreuz, a cruz retorcida, mais conhecida como suástica".

Quando Bonhoeffer se tornou um membro ativo da resistência, ele ingressou em uma vida de morte, de ars moriendi. A entrada de seu país em um estado de loucura despertou sua responsabilidade, como cidadão e como cristão, o que o levou a dar as costas para sua reputação, sua segurança e sua obediência a um governo conduzido pelo mal. Como Fabrycky observa astutamente, ele até deixou de lado a própria justiça, sabendo que a arte da espionagem envolvia mentir e enganar.

A condução de Fabrycky através dos cômodos da casa de Bonhoeffer leva, inevitavelmente, à pergunta que ela faz a si mesma e que devemos fazer, como leitores: eu teria ficado com a maioria dos cristãos alemães e permanecido cúmplice da agenda nazista, ou teria resistido, até morrer?

Não temos permissão para permanecer a uma distância segura dessa questão. Fabrycky deseja que seu tour nos leve de volta a nossas casas. Como cristãos, como nos comportaremos em casa, nestes nossos tempos difíceis? Fabrycky não nos diz. Seu trabalho, ela escreve, é ajudar-nos a lembrar – que é nossa "responsabilidade moral" – e pesar cuidadosamente o preço de nossa passividade e nosso silêncio.

Fabrycky conclui: “Vejo, à distância, que meu país está falhando em cumprir sua tarefa de cuidar da casa. Estamos falhando em realizar o que o cuidado doméstico cívico exige e estamos sofrendo por causa disso.” Eu queria que ela fosse além, emitindo um apelo mais firme a uma ação específica, aqui, em nossa terra. Talvez isso seja outro livro. Ou talvez não. Ela já nos deu, brilhantemente, chaves para alertar e informar nossa imaginação moral. É nosso trabalho usá-las.

Leslie Leyland Fields é a autora de "Your Story Matters: Finding, Writing, and Living the Truth of Your Life" (NavPress). Ela mora em Kodiak Island, no Alasca.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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‘Livre em Cristo’ para desafiar as ordens do Estado? As igrejas hispânicas nos dão sua perspectiva.

Nossas igrejas são essenciais. Decidir se é sensato nos reunirmos é outra questão.

Christianity Today May 28, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Rob Birkbeck / Lightstock / Courtesy of Church of the Redeemer

A classificação da igreja como uma instituição não-essencial foi um duro golpe na igreja dos hispânicos nos Estados Unidos. Muitos experimentaram em primeira mão o que significa marginalização social. As determinações para manter as igrejas fechadas contribuem para essa experiência de rejeição. A igreja hispânica entende essas medidas como uma mensagem de que o papel do seu ministério na comunidade não é necessário durante essa pandemia. O governo federal não atribuiu às igrejas um papel tão essencial a ponto de seu fechamento poder "ter um efeito debilitante na segurança, estabilidade econômica ou saúde pública". Essa categorização causou incômodo não apenas nos ministérios hispânicos, mas também entre muitos outros cristãos, como pode ser visto nos recentes processos na Califórnia, Virgínia, Tennessee, Illinois e Kansas, entre outros.

Como muitos outros, os pastores pentecostais hispânicos do sul da Califórnia enfrentam a difícil decisão de escolher entre a liberdade de se reunir ou a liberdade de colocar os outros em primeiro lugar e ficar em casa.

Como a Primeira Emenda inclui a liberdade de culto e a possibilidade de se reunir, as igrejas estão lutando por sua liberdade constitucional de se reunir, incluindo alguns pastores hispânicos na Califórnia que planejam reafirmar esse direito no domingo de Pentecostes, dia 31 de maio, com ou sem aprovação do Estado. Eles podem não ter os recursos para entrar com uma ação legal, no entanto a desobediência civil é outra forma de expressar seu descontentamento.

Mas esse desejo de abrir nossas portas novamente envolverá mais do que apenas uma expressão do nosso direito constitucional de nos reunirmos. Ele revelará como entendemos nossas liberdades em Cristo e se defendemos o direito de nos reunirmos acima das necessidades de saúde e segurança de outras pessoas. Esta decisão não é tão simples. Também está relacionada com os desafios ministeriais, culturais e tecnológicos de ser a igreja da comunidade hispânica.

John Brito, pastor sênior da Igreja da Comunidade Spirit Life em Norwalk, Califórnia, cuida não apenas do bem-estar espiritual de sua congregação, mas também de suas vidas em um sentido holístico: espírito, alma e corpo. "As famílias estão ficando sem dinheiro. Conheço pessoas que receberam o auxílio do governo e não foi suficiente para mantê-las", disse Brito. "Há famílias reais sofrendo; empresários afundando apesar da ajuda do governo. As taxas de mortalidade previstas pelas estatísticas nunca se materializaram. Nós realmente temos que suportar o confinamento por mais três meses? "

As dificuldades financeiras são "outro tipo de dor, sofrimento e morte", disse ele. Seu amor ardente por sua congregação é o que o faz continuar. Ele continua a ministrar, pregar, ensinar on-line e criar redes para o fornecimento de recursos para sua comunidade. Mas Brito também questiona as determinações para ficar em casa feitas pelo governador da Califórnia, Gavin Newsom, e pelo prefeito de Los Angeles, Eric Garcetti. Ele até se pergunta se "eles estão aproveitando a pandemia para impor outra agenda", para manter as igrejas fechadas indefinidamente, mesmo que as declarações mais recentes proponham a abertura das igrejas em algumas semanas. Para muitos pastores hispânicos, o fechamento por tempo indeterminado também é interpretado como um ataque espiritual à própria instituição e missão da igreja, um ataque que eles não permitirão sem exigir uma resposta.

Brito representa aqueles que não têm certeza se os dados sobre pandemia e doença na Califórnia foram obtidos através de uma avaliação precisa. Afinal, as mortes relacionadas ao COVID-19 na Califórnia não refletem o que aconteceu em Nova York, e o fechamento prolongado de pequenas empresas afeta desproporcionalmente as famílias hispânicas. Outros pastores ficam desencorajados porque os políticos não confiam nas igrejas para praticar o distanciamento social seguro. Um pastor de uma grande igreja hispânica perguntou: "Por que somos mais perigosos que os outros? Por que estamos mais em risco do que lojas como a Home Depot?” O impacto financeiro, psicológico e emocional da COVID-19 na comunidade latina levou alguns a decidir reafirmar seus direitos através de uma desobediência civil organizada.

Liberdade de reunião

A pandemia da COVID-19 está forçando a igreja hispânica pentecostal no sul da Califórnia a refletir sobre o que significa ser chamada de igreja para o povo. A identidade da igreja hispânica está sendo confrontada tanto com as ordens para ficar em casa, quanto com o direito constitucional norte-americano de se reunir em uma assembleia pacífica. Como o pastor Brito explica: "A igreja é uma reunião de pessoas, é uma eclésia. Se não nos reunirmos, não somos a igreja".

Nem todos os pastores hispânicos concordam. "Pastor, se sua noção de 'culto da igreja' é um encontro aos domingos, não é de se admirar que nosso governo nos veja como não-essenciais, diz Jack Miranda, diretor executivo do Centro Jesse Miranda de Liderança Hispânica. Miranda incentiva os pastores a examinar seus ministérios e determinar se eles estão causando um impacto essencial em suas comunidades. Se nossas igrejas levassem a sério o ensino de Jesus em Mateus 25, talvez a igreja nunca tivesse sido classificada como uma instituição não-essencial. Miranda acredita que manter as reuniões da igreja temporariamente suspensas por causa da saúde das pessoas não impede a proclamação do Evangelho.

Pastores hispânicos reconhecem que suas igrejas são uma instituição essencial. A igreja hispânica serve a comunidade mais vulnerável e sub-representada. Está estabelecida em lugares onde nenhuma igreja privilegiada deseja estar. Quem ministrará ao viciado em drogas, membro de gangue, migrante e sem-teto, se não a igreja hispânica, que também reside na mesma comunidade? A igreja hispânica pode não ter uma campanha pública de marketing para anunciar os benefícios que trouxe para a cidade, mas ela tem um papel essencial. A falta de reconhecimento dessa contribuição não se encaixa bem com o que muitos pastores e ministros de fato realizam.

