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Os pentecostais ainda fazem jus ao seu nome?

Mais de um quarto da igreja global se enquadra no novo e debatido rótulo: “Cristianismo capacitado pelo Espírito”.

Christianity Today June 4, 2020
Illustration by Rick Szuecs / Source images: Jantanee / Lightstock

"Você é pentecostal?"

Todd Johnson, codiretor do Centro para o Estudo do Cristianismo Global, do Seminário Teológico Gordon-Conwell, não conseguiu compreender bem os cristãos chineses que conheceu em uma conferência na África do Sul. Teologicamente, eles pareciam pentecostais, por isso, a pergunta.

Eles responderam: "Absolutamente, não".

"Vocês falam em línguas?" Johnson disse.

"Claro."

"Vocês acreditam no batismo com o Espírito Santo?"

"Claro."

“Vocês manifestam os dons do Espírito, como cura e profecia?”

"Claro."

Johnson disse que, nos Estados Unidos, essas eram algumas das marcas distintivas dos pentecostais. Mas, talvez, fosse diferente na China. Por que não usar o termo?

"Oh, há um pregador americano no rádio que é transmitido para a China", explicaram os cristãos chineses. "Ele é pentecostal e não somos como ele."

Rótulos podem ser complicados. Como você chama um pentecostal que não se chama de pentecostal? A pergunta soa como um enigma, mas é um desafio para os estudiosos. Eles lutaram por anos para estabelecer o melhor termo para o amplo e diversificado movimento de cristãos que enfatizam o relacionamento do crente com o Espírito Santo e falam sobre ser cheios do Espírito, batizados com o Espírito ou capacitados pelo Espírito.

Globalmente, o movimento inclui 644 milhões de pessoas, cerca de 26% de todos os cristãos, de acordo com um novo relatório do Centro para o Estudo do Cristianismo Global. O estudo foi realizado em colaboração com a Universidade Oral Roberts, cujo nome se refere a um dos mais famosos evangelistas pentecostais do século 20, a fim de ser compartilhado na conferência Empowered21, com 70 palestrantes como Bill Johnson, da Bethel, e George Wood, líder das Assembleias de Deus. A conferência, que originalmente seria em Jerusalém, está sendo realizada on-line desde domingo [31 de maio].

O relatório representa a primeira tentativa de uma análise demográfica abrangente desse grupo de cristãos em quase 20 anos. Essas descobertas serão amplamente citadas por estudiosos e jornalistas que procuram entender esses cristãos, especialmente porque afetam lugares como Catar, Camboja e Burkina Faso, onde seus números estão crescendo mais rapidamente, e países como Zimbábue, Brasil e Guatemala, onde, agora, representam mais da metade de todos os cristãos.

No debate sobre como chamar o movimento — que já foi apelidado de "pentecostalismo global", "pentecostal / carismático" e "renovacionista" — Todd Johnson e sua coautora e codiretora, Gina Zurlo, propõem outra opção: Cristianismo capacitado pelo Espírito.

"A nomenclatura tem sido um problema perene", disse Johnson à Christianity Today. “Uma das primeiras coisas que perguntamos é o que é comum a todos esses grupos. Acabou sendo o batismo com o Espírito Santo. As pessoas falam sobre serem cheias do Espírito Santo e o termo mais antigo é 'cheio do Espírito'. Mas muitos grupos enfatizaram o poder.”

Como os cristãos chineses observaram, o termo "pentecostal" está associado a igrejas americanas, disse Johnson, como as Assembleias de Deus e a Igreja de Deus em Cristo. O termo indica uma conexão com o reavivamento multirracial da rua Azusa, iniciado em Los Angeles, em 1906, onde o Los Angeles Times relatou que “uma nova seita de fanáticos está se alastrando” com uma “estranha babel de línguas”. O termo "carismático" está ligado a um movimento de renovação que começou nas décadas de 1960 e 1970, no qual os cristãos receberam o batismo com o Espírito Santo, mas permaneceram em suas denominações — especialmente igrejas anglicanas e católicas.

Mas existem muitos outros grupos que são independentes das principais denominações e desconectados da história americana da rua Azusa. Eles também enfatizam o poder do Espírito Santo e a importância da experiência do batismo com o Espírito, mas não são realmente “carismáticos” ou “pentecostais”.

“Perguntar a esses grupos: 'Você acredita no batismo com o Espírito Santo ou o pratica?' — foi uma atitude muito boa”, disse Johnson. "O que descobrimos no final é que a questão do batismo é algo em comum."

Nem todos os estudiosos estão convencidos do uso desse novo termo. Alguns até acham que um único nome não pode descrever um movimento tão diversificado.

