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O Que os Acadêmicos Céticos Admitem Sobre as Aparições de Jesus Após a Ressurreição

A evidência histórica é clara: aqueles que afirmaram vê-lo ressuscitado devem ter visto alguma coisa.

Christianity Today April 15, 2020
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: ZU_09 / Getty Images / Annie Spratt / Unsplash

Em 26 de junho de 2000, a emissora de TV americana ABC exibiu um documentário chamado The Search for Jesus. O principal apresentador da rede, Peter Jennings, entrevistou acadêmicos liberais e conservadores especialistas em cristianismo primitivo a respeito daquilo que podemos saber, historicamente, sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. A série terminou com uma declaração decisiva da especialista em Novo Testamento Paula Fredriksen, que não é cristã.

Comentando as aparições pós-ressurreição de Jesus, Fredriksen disse:

As palavras [das testemunhas] me mostram que elas viram o Jesus ressuscitado. É o que elas dizem e todas as evidências históricas posteriores atestam sua convicção de que foi o que viram. Não estou dizendo que elas realmente viram o Jesus ressuscitado. Eu não estava lá. Não sei o que elas viram. Mas, como historiadora, sei que devem ter visto alguma coisa.

Em outras palavras, ela está admitindo que as melhores evidências históricas disponíveis confirmam que seguidores de Jesus, como Maria Madalena, seu irmão Tiago, Pedro, os outros discípulos e até um inimigo (Paulo) estavam absolutamente convencidos de que Jesus, o homem que havia sido crucificado, lhes apareceu vivo, ressuscitado dentre os mortos.

Fredriksen não está sozinha ao supor que esses seguidores devem ter visto alguma coisa. Praticamente todos os estudiosos da Bíblia do mundo ocidental, a despeito da crença religiosa, concordam que os primeiros seguidores de Jesus acreditavam que ele lhes havia aparecido vivo. Essa realidade foi o que inaugurou a maior religião do mundo. Como resultado dessas aparições, os pescadores judeus começaram a proclamar às multidões, em Jerusalém, que "Foi esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso" (Atos 2.32). Dois mil anos depois, a mensagem da morte e da ressurreição de Jesus é proclamada por bilhões de cristãos em quase todas nações e línguas do planeta Terra.

O que todas essas testemunhas viram?

Uma confissão fundamental

De acordo com a fonte mais antiga de que temos registro acerca da morte e da ressurreição de Jesus, uma pérola escondida encontrada em 1Coríntios 15, Jesus apareceu a diferentes indivíduos e grupos, e a pelo menos um inimigo. Esta tradição de fé, de acordo com virtualmente todos os acadêmicos, data de cinco anos após a morte de Jesus. Por meio dessa fonte, podemos voltar aos primeiros anos do movimento cristão em Jerusalém, à confissão fundamental dos primeiros seguidores de Jesus.

Aqui está o que Paulo diz em 1Coríntios 15.3–8:

Eu lhes transmiti o que era mais importante e o que também me foi transmitido: Cristo morreu por nossos pecados, como dizem as Escrituras. Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como dizem as Escrituras. Apareceu a Pedro e, mais tarde, aos Doze. Depois disso, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda está viva, embora alguns já tenham adormecido. Mais tarde, apareceu a Tiago e, posteriormente, a todos os apóstolos. Por último, apareceu também a mim, como se eu tivesse nascido fora de tempo.

Essa lista de aparições após a ressurreição não encontra comparação no Novo Testamento ou em toda literatura antiga. Descobrimos, com essa lista, que Jesus apareceu a três indivíduos: Cefas (Pedro), seu principal discípulo; Tiago, seu irmão; e Paulo, seu antigo inimigo. Também descobrimos que ele apareceu a três grupos: os Doze (discípulos, menos Judas); mais de 500 dos primeiros seguidores; e todos os apóstolos.

Afirmar que Jesus apareceu a mais de 500 homens e mulheres ao mesmo tempo é verdadeiramente notável. Paulo corajosamente põe sua credibilidade em risco quando menciona que a maioria deles ainda está viva. Afinal, essencialmente, ele está convidando os membros da igreja de Corinto a viajar a Jerusalém e falar com essas testemunhas, investigando por si mesmos como foi ver o Jesus ressuscitado. Podemos perceber, portanto, que um sólido testemunho ocular acerca do Jesus ressuscitado estava prontamente disponível nas décadas seguintes à sua ressurreição. Como G.K. Chesterton observou em O homem eterno: “Esse é o tipo de verdade difícil de explicar, porque é um fato; mas é um fato sobre o qual podemos recorrer a testemunhas”.