Uma vida cristã sem adoração congregacional é mais difícil para muitos hispânicos e hispânicas. Nós não vamos à igreja por apenas uma hora. Nossos cultos são mais longos, geralmente com duração de até três horas. A Igreja é um lugar não apenas para compartilhar o momento de culto, mas também a comida, a cultura e a língua materna. É o único lugar sagrado onde uma hispana marginalizada pode adorar com suas irmãs e irmãos em sua própria língua nativa. É o único lugar em que sua identidade cultural faz parte de sua experiência religiosa. Há algo diferente em um lugar onde a pessoa não se sente marginalizada, rotulada e estereotipada. A Igreja, para a comunidade hispânica, é o lugar onde somos importantes aos olhos de Deus. Não poder se reunir representa uma perda maior para o crente hispânico, especialmente em uma sociedade que marginaliza e desvaloriza sua contribuição. Por esses motivos e outros mais, pastores e ministros hispânicos estão prontos para reafirmar seu direito de se reunir.

Liberdade para servir

Mas e se todo o nosso foco na liberdade de reunião estiver mal ajustado? Ou melhor, e se este for um momento para a igreja usar sua liberdade para servir?

O apóstolo Paulo fala de liberdade, mas não de uma maneira que possa ser facilmente reconciliada com os ideais norte-americanos. Não é o tipo de liberdade pela qual lutamos em batalhas legislativas ou ações coletivas. Em Gálatas 5:1, Paulo declara: "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou". Paulo fala de "liberdade em Cristo", mas com que propósito? Para protestar contra todas as leis que limitam nossa capacidade de nos mover, cumprimentar ou nos reunirmos em nossas igrejas?

Este debate sobre liberdade refere-se à lei de Moisés. Paulo está tentando argumentar nesses versículos que aqueles que tentam ser justos pela lei através da circuncisão estão anulando a justiça que vem de Cristo através do Espírito (Gálatas 5:2-6). Ele continua: "Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor. Toda a Lei se resume num só mandamento: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'"(Gálatas 5:13-14).

Paulo incentiva a igreja em Corinto a servir os outros com sua liberdade. Para os cristãos que se queixam de pessoas que procuram limitar suas "liberdades", Paulo responde: "Não se tornem motivo de tropeço… não estou procurando o meu próprio bem, mas o bem de muitos, para que sejam salvos" (1 Cor. 10: 29-33). As liberdades têm limitações e devem ser orientadas para o serviço aos outros.

E se levarmos a sério a linguagem de Paulo sobre liberdade? E se, em vez de lutarmos para nos encontrarmos em um prédio, lutarmos ativamente pela liberdade de servir ao próximo? E se colocarmos a segurança de nosso irmão ou irmã acima de nossos próprios desejos de estar com eles? As atividades da minha liberdade devem ser determinadas e moldadas pelas necessidades do meu próximo.

Suas necessidades são simples: alimentação, saúde e recursos médicos para as comunidades mais vulneráveis. Muitos perderam o emprego e estão lutando para trazer comida para a mesa ou para lidar com este tempo de pandemia com moradia e apoio econômico adequados. De fato, as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) incentivam as organizações comunitárias a "trabalhar em vários setores para conectar pessoas com serviços, como entregas de compras de supermercado ou moradia temporária".

"É um grande problema", disse a diretora de um banco de alimentos, Cecelia Bernal. "Porque se você não tem comida muitos outros problemas surgirão, como estresse e ansiedade". Desde que a pandemia da COVID-19 atingiu o condado de Los Angeles, o ministério da alimentação de outra igreja pentecostal hispânica, a Igreja do Redentor em Baldwin Park, cresceu exponencialmente. Como muitos outros bancos de alimentos, eles estão trabalhando duro para atender às necessidades da comunidade. Eles costumavam servir a comunidade uma vez por mês. E agora abrem a igreja oito vezes por mês e incluem entregas em domicílio para idosos e para aqueles que não podem ir à igreja.

Bernal é uma líder hispânica de um ministério que serve pessoas em todo o condado de Los Angeles. Ela e seus voluntários representam outra maneira de usar a liberdade em Cristo, atendendo às necessidades essenciais. As pessoas não vêm para o alimento espiritual, mas para o pão diário. "Sempre dizemos que somos a igreja", disse ela. "Agora vemos que não precisamos estar dentro de um prédio, [mas] juntos ainda somos a igreja".

Que liberdade escolheremos?

Não somos os únicos crentes ao longo da história que perderam o direito de se reunir publicamente. O povo judeu que foi exilado na Babilônia, bem como aqueles que sobreviveram à destruição do templo em 66-70 d.C., tiveram que adorar sem prédios. Os primeiros cristãos se reuniram secretamente em casas ou catacumbas e adoraram juntos antes da basílica emergir. Sim, o culto pode ser facilitado através de reuniões comunitárias presenciais. Hebreus 10:25 instrui os crentes a se reunirem.

Devemos lembrar que nossa liberdade de culto não foi restrita; apenas a capacidade de nos encontrarmos em ambientes físicos, sejam eles prédios ou edifícios. Os crentes ao longo dos anos aprenderam a adorar sem prédios. As reuniões devem ser diferentes durante a pandemia da COVID-19. Nós podemos pregar on-line. Outros ministros hispânicos já haviam se adaptado à nova realidade da igreja on-line. Mas essas são igrejas adaptadas e conhecedoras de tecnologia, ou são aquelas que usaram as habilidades dos hispânicos e das hispânicas de segunda geração antes da COVID-19. Outras igrejas hispânicas não têm orçamento para tecnologia, ou mesmo membros da igreja com acesso de qualidade à Internet em casa. Essa é outra razão pela qual muitos desejam entrar novamente em prédios, desobedecendo às diretrizes impostas. Há um desejo de se ter um senso de pertencimento, e a igreja é um lugar para isso. A igreja está lutando com esse desejo, sem querer colocar em risco os mais vulneráveis.

A Igreja Hispânica é um exemplo da complexidade e dos desafios no que se refere às reuniões. Como queremos que nossa igreja seja vista durante esta pandemia? Como uma igreja que desobedece às diretrizes para ficar em casa e coloca os mais vulneráveis em perigo? A maneira como nos reunimos também é uma declaração pública sobre como nos vemos e nos valorizamos. A liberdade em Cristo, fundamental para nossa fé, não deve ser vivida para si. É uma liberdade que nos leva a reimaginar como podemos amar e servir aos outros, especialmente durante essa pandemia. Devemos exercitar nossa liberdade, levando em consideração os mais vulneráveis. Nossas liberdades não têm direitos ilimitados para colocarmos em risco a saúde da comunidade, especialmente quando se trata de comunidades que podem não ter acesso a cuidados médicos adequados e que podem sofrer maiores consequências indesejadas no caso de uma infecção por COVID-19.

Há um fardo ainda mais pesado para os pastores hispânicos: suas congregações buscam de maneira muito especial a direção de seus líderes espirituais. Os crentes hispânicos veem o pastor como uma figura estimada, ungida por Deus para liderar a igreja local. A decisão do pastor comunicará mais do que apenas o desejo de estarem juntos, mas também revelará como eles acreditam que Deus vê os mais vulneráveis.

Mas talvez também tenhamos que olhar para outros hispânicos que já são considerados obreiros essenciais, as pessoas que compõem a igreja em todo o país. Isso inclui trabalhadores indocumentados que coletam alimentos em campos agrícolas, funcionários de supermercados expostos a multidões de pessoas e funcionários de fábricas de processamento de alimentos que receberam a ordem para retomar o trabalho por ordem executiva do presidente. A igreja hispânica e muitas de nossas igrejas multiétnicas são compostas de muitos membros migrantes e marginalizados.

