Ao ver Jesus, eles souberam

Leitura do Advento do dia 24 de dezembro.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Christianity Today December 24, 2022
Stephen Crotts

Semana 4: Emanuel


À medida que passamos pelos eventos que cercam o nascimento de Jesus, contemplamos a encarnação. Jesus — o Deus Poderoso, o Príncipe da Paz, a Luz do Mundo —se fez carne e habitou entre nós. Conforme a profecia de Isaías previu, ele é “Deus conosco”. Jesus é Emanuel.

Leia Lucas 2.22-40

Pois os meus olhos já viram a tua salvação, que preparaste à vista de todos os povos. (LUCAS 2.30-31)

Ter filhos é duro, e para marinheiros de primeira viagem a tarefa traz um peso extra de dificuldade. Tudo é novidade — desde sentir as primeiras vibrações da vida no útero, segurar e ver seu filho pela primeira vez, até o primeiro banho, as primeiras mamadas, as primeiras palavras, os primeiros passos. São tantas primeiras vezes!

Imagine como foi para José e Maria a viagem com seu recém-nascido, de Belém para Jerusalém. A jornada teria levado algumas horas de caminhada. Em fiel obediência, viajaram pela primeira vez como pais novatos, participando do costume de dedicarem a si mesmos e a seu filho a Deus.

Tudo corria de acordo com o costume, até que o justo e devoto Simeão chegou. Ele estivera esperando a libertação de Israel e, ao entrar nos pátios do templo, ele a experimentou pela primeira vez. Naquele momento, Deus cumpriu sua promessa de que Simeão viveria para ver o Messias. Ao ver o menino Jesus, ele soube.

E Simeão não apenas o viu — ele o segurou nos braços. Naquele momento, ele compreendeu de forma tangível que a salvação de Deus anunciada pelos profetas seria não só algo de escala global, mas também íntimo e pessoal. A salvação em si fora encarnada naquele bebê que arrulhava e se agitava em seus braços. Enquanto Simeão adorava e falava da salvação de Deus, Maria e José se maravilhavam, provavelmente lembrando-se da instrução dos anjos de que deveriam chamar a seu filho de Jesus, nome que falava da salvação de Deus.

Enquanto Simeão falava com Maria, Ana aproximou-se deles e confirmou o cântico profético de adoração de Simeão, ela própria também louvando a Deus. Por décadas, toda a vida de Ana se concentrara em adorar a Deus, orar e jejuar. Ao ver Jesus, Ana soube. Ela soube que esta era a criança que eles estiveram esperando para redimir o povo de Deus, de modo que ela falou de Jesus para todos que quisessem ouvir. A luz prometida às nações tinha chegado.

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Em Maria e José, em Simeão e Ana, vemos vislumbres de como é essa devoção a Deus e um viver piedoso. Vemos obediência e fé, disciplina e dedicação, espera e adoração. Eles viram o Emanuel. Eles o seguraram nos braços. Eles conheceram o Emanuel. E falaram dele.

Ao celebrarmos o Emanuel, neste Advento, andemos em obediência fiel, como Maria e José andaram. Vamos ser como Simeão e colocar em prática a atitude de sermos devotos, retos e adoradores. Vamos orar, jejuar e falar de Jesus a todos que ouvirem, como fez Ana. Não há redenção em nenhum outro nome.

Kristie Anyabwile é autora de Literarily: How Understanding Bible Genres Transforms Bible Study e editora de His Testimonies, My Heritage.

Reflita em Lucas 2.22-40.


O que mais atrai você nas histórias de Simeão e Ana? Como os exemplos deles — e os de Maria e José — encorajam e inspiram você nesta véspera de Natal?

Lembrem-se dos bebês assassinados em Belém, no primeiro Natal

O massacre dos inocentes por Herodes, em Mateus 2, nos desafia a participar dos sofrimentos do mundo de Deus.

Christianity Today December 23, 2022
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: WikiMedia Commons / WikiArt

Detesto a época do Natal — não tanto pelo predomínio do espírito comercial que, afinal, permeia toda a vida moderna, mas muito mais pelo sentimentalismo nauseante.

A história do nascimento de Jesus não tem absolutamente nada a ver com bebês fofinhos, troca de presentes ou celebração da união familiar, muito menos com neve, renas, ramos de visco e Papai Noel.

A história do Natal tem a ver com controle imperial, preconceito social, mães solteiras, refugiados políticos, astrólogos pagãos, violência, luto e ditadores assassinos. E, por ser assim, abre uma janela para o nosso próprio mundo contemporâneo.