Maria Madalena também está na lista das principais testemunhas oculares, pois, de igual modo, ela estava prontamente disponível para ser questionada sobre sua experiência com o Jesus ressuscitado. Como escreve o agnóstico estudioso do Novo Testamento Bart D. Ehrman em Como Jesus se tornou Deus, é “significativo que Maria Madalena desfrute de tal destaque em todas as narrativas dos Evangelhos sobre a ressurreição, mesmo estando virtualmente ausente em todas as outras partes dos Evangelhos. Em todo o Novo Testamento, ela é mencionada em apenas uma passagem em conexão com Jesus durante o ministério público dele (Lucas 8.1–3) e, ainda assim, ela é sempre a primeira a anunciar que Jesus ressuscitou. Por quê? Uma explicação plausível é que ela também viu Jesus depois que ele morreu”. Maria Madalena recebeu a grande honra de ser não apenas a primeira pessoa a ver o Jesus ressuscitado, mas, também, a primeira na história a proclamar: "Eu vi o Senhor!" (João 20.18).

O que quer que essas testemunhas oculares tenham visto transformou sua vida, a ponto de estarem dispostas a sofrer e morrer por isso. Em 2 Coríntios 11.23–33, Paulo relata seu sofrimento quase diário por sua convicção de que Jesus lhe apareceu. Em suas viagens pelo Império Romano, ele foi espancado, aprisionado e apedrejado; passou fome; naufagou e enfrentou diariamente todo tipo de perigos e males.

Também há fortes evidências históricas de que certas testemunhas oculares foram martirizadas por sua fé. Pedro, por exemplo, foi crucificado. Tiago foi apedrejado. Paulo foi decapitado. Valeu a pena dar a vida pelo que quer que eles tenham visto. Eles selaram seu testemunho com o próprio sangue.

A varinha mágica da 'histeria em massa'

Com a finalidade de explicar essas aparições após a ressurreição, alguns acadêmicos especularam que as testemunhas oculares estavam apenas alucinando.

Em seu excelente livro Resurrecting Jesus, o estudioso do Novo Testamento Dale Allison examina os estudos científicos e a literatura disponíveis sobre alucinações. Em casos documentados, ele conclui, há quatro fatos que não acontecem (ou acontecem raramente). Primeiro, alucinações raramente são vistas por vários indivíduos e grupos por um longo período de tempo. Segundo, as alucinações raramente são vistas por grandes grupos de pessoas, especialmente grupos com mais de oito pessoas. Terceiro, alucinações nunca levaram à alegação de que um morto ressuscitou. E, quarto, alucinações não afetam um inimigo da pessoa. (Também podemos acrescentar o fato de que alucinações normalmente não são conhecidas por inaugurar movimentos globais ou religiões mundiais.)

No entanto, no caso das aparições após a ressurreição de Jesus, todas essas últimas circunstâncias raras ou aparentemente impossíveis aconteceram.

Allison resume de forma incisiva as implicações: “Esses parecem ser os fatos e levantam a questão: como devemos explicá-los? Os defensores da fé dizem que os avistamentos de Jesus devem, de acordo com os relatos, ter sido objetivos. Uma pessoa pode alucinar, mas doze ao mesmo tempo? E dezenas por um longo período de tempo? Essas são perguntas legítimas, e agitar a varinha mágica da 'histeria em massa' não fará com que desapareçam”.

Agnosticismo cauteloso

A única outra resposta que dão acadêmicos respeitáveis que lutam contra esse forte registro histórico é alguma variação de "não sei". Assim como Fredriksen, o renomado estudioso do Novo Testamento E.P. Sanders também representa essa abordagem cautelosa e agnóstica quando escreve, em A verdadeira história de Jesus: “Que os seguidores de Jesus (e mais tarde Paulo) tiveram experiências com a ressurreição é, em minha opinião, um fato. Qual foi a realidade que deu origem às experiências eu desconheço”.

Jordan Peterson, o popular professor de psicologia da Universidade de Toronto, também pertence a essa categoria. Ele não afirma nem rejeita a historicidade da ressurreição de Jesus. Quando perguntado diretamente sobre se Jesus literalmente ressuscitou dentre os mortos, Peterson respondeu : "Preciso pensar nisso por mais três anos antes de arriscar uma resposta além da que já dei".