Essas pessoas exemplificam o que significa servir aos outros por meio de suas vocações. Elas não são livres para servir na produção de bens de consumo através de reuniões pelo Zoom, mas estão colocando suas vidas em risco. Elas se reúnem para servir e colocar as necessidades dos outros em primeiro lugar. A comunidade cristã em geral pode seguir seu exemplo? Ou usaremos os mais vulneráveis entre nós, o nosso povo, para obrigar as autoridades do governo a ceder e permitir nossas reuniões presenciais?

Precisamos reorientar nossa compreensão de liberdade e tornar novamente as igrejas verdadeiramente essenciais. Precisamos de novas maneiras de pensar sobre o que significa tornar nossa igreja visível para nossos líderes civis. Precisamos debater criativamente sobre o que significa nos reunirmos um pelo outro. Não podemos voltar à igreja como de costume, pensando que lutar pela liberdade de congregar exemplifica o que significa ser uma igreja. Não é assim que devemos usar a liberdade que Cristo nos deu. A liberdade de Cristo não é encontrada naqueles que querem andar sem máscaras, sobrecarregar os trabalhadores de serviços médicos por não lavar as mãos ou abrir suas igrejas sem respeitar as medidas de distanciamento social, espalhando assim a doença. A igreja não é um lugar apenas para pertencimento social. É uma igreja porque sua identidade imita a Cristo, que usou sua própria liberdade e vida para servir aos outros, especialmente os mais vulneráveis. Essa seria a liberdade a que Paulo se refere: a liberdade de colocar as necessidades dos outros antes das nossas.

Rodolfo Galvan Estrada III é diretor de pesquisa institucional e professor adjunto de Novo Testamento no Fuller Theological Seminary. Seu livro mais recente é A Pneumatology of Race in the Gospel of John.

Editado por Marcos Simas

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A filosofia evangélica está florescendo, apesar das más notícias

E isso é uma boa notícia, porque nos ajuda a buscar a bondade, a verdade e a beleza.

Christianity Today May 27, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: WikiMedia Commons / Aaron Burden / Nathan Dumlao / Unsplash

A filosofia é vital, hoje, para os cristãos. Ela nos prepara para amar a Deus com nosso coração e nossa mente. Ela nos ensina a pensar bem e a cultivar o caráter cristão. Ela nos ajuda a entender a história da fé e o desenvolvimento de doutrinas fundamentais, como a Trindade e a encarnação. E isso nos permite engajar a cultura.

Como C. S. Lewis escreveu: "A boa filosofia deve existir, se não por outro motivo, porque é preciso responder à má filosofia". Eu acrescentaria que a boa filosofia também deve existir para nos ajudar a buscar a bondade, a verdade e a beleza, todas baseadas na natureza de nosso grande Deus.

Minha experiência estudando filosofia na Talbot School of Theology continua a me moldar não apenas como professor de filosofia, mas como membro da igreja local, marido, pai, treinador de futebol e amigo. Quaisquer que sejam as virtudes intelectuais e morais que possuo, devo, em grande parte, ao meu treinamento em filosofia.

É por isso que fiquei consternado ao saber que a Liberty University extinguiu seu departamento de filosofia. Que notícia terrível para os cinco excelentes acadêmicos e professores que não estarão mais empregados a partir de 30 de junho; para os alunos que perderão a experiência transformadora de estudar filosofia em uma escola cristã; e para a igreja americana, que precisa de mais evangélicos treinados em filosofia – e não de menos.

Qualquer universidade digna desse nome – especialmente uma cristã – precisa de filósofos para fazer o que fazem na sala de aula e além. Como Francis Beckwith, da Universidade Baylor, disse:

A decisão de Liberty reflete uma tendência no ensino superior. A filosofia e outros campos das ciências humanas não são vistos por alguns como essenciais para a educação universitária. As pessoas pensam erroneamente que os graduados nessas áreas são incapazes de encontrar um emprego remunerado, mesmo que os dados mostrem o contrário, e desconsideram completamente o papel que a filosofia e as humanidades podem desempenhar no crescimento espiritual dos estudantes, a despeito de sua graduação.

Como presidente da Sociedade Filosófica Evangélica, fico desapontado quando os cristãos não enxergam o valor na busca pelo bem, pelo verdadeiro e pelo belo. Mas também vejo um panorama mais amplo do que apenas notícias sobre o fechamento de um departamento. Embora, em alguns casos, as perspectivas dos departamentos de filosofia sejam sombrias, a filosofia evangélica também está florescendo.

Houve um renascimento na filosofia cristã desde os anos 1960, e os filósofos evangélicos têm sido parte significativa desse movimento. Filósofos cristãos como Alvin Plantinga, Eleonore Stump, Robert e Marilyn Adams e William Alston foram fundamentais. Filósofos evangélicos como William Lane Craig, J. P. Moreland, Doug Geivett e Jerry Walls também fizeram parte disso.

Agora, uma nova geração de evangélicos continua esse trabalho, tanto nos Estados Unidos quanto em todo o mundo. A filosofia evangélica está florescendo em lugares como Biola University, Houston Baptist University e Tyndale University, para citar apenas alguns.

Os alunos do seminário podem receber uma educação filosófica de primeira linha no Southeastern Baptist Theological Seminary, no Denver Seminary ou na Talbot School of Theology. A Palm Beach Atlantic University acaba de anunciar um novo mestrado em filosofia da religião, que será inaugurado no outono de 2021.

Filósofos evangélicos também publicam em todas as áreas da filosofia. A Sociedade Filosófica Evangélica realiza inúmeras conferências nos Estados Unidos, todos os anos, com a presença de centenas de estudiosos e apologistas. A revista da sociedade, Philosophia Christi, publica excelentes trabalhos filosóficos de evangélicos, outros cristãos e nossos colegas seculares.

Kent Dunnington, na Biola, e Ross Inman, no Southeastern Seminary, são representantes de muitos evangélicos que publicaram excelentes trabalhos acadêmicos com as principais editoras acadêmicas. "A humildade, o orgulho e a teoria das virtudes cristãs", de Dunnington, e "Substância e a fundamentalidade do familiar", de Inman, são apenas dois exemplos do excelente trabalho que os estudiosos estão fazendo.

E os filósofos evangélicos escrevem para a igreja, o que torna nosso trabalho acessível aos membros. Escrevemos sobre uma ampla variedade de tópicos, explorando as implicações de nossa fé para toda a vida. Engajamos a cultura em prol do reino, ajudamos a equipar as pessoas em nossas igrejas e procuramos moldar o coração e a mente de nossos alunos para uma vida inteira de serviço a Deus em seus lares e naquilo para que foram vocacionados.

Por exemplo, o livro premiado de Paul Gould "Cultural Apologetics" expande nossa visão do que é a apologética, como ela pode ajudar a construir a igreja e as maneiras pelas quais ela pode ser usada para realmente alcançar outras pessoas com o evangelho. Meu próprio livro recém-lançado, "God and Guns in America", une a filosofia, a teologia e estudos bíblicos para participar sobre os debates acerca do uso de armas nos Estados Unidos, de um ponto de vista completamente cristão.

Mas, sem dúvida, o trabalho mais importante realizado por muitos filósofos evangélicos acontece na sala de aula. Esse trabalho assume formas diferentes. Sou professor de uma universidade pública, por isso me esforço para amar meus alunos e ajudá-los a pensar com cuidado e bem sobre as grandes questões da vida. Nas instituições cristãs, os filósofos evangélicos ajudam seus alunos a integrar a fé a toda a vida. Eles treinam futuros médicos, enfermeiros, professores, cineastas, pastores, missionários, profissionais de negócios e professores universitários a ver a vida pessoal e profissional à luz de Cristo. Eles os ensinam a pensar bem e a pensar de maneira cristã.

Isso importa para a vida da igreja. Se você já lamentou a falta de discipulado no evangelicalismo americano, a filosofia pode nos ajudar com isso, porque pode ajudar aqueles que a estudam a desenvolver virtudes intelectuais e morais. Pode ser um exercício proveitoso na formação espiritual cristã uma leitura lenta e cuidadosa de "A República", de Platão; de "Confissões", de Agostinho; de "Obras do amor", de Kierkegaard; ou de "Glittering Vices", da filósofa contemporânea Rebecca Konyndyk DeYoung.

