A filosofia evangélica está florescendo, apesar das más notícias

E isso é uma boa notícia, porque nos ajuda a buscar a bondade, a verdade e a beleza.

Christianity Today May 27, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: WikiMedia Commons / Aaron Burden / Nathan Dumlao / Unsplash

A filosofia é vital, hoje, para os cristãos. Ela nos prepara para amar a Deus com nosso coração e nossa mente. Ela nos ensina a pensar bem e a cultivar o caráter cristão. Ela nos ajuda a entender a história da fé e o desenvolvimento de doutrinas fundamentais, como a Trindade e a encarnação. E isso nos permite engajar a cultura.

Como C. S. Lewis escreveu: "A boa filosofia deve existir, se não por outro motivo, porque é preciso responder à má filosofia". Eu acrescentaria que a boa filosofia também deve existir para nos ajudar a buscar a bondade, a verdade e a beleza, todas baseadas na natureza de nosso grande Deus.

Minha experiência estudando filosofia na Talbot School of Theology continua a me moldar não apenas como professor de filosofia, mas como membro da igreja local, marido, pai, treinador de futebol e amigo. Quaisquer que sejam as virtudes intelectuais e morais que possuo, devo, em grande parte, ao meu treinamento em filosofia.

É por isso que fiquei consternado ao saber que a Liberty University extinguiu seu departamento de filosofia. Que notícia terrível para os cinco excelentes acadêmicos e professores que não estarão mais empregados a partir de 30 de junho; para os alunos que perderão a experiência transformadora de estudar filosofia em uma escola cristã; e para a igreja americana, que precisa de mais evangélicos treinados em filosofia – e não de menos.

Qualquer universidade digna desse nome – especialmente uma cristã – precisa de filósofos para fazer o que fazem na sala de aula e além. Como Francis Beckwith, da Universidade Baylor, disse:

A decisão de Liberty reflete uma tendência no ensino superior. A filosofia e outros campos das ciências humanas não são vistos por alguns como essenciais para a educação universitária. As pessoas pensam erroneamente que os graduados nessas áreas são incapazes de encontrar um emprego remunerado, mesmo que os dados mostrem o contrário, e desconsideram completamente o papel que a filosofia e as humanidades podem desempenhar no crescimento espiritual dos estudantes, a despeito de sua graduação.

Como presidente da Sociedade Filosófica Evangélica, fico desapontado quando os cristãos não enxergam o valor na busca pelo bem, pelo verdadeiro e pelo belo. Mas também vejo um panorama mais amplo do que apenas notícias sobre o fechamento de um departamento. Embora, em alguns casos, as perspectivas dos departamentos de filosofia sejam sombrias, a filosofia evangélica também está florescendo.

Houve um renascimento na filosofia cristã desde os anos 1960, e os filósofos evangélicos têm sido parte significativa desse movimento. Filósofos cristãos como Alvin Plantinga, Eleonore Stump, Robert e Marilyn Adams e William Alston foram fundamentais. Filósofos evangélicos como William Lane Craig, J. P. Moreland, Doug Geivett e Jerry Walls também fizeram parte disso.

Agora, uma nova geração de evangélicos continua esse trabalho, tanto nos Estados Unidos quanto em todo o mundo. A filosofia evangélica está florescendo em lugares como Biola University, Houston Baptist University e Tyndale University, para citar apenas alguns.

Os alunos do seminário podem receber uma educação filosófica de primeira linha no Southeastern Baptist Theological Seminary, no Denver Seminary ou na Talbot School of Theology. A Palm Beach Atlantic University acaba de anunciar um novo mestrado em filosofia da religião, que será inaugurado no outono de 2021.

Filósofos evangélicos também publicam em todas as áreas da filosofia. A Sociedade Filosófica Evangélica realiza inúmeras conferências nos Estados Unidos, todos os anos, com a presença de centenas de estudiosos e apologistas. A revista da sociedade, Philosophia Christi, publica excelentes trabalhos filosóficos de evangélicos, outros cristãos e nossos colegas seculares.

Kent Dunnington, na Biola, e Ross Inman, no Southeastern Seminary, são representantes de muitos evangélicos que publicaram excelentes trabalhos acadêmicos com as principais editoras acadêmicas. "A humildade, o orgulho e a teoria das virtudes cristãs", de Dunnington, e "Substância e a fundamentalidade do familiar", de Inman, são apenas dois exemplos do excelente trabalho que os estudiosos estão fazendo.

E os filósofos evangélicos escrevem para a igreja, o que torna nosso trabalho acessível aos membros. Escrevemos sobre uma ampla variedade de tópicos, explorando as implicações de nossa fé para toda a vida. Engajamos a cultura em prol do reino, ajudamos a equipar as pessoas em nossas igrejas e procuramos moldar o coração e a mente de nossos alunos para uma vida inteira de serviço a Deus em seus lares e naquilo para que foram vocacionados.

Por exemplo, o livro premiado de Paul Gould "Cultural Apologetics" expande nossa visão do que é a apologética, como ela pode ajudar a construir a igreja e as maneiras pelas quais ela pode ser usada para realmente alcançar outras pessoas com o evangelho. Meu próprio livro recém-lançado, "God and Guns in America", une a filosofia, a teologia e estudos bíblicos para participar sobre os debates acerca do uso de armas nos Estados Unidos, de um ponto de vista completamente cristão.

Mas, sem dúvida, o trabalho mais importante realizado por muitos filósofos evangélicos acontece na sala de aula. Esse trabalho assume formas diferentes. Sou professor de uma universidade pública, por isso me esforço para amar meus alunos e ajudá-los a pensar com cuidado e bem sobre as grandes questões da vida. Nas instituições cristãs, os filósofos evangélicos ajudam seus alunos a integrar a fé a toda a vida. Eles treinam futuros médicos, enfermeiros, professores, cineastas, pastores, missionários, profissionais de negócios e professores universitários a ver a vida pessoal e profissional à luz de Cristo. Eles os ensinam a pensar bem e a pensar de maneira cristã.

Isso importa para a vida da igreja. Se você já lamentou a falta de discipulado no evangelicalismo americano, a filosofia pode nos ajudar com isso, porque pode ajudar aqueles que a estudam a desenvolver virtudes intelectuais e morais. Pode ser um exercício proveitoso na formação espiritual cristã uma leitura lenta e cuidadosa de "A República", de Platão; de "Confissões", de Agostinho; de "Obras do amor", de Kierkegaard; ou de "Glittering Vices", da filósofa contemporânea Rebecca Konyndyk DeYoung.

Na melhor das hipóteses, uma educação filosófica cristã nos ajuda a amar a Deus com todo coração, alma, mente e forças. Ela nos equipa a amar o próximo como a nós mesmos, de maneiras que talvez não consigamos fazer sem o treinamento filosófico. Você não precisa de uma aula ou um curso de filosofia para amar a Deus e ao próximo, é claro, mas isso pode ajudá-lo a fazer tudo isso de maneira maravilhosa e única.

A educação prática é importante, mas, dado o ritmo das mudanças em nosso mundo, a prática logo se torna obsoleta. Os alunos com educação filosófica, no entanto, sabem pensar. Por isso, eles são capazes de se adaptar às mudanças na indústria. Eles podem se adaptar às mudanças na cultura que afetam como um ministério se sai bem em determinado contexto.

De fato, a filosofia é intensamente prática. Isso pode parecer ridículo, mas os filósofos exploram questões como o caráter de Deus, a verdadeira natureza da justiça, a aplicação adequada do conhecimento científico, a estrutura dos bons argumentos, a natureza da virtude e sua conexão com o florescimento humano. Tudo isso é obviamente relevante para nossa vida diária.

Em uma cultura em que a humildade é escassa e na qual são raras as pessoas que podem emitir sons e, também, argumentos convincentes, a filosofia cristã evangélica tem muito a oferecer. Não devemos deixar isso de lado. Devemos fazer o que pudermos para incentivar seu impacto na cultura, no crescimento na igreja e na presença contínua em nossas instituições cristãs de ensino superior.

Michael W. Austin é o presidente da Sociedade Filosófica Evangélica. Ele ensina filosofia na Eastern Kentucky University e seu último livro é "God and Guns in America".

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Ahmaud Arbery e o trauma de ser um corredor negro

Eu gostaria que o mundo me visse primeiro como cristão, não como uma ameaça.

Christianity Today May 27, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: FatCamera / Getty Images

Eu estava correndo pela manhã, enquanto o sol nascia no céu azul da Califórnia. Naquela hora, quase não havia ninguém na rua. Você aprende desde criança a não correr muito cedo, pela manhã, nem tarde da noite.

Acho que me esqueci das lições, as orientações de segurança que meus pais me ensinaram. Eles sabiam o que poderia acontecer. Eu levei meu documento de identidade, como minha esposa sempre me orienta a fazer quando saio. Durante a corrida, eu não estava preocupado com nada e me senti bem. Eu mal podia esperar para verificar meu ritmo em meu rastreador de fitness.

Então, aconteceu. Eu olhei ao longe e vi um homem branco, em sua varanda, tirando fotos de mim. Cada foto que ele tirava me deixava mais confuso. Eu disse: "Está uma bela manhã, não é?" como se ser respeitável me protegesse nessa situação ou fizesse com que ele finalmente me visse como um ser humano.

Ele não respondeu. Lá vamos nós de novo.

Meu medo rapidamente se transformou em raiva. Eu queria lutar por minha dignidade, ao ser fotografado por um estranho e ser informado de que não pertencia ao lugar onde estava. Patrulhado por um homem parado na varanda da frente. Ali, no sul da Califórnia, o fantasma de Jim Crow, ao estilo "O que você está fazendo aqui, crioulo?", apareceu.

Mas, no fim das contas, senti-me impotente. Eu não podia nem chamar a polícia, porque poderiam me confundir com o agressor. É com esse tipo de situação que os negros precisam lidar, enquanto outros podem desfrutar de suas corridas. De novo e de novo, ano após ano. Essa raiva me força a ficar irado com a nossa realidade e ter fé para acreditar que é possível melhorar.

Mas, naquele dia do ano passado, minha raiva se transformou em profunda tristeza. No caminho para casa, parei, abaixei a cabeça e chorei. Não foram lágrimas de fraqueza. Chorei porque senti o que muitos daqueles que se parecem comigo têm sentido: a violência de um mundo sem amor. Aquele homem me roubou naquele dia. Em sua crueldade, ele roubou algo de mim.

Eu era atleta na faculdade; agora eu corro e ando de bicicleta. Corri meias maratonas e completei um Ironman. Mas não posso desfrutar das corridas como costumava. Onde está a alegria e a liberdade de sair na estrada e treinar meu corpo quando tenho de me perguntar se um dia não chegarei ao fim da corrida? Eu tenho corrido a vida toda e, de certa forma, agora, tenho de correr para mantê-la. Minha esposa tem medo de que lhe liguem e digam: "Seu marido está morto".

Muitos acreditam que casos como o ataque a Ahmaud Arbery são isolados. Ou que são o tipo de coisa que só pode acontecer no sul. Não, nossa sociedade foi ensinada a ser antinegra. Vemos como patrulham nossos movimentos, criminalizam nossa humanidade e evitam o acerto de contas racial, enquanto desfrutam do fruto que vem de árvores podres – árvores nas quais meus ancestrais pendem, sem vida.

Essas feridas são profundas e, hoje, corro por meu futuro, meu povo e, até, por minha vida. É um trauma que os negros americanos são forçados a enfrentar, as trágicas condições de opressão, a audácia da branquidão. Não pude deixar de pensar: por que eles nos odeiam tanto?

O crime e a tragédia de ser negro

Não muito tempo antes daquela abordagem, durante minha corrida no verão passado, eu havia escrito em um diário como desejava que, quando saísse para o mundo, as pessoas ao meu redor me vissem, fundamentalmente, como cristão. Mas a verdade é que, não importa quantos versículos da Bíblia eu cite, quantos ótimos livros eu leia e publique, quão moralmente excelente eu seja, que graduações acadêmicas eu tenha ou qualquer outra característica que seja "bem-sucedida", nada disso pode me proteger da tragédia de ser negro.

E como tomamos conhecimento de tragédias!

Nas últimas semanas, ativistas armados invadiram as ruas para protestar, protegidos por sua branquidão, enquanto negros inocentes e desarmados são atacados por viver sua vida. O nome de Arbery se junta a uma longa lista de vítimas negras que nunca deveriam ter sido mortas, desafiadas ou até postas em suspeição; pessoas que não fizeram nada errado.

Testemunhamos mais uma vez a exibição pública do que Eddie Glaude chama de "diferença de valor": a crença de que vidas negras são menos valiosas que outras. A experiência dos negros com o COVID-19 revelou desigualdades que existem desde o início – em assistência médica, poder, riqueza, educação, renda e encarceramento.

Arbery correu. Ele lutou por sua vida, por sua negritude, mas a raiva branca as roubou dele. Faz dois meses e meio desde que ele foi morto e seus agressores foram, finalmente, presos. Quando assisti ao vídeo, meu coração sangrou. Minha mente voltou ao que aquele homem fez comigo, às fotos, à volta para casa, às lágrimas. Eu consegui, mas Arbery, não. Ele não vive para contar a história. Ele não pode ficar bravo ou fazer algo a respeito. Ele se tornou uma hashtag, uma memória, uma oração. Ele morreu sozinho naquele dia. Sua última lembrança ficou no asfalto.

Após sua morte, o promotor da cidade, George Barnhill, declarou que a saúde mental de Arbery e condenações anteriores explicavam sua agressão a um homem armado que o confrontou na rua. Barnhill culpou a vítima, não a sede de sangue de um grupo de linchadores. A crueldade.