É de se respeitar a posição do agnosticismo cauteloso. Mesmo os apóstolos originais não acreditaram no relato da ressurreição quando as mulheres lhes contaram pela primeira vez (Lucas 24.8-11). No entanto, se alguém como Peterson, com mente e coração abertos, segue as evidências até onde elas conduzem, estou convencido de que ele se encontrará aos pés do Jesus ressuscitado, proclamando, com Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!" (João 20.28).

Convencendo Horácio

A natureza extraordinária da ressurreição de Jesus me lembra a minha cena favorita de Hamlet, de Shakespeare. A peça começa com as aparições “maravilhosas e estranhas” do pai morto de Hamlet para Bernardo e Marcelo e, depois, para Horácio, amigo de Hamlet. Horácio é o cético do grupo, e Hamlet desafia sua falta de fé no sobrenatural deste modo:

Horácio: Ó dia e noite, mas isso é maravilhosamente estranho!

Hamlet: E, portanto, como estrangeiro, seja bem-vindo. Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que você sonha em sua filosofia.

Shakespeare fala por meio de Hamlet, dizendo-nos para esperar o inesperado. Dê boas vindas ao estranho e extraordinário. É realmente estranho que o fantasma do pai de Hamlet apareça para as pessoas, mas não o rejeite apenas por esse motivo. Sua filosofia deve ser ampla o suficiente para o sobrenatural. Mais coisas estão acontecendo em nosso maravilhoso mundo (e além) do que você pode imaginar. Se sua filosofia não é ampla e aberta o suficiente para incluir o milagroso e o extraordinário, você precisa de uma nova filosofia.

Deveríamos estar abertos a reivindicações milagrosas do mundo antigo e dos nossos tempos. Nossas filosofias devem abrir espaço para o inesperado, o estranho e o extraordinário. E, ainda assim, a pergunta mais importante a ser feita sobre qualquer afirmação milagrosa é: "Quais são as evidências?".

Vimos que, mesmo da perspectiva dos acadêmicos mais céticos, o peso do registro histórico atesta que um grande número de indivíduos e grupos cria ter visto o Jesus ressuscitado. Todas as evidências que temos sugerem que as testemunhas oculares eram confiáveis e honestas. Por que não acreditar nelas?

E, se isso não convencer nossos modernos Horácios, podemos ir além, convocando os Doze e os mais de 500 que viram o Messias ressuscitado.

Podemos até ir além do primeiro século, explorando como a crença na ressurreição lançou os fundamentos de toda a civilização ocidental, inspirando algumas das maiores obras de arte, literatura, música, cinema, filosofia, moralidade e ética que o mundo já viu. Tudo isso se baseia em uma mentira?

E, se tudo isso ainda não for suficiente, que os nossos Horácios contemplem os bilhões de pessoas em todo o mundo que, hoje, testemunham prontamente como o Cristo vivo transformou sua vida. Isso inclui gigantes intelectuais que se converteram ao cristianismo de todas as religiões do mundo (ou do ateísmo e do agnosticismo). Em Cristo, eles encontraram todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.

Na Páscoa, esses bilhões proclamaram a mesma mensagem que os apóstolos proclamaram no dia de Pentecostes: "Foi esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso".

Agora, mais que nunca, neste mundo sombrio e cheio de males, sua família, seus amigos e vizinhos estão buscando ter esperança. O Cristo vivo é a única esperança para todos nós. Antes que a Páscoa fique para trás na correria do dia a dia, pergunte ao seu próximo: o que (ou quem) todas essas testemunhas viram?

Eles viram a esperança encarnada, a nova criação, a vida em sua plenitude, Deus encarnado.

Isso, de fato, é maravilhosamente estranho! Incentive seus amigos céticos a não pararem em "Eu não sei". Dê boas-vindas ao Jesus ressuscitado.

Justin Bass é professor de Novo Testamento no Jordan Evangelical Theological Seminary, em Amã, na Jordânia. Ele é o autor de The Bedrock of Christianity: The Unalterable Facts of Jesus’ Death and Resurrection (Lexham Press) e de The Battle for the Keys: Revelation 1:18 and Christ's Descent into the Underworld (Wipf e Stock).

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