"É difícil pregar gelatina na parede", disse Daniel Ramírez, professor de religião da Universidade de Pós-graduação Claremont e autor de Migrating Faith: Pentecostalism in the United States and Mexico in the Twentieth Century.

Ramírez disse que parte do poder do pentecostalismo sempre foi que as pessoas podem personalizá-lo. É uma linha infinitamente adaptável, portátil e regenerativa. Um mexicano indígena, por exemplo, recebeu o dom do Espírito Santo no avivamento da rua Azusa e um tradutor registrou que ele estava agradecendo às pessoas daquela igreja. Mas ele foi embora, disse Ramírez, e ninguém na rua Azusa tinha controle sobre sua teologia ou autoridade sobre como ele compartilharia essa experiência religiosa com outras pessoas.

"Isso faz parte do que torna o movimento interessante", disse Arlene Sánchez-Walsh, professora de estudos religiosos na Azusa Pacific University e autora de Pentecostals in America. “Ele foi diversificado desde o começo. Você procura um termo genérico que seja vago e amplo, e eu uso 'pentecostal' para colá-lo de volta às origens, mas depois quero que as pessoas pensem duas vezes sobre as origens do movimento. O pentecostalismo não começou em um só lugar, seja na rua Azusa, seja no avivamento do País de Gales, seja na Índia e, por isso, é sempre diversificado.”

Um único nome também pode sugerir que diferentes cristãos sejam mais intimamente associados do que realmente são, argumenta Anthea Butler, professora de estudos religiosos da Universidade da Pensilvânia e autora de Women in the Church of God in Christ.

Ao se agrupar pessoas por suas tradições e culturas, corre-se o risco de obscurecer as diferenças históricas e teológicas entre um grupo católico que fala em línguas, a Igreja Vineyard, que pratica a unção do riso, e a Igreja Celestial de Cristo, que enfatiza a pureza e a profecia.

“Você diz 'capacitado pelo Espírito' e um pentecostal antigo diria 'Bem, esse Espírito pode ser um demônio'”, disse Butler. “E ninguém vai convidar um padre católico para uma igreja carismática na Nigéria, a menos que seja para um exorcismo. Você não pode simplesmente comprimir as diferenças teológicas e achatar a história.”

A conferência Empowered21, que começou no último domingo de Pentecostes, adotou o rótulo de “capacitados pelo Espírito”. Parte da amplitude do movimento já se reflete na programação da conferência: evangélicos americanos, como o pastor de uma megaigreja Chris Hodges e o membro do conselho do Hobby Lobby Mart Green, dividem a plataforma virtual com Cindy Jacobs, parte da Nova Reforma Apostólica, e Todd White, Pregador da Word of Faith, além de líderes da Ásia e da África.

Qualquer termo aproximará algumas pessoas e criará uma barreira entre outras, de acordo com Cecil M. Robeck, professor de história da igreja no Fuller Theological Seminary. Robeck participa de diálogos ecumênicos desde 1984 e acha que o termo "cristão capacitado pelo Espírito" poderia ajudar alguns crentes a ver o que eles têm em comum. Mas também pode erguer muros onde eles não precisam existir.

"Eu me preocupo com o desenho de linhas", disse Robeck. “Quero saber: temos um futuro ecumênico juntos? Quero que as pessoas experimentem o Espírito Santo, mas não quero dizer que elas precisam passar por outro obstáculo para falar comigo.”

Johnson não se incomoda com as críticas. Ele não acha que "cristão capacitado pelo Espírito" é um termo perfeito, mas argumentará que "é tão bom quanto qualquer outro".

"Usamos 'renovacionista' por um tempo", disse Johnson, "mas decidimos que é um neologismo e pensamos: 'Bem, queremos usar algo mais natural.' […] Se você está tentando entender o que todos esses grupos têm em comum, a 'capacitação' não é uma má escolha, mas também não é a única.”

O novo estudo, intitulado Introdução ao Cristianismo Capacitado pelo Espírito, estará amplamente disponível em setembro. Ele prevê que, até 2050, o número de cristãos capacitados pelo Espírito crescerá para mais de 1 bilhão, o que representará cerca de 30% de todos os cristãos. Mas, enquanto quase um em cada três cristãos pratica o batismo com o Espírito, os estudiosos provavelmente ainda debatem como chamá-los.

"Essa discussão está sempre acontecendo", disse Nimi Wariboko, teólogo pentecostal da Universidade de Boston. “O que eles estão tentando identificar é o movimento do Espírito. Os americanos geralmente buscam um termo que lembre as pessoas da conexão com o Ocidente. Mas a essência não é de origem geográfica. A essência não é a história, não é a doutrina e também não são os números. É o Espírito. E o Espírito se move.”

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