Todo ano, algo nos lembra de que vidas de negros não importam. Neste ponto, transbordamos de indignação. A história nos mostra que as maiores ameaças à vida negra são a supremacia branca, o poder branco e o terrorismo branco. Quem lutará por nós se lutamos por nós mesmos e ainda somos linchados? Quem responsabilizará os assassinos? Quanto sangue negro deve ser sacrificado à supremacia branca? Por que nossas famílias devem ser aterrorizadas enquanto vivem em paz? Essas perguntas estão sempre em minhas orações silenciosas e nas lágrimas de medo.

Miroslav Volf escreveu sobre lembrar-se da maneira correta em um mundo violento: "Lembrar-se de uma transgressão é lutar contra ela". Ser negro e cristão é lembrar-se da violência e de nossos mortos, honrá-los quando olhamos para nossos filhos e enquanto lutamos para responder essas questões. É lembrar-se, como James Cone escreve, da "mensagem de libertação de Deus em um mundo não redimido e torturado".

A memória nos chama a trabalhar por um futuro melhor. Ela nos força a nos posicionarmos no mundo como cristãos e a fazer algo para mudá-lo.

Ainda esperando por mudanças

Nós, negros, queremos mudar. Glaude, um estudioso de religião afro-americana em Princeton, escreve: "Temos de romper os hábitos raciais que dão vida à diferença de valor, e isso começa com mudanças em nossos arranjos sociais e políticos". Precisamos de uma revolução de valor – no governo, em nossas comunidades, em nossa vida. Nós realizamos o trabalho, e estamos cansados.

As pessoas gostam de dizer: "Estes não são os Estados Unidos que eu conheço". Ouvimos isso com relação à escravidão; a Jim Crow; aos direitos civis; aos anos 90; à reação branca a Obama; aos assassinatos brutais de crianças, mulheres e homens na era do Black Lives Matter; e até à raiva branca em apoio a Trump. Já ouvimos isso antes. E sabe de uma coisa? Essas pessoas estão totalmente certas. O escudo da branquidão protegeu muitos da experiência devastadora de um mundo que conhecíamos o tempo todo – aquele em que vidas brancas, comunidades brancas e a dor branca importam muito mais que as nossas. Eu só queria que esses pensamentos e essas orações fossem direcionados contra um mundo que os protegeu e nos matou.

Se nossa teologia, hoje, não tem nada a dizer ou fazer sobre o terror de ser negro em um mundo criado para a branquidão e as trágicas estruturas de opressão, é como um de meus amigos disse: "Você não tem nada a oferecer às pessoas negras".

Estou muito menos preocupado com o que as pessoas põem em uma hashtag. Todo ano surge outra hashtag e todo ano continua acontecendo. Estou mais preocupado com o modo como levantamos a questão em nossas congregações, famílias e reuniões de diretoria, e com o que acontece nas urnas. São esses os lugares onde a integridade do amor atende às demandas da libertação. Agora não é hora de frases curiosas, chamadas vazias para a unidade ou convites a pessoas negras, para fazer com que os brancos se sintam bem. Não. Esse não é um chamado à salvação, uma crença de que a branquidão pode nos salvar. Não, esse chamado está nos matando. É um chamado à libertação e ao amor.

Quanto tempo temos de esperar pelo progresso? Quantos têm de ser brutalmente assassinados antes que as pessoas acreditem que realmente estamos dizendo a verdade? O que o ciclo de violência e apatia está nos custando? Por que somos nós os que temos de acreditar que Deus tem um bom plano para nós no futuro, mas o melhor plano para eles no presente? Por quanto tempo temos de suportar esse tipo de conversa até que as pessoas percebam que a supremacia branca não é um problema nosso, mas deles e de seus filhos? Eu quero que meu filho sobreviva. Quero saber que muitos de seus filhos o defenderão quando ele precisar. Não quero que ele não volte para casa. Não quero lhe dizer como proteger sua humanidade. Eu quero que ele viva. Quero que ele seja livre, como Cristo prometeu. Quero saber que a mudança ocorrerá, mas a História conta outra história.

Graças a Deus, a palavra final sobre a vida dos negros nos Estados Unidos não é a morte na árvore do linchamento, mas a redenção encontrada na cruz. A cruz foi a repreensão de Deus pelo poder abusivo – poder branco nos Estados Unidos – usando o que Cone chama de "amor impotente, arrancando a vitória da derrota". Cone argumenta poderosamente que o linchamento é a metáfora da destruição dos negros pelos brancos dos Estados Unidos. Contudo, Deus tomou o mal da cruz e do linchamento e transformou os dois na beleza triunfante do divino. Deus pode suportar a dor e transformá-la em poder.

A transformação é a que James Baldwin se refere quando escreve: "É necessário ter resiliência espiritual para não odiar quem odeia e cujo pé está no seu pescoço, e um milagre ainda maior de percepção e caridade não ensinar seus filhos a odiar". Realmente, não sei quanto mais podemos aguentar.

Temos fé, mas precisamos lutar.

Temos a oração, mas precisamos protestar.

Estamos tentando amar Jesus, sim, mas também estamos tentando viver.

Estamos tentando sobreviver à corrida. Porque alguns de nós não sobrevivem.

Danté Stewart é um escritor e pregador que estuda na Candler School of Theology da Emory University. Seus artigos anteriores para a CT incluem "Why We Profethy Hope Hope" e "Martin Luther King Jr .: Exemplar of Hope."

Speaking Out é a coluna de opiniões de convidados da Christianity Today e (diferentemente de um editorial) não representa necessariamente a opinião da revista.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Books

Morre Joyce Lin, piloto missionária que transportava suprimentos relacionados ao coronavírus

O avião pilotado pela americana caiu apenas alguns meses após ela começar a voar na Indonésia.

MAF pilot Joyce Lin

MAF pilot Joyce Lin

Christianity Today May 14, 2020
Courtesy of Mission Aviation Fellowship

Uma piloto missionária americana de 40 anos que entregava suprimentos da Covid-19 para vilas remotas morreu em um acidente de avião na Indonésia na última terça-feira.

Joyce Lin, uma piloto da Mission Aviation Fellowship (MAF), que no Brasil é afiliada da Asas de Socorro, estava transportando kits de testes rápidos e material escolar para uma vila em Papua, a província mais a leste da distante da cadeia de ilhas. Ela saiu da cidade de Sentani às 6h27 e fez um pedido de socorro dois minutos depois, disse o porta-voz da MAF Brad Hoaglun. Uma equipe de busca e salvamento localizou sua aeronave Kodiak 100 que havia caído no lago Sentani e recuperou o corpo da americana a cerca de 10 metros de profundidade, segundo a polícia local.

Lin era uma piloto experiente e uma instrutora de voo certificada. Ela completou seu primeiro voo solo para a MAF em março. Aprovada para voar por 20 aldeias (das cerca de 150 atendidas pela MAF), ela liderou a iniciativa de arrecadar sabão para missionários e agentes humanitários que lidam com a ameaça do coronavírus e transportava medicamentos, testes de Covid-19 e equipamentos de proteção individual (EPI) para toda a área.

"Sentimos uma grande sensação de perda, mas ao mesmo tempo grande conforto, porque Joyce estava fazendo o que amava e era fiel ao chamado que Deus havia colocado em sua vida", disse David Holsten, presidente da MAF à Christianity Today. “Ela deu a vida servindo ao Senhor de uma maneira que estava impactando os outros.”

A MAF não sofria acidentes fatais havia 23 anos, disse Holsten. As autoridades de aviação civil estão investigando a causa do acidente. Não havia outros passageiros a bordo devido a restrições de voo por causa do coronavírus, de acordo com Hoaglun. As viagens continuam restritas na Indonésia, mas a MAF tem permissão para transportar cargas e pessoas que trabalham com emergências médicas.

Formada no Massachusetts Institute of Technology e no Gordon-Conwell Theological Seminary, Lin havia planejado se tornar uma piloto missionária, tendo sido treinada para isso por dez anos. Estagiou pela primeira vez na MAF em 2010, obteve sua licença de voo em 2015 e mudou-se para Papua em 2019.

"Foi incrível pousar o Kodiak sozinha pela primeira vez", escreveu ela em uma carta enviada aos seus mantenedores em dezembro. “Este é o avião dos meus sonhos, desde que descobri a aviação missionária. Pousei o Kodiak em pistas asfaltadas e pistas de terra, e treinei procedimentos de emergência.”

Lin cresceu no Colorado e em Maryland, nos EUA. Ela era filha de imigrantes cristãos de Taiwan. Ela se converteu quando era criança, através de um trabalho evangelístico realizado em uma igreja local. Depois de se formar em ciência da computação pelo MIT e trabalhar em TI por uma década, Lin sentiu-se chamada para o ministério. No Gordon-Conwell, ela descobriu a aviação missionária: um trabalho que unia seu interesse em voar, suas habilidades com o computador e seu chamado ao serviço cristão.

Ela foi de imediato convencida do chamado de Deus e reorientou sua vida em torno do objetivo de se tornar uma piloto missionária. Além de transportar suprimentos para missionários e agentes humanitários na Papua, Lin ajudou a montar e manter um sistema informatizado para oferecer a eles o acesso à Internet.

Em dezembro, Lin defendeu o trabalho dos missionários em uma carta a seus amigos e familiares nos Estados Unidos.

“Antes que alguém se oponha a que cristãos ou ocidentais mudem o modo de vida de outras pessoas”, escreveu ela, “é importante saber que Papua não era um paraíso tropical antes da chegada de missionários cristãos. As tribos papuanas viviam se matando. … As pessoas viviam com medo constante de outras tribos e do mundo espiritual.”

Em um de seus primeiros voos para a MAF, Lin teve que desviar para Wamena, a maior cidade do planalto de Papua, por causa do mau tempo. No aeroporto, por conta desse incidente, ela acabou tendo contato com uma mulher que precisava de um voo de emergência para fazer uma cirurgia importante. Todos os voos haviam sido cancelados por causa do bloqueio da Covid-19, mas Lin foi autorizada a levar a mulher para Sentani.

Lin viu isso como uma evidência de que Deus a estava usando.

“Há um versículo famoso que os cristãos gostam de citar em Romanos 8:28”, ela escreveu, “que diz que Deus é capaz de agir em todas as coisas para o bem daqueles a quem Ele chamou, de acordo com seu propósito. Ao meditar na minha vida, é legal ver as muitas maneiras que esse versículo tem sido verdadeiro nesse meu chamado para servir na Indonésia.”

Na terça-feira, um pequeno memorial de rosas vermelhas foi deixado na pista de pouso na aldeia onde Lin estava programada para pousar. "Piloto Joyce Lin", dizia um cartão, "até nos encontrarmos novamente".

Lin deixa seus pais e duas irmãs.

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Como sua igreja pode reabrir com segurança até surgir uma vacina contra o coronavírus

Especialista em saúde global sugere plano em etapas para congregações voltarem a se reunir durante a pandemia.

Christianity Today May 7, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Anshu A / Unsplash / WikiMedia Commons / MirageC / Getty Images

Nota do editor: Uma versão anterior informava que as pessoas não deveriam cantar durante as reuniões. A sugestão é usar uma máscara ao cantar ou conversar. Consulte a tabela atualizada para obter mais informações.

Os últimos quatro meses têm sido um período bastante incomum para o mundo contemporâneo. A disseminação de um novo coronavírus, o COVID-19, explodiu em todo o planeta. Em seu rastro, há fotos de prontos-socorros lotados, pacientes de UTI em respiradores e famílias sofrendo com a perda de seus entes queridos. Para limitar a propagação desse vírus, a maioria dos governos teve de implementar medidas de restrição para a população ficar em casa. Foi necessário implementar essa medida tão contundente porque muitos países simplesmente não estavam preparados para a rápida disseminação do vírus. Se nada fosse feito, o rápido crescimento das infecções teria sobrecarregado os sistemas de saúde e as mortes teriam aumentado rapidamente.

Durante esse período, igrejas em todo o país fecharam suas portas para cultos e eventos presenciais. Como em muitas ações preventivas, talvez nunca saibamos como isso limitou a disseminação do COVID-19. Mas estou certo de que a medida evitou muitas infecções e mortes que teriam ocorrido entre os membros e suas famílias e seus amigos.

Agora, com alguns estados e municípios diminuindo suas medidas de isolamento, o que tende a aumentar, nossas igrejas estão enfrentando um novo conjunto de decisões: quando retomar atividades ministeriais presenciais, e como fazer isso com segurança.

Neste artigo, proponho que o caminho a seguir seja adotar uma abordagem passo a passo, que ajude a igreja a cumprir seu chamado missionário, atender às necessidades de seus membros e proteger a saúde das pessoas na igreja e também em suas vizinhanças.

Nota: Igrejas em todas as partes do mundo enfrentam os mesmos desafios sobre quando e como retomar ministérios presenciais, à medida que as restrições impostas pelo governo diminuem. A abordagem descrita aqui é aplicável à maioria dos locais fora dos EUA, embora sempre exista necessidade de alguma adaptação local. O plano passo a passo, conforme descrito, não é difícil ou caro de implementar e pode ajudar a garantir um ambiente seguro para os membros das igrejas.

Decisões difíceis sobre quando e como retomar os eventos

A decisão de retomar as atividades presenciais é mais difícil do que a decisão inicial de interrompê-las. Quando a pandemia começou, as pessoas tinham medo do desconhecido e as igrejas eram obrigadas a seguir as determinações do governo, limitando aglomerações. Mas, após seis semanas ou mais de instruções para ficar em casa, as perdas de emprego estão aumentando, as pessoas estão ficando ansiosas em casa e cada vez mais há pedidos para que os governos relaxem suas restrições.