Na melhor das hipóteses, uma educação filosófica cristã nos ajuda a amar a Deus com todo coração, alma, mente e forças. Ela nos equipa a amar o próximo como a nós mesmos, de maneiras que talvez não consigamos fazer sem o treinamento filosófico. Você não precisa de uma aula ou um curso de filosofia para amar a Deus e ao próximo, é claro, mas isso pode ajudá-lo a fazer tudo isso de maneira maravilhosa e única.

A educação prática é importante, mas, dado o ritmo das mudanças em nosso mundo, a prática logo se torna obsoleta. Os alunos com educação filosófica, no entanto, sabem pensar. Por isso, eles são capazes de se adaptar às mudanças na indústria. Eles podem se adaptar às mudanças na cultura que afetam como um ministério se sai bem em determinado contexto.

De fato, a filosofia é intensamente prática. Isso pode parecer ridículo, mas os filósofos exploram questões como o caráter de Deus, a verdadeira natureza da justiça, a aplicação adequada do conhecimento científico, a estrutura dos bons argumentos, a natureza da virtude e sua conexão com o florescimento humano. Tudo isso é obviamente relevante para nossa vida diária.

Em uma cultura em que a humildade é escassa e na qual são raras as pessoas que podem emitir sons e, também, argumentos convincentes, a filosofia cristã evangélica tem muito a oferecer. Não devemos deixar isso de lado. Devemos fazer o que pudermos para incentivar seu impacto na cultura, no crescimento na igreja e na presença contínua em nossas instituições cristãs de ensino superior.

Michael W. Austin é o presidente da Sociedade Filosófica Evangélica. Ele ensina filosofia na Eastern Kentucky University e seu último livro é "God and Guns in America".

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Ahmaud Arbery e o trauma de ser um corredor negro

Eu gostaria que o mundo me visse primeiro como cristão, não como uma ameaça.

Christianity Today May 27, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: FatCamera / Getty Images

Eu estava correndo pela manhã, enquanto o sol nascia no céu azul da Califórnia. Naquela hora, quase não havia ninguém na rua. Você aprende desde criança a não correr muito cedo, pela manhã, nem tarde da noite.

Acho que me esqueci das lições, as orientações de segurança que meus pais me ensinaram. Eles sabiam o que poderia acontecer. Eu levei meu documento de identidade, como minha esposa sempre me orienta a fazer quando saio. Durante a corrida, eu não estava preocupado com nada e me senti bem. Eu mal podia esperar para verificar meu ritmo em meu rastreador de fitness.

Então, aconteceu. Eu olhei ao longe e vi um homem branco, em sua varanda, tirando fotos de mim. Cada foto que ele tirava me deixava mais confuso. Eu disse: "Está uma bela manhã, não é?" como se ser respeitável me protegesse nessa situação ou fizesse com que ele finalmente me visse como um ser humano.

Ele não respondeu. Lá vamos nós de novo.

Meu medo rapidamente se transformou em raiva. Eu queria lutar por minha dignidade, ao ser fotografado por um estranho e ser informado de que não pertencia ao lugar onde estava. Patrulhado por um homem parado na varanda da frente. Ali, no sul da Califórnia, o fantasma de Jim Crow, ao estilo "O que você está fazendo aqui, crioulo?", apareceu.

Mas, no fim das contas, senti-me impotente. Eu não podia nem chamar a polícia, porque poderiam me confundir com o agressor. É com esse tipo de situação que os negros precisam lidar, enquanto outros podem desfrutar de suas corridas. De novo e de novo, ano após ano. Essa raiva me força a ficar irado com a nossa realidade e ter fé para acreditar que é possível melhorar.

Mas, naquele dia do ano passado, minha raiva se transformou em profunda tristeza. No caminho para casa, parei, abaixei a cabeça e chorei. Não foram lágrimas de fraqueza. Chorei porque senti o que muitos daqueles que se parecem comigo têm sentido: a violência de um mundo sem amor. Aquele homem me roubou naquele dia. Em sua crueldade, ele roubou algo de mim.

Eu era atleta na faculdade; agora eu corro e ando de bicicleta. Corri meias maratonas e completei um Ironman. Mas não posso desfrutar das corridas como costumava. Onde está a alegria e a liberdade de sair na estrada e treinar meu corpo quando tenho de me perguntar se um dia não chegarei ao fim da corrida? Eu tenho corrido a vida toda e, de certa forma, agora, tenho de correr para mantê-la. Minha esposa tem medo de que lhe liguem e digam: "Seu marido está morto".

Muitos acreditam que casos como o ataque a Ahmaud Arbery são isolados. Ou que são o tipo de coisa que só pode acontecer no sul. Não, nossa sociedade foi ensinada a ser antinegra. Vemos como patrulham nossos movimentos, criminalizam nossa humanidade e evitam o acerto de contas racial, enquanto desfrutam do fruto que vem de árvores podres – árvores nas quais meus ancestrais pendem, sem vida.

Essas feridas são profundas e, hoje, corro por meu futuro, meu povo e, até, por minha vida. É um trauma que os negros americanos são forçados a enfrentar, as trágicas condições de opressão, a audácia da branquidão. Não pude deixar de pensar: por que eles nos odeiam tanto?

O crime e a tragédia de ser negro

Não muito tempo antes daquela abordagem, durante minha corrida no verão passado, eu havia escrito em um diário como desejava que, quando saísse para o mundo, as pessoas ao meu redor me vissem, fundamentalmente, como cristão. Mas a verdade é que, não importa quantos versículos da Bíblia eu cite, quantos ótimos livros eu leia e publique, quão moralmente excelente eu seja, que graduações acadêmicas eu tenha ou qualquer outra característica que seja "bem-sucedida", nada disso pode me proteger da tragédia de ser negro.

E como tomamos conhecimento de tragédias!

Nas últimas semanas, ativistas armados invadiram as ruas para protestar, protegidos por sua branquidão, enquanto negros inocentes e desarmados são atacados por viver sua vida. O nome de Arbery se junta a uma longa lista de vítimas negras que nunca deveriam ter sido mortas, desafiadas ou até postas em suspeição; pessoas que não fizeram nada errado.

Testemunhamos mais uma vez a exibição pública do que Eddie Glaude chama de "diferença de valor": a crença de que vidas negras são menos valiosas que outras. A experiência dos negros com o COVID-19 revelou desigualdades que existem desde o início – em assistência médica, poder, riqueza, educação, renda e encarceramento.

Arbery correu. Ele lutou por sua vida, por sua negritude, mas a raiva branca as roubou dele. Faz dois meses e meio desde que ele foi morto e seus agressores foram, finalmente, presos. Quando assisti ao vídeo, meu coração sangrou. Minha mente voltou ao que aquele homem fez comigo, às fotos, à volta para casa, às lágrimas. Eu consegui, mas Arbery, não. Ele não vive para contar a história. Ele não pode ficar bravo ou fazer algo a respeito. Ele se tornou uma hashtag, uma memória, uma oração. Ele morreu sozinho naquele dia. Sua última lembrança ficou no asfalto.

Após sua morte, o promotor da cidade, George Barnhill, declarou que a saúde mental de Arbery e condenações anteriores explicavam sua agressão a um homem armado que o confrontou na rua. Barnhill culpou a vítima, não a sede de sangue de um grupo de linchadores. A crueldade.

Todo ano, algo nos lembra de que vidas de negros não importam. Neste ponto, transbordamos de indignação. A história nos mostra que as maiores ameaças à vida negra são a supremacia branca, o poder branco e o terrorismo branco. Quem lutará por nós se lutamos por nós mesmos e ainda somos linchados? Quem responsabilizará os assassinos? Quanto sangue negro deve ser sacrificado à supremacia branca? Por que nossas famílias devem ser aterrorizadas enquanto vivem em paz? Essas perguntas estão sempre em minhas orações silenciosas e nas lágrimas de medo.