Veja o relato do Evangelho de Mateus sobre o nascimento de Jesus, onde assassinatos horrendos ocorrem em meio a esse evento importante. Em Mateus 2.14, Jesus é levado para o Egito, assim como Israel sob o primeiro José. E Herodes, assim como faraó antes dele, ordena a matança de meninos israelitas (v. 16).

Os judeus que leram o Evangelho de Mateus também devem ter captado paralelos com algumas tradições judaicas não bíblicas sobre o nascimento de Moisés. A narrativa apresenta Jesus tipologicamente, como um novo Moisés, mas em especial como o verdadeiro Israel que encarna a vocação de Deus de ser luz para as nações, como Filho obediente de Deus, tema que é desenvolvido no restante do Evangelho de Mateus.

Paradoxos preocupantes abundam nessas narrativas da infância. O Verbo, a quem o universo pertence, não tem onde reclinar a cabeça, muito menos um lugar que possa chamar de lar. Os magos pagãos acabam sendo servos do Deus de Israel, e são levados a reconhecer o verdadeiro rei de Israel, enquanto o governante de Israel é pior do que qualquer tirano pagão.

Quando a crueldade reina

Herodes foi rei da Judeia aproximadamente de 37 a 4 a.C. Ele é lembrado como um “construtor prodigioso” que edificou obras como palácios fortificados por uma extensa área, toda a cidade de Cesareia, na costa do Mediterrâneo, e o segundo templo em Jerusalém.

No Evangelho de Mateus, o rei Herodes fica perturbado com a notícia de que nascera alguém que era o rei dos judeus (2.2-3). Herodes decide localizar a criança e envia os Magos a Belém, para que lhe trouxessem um relatório; estes, porém, recebem um aviso, em sonho, para não voltarem a se encontrar com Herodes (v. 7-12). Um anjo também avisa José e Maria para que fujam para o Egito, pois Herodes pretende matar seu bebê (v. 13). Em retaliação, por ter sido enganado, Herodes ordena que todos os meninos de Belém de dois anos para baixo sejam mortos (v. 16).

Dentre a população da vila de Belém — que não tinha mais de 1 mil habitantes, segundo estimam os estudiosos —, cerca de 20 bebês e crianças pequenas do sexo masculino foram mortos por Herodes. Embora não haja nenhum relato extrabíblico que documente melhor esse trágico evento, ele se encaixa muito bem naquilo que sabemos da brutalidade paranóica de Herodes, por meio de historiadores de sua época, como Josefo.

Por ordem de Herodes, sua esposa favorita e seus dois filhos foram estrangulados, por suspeita de traição. Seu cunhado sofreu um “afogamento acidental”, quando se tornou muito popular. Herodes também ordenou que nobres fossem executados no dia de sua morte, para garantir o luto nacional. Diz-se que o imperador Augusto popularizou o ditado: “Melhor ser o porco de Herodes do que seu filho”.

O caráter e as ações de Herodes revelam que o poder traz consigo seus próprios paradoxos. Quanto mais poder alguém adquire, mais inseguro se torna. Amigos são substituídos por bajuladores, com cuja lealdade nunca se pode contar. Expurgos frequentes são necessários. Daí a superstição e a paranoia que envolveram a maioria de infames tiranos da história da humanidade, até pessoas como Vladimir Putin e Kim Jong-un nos dias de hoje.

Voz que clama

Mateus lê a matança dos inocentes por meio das lentes de um dos momentos mais angustiantes da história de sua nação: “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem” (Mateus 2.18).

Mateus cita Jeremias 31.15, texto que fala de Raquel lamentando a morte de seus filhos. A passagem descreve em termos figurativos a esposa favorita de Jacó (Israel) chorando porque seus descendentes estavam sendo levados para o exílio na Babilônia. Ramá era o local tradicional de seu sepulcro, e os judeus, incluindo Jeremias, reuniam-se ali para fazer a jornada (Jeremias 40.1).

Raquel, que lamentava de seu sepulcro, em Belém, durante o exílio, agora chorava, enquanto se desenrolava outra fase da trágica história de seu povo.

Mateus, ao contrário de Lucas, não traz nenhum relato do Magnificat, o jubiloso cântico de Maria. Ele fala apenas da angústia de Raquel. O alvorecer da era messiânica de salvação provoca uma reação violenta, e esse conflito com os poderes do mal continuará, até que o reino do Messias seja finalmente vitorioso.