Embora os especialistas em saúde pública avisem que o país não possui os recursos de exames, rastreamento de pessoas e quarentena necessários para manter a pandemia sob controle, alguns estados estão afrouxando suas restrições e permitindo que atividades "não essenciais" sejam retomadas. Muitos governos estaduais não estão trabalhando em sintonia. Alguns líderes governamentais nos níveis nacional e estadual enviam mensagens contraditórias e, com as eleições tão próximas, essas importantes decisões estão sendo politizadas.

Com tantas vozes nos falando a toda hora, como as igrejas devem decidir o que fazer, em sua circunstância específica?

Agora, mais do que nunca, acredito que precisamos calar o barulho à nossa volta e ouvir a voz de Deus neste momento crítico.

Nossas diretrizes para a tomada de decisões

Para discernir o chamado de Deus para as igrejas com as quais trabalho em minha cidade, contei com duas diretrizes dadas por Deus para nos ajudar neste momento: verdades bíblicas e conhecimento científico.

O Grande Mandamento declara: "Amarás o Senhor teu Deus … e amarás o teu próximo como a ti mesmo." Durante essa pandemia, o amor por si mesmo é expresso pela maneira como nos protegemos de sermos infectados. Da mesma forma, o amor pelo próximo também é expresso pela maneira como os protegemos de serem infectados.

Mesmo quando nos concentramos na prevenção de infecções por COVID-19, no entanto, existem necessidades espirituais, emocionais e sociais que não devemos negligenciar – em nós mesmos e nos outros. Durante esse período de distanciamento social, talvez seja ainda mais importante que nossas igrejas atendam a essas necessidades.

Como discípulos de Cristo, essas necessidades são atendidas à medida que vivemos nosso chamado para adorar, orar, encorajar, testemunhar, discipular e servir. No entanto, agora devemos fazer isso de maneira a reduzir o risco de transmissão do COVID-19. Portanto, precisamos usar conhecimento científico sobre esse vírus para impedir sua propagação em nossas igrejas.

Conhecimento científico recente sobre o COVID-19

Com as melhores mentes do mundo trabalhando no COVID-19 no momento, existe um corpo de conhecimento científico em rápida expansão sobre esse vírus. Também estamos acumulando lições de muitos países sobre o que está funcionando na tentativa de controlar a disseminação do COVID-19 e o que não está. Algumas dessas ideias recentes são particularmente relevantes para a igreja, pois têm a ver com retomar as atividades presenciais.

Primeiro, entendemos melhor como o vírus se espalha

Contrariamente ao nosso entendimento inicial, agora sabemos que o COVID-19 pode ser transmitido antes que uma pessoa desenvolva sintomas. Isso explica por que o vírus se espalha tão fácil e furtivamente e complica muito os esforços para conter sua propagação.

Também sabemos que nem toda pessoa infectada contaminará outra pessoa. Outros fatores são necessários para facilitar a transmissão. Eles incluem:

  • Infecciosidade de um paciente com o COVID-19
  • Ações que aumentam a liberação de gotículas respiratórias e aerossóis no ar ao redor
  • Proximidade de uma pessoa infectada
  • Ambiente fechado com ventilação limitada para o exterior
  • Quantidade de tempo gasto com uma pessoa infectada
  • Tipo de interação social, como, por exemplo, mistura intergeracional

Quanto mais esses fatores estiverem presentes, maior será o risco de transmissão. Mas, quando podemos atenuar efetivamente esses fatores, o risco de transmissão diminui. (Veja a Tabela 1 abaixo).

Há evidências crescentes de que pessoas mais jovens e crianças são menos suscetíveis ao COVID-19. As crianças também são menos propensas a apresentar sintomas quando infectadas pelo COVID-19. No entanto, a quantidade de vírus que elas abrigam e sua capacidade de se espalhar para outras pessoas não parece ser diferente. Como as pessoas mais velhas são mais suscetíveis ao COVID-19, a implicação é que o contato entre diferentes gerações deve ser minimizado para reduzir a sua transmissão.

Segundo, sabemos muito mais sobre os efeitos nocivos do COVID-19

Inicialmente, a maior parte da atenção sobre o perigo do COVID-19 concentrava-se nos idosos, porque eles apresentavam uma taxa de letalidade mais elevada. Aprendemos, então, que adultos mais jovens com condições crônicas comuns, como hipertensão e diabetes, também têm um risco maior de complicações graves. Na verdade, quase 60% das internações hospitalares por COVID-19 nos EUA estão entre pessoas com menos de 65 anos de idade.

Um estudo recente relatou que 45% dos adultos americanos têm fatores de risco que os põem em risco de complicações sérias decorrentes do COVID-19. Como aqueles que frequentam nossas igrejas são, em média, mais velhos que a população em geral, uma proporção ainda maior de membros de nossa igreja corre o risco de complicações sérias decorrentes do COVID-19.

Terceiro, temos uma melhor compreensão de quais medidas de controle funcionam

Exames, rastreamento de pessoas e quarentena de objetos e pessoas podem acabar com a epidemia do COVID-19 sem um lockdown. No entanto, essas ações devem ser tomadas com muita rapidez e eficácia. Coréia do Sul e Taiwan vêm fazendo isso. Dentro de 2 a 3 dias após o início dos sintomas, os pacientes com COVID-19 são testados e a maioria de seus contatos é posta em quarentena. Isso funcionou porque a Coréia do Sul e Taiwan possuem um quadro bem treinado de rastreadores de pessoas, junto com vigilância eletrônica para localizar rapidamente tais pessoas e implementar a quarentena.

Há boas evidências de que o uso de uma máscara facial reduz substancialmente a liberação de gotículas respiratórias e aerossóis no ar circundante, mesmo quando uma pessoa tosse ou grita. O principal benefício do uso de uma máscara facial é reduzir a propagação do COVID-19 a partir da fonte de infecção, que seria uma pessoa infectada. Também há proteção limitada para uma pessoa suscetível à infecção. Máscaras caseiras são menos eficazes que as cirúrgicas, mas ainda são eficazes. Além disso, o uso de uma máscara facial evita que uma pessoa infectada esfregue o nariz e, em seguida, deposite vírus nas superfícies que ela toca.

Quarto, os especialistas concordam que o COVID-19 continuará nos EUA no futuro próximo, com níveis flutuantes de infecção na comunidade

Vários estados começaram a suspender as determinações para que a população fique em casa, apesar de os casos com COVID-19 permanecerem altos ou apenas começarem a baixar. Isso levará a um aumento da transmissão e de novos casos. Esse aumento pode ser mitigado pela realização extensiva de exames, rastreamento eficaz de pessoas e subsequente quarentena. No entanto, nenhum estado ainda consegue eficazmente realizar exames ou possui pessoal treinado para fazer de forma eficiente o rastreamento e a quarentena de pessoas.

Depois, há o desafio de o COVID-19 se espalhar de um estado para outro. Enquanto uma parte do país tiver uma epidemia mal controlada, os estados que reduziram significativamente seus casos de pandemia permanecerão vulneráveis à disseminação do COVID-19 em seu território.

Aplicação de conhecimentos científicos recentes para desenvolver um plano

Ao considerar a decisão de retomar as atividades presenciais, devemos primeiro reconhecer que a igreja é um ambiente de alto risco para a transmissão do COVID-19. Nossas atividades na igreja contêm vários fatores que facilitam a transmissão aérea do COVID-19 (Veja a Tabela 1 abaixo), e nossos membros correm maior risco de complicações sérias decorrentes desse vírus. Portanto, as igrejas devem ter um plano claro de quando e como retomar os encontros presenciais. Esse plano tem os seguintes objetivos:

  • Reduzir o risco de transmissão aérea do COVID-19 durante as atividades da igreja. (Veja a tabela abaixo)
  • Ser capaz de reativar ou cancelar as atividades da igreja, à medida que a infecção por COVID-19 na comunidade aumenta ou diminui
  • Ser capaz de identificar rapidamente contatos com uma pessoa infectada e ajudar a rastreá-los, se necessário
  • Retomar as atividades presenciais da igreja apenas quando houver evidência clara de declínio e baixo nível de infecção na comunidade
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Uma abordagem passo a passo para retomar atividades presenciais

Desenvolvi um plano de quatro etapas, que pode ser usado adaptando atividades da igreja. Esse plano passo a passo contém atividades que podem ser alternadas ou canceladas, dependendo do nível de infecção na comunidade.

Durante esta pandemia, o plano visa a ajudar nossas igrejas a:

  • Viver nosso chamado missionário
  • Atender às nossas necessidades sociais, emocionais e espirituais
  • Fornecer proteção contra o COVID-19
  • Apoiar o esforço mais amplo para conter o COVID-19

Ao adaptar esse plano à sua igreja, é muito importante seguir as diretrizes do governo local. Portanto, o número de pessoas autorizadas a se reunir, no caso de sua igreja, pode diferir deste meu plano, devido a restrições locais. As atividades na mesma etapa devem ser implementadas aproximadamente no mesmo nível de infecção na comunidade ou vizinhança da igreja.

A tabela inclui apenas algumas das atividades mais comuns da igreja. Ao tomar decisões sobre como outras atividades podem ser implementadas com segurança, considere os fatores na Tabela 1 e onde as atividades modificadas devem ser inseridas na Tabela 2.

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Vivendo nosso chamado missionário por meio de reuniões de pequenos grupos

À medida que as restrições de permanência em casa são diminuídas, primeiro, a reunião em pequenos números passará a ser frequentemente permitida. Portanto, reuniões de pequenos grupos devem ser a primeira atividade a ser implementada. Deveríamos nos entusiasmar com isso, porque as reuniões em pequenos grupos são uma maneira maravilhosa de viver o chamado de Deus para nós. Em pequenos grupos, podemos construir relacionamentos mais profundos uns com os outros, crescer na Palavra de Deus, promover um ambiente mais seguro para a responsabilidade mútua, e incentivar um ao outro a amar e praticar boas obras. Esses grupos podem alcançar muitos que preferem não entrar no prédio de uma igreja, mas aceitariam um convite para um lar. Eles também podem nos ajudar na preparação para retomar os cultos presenciais, com reuniões em grupo todas as semanas para cultuar e, em seguida, juntando-se a outros pequenos grupos para participar do culto presencial quando esse for retomado.

Assim como os cristãos perseguidos em Atos 8, que foram espalhados para fora de Jerusalém, n ossas atividades ministeriais foram espalhadas para fora do prédio de nossa igreja. Ao formar pequenos grupos fortes em nossas comunidades e nos organizarmos a partir deles, estamos construindo uma base sólida e flexível para o ministério da igreja como um todo.

O risco de transmissão da COVID nesses grupos é baixo. O risco pode ser reduzido ainda mais se mantivermos os membros do grupo constantes e dentro da mesma faixa etária. Quando a infecção na comunidade ainda é alta, o uso de máscaras faciais fornece uma camada adicional de proteção. Como os membros se conhecem, eles podem saber rapidamente se uma pessoa desenvolver sintomas típicos da COVID-19. Isso facilitará a rápida autoquarentena de outros membros do grupo.

Atendendo às nossas necessidades sociais, emocionais e espirituais

Todos precisamos de contato humano, mas, às vezes, esses contatos parecem superficiais. Essa pandemia oferece uma chance de construir relacionamentos mais profundos. Para reduzir o risco de infecção, devemos reduzir o número de pessoas com quem estamos em contato. Mas encontrar-se com as mesmas pessoas o tempo todo e encontrar-se apenas com pessoas da nossa faixa etária também reduz o risco de infecção.

Imagine essa estratégia como uma forma de criar pequenas bolhas de segurança em toda a igreja. Quanto mais membros permanecerem dentro de sua bolha, mais seguros todos estarão na congregação enquanto a infecção permanecer na comunidade. Reunir-se com o mesmo grupo de pessoas que estão na mesma fase da vida também pode atender melhor às nossas necessidades sociais, emocionais e espirituais.

Fornecendo proteção contra o COVID-19

Quando os eventos presenciais na igreja forem retomados, será essencial observar uma distância física de pelo menos 2 metros. Embora o distanciamento físico seja geralmente observado no nível individual, ele pode ser observado no nível de unidade social. Por exemplo, aqueles que vivem juntos são uma unidade social e não precisam estar fisicamente separados na igreja. Como uma unidade, eles podem ficar fisicamente separados de outras unidades sociais.

O uso da máscara facial pode ser muito útil. Como qualquer pessoa que entra em nossa igreja pode ser um propagador assintomático, colocar uma máscara facial em todos que entram na igreja pode reduzir a propagação do vírus. Para aumentar a proporção de usuários de máscaras, peça a todos que as usem. Isso tira o estigma do uso de máscaras faciais e usa a pressão do grupo para fazer com que todos as usem.

Como o uso de máscaras faciais, especialmente as caseiras, não impedirá toda a transmissão, ele não pode substituir a implementação de outras abordagens para reduzir a disseminação do COVID-19. Como o distanciamento físico geralmente não é prático para reuniões de pequenos grupos em uma casa, é importante usar máscaras faciais enquanto houver alto nível de infecção na comunidade.

Apoiando o esforço mais amplo para conter o COVID-19

Como o COVID-19 estará conosco no futuro próximo, a transmissão desse vírus poderá ocorrer durante o reinício das atividades presenciais da igreja. Portanto, para a segurança de toda a congregação, bem como de seus amigos e vizinhos, as igrejas devem estar preparadas para ajudar as secretarias de saúde pública a identificar e encontrar os contatos de pessoas que descobrem estarem infectadas.

Trabalhando com a secretaria de saúde pública local, a primeira tarefa é identificar rapidamente todos os contatos desse paciente da COVID-19 quando ele compareceu à igreja. Então, se solicitado, as igrejas devem estar preparadas para notificar rapidamente essas pessoas, para que possam se pôr em autoquarentena e serem testadas para a COVID-19. Dessa maneira, mesmo que essas pessoas tenham sido infectadas, qualquer transmissão posterior pode ser reduzida.