Miroslav Volf escreveu sobre lembrar-se da maneira correta em um mundo violento: "Lembrar-se de uma transgressão é lutar contra ela". Ser negro e cristão é lembrar-se da violência e de nossos mortos, honrá-los quando olhamos para nossos filhos e enquanto lutamos para responder essas questões. É lembrar-se, como James Cone escreve, da "mensagem de libertação de Deus em um mundo não redimido e torturado".

A memória nos chama a trabalhar por um futuro melhor. Ela nos força a nos posicionarmos no mundo como cristãos e a fazer algo para mudá-lo.

Ainda esperando por mudanças

Nós, negros, queremos mudar. Glaude, um estudioso de religião afro-americana em Princeton, escreve: "Temos de romper os hábitos raciais que dão vida à diferença de valor, e isso começa com mudanças em nossos arranjos sociais e políticos". Precisamos de uma revolução de valor – no governo, em nossas comunidades, em nossa vida. Nós realizamos o trabalho, e estamos cansados.

As pessoas gostam de dizer: "Estes não são os Estados Unidos que eu conheço". Ouvimos isso com relação à escravidão; a Jim Crow; aos direitos civis; aos anos 90; à reação branca a Obama; aos assassinatos brutais de crianças, mulheres e homens na era do Black Lives Matter; e até à raiva branca em apoio a Trump. Já ouvimos isso antes. E sabe de uma coisa? Essas pessoas estão totalmente certas. O escudo da branquidão protegeu muitos da experiência devastadora de um mundo que conhecíamos o tempo todo – aquele em que vidas brancas, comunidades brancas e a dor branca importam muito mais que as nossas. Eu só queria que esses pensamentos e essas orações fossem direcionados contra um mundo que os protegeu e nos matou.

Se nossa teologia, hoje, não tem nada a dizer ou fazer sobre o terror de ser negro em um mundo criado para a branquidão e as trágicas estruturas de opressão, é como um de meus amigos disse: "Você não tem nada a oferecer às pessoas negras".

Estou muito menos preocupado com o que as pessoas põem em uma hashtag. Todo ano surge outra hashtag e todo ano continua acontecendo. Estou mais preocupado com o modo como levantamos a questão em nossas congregações, famílias e reuniões de diretoria, e com o que acontece nas urnas. São esses os lugares onde a integridade do amor atende às demandas da libertação. Agora não é hora de frases curiosas, chamadas vazias para a unidade ou convites a pessoas negras, para fazer com que os brancos se sintam bem. Não. Esse não é um chamado à salvação, uma crença de que a branquidão pode nos salvar. Não, esse chamado está nos matando. É um chamado à libertação e ao amor.

Quanto tempo temos de esperar pelo progresso? Quantos têm de ser brutalmente assassinados antes que as pessoas acreditem que realmente estamos dizendo a verdade? O que o ciclo de violência e apatia está nos custando? Por que somos nós os que temos de acreditar que Deus tem um bom plano para nós no futuro, mas o melhor plano para eles no presente? Por quanto tempo temos de suportar esse tipo de conversa até que as pessoas percebam que a supremacia branca não é um problema nosso, mas deles e de seus filhos? Eu quero que meu filho sobreviva. Quero saber que muitos de seus filhos o defenderão quando ele precisar. Não quero que ele não volte para casa. Não quero lhe dizer como proteger sua humanidade. Eu quero que ele viva. Quero que ele seja livre, como Cristo prometeu. Quero saber que a mudança ocorrerá, mas a História conta outra história.

Graças a Deus, a palavra final sobre a vida dos negros nos Estados Unidos não é a morte na árvore do linchamento, mas a redenção encontrada na cruz. A cruz foi a repreensão de Deus pelo poder abusivo – poder branco nos Estados Unidos – usando o que Cone chama de "amor impotente, arrancando a vitória da derrota". Cone argumenta poderosamente que o linchamento é a metáfora da destruição dos negros pelos brancos dos Estados Unidos. Contudo, Deus tomou o mal da cruz e do linchamento e transformou os dois na beleza triunfante do divino. Deus pode suportar a dor e transformá-la em poder.

A transformação é a que James Baldwin se refere quando escreve: "É necessário ter resiliência espiritual para não odiar quem odeia e cujo pé está no seu pescoço, e um milagre ainda maior de percepção e caridade não ensinar seus filhos a odiar". Realmente, não sei quanto mais podemos aguentar.

Temos fé, mas precisamos lutar.

Temos a oração, mas precisamos protestar.

Estamos tentando amar Jesus, sim, mas também estamos tentando viver.

Estamos tentando sobreviver à corrida. Porque alguns de nós não sobrevivem.

Danté Stewart é um escritor e pregador que estuda na Candler School of Theology da Emory University. Seus artigos anteriores para a CT incluem "Why We Profethy Hope Hope" e "Martin Luther King Jr .: Exemplar of Hope."

Speaking Out é a coluna de opiniões de convidados da Christianity Today e (diferentemente de um editorial) não representa necessariamente a opinião da revista.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Books

Morre Joyce Lin, piloto missionária que transportava suprimentos relacionados ao coronavírus

O avião pilotado pela americana caiu apenas alguns meses após ela começar a voar na Indonésia.

MAF pilot Joyce Lin

MAF pilot Joyce Lin

Christianity Today May 14, 2020
Courtesy of Mission Aviation Fellowship

Uma piloto missionária americana de 40 anos que entregava suprimentos da Covid-19 para vilas remotas morreu em um acidente de avião na Indonésia na última terça-feira.

Joyce Lin, uma piloto da Mission Aviation Fellowship (MAF), que no Brasil é afiliada da Asas de Socorro, estava transportando kits de testes rápidos e material escolar para uma vila em Papua, a província mais a leste da distante da cadeia de ilhas. Ela saiu da cidade de Sentani às 6h27 e fez um pedido de socorro dois minutos depois, disse o porta-voz da MAF Brad Hoaglun. Uma equipe de busca e salvamento localizou sua aeronave Kodiak 100 que havia caído no lago Sentani e recuperou o corpo da americana a cerca de 10 metros de profundidade, segundo a polícia local.

Lin era uma piloto experiente e uma instrutora de voo certificada. Ela completou seu primeiro voo solo para a MAF em março. Aprovada para voar por 20 aldeias (das cerca de 150 atendidas pela MAF), ela liderou a iniciativa de arrecadar sabão para missionários e agentes humanitários que lidam com a ameaça do coronavírus e transportava medicamentos, testes de Covid-19 e equipamentos de proteção individual (EPI) para toda a área.

"Sentimos uma grande sensação de perda, mas ao mesmo tempo grande conforto, porque Joyce estava fazendo o que amava e era fiel ao chamado que Deus havia colocado em sua vida", disse David Holsten, presidente da MAF à Christianity Today. “Ela deu a vida servindo ao Senhor de uma maneira que estava impactando os outros.”

A MAF não sofria acidentes fatais havia 23 anos, disse Holsten. As autoridades de aviação civil estão investigando a causa do acidente. Não havia outros passageiros a bordo devido a restrições de voo por causa do coronavírus, de acordo com Hoaglun. As viagens continuam restritas na Indonésia, mas a MAF tem permissão para transportar cargas e pessoas que trabalham com emergências médicas.

Formada no Massachusetts Institute of Technology e no Gordon-Conwell Theological Seminary, Lin havia planejado se tornar uma piloto missionária, tendo sido treinada para isso por dez anos. Estagiou pela primeira vez na MAF em 2010, obteve sua licença de voo em 2015 e mudou-se para Papua em 2019.

"Foi incrível pousar o Kodiak sozinha pela primeira vez", escreveu ela em uma carta enviada aos seus mantenedores em dezembro. “Este é o avião dos meus sonhos, desde que descobri a aviação missionária. Pousei o Kodiak em pistas asfaltadas e pistas de terra, e treinei procedimentos de emergência.”

Lin cresceu no Colorado e em Maryland, nos EUA. Ela era filha de imigrantes cristãos de Taiwan. Ela se converteu quando era criança, através de um trabalho evangelístico realizado em uma igreja local. Depois de se formar em ciência da computação pelo MIT e trabalhar em TI por uma década, Lin sentiu-se chamada para o ministério. No Gordon-Conwell, ela descobriu a aviação missionária: um trabalho que unia seu interesse em voar, suas habilidades com o computador e seu chamado ao serviço cristão.