Talvez com isso também se pretenda fazer uma conexão com o tema do êxodo. Assim como o primeiro êxodo foi provocado pelo gemido do povo escravizado, o qual chegou aos ouvidos de Deus, lembrando-o da aliança que fizera com os antepassados deles, também o novo êxodo da humanidade começa com os gemidos do povo de Deus por causa das dores do mundo.

Embora algumas tradições cristãs lembrem o massacre dos meninos por Herodes, guardando a Festa dos Santos Inocentes, em 28 de dezembro (ou 29 de dezembro, para os fiéis ortodoxos), outros eventos do calendário litúrgico, como a Epifania (a visita dos reis Magos), recebem maior atenção coletiva.

Os sermões e as canções natalinas tradicionais também ignoram as lágrimas de Raquel (Mateus 2.18), em favor do louvor de Maria. Mas ambos há muito são inseparáveis nas devoções judaica e cristã.

O lamento foi a resposta dos antigos israelitas ao silêncio de Deus, diante da flagrante injustiça. Como adoravam um Deus que falava e agia, ficaram perplexos com seu silêncio e sua indiferença aparentes. Como acreditavam que Deus era justo, ficaram preocupados com sua demora em julgar a maldade.

Ao contrário de reclamações e resmungos, o lamento é dirigido a Deus. No lamento, paradoxalmente, nos apegamos a Deus com fé, mesmo quando o acusamos de estar sendo injusto ou indiferente.

O Salmo 88, o mais soturno de todos os salmos de lamento, nos conecta ao silêncio de Deus e à escuridão em que muitos de nós vivemos em situações que vão desde depressão, demência, violência, doenças graves, divórcio, luto, invalidez, desemprego e assim por diante.

O Salmo 22 estava nos lábios de Jesus, quando ele foi pendurado na cruz (“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”). Ele estava expressando solidariedade a todos os que proferiram essas palavras na história da humanidade.

Apreendendo a morte

Quando as pessoas morrem muito jovens, por um ato de violência, acidente ou doença, é compreensível sentir raiva. Mas isso sempre foi algo normal durante a maior parte de nossos registros históricos, e ainda é a norma em muitas partes do mundo em desenvolvimento.

Alan Lewis terminou de escrever seu notável livro Between Cross and Resurrection: A Theology of Holy Saturday, durante os últimos estágios de um câncer terminal. Ele escreveu:

Como soam tolos e vazios os protestos de pessoas saudáveis, ricas e seguras contra a injusta brevidade de suas vidas, quando ouvidos em contraste com o clamor daqueles que suportam sem esperanças a monotonia da banalização do mal, os ciclos intermináveis de pobreza e fome, guerra, opressão e abusos, e para aqueles cuja a vida ser abreviada de fato seria uma boa nova.

A igreja é chamada a participar na intercessão de Jesus por seu mundo. Isso envolve lembrar os “gemidos” do mundo de Deus tanto em orações públicas quanto em testemunho público.

Isso inclui o terrível sofrimento não apenas do povo da Ucrânia e de Mianmar, mas também daqueles envolvidos em guerras já meio esquecidas e conflitos políticos em outros lugares. A mudança climática afeta mais severamente as pessoas menos responsáveis por ela. Isso é injustiça.

Quanto mais estudarmos a história de nossas nações ou o modo como funciona a presente ordem econômica, mais descobriremos que nosso estilo de vida confortável está sendo subsidiado pelos pobres do mundo. Isso acontece dentro dos países, bem como entre um país e outro. (Basta pensar em como os trabalhadores imigrantes pobres na Califórnia e no Texas sustentam a economia americana, especialmente nos setores da agricultura e das indústrias hoteleira e de restaurantes.)

Para quem se recusa a encarar o sofrimento daqueles com quem convive, o clamor do lamento pode parecer algo “nada espiritual”, muito embaraçoso e até mesmo repugnante. E muitas igrejas que suprimem a tradição do lamento bíblico em suas pregações e liturgias fazem parte desse status quo, de quem se sente tão confortável no mundo e finge que tudo está bem. Elas não anseiam por uma ordem mundial mais justa.

Se estivermos acostumados a pensar que somos o centro do mundo e que a função de Deus é tornar nossa vida feliz e bem-sucedida (“Deus tem um plano maravilhoso para a sua vida”), é provável que a tragédia nos destrua.