Lembre-se de que a velocidade é essencial quando se trata de identificação e rastreamento de pessoas.

Portanto, sua igreja deve estabelecer um sistema para coletar informações sobre todos os participantes. Abaixo estão algumas sugestões de como fazer isso:

  • Mantenha um registro de onde todas as pessoas estão sentadas. Estabeleça um número para o assento e a fila no santuário e a posição ou o número da mesa em salas de reunião.
  • Registre todos os que entram em uma reunião. Registre o nome completo, informações de contato e onde estão sentados. Para cada família, apenas uma pessoa precisa se registrar, mas ela deve listar o número de pessoas em seu grupo.
  • Mantenha o registro por pelo menos três semanas.
  • Designe uma pessoa na igreja para ficar responsável por manter o registro da reunião, fazer contato com a secretaria de saúde pública e ajudar a identificar pessoas para notificá-las, se for necessário.

Decisão sobre quando mudar de uma fase para outra

Talvez o aspecto mais difícil de usar essa abordagem passo a passo seja a decisão de quando mudar de um passo para o outro – seja para aumentar, ou seja para diminuir as atividades da igreja.

Existem muitos fatores a considerar. Recentemente, li esta declaração: o governo não pode abrir a economia, as pessoas precisam fazer isso. Da mesma forma, as igrejas não podem retomar eventos presenciais, as pessoas precisam fazer isso. Portanto, um dos fatores mais importantes a considerar são as necessidades dos membros da igreja. Quando houver uma necessidade real que seja melhor atendida ou que tenha realmente de ser atendida presencialmente, devemos encontrar uma maneira de retomar os ministérios presenciais mais rapidamente.

Eu recomendo fortemente, no entanto, que cada igreja comece primeiro com uma avaliação do nível de infecção por COVID-19 em sua comunidade. Se o nível de infecção está subindo ou ainda é alto, não devemos considerar retomar os encontros ou reuniões presenciais. Mas, se o nível de infecção está diminuindo e é baixo, é seguro avançar para a etapa 1 do nosso plano.

Eu, particularmente, gostaria de ver uma tendência consistente de queda nos casos e mortes por COVID-19 por pelo menos três semanas antes de considerarmos a etapa 1 deste plano. Mas uma tendência de queda não é suficiente. Também devemos ter um baixo nível de infecção. E é aqui que fica complicado, porque, sem exames extensivos, não sabemos o verdadeiro número de infecções em nossas comunidades. Até que os exames aumentem, só podemos avaliar com base no número de casos e mortes relatados. Mas isso é claramente problemático.

Com uma tendência de queda e um baixo nível de infecção, podemos considerar outros fatores que podem nos levar a retomar os ministérios presenciais antecipadamente ou não. É importante envolver a liderança da igreja e toda a congregação nesse processo. Precisamos ajudar nossos congregantes a entender por que e como estamos tomando essas decisões.

Por exemplo, para uma população como a do município em que moro (2,2 milhões de habitantes) e com um declínio consistente de mortes e casos como base, um conjunto de critérios pode ser desta forma (usando médias contínuas em 3 dias):

  • Etapa 1: consistentemente <5 mortes por dia, durante 3 semanas consecutivas
  • Etapa 2: consistentemente <1 morte por dia, durante 3 semanas consecutivas
  • Etapa 3: consistentemente <5 casos por dia, durante 3 semanas consecutivas
  • Etapa 4: consistentemente <1 caso por dia, durante 3 semanas consecutivas

No entanto, estou apenas conjecturando, com base em informações e conhecimentos limitados. Com o tempo, aprenderemos mais e poderemos estabelecer uma orientação melhor.

Conclusão

Essa pandemia mudou drasticamente nossa vida e virou nosso mundo de cabeça para baixo. Para muitos, isso tem sido difícil, muito difícil. Estamos apenas há alguns meses nessa pandemia, mas nossa dor e ansiedade, e também as daqueles ao nosso redor, são muito reais.

Para nossas igrejas, as decisões imediatas são: quando retomar os eventos presenciais e como fazê-lo com segurança. Para ajudar com essas decisões, usei verdades bíblicas e o conhecimento científico disponível como diretrizes para desenvolver uma abordagem passo a passo.

Para finalizar, gostaria de nos lembrar de uma certeza. A pandemia de COVID em sua forma atual vai passar. Um dia, olharemos para trás e veremos claramente que Deus estava conosco e que estava trabalhando em nosso meio para o bem. Sabendo disso, podemos recorrer a Ele hoje e pedir que Ele nos dê discernimento, compaixão e fé para liderar nossas igrejas neste momento.

Minha oração é que este artigo ajude sua igreja a cumprir seu chamado missionário, atenda às necessidades de seus membros e proteja a saúde das pessoas na igreja e na sua comunidade neste momento crítico.

Daniel Chin é médico especializado em pneumologia, terapia intensiva e epidemiologia, com 25 anos de experiência em saúde pública global. Em 2003, ele liderou grande parte do apoio da OMS à China para conter a epidemia de SARS.

Editado por Marcos Simas

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Books

‘Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti.’

Palavras transformadoras para liderar em tempos sem precedentes.

Christianity Today May 1, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Kirill Balobanov / Unsplash

Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti. 2 Cr. 20.12 (NVI)

Quando Josafá, um rei do Antigo Testamento, recebeu a notícia de que três exércitos haviam conspirado juntos e se opunham a ele em um ataque maciço, ele fez uma manobra decisiva e pouco convencional.

Todo líder mundo afora se encontra hoje em situação semelhante.

Diante do avanço em três frentes como a de uma pandemia global de saúde, uma economia mundial que está estagnada e uma crise de ansiedade e medo que atinge a muitos, o que podemos aprender com esse antigo líder, e como podemos aplicar para os difíceis dias atuais?

As chances não eram boas para Josafá e, honestamente, também não são tão boas para muitas famílias e negócios no presente momento.

Lá no fundo, a maioria dos líderes que já enfrentaram tempestades brutais sabe que vamos superar isso. Nós sempre superamos. Suportaremos a mortandade e emergiremos das profundezas para crescer e prosperar novamente. Mas isso vai levar tempo. Bastante tempo. Neste momento, estamos no vale da sombra da morte.

Então, como lidamos com essas horas tão sombrias?

Vamos olhar atentamente para o caminho que Josafá escolheu.

Primeiro, ele conclamou o povo a buscar a Deus. O rei fez esta oração transformadora de treze palavras: “Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti”.

Nem todos temos o privilégio de chamar todo o nosso povo para buscar a Deus. Mas todo líder tem a oportunidade de buscar individualmente a ajuda do céu antes de levar os outros ao combate.

Por natureza, os líderes são confiantes, qualificados e testados em batalha. Muitas vezes, levantamos de manhã e logo começamos a liderar algum tipo de conflito. É comum acordar, examinar a situação e concentrar-se imediatamente na solução de problemas, na criação de oportunidades e na organização das equipes.

No entanto, em última análise, qualquer líder será tão longevo quanto a humildade que o sustenta. E essa é a humildade que o leva a buscar primeiro a ajuda do Senhor.

A marca registrada de todo grande líder é a capacidade de liderar a si mesmo. Isso significa enfrentar suas limitações e se apoiar no seu Criador. Lideramos melhor quando permitimos que Deus nos guie.

Alguns argumentarão: “Não dá para ser humilde no trabalho que eu exerço. Você nunca pode demonstrar fraqueza, ou as pessoas te atropelam!”

Humildade não equivale à fraqueza. Pelo contrário, é onde encontramos nossa força. Ou melhor ainda, humildade é o lugar onde temos acesso à provisão de Deus.

Ventos fortes causados por furacões requerem uma liderança excepcional, que começa com este apelo: Deus, eu não sei o que fazer. Mas os meus olhos se voltam para ti.

Nem sempre é prudente conduzir uma reunião de acionistas ou um encontro de colaboradores com esta confissão. As pessoas buscam estabilidade em seus líderes e contam conosco para demonstrar confiança nos piores cenários que enfrentamos, em qualquer tempo ou situação. Mas isso não nos impede de permanecermos inseridos na realidade na qual somos completamente dependentes de Deus. E não custa dizer isso de vez em quando para nossos líderes de equipe mais próximos.

Essa postura de humildade é essencial, porque nos possibilita receber uma ajuda sobrenatural.

Uma palavra veio ao rei e um plano de batalha foi iniciado. Josafá foi informado: “Vocês não precisarão lutar nessa batalha. Tomem suas posições; permaneçam firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes dará, ó Judá, ó Jerusalém. Não tenham medo nem se desanimem. Saiam para enfrentá-los amanhã, e o Senhor estará com vocês” (2 Cr. 20.17).

Deus não está pedindo para você espiritualizar demais sua situação: “Ei, pessoal, vamos confiar em Deus agindo em nosso projeto e ver o que acontece! Sentem-se e relaxem".

De jeito nenhum.

Confira todos os verbos ativos: tomem suas posições. Permaneçam firmes. Vejam. Saiam. Enfrentem.

No entanto, ao prosseguir, mantenha o oxigênio da provisão sobrenatural de Deus fluindo a cada fôlego. No poder espiritual dele, você pode encontrar o poder de fazer o que Josafá fez a seguir:

Ele partiu. Ele se levantou. Ele falou. (v.20)

Reconheça pela fé que Deus está com você. Fique firme na Rocha Eterna. Fale com autoridade, porque Deus não falhará.

Então Josafá fez uma última coisa antes de entrar na batalha: ele louvou a Deus. O rei agradeceu a Deus antecipadamente pela vitória que ele havia prometido.

Com a ajuda de Deus, Josafá e seu exército experimentaram o livramento de Deus na batalha. E da mesma maneira, Deus virá ao seu socorro.

“Querido Deus, levanto meus olhos para ti. Por favor, quebre minha falsa sensação de controle e minha confiança exagerada em minhas próprias habilidades. Eu me prostro humildemente e peço tua força, sabedoria e coragem sobrenaturais para suportar esses dias, liderando a mim mesmo e aos outros com fé no futuro. Minha oração diária será: eu não sei o que fazer, mas meus olhos se voltam para ti. Conduza-me e usa-me como um agente para a tua glória. Em nome de Jesus, amém.”

Louie Giglio é pastor da Passion City Church e fundador do movimento Passion, que existe para chamar uma geração para desenvolver suas vidas e fazer Jesus conhecido.

Editado por Marcos Simas

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Books

Quando a doutrina deve dividir e quando a unidade deve prevalecer?

Como a “triagem teológica” nos ajuda a escolher nossas batalhas em questões de fé.

Christianity Today May 1, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Andrii Afanasiev / EyeEm / Getty Images / Xevi Casanovas / Aaron Burden / Alex Grodkiewicz / Unsplash

[Read in English | Read in Indonesian]

Ecumênico. Não denominacional. Em certos círculos do evangelicalismo, esses são palavrões. (“Catolicidade” é outro). Os críticos dizem que essas palavras representam uma teologia fraca ou rasa – cuja convicção básica é que as convicções não importam muito, desde que todos possamos nos dar bem. Para alguns, esses conceitos representam uma ameaça potencial à missão da igreja ou mesmo ao próprio evangelho.

Outros crentes têm uma visão mais amigável da linguagem conciliatória. Sem comprometer suas convicções fundamentais, eles querem construir pontes com várias igrejas e organizações cristãs ao redor do mundo, unindo-se em missão sempre que possível. Esses princípios são fundamentais para o trabalho de grupos como o Movimento de Lausanne, o Evangelicals and Catholics Together, a Reforming Catholic Confession e o Center for Baptist Renewal (onde atuo como diretor editorial).

No entanto, mesmo aqueles de nós que defendem o ideal de “cristianismo puro e simples”, de C. S. Lewis, acham difícil pô-lo em prática, especialmente por conta de divisões teológicas e denominacionais arraigadas.

Muitos anos atrás, Albert Mohler popularizou a expressão "triagem teológica". Embora o conceito básico compartilhe um certo parentesco com outros chavões cristãos, ele desencadeou uma conversa atual sobre como e por quê os cristãos concordam, discordam ou concordam em discordar sobre vários pontos da teologia.

O termo triagem, é claro, vem do campo da assistência médica. Refere-se às escolhas que os profissionais médicos são obrigados a fazer nas mais difíceis circunstâncias, quando a enxurrada de pacientes (ou a escassez de recursos) garante que alguns casos sejam priorizados. No campo da teologia, então, praticar triagem significa determinar quais crenças são mais urgentes ou fundamentais do que outras. Mais especificamente, muitas vezes o conceito significou classificar as reivindicações teológicas em três categorias: a primária (em que os cristãos devem acreditar), a secundária (em que denominações ou grupos podem discordar) e a terciária (em que indivíduos ou igrejas locais podem discordar em sua denominação ou grupo).

Em seu livro Finding the Right Hills to Die On: The Case for Theological Triage, o pastor e teólogo Gavin Ortlund aborda as questões básicas levantadas por uma mentalidade de triagem: quando a doutrina deve dividir e quando a unidade deve prevalecer? Ortlund expõe as bênçãos e os perigos das convicções teológicas, oferecendo conselhos sobre a importância relativa das doutrinas que consideramos queridas.

Sectarismo e Minimalismo

Ortlund descreve sua própria estrutura para a triagem teológica da seguinte forma: doutrinas do primeiro nível são essenciais para o evangelho. As doutrinas de segunda ordem são urgentes para o funcionamento saudável da igreja no nível local e denominacional. As doutrinas da terceira categoria são importantes – mas não importantes o suficiente para justificar a separação entre os cristãos. E as doutrinas de quarta categoria são aquelas que, em última análise, não são essenciais para a ministração do evangelho ou a colaboração entre os crentes.