Ela foi de imediato convencida do chamado de Deus e reorientou sua vida em torno do objetivo de se tornar uma piloto missionária. Além de transportar suprimentos para missionários e agentes humanitários na Papua, Lin ajudou a montar e manter um sistema informatizado para oferecer a eles o acesso à Internet.

Em dezembro, Lin defendeu o trabalho dos missionários em uma carta a seus amigos e familiares nos Estados Unidos.

“Antes que alguém se oponha a que cristãos ou ocidentais mudem o modo de vida de outras pessoas”, escreveu ela, “é importante saber que Papua não era um paraíso tropical antes da chegada de missionários cristãos. As tribos papuanas viviam se matando. … As pessoas viviam com medo constante de outras tribos e do mundo espiritual.”

Em um de seus primeiros voos para a MAF, Lin teve que desviar para Wamena, a maior cidade do planalto de Papua, por causa do mau tempo. No aeroporto, por conta desse incidente, ela acabou tendo contato com uma mulher que precisava de um voo de emergência para fazer uma cirurgia importante. Todos os voos haviam sido cancelados por causa do bloqueio da Covid-19, mas Lin foi autorizada a levar a mulher para Sentani.

Lin viu isso como uma evidência de que Deus a estava usando.

“Há um versículo famoso que os cristãos gostam de citar em Romanos 8:28”, ela escreveu, “que diz que Deus é capaz de agir em todas as coisas para o bem daqueles a quem Ele chamou, de acordo com seu propósito. Ao meditar na minha vida, é legal ver as muitas maneiras que esse versículo tem sido verdadeiro nesse meu chamado para servir na Indonésia.”

Na terça-feira, um pequeno memorial de rosas vermelhas foi deixado na pista de pouso na aldeia onde Lin estava programada para pousar. "Piloto Joyce Lin", dizia um cartão, "até nos encontrarmos novamente".

Lin deixa seus pais e duas irmãs.

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Como sua igreja pode reabrir com segurança até surgir uma vacina contra o coronavírus

Especialista em saúde global sugere plano em etapas para congregações voltarem a se reunir durante a pandemia.

Christianity Today May 7, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Anshu A / Unsplash / WikiMedia Commons / MirageC / Getty Images

Nota do editor: Uma versão anterior informava que as pessoas não deveriam cantar durante as reuniões. A sugestão é usar uma máscara ao cantar ou conversar. Consulte a tabela atualizada para obter mais informações.

Os últimos quatro meses têm sido um período bastante incomum para o mundo contemporâneo. A disseminação de um novo coronavírus, o COVID-19, explodiu em todo o planeta. Em seu rastro, há fotos de prontos-socorros lotados, pacientes de UTI em respiradores e famílias sofrendo com a perda de seus entes queridos. Para limitar a propagação desse vírus, a maioria dos governos teve de implementar medidas de restrição para a população ficar em casa. Foi necessário implementar essa medida tão contundente porque muitos países simplesmente não estavam preparados para a rápida disseminação do vírus. Se nada fosse feito, o rápido crescimento das infecções teria sobrecarregado os sistemas de saúde e as mortes teriam aumentado rapidamente.

Durante esse período, igrejas em todo o país fecharam suas portas para cultos e eventos presenciais. Como em muitas ações preventivas, talvez nunca saibamos como isso limitou a disseminação do COVID-19. Mas estou certo de que a medida evitou muitas infecções e mortes que teriam ocorrido entre os membros e suas famílias e seus amigos.

Agora, com alguns estados e municípios diminuindo suas medidas de isolamento, o que tende a aumentar, nossas igrejas estão enfrentando um novo conjunto de decisões: quando retomar atividades ministeriais presenciais, e como fazer isso com segurança.

Neste artigo, proponho que o caminho a seguir seja adotar uma abordagem passo a passo, que ajude a igreja a cumprir seu chamado missionário, atender às necessidades de seus membros e proteger a saúde das pessoas na igreja e também em suas vizinhanças.

Nota: Igrejas em todas as partes do mundo enfrentam os mesmos desafios sobre quando e como retomar ministérios presenciais, à medida que as restrições impostas pelo governo diminuem. A abordagem descrita aqui é aplicável à maioria dos locais fora dos EUA, embora sempre exista necessidade de alguma adaptação local. O plano passo a passo, conforme descrito, não é difícil ou caro de implementar e pode ajudar a garantir um ambiente seguro para os membros das igrejas.

Decisões difíceis sobre quando e como retomar os eventos

A decisão de retomar as atividades presenciais é mais difícil do que a decisão inicial de interrompê-las. Quando a pandemia começou, as pessoas tinham medo do desconhecido e as igrejas eram obrigadas a seguir as determinações do governo, limitando aglomerações. Mas, após seis semanas ou mais de instruções para ficar em casa, as perdas de emprego estão aumentando, as pessoas estão ficando ansiosas em casa e cada vez mais há pedidos para que os governos relaxem suas restrições.

Embora os especialistas em saúde pública avisem que o país não possui os recursos de exames, rastreamento de pessoas e quarentena necessários para manter a pandemia sob controle, alguns estados estão afrouxando suas restrições e permitindo que atividades "não essenciais" sejam retomadas. Muitos governos estaduais não estão trabalhando em sintonia. Alguns líderes governamentais nos níveis nacional e estadual enviam mensagens contraditórias e, com as eleições tão próximas, essas importantes decisões estão sendo politizadas.

Com tantas vozes nos falando a toda hora, como as igrejas devem decidir o que fazer, em sua circunstância específica?

Agora, mais do que nunca, acredito que precisamos calar o barulho à nossa volta e ouvir a voz de Deus neste momento crítico.

Nossas diretrizes para a tomada de decisões

Para discernir o chamado de Deus para as igrejas com as quais trabalho em minha cidade, contei com duas diretrizes dadas por Deus para nos ajudar neste momento: verdades bíblicas e conhecimento científico.

O Grande Mandamento declara: "Amarás o Senhor teu Deus … e amarás o teu próximo como a ti mesmo." Durante essa pandemia, o amor por si mesmo é expresso pela maneira como nos protegemos de sermos infectados. Da mesma forma, o amor pelo próximo também é expresso pela maneira como os protegemos de serem infectados.

Mesmo quando nos concentramos na prevenção de infecções por COVID-19, no entanto, existem necessidades espirituais, emocionais e sociais que não devemos negligenciar – em nós mesmos e nos outros. Durante esse período de distanciamento social, talvez seja ainda mais importante que nossas igrejas atendam a essas necessidades.

Como discípulos de Cristo, essas necessidades são atendidas à medida que vivemos nosso chamado para adorar, orar, encorajar, testemunhar, discipular e servir. No entanto, agora devemos fazer isso de maneira a reduzir o risco de transmissão do COVID-19. Portanto, precisamos usar conhecimento científico sobre esse vírus para impedir sua propagação em nossas igrejas.

Conhecimento científico recente sobre o COVID-19

Com as melhores mentes do mundo trabalhando no COVID-19 no momento, existe um corpo de conhecimento científico em rápida expansão sobre esse vírus. Também estamos acumulando lições de muitos países sobre o que está funcionando na tentativa de controlar a disseminação do COVID-19 e o que não está. Algumas dessas ideias recentes são particularmente relevantes para a igreja, pois têm a ver com retomar as atividades presenciais.

Primeiro, entendemos melhor como o vírus se espalha

Contrariamente ao nosso entendimento inicial, agora sabemos que o COVID-19 pode ser transmitido antes que uma pessoa desenvolva sintomas. Isso explica por que o vírus se espalha tão fácil e furtivamente e complica muito os esforços para conter sua propagação.