Se, no entanto, aprendemos a enxergar o mundo como um espaço em que há tanto sofrimento injusto, no qual vidas inocentes — como as das 20 crianças do sexo masculino massacradas nos dias de Jesus — são interrompidas prematuramente, então, não ficaremos surpresos quando o que acontece todos os dias para inúmeras pessoas também acontecer conosco.

Fomos tirados do centro. E nosso sofrimento pessoal pode nos tirar ainda mais, se o submetermos a Deus.

Participar do protesto do próprio Deus contra o sofrimento injusto também é algo que deve nos levar a nos afastarmos da autopiedade indulgente e da tentação de nutrir sentimentos de ressentimento em relação aos outros. Deve nos levar a agir no mundo de modo que aborde as causas do sofrimento injusto e das mortes desnecessárias.

Podemos criar espaços nas comunidades locais para que outras pessoas compartilhem suas próprias histórias de sofrimento que tenham sido amplamente ignoradas, como no movimento #MeToo ou (em um cenário político mais amplo) nas várias Comissões de Verdade e Reconciliação que foram criadas em muitos países, no rescaldo de conflitos civis.

Não existem respostas fáceis

Voltando às lágrimas de Raquel, a passagem em Jeremias que Mateus cita prossegue e fala de Deus consolando Raquel, prometendo a restauração de seu povo, porque Israel é “o meu filho querido […] O filho em quem tenho prazer” (Jeremias 31.16-17, 20; cf. Mateus 2.15-18). Ele fará uma nova aliança (Jeremias 31.31-34).

Os dolorosos eventos de perseguição da infância de Jesus foram a bigorna na qual Deus forjaria o surgimento de um Israel novo e transformado, encerrando seu exílio e inaugurando uma nova aliança, por meio da morte e da ressurreição de seu Filho.

Por que Deus não avisou as mães e os pais em Belém sobre o plano assassino de Herodes, assim como avisou José?

Tais perguntas são irrespondíveis. O luto é uma experiência terrivelmente solitária, mas também nos liga através do espaço e do tempo com uma humanidade enlutada, que anseia pelo dia em que Deus “enxugará de [nossos] olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Apocalipse 21.4).

Os inocentes de Belém um dia ressuscitarão e florescerão com todos nós — uma esperança que se tornou possível por meio daquele que foi poupado (mas não por muito tempo).

Até esse dia, as lágrimas de Raquel sempre farão parte da história do Natal.

Tomar parte em sua dor, causada pela matança dos inocentes, é o que nos permite caminhar com Deus na escuridão, com um pé em cada um dos dois mundos: neste mundo, que está gemendo sob o domínio de poderes idólatras, e no novo mundo, que veio à luz e está a caminho.

Vinoth Ramachandra mora em Colombo, no Sri Lanka, e é autor de vários livros, entre eles Sarah's Laughter: Doubt, Tears, and Christian Hope (Langham, 2020).

Traduzido por Marisa Lopes

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Um Rebanho de Pastores

Leitura do Advento do dia 23 de dezembro.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Christianity Today December 23, 2022
Stephen Crotts

Semana 4: Emanuel


À medida que passamos pelos eventos que cercam o nascimento de Jesus, contemplamos a encarnação. Jesus — o Deus Poderoso, o Príncipe da Paz, a Luz do Mundo —se fez carne e habitou entre nós. Conforme a profecia de Isaías previu, ele é “Deus conosco”. Jesus é Emanuel.

Leia Lucas 2.1-21

Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. (LUCAS 2.8)

Quando minha esposa, Karin, estava na pré-escola, ela encenou uma Maria em miniatura em um presépio vivo. Embora fosse uma ideia adorável, a realidade de ter animais vivos perto de uma criança de três anos de idade foi aterrorizante para ela. Ela chorava histericamente, não querendo tomar parte de nada daquilo. Para consolá-la, seu pai entrou em cena e deitou-se no chão, entre ela e os animais, formando uma barricada humana, para que a filha se sentisse segura. Ele cobriu-se por inteiro com palha, de modo que quem visitasse o presépio vivo não percebesse.

Essa é uma imagem impressionante do que é o pastoreio. Em Lucas 2, os pastores “tomavam conta dos seus rebanhos” durante a noite — o que destaca os perigos reais que há no escuro. Esse era o momento em que ladrões e predadores representavam a maior ameaça. Assim, os pastores se colocavam na frente do perigo, protegendo suas ovelhas com a própria vida.