No entanto, antes mesmo de começarmos a falar sobre os detalhes da triagem teológica, argumenta Ortlund, precisamos providenciar uma limpeza essencial do terreno. Especificamente, precisamos resolver os dois principais obstáculos que se põem no caminho: sectarismo e minimalismo.

O perigo do sectarismo doutrinário é que ele cria divisão desnecessária entre irmãos e irmãs em Cristo. Fundamentalistas rígidos tratam todas as reivindicações da verdade cristã como de primeira importância, de modo que quase não há diferença entre afirmar a ressurreição corporal de Cristo e dizer que a Bíblia condena a dança como pecaminosa. Há pouco ou nenhum espaço para discordar do sectário doutrinário. No entanto, como Ortlund adverte, a triagem teológica não é tão simples quanto separar a verdade do erro e não dar lugar a quem professa esse último. "O caráter do evangelho é complexo", ele escreve. “Contém verdade e graça, convicção e conforto, arestas duras da lógica e profundas cavernas de mistério. Ele é, em um momento, tão revigorante quanto uma brisa fria e, em outro, tão nutritivo quanto uma refeição quente.”

De fato, como Ortlund argumenta, vemos essa tensão em ação no exemplo de Jesus. Por um lado, ele não tinha medo de purificar o templo ou denunciar os fariseus, geralmente usando uma linguagem que parecia qualquer coisa menos mansa e suave. Por outro lado, Jesus se descreve como "gentil e humilde de coração" (Mateus 11.29) e as Escrituras o registram dividindo o pão com pecadores.

No "extremo oposto do espectro" do sectarismo, como Ortlund coloca, está o perigo do minimalismo doutrinário. Se não formos cuidadosos, afirma ele, essa mentalidade rapidamente leva à indiferença doutrinária ou à teologia sem espinha dorsal. É aqui que a triagem entra em jogo: embora certas doutrinas sejam menos essenciais que outras, Ortlund escreve, "o fato de uma determinada doutrina não ser importante para a salvação ou para estabelecer uma parceria não significa que não possa ser importante em nenhum sentido".

Por fim, ele argumenta que qualquer ensinamento das Escrituras é importante, mas a difícil tarefa da triagem é determinar os graus relativos de importância. A maioria das pessoas reconhece, por exemplo, que afirmar a divindade de Cristo é mais importante para a crença e a prática cristãs do que, digamos, determinar a idade da terra ou ordenar os eventos dos últimos dias. Ainda somos chamados a pensar profundamente em questões de terceiro e quarto escalão, mas também devemos reconhecer que os cristãos fiéis podem chegar a opiniões diferentes sem comprometer a unidade nas coisas que realmente importam.

Pondo em prática a triagem

Na segunda seção de seu livro, Ortlund se torna prático, descrevendo o que ele chama de "Triagem Teológica em Ação". O objetivo da triagem é conciliar verdade e amor, ele escreve, e isso "exigirá que cultivemos a habilidade de classificar a importância de diferentes doutrinas".

No capítulo 4, “Por que vale a pena lutar pelas doutrinas primárias”, Ortlund diz que as doutrinas de primeiro escalão são essenciais para a crença e a prática cristãs, porque separam o cristianismo de outras religiões ou representam um “ponto material do evangelho (como na justificação).” Ele inclui a Trindade, o nascimento virginal e a justificação somente pela fé entre esses compromissos inegociáveis. Como sabemos quais doutrinas são primárias? Ortlund oferece vários critérios, que se resumem à clareza e à significância bíblicas, à relevância para o caráter de Deus, ao efeito sobre outras doutrinas e ao consenso geral entre os cristãos do passado e do presente. Em vez de examinar doutrinas específicas no vácuo, devemos perguntar sobre seu efeito cumulativo sobre como alguém lê a Bíblia, entende o evangelho e cresce em piedade. No final, argumenta Ortlund, vale a pena lutar por algumas doutrinas porque, se as ignorarmos, "não somos servos fiéis de Cristo e não seremos eficazes no avanço de seu reino".

As doutrinas secundárias são a categoria mais complexa, argumenta Ortlund. Elas "fazem uma diferença notável na maneira como entendemos e articulamos o evangelho", escreve ele, "embora sua negação não constitua geralmente uma negação do evangelho". Entre esses assuntos secundários, ele lista os modos de batismo, o papel dos dons espirituais e o debate complementar-igualitário. Parte da razão pela qual as doutrinas secundárias são tão complexas, sugere Ortlund, é que elas não podem ser consideradas em um vácuo. Sua validade depende, em grande parte, de seu relacionamento com o próprio evangelho e o contexto em que são proclamadas ou observadas.

Finalmente, Ortlund explica por que não devemos nos dividir a respeito das doutrinas terciárias. Usando o milênio e a idade da Terra como exemplos de doutrinas terciárias, ele afirma: "Você não deveria travar a maioria das batalhas que pode." Com relação ao momento exato do milênio, ele observa que a Bíblia não nos diz muita coisa, e o que ela nos diz é notoriamente difícil de interpretar. Antes de qualquer coisa, ele escreve, desacordos persistentes sobre o milênio ao longo da história da igreja devem nos "induzir à humildade e ao cuidado em nossos julgamentos". Com relação à idade da Terra, Ortlund afirma que pontos de vista diferentes “são menos relevantes na prática para a organização de uma igreja local ou seu culto, evangelismo e testemunho do evangelho do que várias outras doutrinas”. Invocando vários teólogos proeminentes que divergiram sobre esse assunto, ele mostra que não se pode torná-lo um teste decisivo para fidelidade ou salvação.

Uma bússola, não uma lista de verificação

Ortlund conclui com um apelo à humildade teológica, lembrando-nos que “desacordos sobre doutrinas relativamente menores podem causar uma destruição incalculável quando abordados em uma atitude de direito e desdém”. Em vez disso, "a humildade nos ensina a navegar pela vida com sensibilidade a respeito do que não sabemos e do que não sabemos que não sabemos". Essa postura de humildade nos encoraja a ouvir atentamente e estar dispostos a aprender com os outros.

Finding the Right Hills to Die On é um livro fino, com cerca de 150 páginas. Mesmo assim, Ortlund acerta ao apresentar, de maneira clara e útil, a idéia da triagem teológica e sua importância para a vida e a prática cristãs. Enquanto alguns podem querer ver Ortlund expôr sua hierarquia doutrinária preferida de maneira mais explícita, ele aponta corretamente que nenhum sistema de categorização está livre de erros. Portanto, em vez de oferecer uma lista de verificação, seu livro fornece um tipo de bússola. Os leitores que navegam na densa floresta da diversidade doutrinária podem considerá-lo um dispositivo útil para conhecer a verdade e o amor.

Brandon D. Smith é professor adjunto de teologia e Novo Testamento na Universidade de Cedarville, diretor editorial do Center for Baptist Renewal e apresentador do podcast Church Grammar.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Church Life

Aprendi a cultivar uma fé ‘remota’ quando fui proibida de frequentar a igreja

Cinco lições para ser igreja, juntos, enquanto vivemos separados.

Christianity Today May 1, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Nicole Wolf / Unsplash / Didier Descouens / WikiMedia Commons

Quando eu tinha 15 anos, costumava escutar na rádio ao ensino evangélico conservador do programa Back to the Bible e assistir, na TV, ao Clube 700. Eu lia um livro dos pregadores de cura divina Frances e Charles Hunter, seguido de um livro do pastor romeno Richard Wurmbrand sobre perseguição. Também lia as Escrituras, com enfoque devocional, em uma tradução do Novo Testamento de J. B. Phillips e estudava minha Bíblia na tradução New American Standard.

Aquela era uma abordagem discipular muito pouco convencional para uma adolescente que seguia a Jesus. Mas, quando meus pais judeus me disseram: "Enquanto você viver sob o nosso teto, não permitiremos que frequente a igreja", deixaram claro o desejo de que a proibição acabasse com minha nova fé em Jesus, o Messias.

Nos primeiros três anos como crente, adorei sozinha no meu quarto, sendo alimentada pela pregação na rádio e por livros cristãos. Tornei-me adepta de fazer coisas escondida pela casa. Eu não pude frequentar a igreja regularmente até completar 18 anos. Até aquele momento, busquei ter a comunhão que me fosse possível com amigos na escola e em visitas ocasionais à igreja deles sempre que passava a noite em sua casa.

Nas últimas semanas, as regras de isolamento social do COVID-19 levaram a maioria dos crentes (embora não todos) para fora dos templos e para dentro de casa. Os membros de igrejas dos Estados Unidos agora estão participando de cultos, reuniões de oração e estudos bíblicos via Zoom, lives do Facebook ou pelo YouTube. Enquanto alguns esperam que isso seja algo temporário na vida da igreja, idosos, pessoas com sistema imunológico comprometido ou pacientes com doenças crônicas – ou que moram com aqueles nessas situações – podem não ser capazes de comparecer fisicamente a um culto da igreja em um futuro próximo, em decorrência da pandemia.

Minha experiência como recém-convertida em um lar hostil à minha fé foi profundamente construtiva. Minha situação não apenas moldou minhas expectativas e esperanças de fazer parte de uma igreja local, mas também me preparou para uma doença crônica na idade adulta que me manteve afastada da igreja por semanas e, ocasionalmente, por meses. Mesmo depois de algumas experiências tóxicas na igreja, durante as quais foi tentador voltar às minhas origens religiosas ao estilo "faça você mesmo", a fim de me proteger de mágoas, nunca fui capaz de ir adiante – em grande parte por causa do que aprendi adorando sozinha, em meu quarto, na adolescência. Por isso, trago aqui cinco verdades que o isolamento me ensinou sobre o que a igreja é e não é.

1. Não nos reunimos para trabalhar excessivamente.

Certa vez, eu estava na equipe de uma igreja que organizava, junto à comunidade, uma caça anual a ovos de Páscoa. A igreja dedicou recursos financeiros significativos a esse evento e ele foi tratado como um compromisso coletivo para os membros da igreja, porque haveria um pequeno esquete evangelístico e um convite para frequentar a igreja. Isso continuou mesmo depois que uma análise revelou que nem uma única pessoa que já havia participado desse evento passou a crer em Cristo ou a frequentar os cultos regularmente. O mantra “mas sempre fizemos dessa maneira” manteve a caça aos ovos no calendário da igreja ano após ano.

A leitura da Bíblia que eu havia feito sozinha, no meu quarto, deu-me a ideia de que reuniões na igreja deveriam ter foco no Cristo ressuscitado, ser contraculturais e incluir riscos. Quando comecei a frequentar a igreja, fiquei chocada com a quantidade de trabalho religioso excessivo na maioria das congregações. E continuo chocada. Atividades como ligas de softbol ou eventos de spa temáticos são bem-intencionadas e, geralmente, têm um verniz cristão a fim de justificar sua presença no calendário da igreja. Certamente, essas iniciativas podem ajudar a cultivar amizades. Mas a atual pausa nas atividades das igrejas é um convite para que líderes e membros se perguntem como os eventos que compõem nosso calendário ministerial pré-COVID se relacionam com nossa missão.

2. A comunhão cristã é mais do que a presença constante na igreja.

Alguns crentes sempre tiveram dificuldade de assistir aos cultos de domingo, incluindo funcionários públicos, profissionais da área médica, cuidadores e pessoas com saúde frágil. Observei em meu livro Becoming Sage que muitos crentes bem-intencionados citam Hebreus 10.24–25 como uma maneira de incentivar outras pessoas a aparecer na igreja. No entanto, essa passagem não tem a ver com constranger pessoas a fim de que participem de um culto na igreja nas manhãs de domingo.

Em vez disso, esses versículos enfatizam a mutualidade cotidiana de nossos relacionamentos, à medida que instigamos uns aos outros de nossa comunidade a viver uma vida caracterizada por amor e boas obras, à luz do fato de que o fim dos dias se aproxima cada vez mais. Essa passagem nos lembra de que é nosso trabalho buscar expressões significativas de comunhão sempre que nos reunimos com outros crentes. O compromisso com um corpo local de crentes é a principal maneira pela qual essas relações são formadas, bem como o meio pelo qual compartilhamos juntos no culto público, no aprendizado, na comunhão e no serviço.

Há um compromisso maior do que a frequência à igreja, e envolve até aqueles que não podem frequentá-la regularmente. Hebreus 10 descreve a natureza de nossa vida em comunhão, seja nos encontros na igreja, seja no corredor de comida congelada do supermercado.

3. Não devemos ser consumidores religiosos.

Nos últimos anos, vi o aumento da popularidade de igrejas com grande capacidade de transmitir cultos via satélite e pelas plataformas on-line. Amigos cansados da vida congregacional me diziam que estavam conectados a uma igreja, geralmente de uma cidade distante, assistindo à transmissão ao vivo de um culto. Eles podiam escolher o comunicador cristão de sua preferência no conforto de sua sala de estar, sem ter de lidar com o desconforto ou a dificuldade de compartilhar a vida com pessoas de sua própria cidade.

Embora eu seja a primeira a reconhecer que estar do outro lado de uma tela é melhor do que nada, esse meio não deve funcionar como uma maneira de escapar da natureza “ferro que afia ferro” da comunidade de fé. Quando somos forçados a nos distanciar fisicamente, podemos descobrir, de novas maneiras, que nunca fomos feitos para ser consumidores no corpo de Cristo. Minhas experiências de isolamento, tanto na juventude quanto na vida adulta, confirmaram para mim que há uma realidade profundamente encarnacional nas palavras de Jesus sobre dois ou três reunidos em seu nome. Não podemos compartilhar dons espirituais se somos uma congregação de um (1Co 12).