Também sabemos que nem toda pessoa infectada contaminará outra pessoa. Outros fatores são necessários para facilitar a transmissão. Eles incluem:

  • Infecciosidade de um paciente com o COVID-19
  • Ações que aumentam a liberação de gotículas respiratórias e aerossóis no ar ao redor
  • Proximidade de uma pessoa infectada
  • Ambiente fechado com ventilação limitada para o exterior
  • Quantidade de tempo gasto com uma pessoa infectada
  • Tipo de interação social, como, por exemplo, mistura intergeracional

Quanto mais esses fatores estiverem presentes, maior será o risco de transmissão. Mas, quando podemos atenuar efetivamente esses fatores, o risco de transmissão diminui. (Veja a Tabela 1 abaixo).

Há evidências crescentes de que pessoas mais jovens e crianças são menos suscetíveis ao COVID-19. As crianças também são menos propensas a apresentar sintomas quando infectadas pelo COVID-19. No entanto, a quantidade de vírus que elas abrigam e sua capacidade de se espalhar para outras pessoas não parece ser diferente. Como as pessoas mais velhas são mais suscetíveis ao COVID-19, a implicação é que o contato entre diferentes gerações deve ser minimizado para reduzir a sua transmissão.

Segundo, sabemos muito mais sobre os efeitos nocivos do COVID-19

Inicialmente, a maior parte da atenção sobre o perigo do COVID-19 concentrava-se nos idosos, porque eles apresentavam uma taxa de letalidade mais elevada. Aprendemos, então, que adultos mais jovens com condições crônicas comuns, como hipertensão e diabetes, também têm um risco maior de complicações graves. Na verdade, quase 60% das internações hospitalares por COVID-19 nos EUA estão entre pessoas com menos de 65 anos de idade.

Um estudo recente relatou que 45% dos adultos americanos têm fatores de risco que os põem em risco de complicações sérias decorrentes do COVID-19. Como aqueles que frequentam nossas igrejas são, em média, mais velhos que a população em geral, uma proporção ainda maior de membros de nossa igreja corre o risco de complicações sérias decorrentes do COVID-19.

Terceiro, temos uma melhor compreensão de quais medidas de controle funcionam

Exames, rastreamento de pessoas e quarentena de objetos e pessoas podem acabar com a epidemia do COVID-19 sem um lockdown. No entanto, essas ações devem ser tomadas com muita rapidez e eficácia. Coréia do Sul e Taiwan vêm fazendo isso. Dentro de 2 a 3 dias após o início dos sintomas, os pacientes com COVID-19 são testados e a maioria de seus contatos é posta em quarentena. Isso funcionou porque a Coréia do Sul e Taiwan possuem um quadro bem treinado de rastreadores de pessoas, junto com vigilância eletrônica para localizar rapidamente tais pessoas e implementar a quarentena.

Há boas evidências de que o uso de uma máscara facial reduz substancialmente a liberação de gotículas respiratórias e aerossóis no ar circundante, mesmo quando uma pessoa tosse ou grita. O principal benefício do uso de uma máscara facial é reduzir a propagação do COVID-19 a partir da fonte de infecção, que seria uma pessoa infectada. Também há proteção limitada para uma pessoa suscetível à infecção. Máscaras caseiras são menos eficazes que as cirúrgicas, mas ainda são eficazes. Além disso, o uso de uma máscara facial evita que uma pessoa infectada esfregue o nariz e, em seguida, deposite vírus nas superfícies que ela toca.

Quarto, os especialistas concordam que o COVID-19 continuará nos EUA no futuro próximo, com níveis flutuantes de infecção na comunidade

Vários estados começaram a suspender as determinações para que a população fique em casa, apesar de os casos com COVID-19 permanecerem altos ou apenas começarem a baixar. Isso levará a um aumento da transmissão e de novos casos. Esse aumento pode ser mitigado pela realização extensiva de exames, rastreamento eficaz de pessoas e subsequente quarentena. No entanto, nenhum estado ainda consegue eficazmente realizar exames ou possui pessoal treinado para fazer de forma eficiente o rastreamento e a quarentena de pessoas.

Depois, há o desafio de o COVID-19 se espalhar de um estado para outro. Enquanto uma parte do país tiver uma epidemia mal controlada, os estados que reduziram significativamente seus casos de pandemia permanecerão vulneráveis à disseminação do COVID-19 em seu território.

Aplicação de conhecimentos científicos recentes para desenvolver um plano

Ao considerar a decisão de retomar as atividades presenciais, devemos primeiro reconhecer que a igreja é um ambiente de alto risco para a transmissão do COVID-19. Nossas atividades na igreja contêm vários fatores que facilitam a transmissão aérea do COVID-19 (Veja a Tabela 1 abaixo), e nossos membros correm maior risco de complicações sérias decorrentes desse vírus. Portanto, as igrejas devem ter um plano claro de quando e como retomar os encontros presenciais. Esse plano tem os seguintes objetivos:

  • Reduzir o risco de transmissão aérea do COVID-19 durante as atividades da igreja. (Veja a tabela abaixo)
  • Ser capaz de reativar ou cancelar as atividades da igreja, à medida que a infecção por COVID-19 na comunidade aumenta ou diminui
  • Ser capaz de identificar rapidamente contatos com uma pessoa infectada e ajudar a rastreá-los, se necessário
  • Retomar as atividades presenciais da igreja apenas quando houver evidência clara de declínio e baixo nível de infecção na comunidade
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Uma abordagem passo a passo para retomar atividades presenciais

Desenvolvi um plano de quatro etapas, que pode ser usado adaptando atividades da igreja. Esse plano passo a passo contém atividades que podem ser alternadas ou canceladas, dependendo do nível de infecção na comunidade.

Durante esta pandemia, o plano visa a ajudar nossas igrejas a:

  • Viver nosso chamado missionário
  • Atender às nossas necessidades sociais, emocionais e espirituais
  • Fornecer proteção contra o COVID-19
  • Apoiar o esforço mais amplo para conter o COVID-19

Ao adaptar esse plano à sua igreja, é muito importante seguir as diretrizes do governo local. Portanto, o número de pessoas autorizadas a se reunir, no caso de sua igreja, pode diferir deste meu plano, devido a restrições locais. As atividades na mesma etapa devem ser implementadas aproximadamente no mesmo nível de infecção na comunidade ou vizinhança da igreja.

A tabela inclui apenas algumas das atividades mais comuns da igreja. Ao tomar decisões sobre como outras atividades podem ser implementadas com segurança, considere os fatores na Tabela 1 e onde as atividades modificadas devem ser inseridas na Tabela 2.

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Vivendo nosso chamado missionário por meio de reuniões de pequenos grupos

À medida que as restrições de permanência em casa são diminuídas, primeiro, a reunião em pequenos números passará a ser frequentemente permitida. Portanto, reuniões de pequenos grupos devem ser a primeira atividade a ser implementada. Deveríamos nos entusiasmar com isso, porque as reuniões em pequenos grupos são uma maneira maravilhosa de viver o chamado de Deus para nós. Em pequenos grupos, podemos construir relacionamentos mais profundos uns com os outros, crescer na Palavra de Deus, promover um ambiente mais seguro para a responsabilidade mútua, e incentivar um ao outro a amar e praticar boas obras. Esses grupos podem alcançar muitos que preferem não entrar no prédio de uma igreja, mas aceitariam um convite para um lar. Eles também podem nos ajudar na preparação para retomar os cultos presenciais, com reuniões em grupo todas as semanas para cultuar e, em seguida, juntando-se a outros pequenos grupos para participar do culto presencial quando esse for retomado.

Assim como os cristãos perseguidos em Atos 8, que foram espalhados para fora de Jerusalém, n ossas atividades ministeriais foram espalhadas para fora do prédio de nossa igreja. Ao formar pequenos grupos fortes em nossas comunidades e nos organizarmos a partir deles, estamos construindo uma base sólida e flexível para o ministério da igreja como um todo.

O risco de transmissão da COVID nesses grupos é baixo. O risco pode ser reduzido ainda mais se mantivermos os membros do grupo constantes e dentro da mesma faixa etária. Quando a infecção na comunidade ainda é alta, o uso de máscaras faciais fornece uma camada adicional de proteção. Como os membros se conhecem, eles podem saber rapidamente se uma pessoa desenvolver sintomas típicos da COVID-19. Isso facilitará a rápida autoquarentena de outros membros do grupo.