Mas no relato de Lucas sobre o nascimento de Jesus, os pastores também são ovelhas. Naquele primeiro Natal, o Senhor se revelou na história como o Bom Pastor, que cuida dos próprios pastores como parte de seu rebanho.

Considere o quanto a atenção de Deus aos pastores se assemelha à descrição que Davi faz de Deus como pastor, no Salmo 23. Deus supriu a necessidade dos pastores — uma necessidade que eles podem sequer ter chegado a articular. Ele acalmou-lhes a alma com as palavras do anjo: “Não temam”. Ele os guiou pelas veredas da justiça até a manjedoura. Mostrou que estava com eles da maneira mais humilde e relacionável: Como um bebê deitado em uma manjedoura. Ele restaurou-lhes a alma com uma mensagem de esperança e pertencimento — mensagem que cumpriu exatamente “como lhes foi dito”. Ele encheu-lhes o cálice até que transbordasse de louvor “por todas as coisas que tinham ouvido e visto”. E não apenas atendeu à necessidade deles; ungiu-lhes a cabeça com o óleo da alegria. Mostrou-lhes bondade e misericórdia que, sem dúvida, permaneceriam com eles todos os dias de sua vida.

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Eu preciso desse tipo de cuidado. Como pastor, sou grato por este lembrete de que os pastores também fazem parte do rebanho. Sou grato por esse Salvador que conhece bem as suas ovelhas medrosas, que entregou a própria vida deitando-se no feno, colocando-se entre nós e expondo-se a todos os perigos.

E sou grato pelo fato de que, quando nossa alma ansiosa precisa de cuidados, o Senhor continua a pronunciar paz na terra na voz reconhecível de nosso Bom Pastor. Esta é realmente uma boa nova de grande alegria para todo o povo.

J. D. Peabody pastoreia a New Day Church, em Federal Way, Washington, e é autor de Perfectly Suited: The Armor of God for the Anxious Mind.

Contemple Lucas 2.1-21.


Opcional: Leia também Salmos 23 e João 10.2-4,11,14.


Como você vê o cuidado de Deus — e o caráter de Deus — no relato dos pastores? O que isso enfatiza sobre Jesus para você?

Natal do que não é Pai

Leitura do Advento do dia 22 de dezembro.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Christianity Today December 22, 2022
Stephen Crotts

Semana 4: Emanuel


À medida que passamos pelos eventos que cercam o nascimento de Jesus, contemplamos a encarnação. Jesus — o Deus Poderoso, o Príncipe da Paz, a Luz do Mundo —se fez carne e habitou entre nós. Conforme a profecia de Isaías previu, ele é “Deus conosco”. Jesus é Emanuel.

Leia Mateus 1.18-25

E ele lhe pôs o nome de Jesus. (MATEUS 1.25)

A maior reivindicação de fama de José está justamente no fato de quem ele não era. Nós o conhecemos como aquele que “não era o verdadeiro pai” de Jesus. Mateus enfatiza quão pouco José teve a ver com o desenrolar da história da redenção, desde a gravidez de Maria até o local do nascimento de Cristo e os eventos que levaram a família a fugir para o Egito.

As Escrituras também retratam José como alguém visivelmente silencioso. Ele não profere sequer uma palavra que tenha sido registrada. Em consequência disso, José muitas vezes fica encoberto ou é motivo de nossas conjecturas. Queremos saber mais. No entanto, talvez a não contribuição de José seja exatamente o que Deus quer que nos lembremos.

O papel mais significativo desse homem é sua aparente falta de papel. Seu envolvimento reduzido encapsula um princípio central do evangelho: a salvação pertence a Deus somente. A história de José nos lembra de que não somos os orquestradores de nosso próprio resgate. O anjo não disse a José: “Aqui está o que Deus quer, então, agora vá e faça acontecer”. Ele disse, essencialmente: “Aqui está o que Deus fez acontecer, e aqui está como receber essa verdade”.

Teria sido compreensível que José ficasse ressentido pela vida não estar se desenrolando como o esperado. Contudo, em vez de concentrar o foco em tudo aquilo do que lhe pediram que abrisse mão, José abriu-se para uma realidade maior: este filho era o Prometido, a chave para a redenção do mundo todo por Deus. E, se Jesus verdadeiramente era uma boa nova para todos os povos, isso incluía José. O plano maior para a humanidade também significava salvação para ele, pessoalmente.