Antes de compreender minha nova fé cristã, entendi que estava conectada ao corpo por meio da Cabeça (Cl 1.18). O reino de Deus não tinha apenas um membro – eu. Pertencemos uns aos outros (Rm 12.5-6). Podemos não estar livres para nos encontrarmos pessoalmente, mas, ainda assim, podemos nos conectar de maneiras significativas por meio de telas, telefones e correios.

4. As provações esclarecem e purificam.

Nos últimos anos, houve uma torrente de más notícias sobre a igreja. Abuso de poder por parte de líderes, encobrimento por parte daqueles que os cercam e um número cada vez menor de participantes em muitos segmentos da igreja apontam para uma insalubridade espiritual generalizada.

O autor e ex-editor executivo da CT, Andy Crouch, tweetou recentemente que os pastores devem se preparar para um grande declínio nas ofertas e a probabilidade de proibições de grandes reuniões pelo menos no próximo ano. A curto prazo, uma economia em recessão e as atuais e sérias preocupações com a saúde pública impedirão que "voltemos ao normal". Mas Deus não nos está chamando de volta ao normal. Ele está nos chamando para ir adiante – seguindo-o como peregrinos para o que vem a seguir. Como outros já apontaram, podemos usar este tempo para reavaliar a saúde dos ministérios da igreja e a nossa própria caminhada espiritual.

Quando eu era adolescente, presumi que um ambiente de discipulado ideal incluiria o envolvimento na igreja e parcerias de mentoria em uma congregação vibrante, uma família solidária e uma curadoria cuidadosa na lista do que consumimos na mídia e do que lemos, o que nos protegeria de falsos mestres. Ironicamente, meu discipulado inicial incluía o oposto. No entanto, as provações que experimentei exigiram que eu aprendesse a procurar Deus em primeiro lugar. As dificuldades e o desconforto deixaram pouco espaço para aquilo que não era essencial em minha fé incipiente.

5. A proclamação do evangelho requer lamento.

Ao longo dos anos, fiquei impressionada com o número de pessoas que conheci que silenciaram as partes confusas e tristes da Escritura, porque alegavam que essas passagens as deixavam desconfortáveis. Como portadora de uma doença crônica, aprendi que meu diagnóstico também deixa essas mesmas pessoas desconfortáveis. Os membros bem-intencionados da igreja vêm até nós com "curas garantidas", como remédios dietéticos, suplementos nutricionais ou óleos essenciais. Eles querem curar nossa dor, mas também fazer desaparecer o próprio desconforto.

Mas esses tipos de manifestação de preocupação tendem a silenciar aquilo de que mais precisamos: alguém que possa estar presente e ficar conosco a longo prazo. K. J. Ramsey observou em um artigo recente na CT:

Com muita frequência em nosso corpo, como no corpo de Cristo, preferimos fingir que saúde é a ausência de dor, em vez de o desejo de cuidar dela. (…) Quando a igreja não abre espaço para lamento, ela não é plena.

A prática do lamento em uma congregação cultiva um ambiente em que isso é possível de maneiras que as soluções rápidas e a fé estimulada por conversas alegres nunca podem. Lamento é a linguagem da empatia.

O espelho da Palavra de Deus deve mostrar-nos não apenas quem é Deus, mas, também, quem nós somos. Ao amenizar a tristeza, a dor e a perda de nossa condição humana, substituímos uma versão retocada e truncada da fé pela verdadeira. As perdas que todos nós estamos enfrentando nesta pandemia exigem lamento e não o "sloganismo" enérgico do deísmo moral terapêutico que se traveste de evangelho em alguns ambientes.

As condenações antinazistas de Dietrich Bonhoeffer o levaram a uma expressão clandestina da igreja antes e durante a Segunda Guerra Mundial, acabando por levá-lo à prisão e, depois, a campos de concentração, pois ele estava envolvido em uma conspiração para matar Hitler. Ele foi executado pelos nazistas em 1945. Suas palavras no livro Vida em Comunhão me formaram quando era uma jovem crente. Que elas possam nos moldar agora – juntos – nesta época em que estamos vivendo separados:

É fácil esquecer que a comunhão dos irmãos cristãos é um dom da graça, um dom do Reino de Deus, que qualquer dia pode ser tirado de nós e que o tempo que ainda nos separa da solidão total pode ser curto. Portanto, que aquele que até agora teve o privilégio de viver uma vida cristã em comunhão com outros cristãos louve a graça de Deus do fundo do seu coração. Agradeça a Deus de joelhos e declare: É graça, nada além de graça, que nos seja permitido viver em comunidade com outros irmãos cristãos.

Michelle Van Loon é autora de seis livros, incluindo Becoming Sage : Cultivating Meaning, Purpose, and Spirituality at Midlife (Moody Publishers), lançado em 7 de abril.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Books

O Coronavírus clama por um reavivamento do Pentecostalismo verdadeiro

Apesar das falhas, a teologia da plenitude do Espírito pode nos mostrar como responder à pandemia.

Christianity Today May 1, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Granger Wootz / Halfpoint / Getty Images / Tina Vanderlaan / Lightstock

Não é exatamente um segredo: muitos pentecostais responderam à pandemia atual de maneira bizarra e preocupante. Essas reações ofuscaram o bom senso e a generosidade de muitos cristãos fiéis, cheios do Espírito, e reforçaram a ideia, que muitos têm, de que a teologia pentecostal é superficial e simplória.

Isso é lamentável, porque o Pentecostalismo tem muito a nos oferecer. No que tem de melhor, ele é sobrenatural e profético, e nos ensina a viver em constante estado de oração. A teologia Pentecostal nos ensina que o ministério deve começar e terminar em oração. Nos ensina que devemos ter grandes expectativas para que Deus trabalhe no mundo, juntamente com um profundo senso de responsabilidade pessoal e comunitária. Ele nos ensina a não temer o novo ou a idolatrar o conhecido, e que o poder divino do Pentecostes é o amor revelado na cruz. A igreja precisa enxergar todas essas verdades nesta crise atual.

Orar como se fosse um jazz

Se você conhece algo sobre o Pentecostalismo, certamente sabe o que a oração representa para a sua teologia. O teólogo de Harvard Harvey Cox comparou o Pentecostalismo ao jazz por causa de sua improvisação lúdica e entusiasmo colaborativo. Os pentecostais acreditam que essa improvisação é uma maneira de acompanhar o ritmo do Espírito Santo. É por isso que nossas orações costumam ter o espírito dos antigos avivamentos, de tendas sempre abertas em todos os lados, e montada em qualquer lugar, a qualquer hora, como e quando Deus direcionar. A oração pentecostal, em sua essência, é sobre entrega radical a Deus, e é marcada por uma disposição de ser surpreendido e mudado.

Essa abertura na oração faz com que os pentecostais tenham espontaneidade e liberdade para exercer outros ministérios também. Quando somos fiéis ao nosso chamado, estamos prontos para abandonar maneiras habituais de se fazer o ministério, assim como nos sentirmos confortáveis na companhia daqueles que somos chamados a servir.

Não consideramos que a igreja seja um meio para um fim, e nem um fim em si mesma. Portanto, estamos dispostos a esquecer maneiras conhecidas de falar e prontos para aprender novas línguas, literal e figurativamente, porque esperamos ouvir Deus de um jeito que nunca teríamos imaginado. É isso que realmente significa "falar em línguas".

É sempre difícil saber o que dizer em tempos de dor e perda. Mas quando somos fiéis à sabedoria que recebemos, sabemos que o que dizemos aos outros deve ser moldado antes de tudo pelo que dizemos a Deus em favor deles. O ministério fiel, em outras palavras, sempre começa e termina em oração intercessória.

Mesmo que tentemos dar boas respostas às muitas questões teológicas difíceis que surgem nesse momento, nunca devemos esquecer que, para que essas respostas sejam úteis, elas devem estar enraizadas na oração. Não uma oração comportada e segura de si, mas uma oração simples e sem rodeios, que lamenta e protesta, exige e questiona, implora e invoca – oração que é radical e confiantemente aberta a Deus diante dos outros e aos outros diante de Deus.

Eu acredito que a igreja precisa desse tipo de abertura em meio a esta crise. Precisamos de uma "ousadia santa", que nada tem a ver com viver como se estivéssemos salvos de danos, reivindicar algum conhecimento secreto sobre a vontade de Deus ou afirmar ter poder sobre desastres e doenças, mas que tem tudo a ver com seguir o Espírito mesmo diante da escuridão atual, e estar ao lado daqueles que estão sofrendo e ser a imagem de Cristo para eles.

Amar como Deus

O Pentecostalismo, também no seu melhor, é profundamente comunitário e missional. Sabe que o amor a Deus não pode ser separado do amor ao próximo e que a oração nunca pode estar separada da ação. Como observou recentemente a teóloga Lucy Peppiatt, os pentecostais não apenas acreditam fortemente no envolvimento de Deus em todos os aspectos da vida, mas também acreditam – muito fortemente – no chamado ao povo de Deus para participar do que Deus está fazendo no mundo.

Apesar do que alguns possam pensar, esse é um tema constante na teologia pentecostal. Daniel Castelo, professor de teologia da Seattle Pacific University, argumenta, por exemplo, que a espiritualidade pentecostal é uma forma de "misticismo". Este não é um misticismo de ausência, mas de mediação e intermediação. Em seu livro recente, The Spirit and the Common Good (O Espírito e o bem comum), Daniela Augustine, professora de teologia da Birmingham University, faz o mesmo ponto: “O Espírito eleva a vida humana cristificada como o meio visível da graça invisível. … De fato, a cura de todo o cosmos começa na humanidade santificada e saturada pelo Espírito".

Em síntese, os ministérios pentecostais são movidos por esse duplo desejo: comungar profundamente com Deus e ver todas as pessoas e tudo o mais, sendo atraídos para essa mesma comunhão. Esse misticismo é uma fonte de renovação para a igreja.

Dale Coulter, professor de Teologia Histórica na Regent University, mostrou como algo assim já aconteceu antes, após a tragédia da peste negra na Idade Média. Ele argumenta que na pandemia atual, "pastores e sacerdotes mais uma vez precisam ser guias espirituais e guiar seus rebanhos que se voltam para dentro e buscam o Deus crucificado".

A teologia pentecostal nos ensina a esperar pelo tempo em que todo o povo de Deus será profeta. Mas não consideramos a profecia um tipo de mágica. Acreditamos que a verdadeira profecia não se refere tanto a prever o futuro, mas tem a ver com a forma como Deus nos ajuda a cuidar do nosso próximo qualquer que seja a maneira que ele desesperadamente vier a precisar.

A verdadeira profecia nos dá uma visão do que aconteceu e está acontecendo, o que é verdadeiramente certo e errado no mundo, e, portanto, permite-nos ver e criar um futuro melhor e mais fiel.

Estando em comunhão com a paixão de Cristo pela oração, seremos movidos pela compaixão em direção aos outros em ação. O mesmo Espírito que nos leva a nos voltarmos, misticamente, para o Cristo crucificado, nos levará a nos aproximar profeticamente daqueles a quem Cristo se ofereceu e se oferece. Seguindo o Espírito, adentraremos a escuridão em vez de negá-la, confiantes de que a luz de Deus já está surgindo de suas profundezas. É isso que significa profetizar a vida sobre os ossos secos.

Abençoar os pobres

Como pentecostal e teólogo pentecostal, sinto a necessidade de ser honesto sobre nossas falhas, passadas e presentes. Sei que há perguntas difíceis sobre a integridade e os efeitos de nossos ensinamentos e práticas. E sei que não é hora de nostalgia ou idealismo.

Mas estou convencido de que é hora de voltar aos caminhos que levaram ao surgimento da espiritualidade e teologia pentecostais originais de nossos primórdios. Precisamos nos sintonizar com o Deus que nos diz que é um mandamento – não apenas um compromisso – amar nosso próximo como a nós mesmos, especialmente quando nosso próximo é diferente de nós.

Infelizmente, muitos pentecostais abandonaram a sabedoria de sua própria tradição. No início, o Pentecostalismo era um movimento dos pobres e para os pobres. Os pobres sempre sofrem pior em crises como a que estamos enfrentando agora, então os pentecostais se viram no centro da epidemia da gripe espanhola em 1918. Um século depois, o Pentecostalismo continua sendo um movimento dos pobres, na maior parte do mundo.

Mas nos EUA, muita coisa mudou. Muitos de nós hoje estamos distantes dos pobres, tanto geográfica quanto espiritualmente, e em grande parte sem contato com as necessidades materiais e espirituais daqueles que fomos chamados a servir primeiro. Agora é a hora de consertar isso. E tudo começa com o retorno às convicções mais profundas e verdadeiras de nossas mães e pais na fé.

No avivamento da rua Azusa, no começo do movimento pentecostal, o pastor William Seymour destacou o seguinte: “O poder pentecostal, quando você resume tudo, é apenas mais do amor de Deus. Se não traz mais amor, é simplesmente um tipo de falsificação. … O Pentecostes nos faz amar mais a Jesus e amar mais a nossos irmãos. Isso une a todos nós em uma família comum".

Eu sei que existem mais do que simplesmente alguns enganos e falsificações disponíveis hoje. Eu sei que muitas coisas que os pentecostais disseram são ridículas e há muito que deveriam ter dito, mas não disseram. Mas há outro Pentecostalismo, um Pentecostalismo sobrenatural e profético, que é um dom do Espírito Santo. E, como muitos dons do Espírito, é oferecido exatamente como precisamos e de uma forma como nunca poderíamos ter imaginado. Esse é precisamente o Pentecostalismo que esta crise exige.

Chris E. W. Green é professor de teologia na Southeastern University e pastor na Sanctuary Church em Tulsa, Oklahoma. Seu livro mais recente é Surpreendido por Deus (Surprised by God).