Atendendo às nossas necessidades sociais, emocionais e espirituais

Todos precisamos de contato humano, mas, às vezes, esses contatos parecem superficiais. Essa pandemia oferece uma chance de construir relacionamentos mais profundos. Para reduzir o risco de infecção, devemos reduzir o número de pessoas com quem estamos em contato. Mas encontrar-se com as mesmas pessoas o tempo todo e encontrar-se apenas com pessoas da nossa faixa etária também reduz o risco de infecção.

Imagine essa estratégia como uma forma de criar pequenas bolhas de segurança em toda a igreja. Quanto mais membros permanecerem dentro de sua bolha, mais seguros todos estarão na congregação enquanto a infecção permanecer na comunidade. Reunir-se com o mesmo grupo de pessoas que estão na mesma fase da vida também pode atender melhor às nossas necessidades sociais, emocionais e espirituais.

Fornecendo proteção contra o COVID-19

Quando os eventos presenciais na igreja forem retomados, será essencial observar uma distância física de pelo menos 2 metros. Embora o distanciamento físico seja geralmente observado no nível individual, ele pode ser observado no nível de unidade social. Por exemplo, aqueles que vivem juntos são uma unidade social e não precisam estar fisicamente separados na igreja. Como uma unidade, eles podem ficar fisicamente separados de outras unidades sociais.

O uso da máscara facial pode ser muito útil. Como qualquer pessoa que entra em nossa igreja pode ser um propagador assintomático, colocar uma máscara facial em todos que entram na igreja pode reduzir a propagação do vírus. Para aumentar a proporção de usuários de máscaras, peça a todos que as usem. Isso tira o estigma do uso de máscaras faciais e usa a pressão do grupo para fazer com que todos as usem.

Como o uso de máscaras faciais, especialmente as caseiras, não impedirá toda a transmissão, ele não pode substituir a implementação de outras abordagens para reduzir a disseminação do COVID-19. Como o distanciamento físico geralmente não é prático para reuniões de pequenos grupos em uma casa, é importante usar máscaras faciais enquanto houver alto nível de infecção na comunidade.

Apoiando o esforço mais amplo para conter o COVID-19

Como o COVID-19 estará conosco no futuro próximo, a transmissão desse vírus poderá ocorrer durante o reinício das atividades presenciais da igreja. Portanto, para a segurança de toda a congregação, bem como de seus amigos e vizinhos, as igrejas devem estar preparadas para ajudar as secretarias de saúde pública a identificar e encontrar os contatos de pessoas que descobrem estarem infectadas.

Trabalhando com a secretaria de saúde pública local, a primeira tarefa é identificar rapidamente todos os contatos desse paciente da COVID-19 quando ele compareceu à igreja. Então, se solicitado, as igrejas devem estar preparadas para notificar rapidamente essas pessoas, para que possam se pôr em autoquarentena e serem testadas para a COVID-19. Dessa maneira, mesmo que essas pessoas tenham sido infectadas, qualquer transmissão posterior pode ser reduzida.

Lembre-se de que a velocidade é essencial quando se trata de identificação e rastreamento de pessoas.

Portanto, sua igreja deve estabelecer um sistema para coletar informações sobre todos os participantes. Abaixo estão algumas sugestões de como fazer isso:

  • Mantenha um registro de onde todas as pessoas estão sentadas. Estabeleça um número para o assento e a fila no santuário e a posição ou o número da mesa em salas de reunião.
  • Registre todos os que entram em uma reunião. Registre o nome completo, informações de contato e onde estão sentados. Para cada família, apenas uma pessoa precisa se registrar, mas ela deve listar o número de pessoas em seu grupo.
  • Mantenha o registro por pelo menos três semanas.
  • Designe uma pessoa na igreja para ficar responsável por manter o registro da reunião, fazer contato com a secretaria de saúde pública e ajudar a identificar pessoas para notificá-las, se for necessário.

Decisão sobre quando mudar de uma fase para outra

Talvez o aspecto mais difícil de usar essa abordagem passo a passo seja a decisão de quando mudar de um passo para o outro – seja para aumentar, ou seja para diminuir as atividades da igreja.

Existem muitos fatores a considerar. Recentemente, li esta declaração: o governo não pode abrir a economia, as pessoas precisam fazer isso. Da mesma forma, as igrejas não podem retomar eventos presenciais, as pessoas precisam fazer isso. Portanto, um dos fatores mais importantes a considerar são as necessidades dos membros da igreja. Quando houver uma necessidade real que seja melhor atendida ou que tenha realmente de ser atendida presencialmente, devemos encontrar uma maneira de retomar os ministérios presenciais mais rapidamente.

Eu recomendo fortemente, no entanto, que cada igreja comece primeiro com uma avaliação do nível de infecção por COVID-19 em sua comunidade. Se o nível de infecção está subindo ou ainda é alto, não devemos considerar retomar os encontros ou reuniões presenciais. Mas, se o nível de infecção está diminuindo e é baixo, é seguro avançar para a etapa 1 do nosso plano.

Eu, particularmente, gostaria de ver uma tendência consistente de queda nos casos e mortes por COVID-19 por pelo menos três semanas antes de considerarmos a etapa 1 deste plano. Mas uma tendência de queda não é suficiente. Também devemos ter um baixo nível de infecção. E é aqui que fica complicado, porque, sem exames extensivos, não sabemos o verdadeiro número de infecções em nossas comunidades. Até que os exames aumentem, só podemos avaliar com base no número de casos e mortes relatados. Mas isso é claramente problemático.

Com uma tendência de queda e um baixo nível de infecção, podemos considerar outros fatores que podem nos levar a retomar os ministérios presenciais antecipadamente ou não. É importante envolver a liderança da igreja e toda a congregação nesse processo. Precisamos ajudar nossos congregantes a entender por que e como estamos tomando essas decisões.

Por exemplo, para uma população como a do município em que moro (2,2 milhões de habitantes) e com um declínio consistente de mortes e casos como base, um conjunto de critérios pode ser desta forma (usando médias contínuas em 3 dias):

  • Etapa 1: consistentemente <5 mortes por dia, durante 3 semanas consecutivas
  • Etapa 2: consistentemente <1 morte por dia, durante 3 semanas consecutivas
  • Etapa 3: consistentemente <5 casos por dia, durante 3 semanas consecutivas
  • Etapa 4: consistentemente <1 caso por dia, durante 3 semanas consecutivas

No entanto, estou apenas conjecturando, com base em informações e conhecimentos limitados. Com o tempo, aprenderemos mais e poderemos estabelecer uma orientação melhor.

Conclusão

Essa pandemia mudou drasticamente nossa vida e virou nosso mundo de cabeça para baixo. Para muitos, isso tem sido difícil, muito difícil. Estamos apenas há alguns meses nessa pandemia, mas nossa dor e ansiedade, e também as daqueles ao nosso redor, são muito reais.

Para nossas igrejas, as decisões imediatas são: quando retomar os eventos presenciais e como fazê-lo com segurança. Para ajudar com essas decisões, usei verdades bíblicas e o conhecimento científico disponível como diretrizes para desenvolver uma abordagem passo a passo.

Para finalizar, gostaria de nos lembrar de uma certeza. A pandemia de COVID em sua forma atual vai passar. Um dia, olharemos para trás e veremos claramente que Deus estava conosco e que estava trabalhando em nosso meio para o bem. Sabendo disso, podemos recorrer a Ele hoje e pedir que Ele nos dê discernimento, compaixão e fé para liderar nossas igrejas neste momento.

Minha oração é que este artigo ajude sua igreja a cumprir seu chamado missionário, atenda às necessidades de seus membros e proteja a saúde das pessoas na igreja e na sua comunidade neste momento crítico.

Daniel Chin é médico especializado em pneumologia, terapia intensiva e epidemiologia, com 25 anos de experiência em saúde pública global. Em 2003, ele liderou grande parte do apoio da OMS à China para conter a epidemia de SARS.

Editado por Marcos Simas

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