Portanto, vale a pena notar que o silêncio de José é quebrado com uma única palavra. Ele não é citado diretamente, mas nos é dito que ele falou, e a palavra foi Jesus. Somente a José coube a honra de dar à criança um nome que significa “Deus salva”.

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Mateus liga esse nome ao texto de Isaías, que identifica o Messias como Emanuel — Deus conosco. Jesus e Emanuel são nomes praticamente intercambiáveis; a presença de Deus torna nossa salvação possível, e nossa salvação nos permite estar em sua presença.

Para José, atribuir-lhe um nome era mais do que seguir as ordens do anjo. Era uma declaração. O homem que nada dizia agora fala em alto e bom som. Em seu desamparo, quando seu mundo saiu do prumo, a resposta de José foi Jesus. Deus salva.

À medida que se desenrolavam eventos sobre os quais José tinha pouco controle, ele pôde tomar para si as palavras do profeta: Emanuel. Deus está comigo. E, logo, quando enfrentaria tamanho perigo que ele e sua família teriam que correr para sobreviver, José carregou a verdade em seus próprios braços. Jesus. Deus salva. Emanuel. Deus vai conosco.

Embora seja pequeno o espaço atribuído a José na narrativa, talvez isso seja uma coisa boa. Em José, podemos ver nossa própria pequenez e nos lembrar que a salvação pertence ao Salvador, que está conosco até o fim.

J. D. Peabody pastoreia a New Day Church, em Federal Way, Washington, e é autor de Perfectly Suited: The Armor of God for the Anxious Mind.

Leia Mateus 1.18-25.


Como o ato de José, de dar nome a Jesus, fala a você? O que você imagina que esse nome significava para José, enquanto ele cuidava do menino Jesus?

Books

O Natal vai além da Páscoa

A encarnação existe para a expiação, mas também é muito mais do que isso.

Christianity Today December 21, 2022
Illustration by Michael Marsicano

“Espere aí… isso é realmente sobre a encarnação?” Se você pegar A encarnação do Verbo, um clássico de Atanásio escrito no quarto século, para sua leitura do Advento ou do Natal, provavelmente se verá fazendo essa mesma pergunta. Pois você logo fará a descoberta que muitos leitores de Atanásio fazem: A encarnação do Verbo não tem como tema central o nascimento de Jesus.

Atanásio tem pouco a dizer sobre o tema do bebê na manjedoura. E tudo o que ele diz sobre isso é seguramente surpreendente e impressionante: “O incorpóreo, incorruptível e imaterial Verbo de Deus entra em nosso reino, embora antes não estivesse distante. […] Mas lá vem ele agora, condescendendo conosco em seu amor pelos seres humanos”. Feliz Natal!

Mas a maior parte da energia narrativa de Atanásio se concentra em nos contar sobre o Senhor ressurreto que morreu e agora vive para todo o sempre. Você pode estar se perguntando onde foi parar o Natal em sua leitura de Natal.

Parte do problema é que Atanásio tem uma mente grandiosa e um coração pleno, e deseja compartilhar toda a verdade. Helmut Thielicke certa vez expressou o lamento do teólogo que-não-consegue-dizer-tudo precisamente em termos característicos dessa estação do ano: “Tenho que falar sobre tudo ao mesmo tempo, como o pregador que não pode falar sobre o Natal sem tocar no tema da Sexta-feira Santa, e sem dizer que a manjedoura e a cruz são talhadas na mesma madeira”. Mas para tudo há uma estação, e devemos ser capazes de nos concentrar na encarnação durante a estação que estamos vivendo.

Lembro-me da decepção que senti ao ir à igreja em certo Natal em que, por um motivo qualquer, eu estava especialmente bem sintonizado com a expectativa e os preparativos em torno do período do Natal. Foi um daqueles anos em que todas as canções de Natal estavam realmente se conectando comigo, onde quer que eu as ouvisse. (Na verdade, gosto especialmente de ouvi-las nos espaços comuns e seculares dos estabelecimento de comércio e serviços. Não há nada como abastecer o carro num posto ao som de “vede o Deus envolto em carne; saudai a divindade encarnada” saindo dos alto-falantes, acima das bombas de gasolina!)

Durante todo aquele mês, fiquei não só arrebatado pelas grandes doutrinas, mas também entusiasmado com a alegria geral. Então, veio o sermão de Natal em si, na minha própria igreja: “O Menino Jesus nasceu para morrer”. O pregador enfatizou, com veemência e de forma direta, que o verdadeiro significado do Natal era, na verdade, a Sexta-Feira Santa e a Páscoa.