Editado por Marcos Simas

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Books

Combatendo a Ansiedade com o Antigo Testamento

As antigas Escrituras são uma fonte surpreendente de apoio em nossa luta contra o estresse.

Christianity Today April 24, 2020
Illustration by Matt Chinworth

Este é o terceiro de uma série de seis artigos escritos por estudiosos renomados, que revisitam o lugar do "Primeiro Testamento" na fé cristã contemporânea. — Os editores

Eu sou uma estatística dos millennials. Apelidada de “geração ansiosa”, a maioria de nós está estressada e experimenta uma ansiedade que é capaz de nos afastar do trabalho duas vezes mais do que a taxa média. Somos líderes da crise de saúde mental em um mundo onde muitos pensam que a ansiedade de forma geral está aumentando.

Até pouco tempo atrás, eu não achava que era uma pessoa ansiosa. Então, em um único ano, terminei de escrever minha tese de doutorado na Inglaterra, trabalhei em vários empregos de meio período para pagar as contas, rompi meu ligamento colateral medial (com uma esposa grávida de 36 semanas), tornei-me pai pela primeira vez, conquistei um emprego acadêmico, consegui um visto de trabalho, mudei-me para o outro lado do Atlântico, encontrei moradia, concluí meu primeiro semestre docente e defendi minha tese de doutorado. De modo algum tudo isso foi ruim ou o fim do mundo – algumas coisas foram muito boas. Mas, ao fim de tudo, eu estava exausto e ansioso.

Minha história não é única. Os locais de trabalho são cada vez mais móveis, o que cria o risco de isolamento e excesso de trabalho. Os jovens são instruídos a ir a qualquer lugar e fazer qualquer coisa, mas sua saúde mental está arcando com as consequências. E isso sem falar de problemas mais pesados. como vícios, abusos, doenças crônicas, desemprego, falta de moradia e uma série de outros males que afligem tantos em nossos dias. Em resposta, uma próspera indústria voltada para o bem-estar se desenvolveu, com terapeutas do Instagram, cães de terapia e brinquedos para aliviar o estresse. Como cristão, você pode sentir tensão – até culpa – quando um médico ou um livro de autoajuda melhora sua saúde mental mais que a leitura da Bíblia.

Como alguém que buscou ajuda profissional por causa da ansiedade, posso dizer que minha recuperação sempre esteve enraizada na Bíblia, especialmente em uma passagem do Antigo Testamento: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (Is 41.10). Se você aceita a sabedoria da mídia, ou mesmo de alguns líderes cristãos, vai acreditar que minha libertação não deveria ter acontecido dessa maneira – não com a ajuda daquele Antigo Testamento seco e empoeirado. Mas, enquanto alguns compram um caixão e recitam um rito fúnebre para esses textos, eu os vejo cheios de vida.

Felizmente, eu não sou o único. Muitas de nossas canções de adoração mais terapêuticas estão repletas de referências ao Antigo Testamento, incluindo “Raise a Hallelujah” e “Blessed Be Your Name”. O livro premiado de Fleming Rutledge, The Crucifixion, relata como as comunidades que por gerações enfrentam a marginalização encontram consolo nas histórias de exílio e libertação do Antigo Testamento. Isso é visto no discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King Jr., no qual King emprega temas do Antigo Testamento, incluindo uma alusão a Salmos 30, a fim de confortar seu público ansioso.

Os textos da Bíblia – especialmente no Antigo Testamento – são antigos e foram escritos muito antes de nossa crise de saúde mental. Mas eles não são irrelevantes para nossas preocupações, nem meramente um pano de fundo para o mais útil Novo Testamento. De fato, ao contar as histórias de várias pessoas e suas experiências mais difíceis, o Antigo Testamento não é tão antigo – ele oferece uma forma especial de terapia de grupo.

Aprendendo com a experiência

A relevância do Antigo Testamento na abordagem da ansiedade começa com sua composição. Ele é o produto de dezenas de autores, ao longo de todo um milênio. Por isso, ele registra um número esmagador de eventos traumáticos, desde o assassinato de Abel e a opressão de Israel no Egito até o estupro de Tamar e o exílio na Babilônia, para citar alguns. Isso é diferente do Novo Testamento, que é tão focado e foi concluído de forma tão rápida que eventos importantes do primeiro século – a destruição do templo ou a erupção que atingiu Pompeia e pode ter matado dezenas de cristãos primitivos – não foram registrados.

Imagine que você está próximo ao local do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Que pensamentos e sentimentos você experimentaria? Quase todos os americanos que estavam vivos durante os ataques lembram onde estavam naquele dia fatídico e como foi assistir às notícias que mostravam, repetidamente, o colapso dos edifícios. As experiências subjacentes aos textos do Antigo Testamento não são muito diferentes. Pelo menos um evento perturbador para a sociedade em geral – de um desastre natural ou uma invasão militar a um exílio nacional ou um escândalo político – está por trás de quase todos os escritos do Antigo Testamento.

Não é de surpreender, portanto, que o Antigo Testamento esteja mais saturado com as famosas declarações de "não temas" na Bíblia do que o Novo Testamento. Esses documentos destilam a sabedoria de séculos, conduzindo-nos ao conselho dos anciãos mais vividos e dos sábios mais instruídos, a fim de aprender o que significa confiar em Deus.

Mostrando solidariedade

Uma das maneiras pelas quais o Antigo Testamento traz conforto aos ansiosos é por sua dependência de dois gêneros literários. A primeira é a narrativa histórica, encontrada em livros como Gênesis ou Josué. Ao contrário de alguns perfis de mídia social que são cuidadosamente criados para apresentar apenas os melhores, mais emocionantes e bem-sucedidos lados de uma pessoa, essas narrativas revelam um panorama mais completo. Os personagens são apresentados tanto com conquistas quanto com fragilidades. Há Moisés, o orador amedrontado (Ex 4.10); Acaz, o monarca desesperado (2 Rs 16.7); e Noemi, a sogra amargurada (Rt 1.20–21). Esses personagens removem o estigma da ansiedade e nos lembram que Deus trabalha por meio de pessoas que estão aos frangalhos.

Os salmos complementam as narrativas, oferecendo instantâneos de indivíduos que reagem à ansiedade. Em vez de um resumo organizado e embalado para compartilhamento retrospectivo, a pergunta penetrante de Davi: "Até quando, Senhor?" (Sl 13.1) convida-nos a entrar no seu sofrimento e nos dá permissão para suplicar a Deus que também acabe com o nosso. Asafe expressa o inexprimível quando diz que Deus lhe deu apenas "o pão de lágrimas" (Sl 80.5). Mais importante ainda, esse grupo de vozes humanas fornece soluções teológicas: “O Senhor está comigo; não temerei. O que me poderá fazer o homem? (Sl 118.6). O conforto dos salmos é especialmente sentido ao recordar que são canções destinadas a ser cantadas e são a Palavra de Deus inspirada. Isso significa, como observou João Calvino, que, ao cantarmos os salmos durante as provações, é como se o Espírito de Deus estivesse cantando por nosso intermédio.

Obviamente, os textos do Antigo Testamento nem sempre parecem um bom recurso para combater a ansiedade. Há momentos que soam como um soco no estômago literário, como a promessa de julgamento de Miqueias sobre o povo de Israel (Mq 2.3–5) e histórias de provações severas, como o quase sacrifício de Isaque por Abraão (Gn 22.1-18). Longe de nos confortar, esses textos apenas aumentam nossa ansiedade. Mas, se os lermos de perto, descobriremos que cada história é redentora, porque a ansiedade é momentânea e pretende nos aproximar de Deus com fé e esperança. Nunca é intenção de um autor bíblico atiçar constantemente os medos de um crente ou afastá-lo de sua fé em um Deus bom.

Apresentando a questão existencial

Depois de compartilhar histórias e oferecer segurança, os textos do Antigo Testamento geralmente apresentam um desafio: Você proclama a fé que professa? Pode parecer banal, mas é exatamente o que precisamos ouvir caso a ansiedade seja, pelo menos parcialmente, resultado de nossa vontade – um hábito mental que pode ser combatido. Esse era o problema que um profissional com quem eu me aconselhava em busca de fortalecimento continuava discutindo comigo. “O seu Deus não é um Deus de infinito amor e cuidado? Como isso se relaciona com a sua ansiedade?” É perturbador ouvir um não cristão denunciar a desconexão entre sua ortodoxia e sua ortopraxia, mas ele estava certo. Você só pode fazer a Oração da Serenidade até que a expressão “coragem para mudar o que me for possível” se torne menos uma declaração e mais um imperativo.

O Antigo Testamento se encaixa perfeitamente nesse movimento, do conforto ao comando. Josué diz aos israelitas que entrem em Canaã com coragem (Js 1.18). Provérbios contrasta os ímpios e os piedosos com base em como eles se relacionam com o medo e a ansiedade: "Os maus fogem quando ninguém os persegue, mas o homem honesto é valente como o leão." (28.1, NTLH). Em Isaías, o profeta desafia Acaz enquanto se preocupa com a ameaça de invasão militar: “Se o não crerdes, certamente não permanecereis.” (7.9).

Indiscutivelmente, esses mandamentos não são ordenados por um Deus acusador que se afasta quando somos lançados aos terrores da vida. Esse Deus está sempre presente e, na medida em que nos dá ordens, caminha conosco, levando-nos por caminhos que não podemos percorrer sozinhos. Esta é a mensagem de Salmos 23.4, que algumas traduções trazem: “Mesmo que eu caminhe pelo vale mais escuro, não terei medo de nada, porque o Senhor está comigo” (VFL). Essa tradução nos ajuda a ver que Deus caminha conosco não apenas quando nos aproximamos da morte, mas em todos os momentos sombrios da vida. Ele está sempre lá.

Quando esse Deus sempre presente pede que sejamos fortes e corajosos, encontramos um paradigma surpreendente para lidar com a ansiedade. A vida de fé é difícil e requer confiar em Deus além do que os olhos podem ver. Mas uma vida de incredulidade é ainda mais difícil, porque cede ao medo e perde Deus de vista no pânico que se segue. De qualquer maneira, este não é o típico caso de dúvida que extingue a fé. A dúvida é uma ferramenta para questionar os medos. É a ansiedade que mina a fé. Nossa vocação como crentes ansiosos é ver e apreciar a contradição entre nossa ansiedade e o Deus que nos ama. Com a ajuda de outras técnicas e, possivelmente, de medicamentos, combatemos a ansiedade simplesmente crendo em Deus.

Esse desafio foi impactante para mim. Sou muito bom em controlar minha vida. Posso antecipar demandas, gerenciar projetos e perseverar. Planejo meus dias minuciosamente (às vezes nos mínimos detalhes) e trabalho com outras pessoas, seja minha esposa, seja um colega de trabalho, a fim de garantir que estou cuidando de minhas responsabilidades pessoais e profissionais. Mas, nos meus momentos mais sombrios, principalmente quando estou cansado, fico ansioso sobre o que nunca consigo controlar. Eu me preocupo com acidentes de avião, câncer e até com interações com estranhos.

Se eu não prestar atenção, esses pensamentos se tornam o cenário da minha vida. Portanto, há graça em saber que minha ansiedade está criando ilusões ou, nas palavras de Martinho Lutero – um teólogo que lutou contra a ansiedade como nenhum outro -, a ansiedade é tudo o que Satanás pode fazer conosco agora, pois o Senhor é uma "torre forte" "à qual o justo se acolhe e está seguro.” (Pv 18.10).

Terapia trina

Mesmo que o Antigo Testamento reúna uma multidão de personagens, de profetas a reis, para levar a uma reflexão sobre sua luta contra a fé e a ansiedade, permanece uma sensação de incompletude. Seu conselho humano só vai até certo ponto. Assim, por meio de um coro de vozes, somos envolvidos no conselho do próprio Deus. Deus apóia Moisés com pragas; Isaías entrega a palavra do Senhor a Acaz; Naomi recebe uma resposta para suas orações. Essas vozes humanas apontam para uma solução divina. Mesmo assim, Jó grita: “Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos” (Jó 9.33).

É aqui que o Novo Testamento entra em cena. Ele foca no maior cataclismo da história – a morte do Filho de Deus – e em como os cataclismos do Antigo Testamento encontram nele sua resolução. Mas o Novo Testamento nunca abandona o padrão de redenção do Antigo Testamento, especialmente o conforto de um Deus que caminha conosco "em um vale de trevas". A encarnação de Jesus naquela noite fatídica, em Belém, permite que Deus lide mais plenamente com nosso sofrimento, até mesmo com nossa doença mental.

Quando Jesus chega ao Getsêmani, ele diz que está sofrendo ou "profundamento triste" até o ponto da morte (Mt 26.38, NVT). Essa expressão deriva do termo grego lýp (pronuncia-se lu-pêi), indiscutivelmente a emoção mais temida na antiguidade. Alguns estudiosos sugerem que é o equivalente à nossa noção de depressão. Era tão problemático que os estóicos, filósofos gregos famosos por tentar evitar emoções negativas, acreditavam que não havia cura para isso. Era um estado mental irremediável.

Quando esse Deus-homem desesperado está pendurado na cruz, ele se volta – advinha para onde? – para o Antigo Testamento. "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46; Sl 22.1). Aqui entramos no mistério do Deus trino. Enquanto Jesus expressa sua angústia agonizante, não podemos saber com certeza o que o Espírito lhe disse. Mas, provavelmente, tinha a ver com o conteúdo do salmo que ele estava recitando: “Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez.” (v. 31).