Eu não discordo. Sou evangélico, e este foi um bom sermão centrado no evangelho. Teologicamente, acho o ponto do pregador precisamente correto: a encarnação do Filho de Deus foi direcionada com precisão para o objetivo de sua morte e ressurreição. “A manjedoura e a cruz são talhadas na mesma madeira”, e embora a manjedoura seja uma condição para a Cruz, a Cruz é o evento principal. No entanto, não há como negar a pontada de decepção, a mesma que os leitores da época de Natal podem sentir quando pegam A encarnação do Verbo e descobrem que a maioria de suas páginas tratam na realidade sobre “A crucificação” e “A ressurreição” do Verbo.

Do que eu senti falta, no sermão “nascido para morrer”, foi de uma chance de expandir meus horizontes, de elevar meu coração, de vislumbrar algo para o qual a época do Natal em particular chama minha atenção espiritual. O que perdemos, se transformarmos cada meditação sobre o nascimento de Jesus em uma devoção à cruz, é a chance de ver o horizonte mais amplo.

A questão a que queremos dedicar tempo de reflexão, todos os anos, é que, mesmo que o Natal exista para o propósito de Páscoa, há algo no Natal que é maior do que a Páscoa. Ou, traduzindo isso de estações do ano para doutrinas, a encarnação, ainda que exista por causa da expiação, é mais ampla do que esta última.

Sob um aspecto, a encarnação é mais ampla do que a expiação porque na encarnação o Filho de Deus assumiu a natureza humana. Seu objetivo era salvar pessoas de carne e osso, é claro, e não apenas o conceito de pessoas. Seu método, porém, não foi descer à Terra e tratar individualmente com uma pessoa aqui, outra pessoa ali, nem mesmo com grupos específicos. Em vez disso, o primeiro passo do Filho de Deus na execução do plano de salvação foi entrar na própria natureza humana, essa natureza que torna humanos todos os seres humanos. Ele assumiu essa natureza em união pessoal consigo mesmo. Para dizer o mínimo, este é um pensamento muito amplo.

O estudo de alguns termos pode nos ajudar a entender esse pensamento tão amplo. Quando dizemos que o Filho de Deus assumiu a natureza humana, vale a pena notar que os termos “assumiu” e “natureza” carregam significados especiais. Assumiu significa tomou para si ou uniu-se a. Baseia-se em um termo que os primeiros teólogos cristãos encontraram em Hebreus 2.16: “Pois é claro que não é a anjos que ele ajuda, mas aos descendentes de Abraão”. O termo “ajuda” é uma tradução de epilambano, que poderia ser interpretada aqui em sentido lato como “apoderar-se de alguém para ajudá-lo”. O termo também é usado nos Evangelhos para descrever Jesus estendendo a mão para segurar pessoas; às vezes se refere a um enlace ou a um abraço. A doutrina da encarnação concebe o Filho de Deus como aquele que abraça a própria natureza humana, alcançando-a e atraindo-a para si, assumindo-a ao tomá-la em união consigo mesmo.

O outro termo é “natureza”, como na expressão natureza humana. Na raiz desta palavra está a noção de nascimento, como na palavra Natal: os seres humanos nascem (eles têm como característica a natalidade) e morrem (eles têm como característica a mortalidade). Todos nós nascemos no âmbito dessa natureza humana. Na verdade, nascer é ser natus, ter essa natureza por ter como característica essa natividade. Sim, a Natividade reconhece o nascimento de Cristo em carne, isto é, em natureza humana. ¡Feliz Navidad!

Há algo de universalmente humano na encarnação, tanto em sua matéria-prima (a natureza humana) quanto em sua implementação (esse assumir), bem como em suas implicações. O Filho de Deus assumiu a natureza humana que todo ser humano possui. Nenhum ser humano é excluído deste ato todo-poderoso de Deus Filho; todos estão implicados [nele].

Devemos prestar atenção a este aspecto universal da encarnação e afirmá-lo, sem qualquer medo de cair no universalismo. Universalismo é o erro de acreditar que todas as pessoas são ou serão salvas. Mas reconhecer o caráter universal da encarnação é algo completamente diferente. Significa admitir que a humanidade em si é o alvo do amor redentor de Deus.