A nota final de esperança e expectativa no salmo 22 prenuncia a ressurreição de Jesus e é um evento que tem muito mais implicações do que podemos imaginar. Se Jesus pode ir aos lugares mais obscuros da mente humana no Getsêmani e emergir ressuscitado e justificado, nós também – pela fé nele – seremos elevados à nova vida e a uma nova psicologia. Essa percepção fornece grande encorajamento para os ansiosos.

Para mim, a ansiedade sempre foi uma sensação de destruição iminente. É difícil se livrar dela, e o desastre parece inevitável. Não há sessão de aconselhamento ou nenhum conselho sábio que a afaste completamente. Mas, na terapia de Pai, Filho e Espírito Santo, há a promessa de que nossa ansiedade acabará, e essa perspectiva nos ajuda a enfrentar nossa vida frequentemente ansiosa. Melhor ainda, a promessa prevê total libertação da ansiedade e de todas doenças mentais, quando recebermos novos corpos e nos levantarmos para celebrar a vitória de Cristo com mentes que conhecem apenas o “amor perfeito” de Deus, que “expulsa o medo” (1Jo 4.18, NVI).

B. G. White é professor adjunto de estudos bíblicos no The King's College, em Nova York, e integrante do Center for Pastor Theologians.

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Books

Sobreviver ao COVID-19 na Espanha Mudou Minha Fé

Seis lições do presidente da Aliança Evangélica Espanhola para as igrejas.

Christianity Today April 24, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Courtesy of Iglesia Buenas Noticias Lugo / Wikimedia Commons/ De an Sun / Unsplash

A Espanha enfrenta a pior crise de que se tem notícia desde que nosso país se tornou uma democracia moderna, há 40 anos. O novo coronavírus já matou mais de 22 mil pessoas e infectou pelo menos 220 mil.

Nossas igrejas evangélicas não foram poupadas desta pandemia e eu estou entre os que foram hospitalizados com o COVID-19.

Sou pastor de uma congregação com 350 pessoas em uma pequena cidade na costa do Atlântico. Também sirvo como líder nacional da minha denominação e como presidente da Aliança Evangélica Espanhola. Mas fiquei estagnado após ter sido infectado.

Depois de 21 dias de luta contra a doença, tanto em casa quanto no hospital, recebi alta. Fiquei agradecido e cheio de alegria; também estava muito consciente de que outros, mesmo mais jovens e saudáveis que eu, haviam perdido a vida.

Ainda estamos sofrendo como país, à medida que caminhamos em direção a um futuro incerto. Na minha família, alguns ainda estão combatendo o vírus – incluindo minha esposa e minha sogra. Com base em nossa experiência na Espanha, apresento seis lições sobre amor a Deus e ao próximo em meio a uma pandemia.

1. Devemos nos lembrar de que não somos invencíveis.

A primeira conclusão é para aqueles que, como eu, atuam na liderança cristã. Enquanto me recuperava, a lição óbvia que extraí é que não sou um super-humano. Como pastores, vivemos no mesmo mundo que todos os outros, com os mesmos conflitos e riscos. Somos vulneráveis – e é exatamente isso que nos qualifica para a liderança.

A liderança daqueles que parecem alheios ao sofrimento nunca produzirá discípulos, somente admiradores. Meu tempo de sofrimento e luta contra a doença me lembrou mais uma vez que o Pai já enviou um Salvador – e eu não sou ele.

Ficar doente também me mostrou a importância de pertencer a uma comunidade. À medida que as pessoas ficavam sabendo que eu estava infectado, reagiam imediatamente, em oração, em minha igreja local, em igrejas de toda a Espanha e até em outras partes do mundo. Amigos e pessoas que eu não conhecia me enviaram mensagens de apoio e orações de fé e amor. Tudo isso foram doses de encorajamento em meus momentos mais difíceis.

Naqueles dias, confirmei a verdade bíblica de que somos um único corpo. Temos uma fé em comum e somos uma família. Isso não é algo abstrato ou uma teoria que veremos na prática algum dia no futuro, mas uma realidade imediatamente palpável. É isso que sustenta aqueles que estão sofrendo entre nós.

2. Devemos reavaliar nossa vida.

Quando você está envolvido em uma igreja que cresce em números, com projetos sociais, plantação de igrejas etc., doenças inesperadas surgem como uma pausa repentina e indesejada para muitas coisas.

Inicialmente, é um choque e, depois, chegam as fases de raiva, barganha e, finalmente, aceitação. A doença leva a um processo pessoal que, se tudo correr bem, pode durar horas ou dias.

No começo, eu tinha dúvidas sobre o propósito do meu sofrimento por meio do COVID-19. Mas, depois que aceitei minha situação, fiz duas constatações.

A primeira foi quanto Deus cuida de mim e ainda se importa comigo. Nos dias em que eu estava gravemente doente, tive de considerar a morte uma possibilidade real. Como eu avaliaria minha vida? Na área de ministério e profissão, eu estava em paz; fiz o que pude no tempo que Deus me deu. Mas a tristeza apareceu quando pensei em meus filhos. Será que eu conseguiria testemunhar a realização de seus sonhos e objetivos? Mesmo assim, experimentei a tranquila paz de saber que, se eu morresse, Deus cuidaria de minha esposa e meus filhos.

A segunda foi me identificar com a dor de tantas pessoas que estão passando pelo mesmo sofrimento. É inestimável o que a doença pode trazer à sua alma se você estiver pronto para, ao longo do processo, deixar Deus expandir seu coração. Acredito firmemente que Deus é poderoso o suficiente para me curar, assim como foi poderoso o suficiente para me salvar. E não acredito que a doença seja um castigo enviado por Deus. Mas, enquanto esperava com fé pela cura de Deus – diretamente ou por meios médicos – pude entender melhor que outros estavam sofrendo também. Eu podia sentir empatia por eles e percebi que Deus continuava sendo Senhor, a despeito do que acontecesse comigo.

3. Não devemos brincar com teologias triunfalistas.

Se minha experiência pode ser usada para alguma coisa, que seja, pelo menos, para pedir a nossos irmãos e irmãs cristãos nas Américas que aprendam com nossos erros na Europa. Infelizmente, os Estados Unidos já estão vivendo a realidade dessa pandemia e espero que nossos amados países da América Latina mantenham e ampliem as medidas que foram adotadas.

Vimos a crise na China e dissemos: “Isso é na China; está longe” e não nos preparamos. Depois, aconteceu na Itália e dissemos: “É na Itália; não virá para a Espanha”. Na verdade, alguns torcedores de futebol até mesmo viajaram à pior área do país vizinho em termos de contaminhação a fim de assistir a um jogo da Liga dos Campeões. (A competição foi suspensa mais tarde e, agora, é irrelevante.)

Dias depois, o COVID-19 desembarcou em Madri e aqueles que moram em outras partes da Espanha disseram, mais uma vez: “Isso é na capital; estamos seguros”, e não fomos prudentes. Finalmente, chegou à nossa cidade e a nossas famílias. Demoramos a reagir e pagamos um alto preço. Por favor, aprenda com nossos erros e leve esta pandemia muito a sério.

As igrejas têm um papel fundamental a desempenhar, respondendo com sabedoria a esta crise. O problema que estamos vendo é uma teologia débil que afirma que precauções se opõem à fé – uma teologia triunfalista que alega sermos imunes ao vírus em razão de nossa fé. A partir disso, surgem ideias como a de que os cristãos não precisam obedecer às diretrizes das autoridades, pois Deus nos protegerá. Esse é um erro grave e terá consequências desastrosas. Os pastores que pregam tais ensinamentos terão de prestar contas a Deus e aos homens.

4. Devemos acompanhar aqueles que choram.

Na Espanha, vimos centenas de centros de saúde sobrecarregados com o que equipes médicas e militares descrevem como um "cenário de guerra". Médicos e enfermeiros cristãos nos contaram como choraram quando chegaram em casa depois de longos dias de trabalho. Não há pessoal suficiente, equipamento de proteção suficiente, leitos de UTI e muito mais. E eles estão cientes do grave impacto emocional que essa pandemia terá sobre a nossa sociedade nos próximos anos.

Em nossas igrejas, também tivemos de nos despedir apressadamente de muitos irmãos. A maioria dos que partiram para a glória nas últimas semanas foram pais e avós de uma geração que lutou para construir nossas comunidades evangélicas. Muitos morreram sozinhos, em um quarto de hospital, despedindo-se de seus entes queridos por telefone. Embora tenhamos uma esperança compartilhada que vai além da morte, a maneira como eles partiram ainda deixa marcas.

Temos de reaprender a acompanhar as pessoas em seus processos de luto, cristãos e não cristãos. As autoridades de saúde estão pedindo às famílias que autorizem a cremação de seus familiares. Um telefonema fornece instruções sobre como recolher as cinzas e preencher o relatório da morte. É como se as vítimas do COVID-19 tivessem desaparecido, de repente, de nossa vida.

Muitos, que não tiveram permissão de ficar com seus entes queridos nos momentos finais, terão de lidar com sentimentos de culpa e raiva. Dezenas de milhares nunca verão o corpo de seus entes queridos, nem mesmo o caixão. As famílias não serão capazes de elaborar a perda – a ausência – de forma concreta.

Como expressamos o luto sem um ritual funerário ou uma cerimônia? Temos de equipar as pessoas para expressar tristeza à distância. Nossa aliança evangélica já está trabalhando em um guia para o luto nestes tempos estranhos.

5. Devemos voltar ao essencial, começando pela comunidade.

Atividades que reúnem pessoas em espaços físicos foram proibidas em toda a Europa e não há um cronograma claro que estabeleça quando os governos permitirão que os locais de culto retomem as atividades.

Isso desafia nossa maneira de ser igreja. As congregações que já tinham uma boa estrutura para pequenos grupos preservarão melhor o senso de comunidade – bem como o cuidado pastoral e o trabalho missionário – neste período de crise. E, é claro, as tecnologias e os sistemas de comunicação disponíveis na internet são uma bênção.

Mas os líderes cristãos precisam usar esta crise para repensar a igreja do ponto de vista comunitário. O centro não é o culto, ou a reunião de domingo, mas Cristo. Quando esta crise terminar, será importante retornar a uma estrutura celular para a igreja que enfatize o compromisso pessoal e ponha um fim ao consumismo religioso das últimas décadas.

As prioridades que emergem agora são claras. Primeiro, nas palavras de Gálatas 6.10, precisamos fazer “bem a todos, especialmente aos da família da fé”. Temos de ser muito vigilantes, para garantir que nenhum irmão ou irmã sofra financeira, emocional ou socialmente. Depois disso, também devemos ampliar essa preocupação para os bairros e as cidades em que vivemos.

Este também é momento para manter nosso trabalho pastoral em todas as áreas, incluindo o cuidado com crianças, jovens, casais e o culto comumitário. Em nossa igreja local, celebramos o domingo de Páscoa à distância, com a hashtag #santacenaibnlugo: todos participamos da Ceia do Senhor em nossas casas e compartilhamos fotos usando essa hashtag.

Sempre pregamos que uma igreja não é um edifício ou um lugar, mas um povo. O COVID-19 será uma prova de fogo para testar essa afirmação, assim como nossa teologia e as estruturas da igreja.

6. Sejamos igrejas vivas e ativas, mais do que nunca.

Vivemos em um mundo aos pedaços, carente de cristãos que respondam ao chamado de ser sal e luz. É assim que, por meio do nosso testemunho, muitos serão capazes de glorificar a Deus.

Permita-me terminar com um exemplo da igreja que lidero. Nossa comunidade não é muito grande e estamos em uma cidade rural, com cerca de 100 mil habitantes. Poderíamos pensar que somos fracos e pequenos diante desta pandemia. A crise também reduziu consideravelmente a arrecadação financeira de nossa igreja.

No entanto, conseguimos aumentar nossa ajuda social, a fim de aliviar os efeitos da crise entre as famílias vizinhas. Tentamos aplicar Mateus 5.16, que diz: "suas boas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai, que está no céu".

No nosso caso, isso significou desenvolver um plano de ação com três frentes. A primeira é a ajuda de emergência, fornecendo assistência financeira às famílias mais vulneráveis. A segunda é um programa de distribuição de alimentos. Entregamos três toneladas de produtos frescos a cada quinze dias e entregaremos 72 toneladas de alimentos não perecíveis nos próximos dias. Graças à rede que construímos nos últimos anos, agora estendemos essa ajuda a 900 famílias – ou cerca de 3 mil pessoas.

A terceira é uma nova linha ministerial que iniciamos, em relação ao suprimento de itens de saúde. Isso é possível graças a nove membros da nossa igreja, que fazem jalecos médicos, capas de sapatos e bonés. Eles criam essas peças com uma matéria-prima fácil de encontrar: sacolas plásticas.

Já doamos alguns desses itens a centros médicos e casas de repouso, onde eram muito necessários. A reação da mídia local foi significativa desde o início, o que levou ao aumento no número de pedidos. A equipe médica e os enfermeiros expressaram sua gratidão e nos parabenizaram pela qualidade do trabalho. Esperamos fazer, nas próximas semanas, mais de 2 mil unidades de cada peça: jalecos, toucas e proteções para sapatos.

Terminaremos este programa quando os recursos prometidos pelo governo chegarem a esses locais. Enquanto isso, seguiremos servindo nossa comunidade.

É verdade que estamos confinados – mas o Espírito Santo não. E, como cristãos, continuamos a fazer parte da vida da sociedade à nossa volta em meio a esta crise. É hora de mostrar que "a igreja está viva e ativa". Esse lema de nossa igreja manterá o foco de nossos membros nas semanas que virão. Oro que ele também inspire a sua igreja.

Marcos Zapata é pastor da Iglesia Buenas Noticias (Igreja das Boas-novas) em Lugo, Espanha, e atua como presidente da Aliança Evangélica Espanhola.

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