Se o Filho de Deus se tornou verdadeiramente e plenamente humano, então, Deus investiu e reinvestiu no projeto humano. É possível imaginar outras maneiras pelas quais Deus poderia ter arrancado indivíduos da raça humana caída. Mas, quando Deus Pai colocou a salvação em ação, enviando seu Filho para estar entre nós, ele escolheu o caminho do contato mais próximo. Ele afirmou e reafirmou a humanidade como uma boa ideia, apesar de seu pecado e distanciamento.

Isaac Ambrose, teólogo puritano, escreveu em Looking unto Jesus [Olhando para Jesus]: “Se observarmos, o próprio ponto da encarnação de Cristo abre uma porta de rica entrada na presença de Deus; podemos chamá-lo de portal abençoado para o céu, que não é de ferro nem de bronze, mas sim da nossa própria carne.” Ambrose estava escrevendo do ponto de vista da redenção plena, é claro: ele foi alguém que de fato “observou-a” e atravessou o portal para a comunhão com Deus em Cristo. A encarnação não é uma doutrina sobre quem é salvo. Mas aqueles que são salvos são os que podem olhar para trás e identificar a assunção da natureza humana por Cristo como o portal para o céu.

E os incrédulos? A encarnação também se põe diante deles como um convite para entrar pela “porta de rica entrada” na presença de um Deus reconciliador. A encarnação significa que sua própria natureza lhes testifica que o Filho de Deus se apoderou daquilo que eles mesmos são.

Outra maneira de vislumbrar que a encarnação é mais ampla do que a expiação é reconhecer que um conjunto mais amplo de objetivos está associado à encarnação. A expiação está relacionada com o pecado e o perdão, mas a encarnação está relacionada com a divindade e a humanidade se encontrando na pessoa de Cristo. Ao encarnar-se, o Filho se fez presente pessoalmente para a humanidade de uma maneira íntima e sem precedentes.

A mensagem toda do evangelho abrange dois momentos: primeiro, que o Filho de Deus veio até nós e, segundo, que ele morreu e ressuscitou por nós. Esses dois momentos caminham perfeitamente juntos. Aprendemos que Jesus é Emanuel, Deus conosco, no primeiro capítulo de Mateus. Mas é somente no capítulo final que o Senhor crucificado e ressurreto profere a promessa: “eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (28.20). Jamais desejaríamos cortar o evangelho ao meio, separando esses dois momentos um do outro. Não há necessidade de fazê-lo. Podemos reconhecer ambos, reconhecendo que um deles é o foco do Natal e o outro é o foco da Páscoa.

Mais uma vez vemos que a encarnação é ordenada para a expiação, embora seja mais ampla. A bênção da presença de Deus conosco em Cristo é tão incrível que, às vezes, pode parecer que é mais do que era necessário para garantir meramente o perdão dos pecados. As canções natalinas medievais, tropeçando na vertiginosa superestimulação de ponderar sobre a encarnação, chegavam até a louvar Deus por Adão ter pecado no Éden, pois isso levou à encarnação do Filho e à exaltação da raça humana: “Bendito seja o momento em que a maçã foi tomada!” E há ao menos um importante canto litúrgico que entoa: “Ó jubilosa ofensa que nos valeu tão grande, tão glorioso Redentor!”

Essa ideia de “afortunada Queda” é um passo que vai longe demais, embora seja fácil simpatizar com o sentimento. Os teólogos da Idade Média desenvolveram um argumento complicado sobre esta questão escolástica: se a Queda não tivesse acontecido, o Filho de Deus teria mais tarde assumido a natureza humana de qualquer maneira? É evidente que nada de muito importante pode depender de dizermos sim ou não a uma pergunta tão absolutamente hipotética. Mas, ao respondê-la com responsabilidade, de fato nos vemos trazendo à tona uma série de questões significativas. A bênção indescritível do próprio Filho estar conosco dessa maneira parece bênção demais para ser meramente parte de uma obra de reparação na humanidade caída. Temos uma intuição sagrada de que tal enobrecimento da natureza humana deve ter feito parte do plano de Deus para nós o tempo todo, com ou sem a Queda.

Uma das razões pelas quais todas essas questões surgem aqui é que, enquanto refletir sobre a expiação atrai nossa atenção para o que o Filho faz por nossa salvação, refletir especificamente sobre a encarnação atrai nossa atenção para quem o Filho de Deus realmente é. Claro que é possível, e até mesmo necessário, focar em quem é Jesus, ao contar a história de sua morte e ressurreição. No Natal, porém, é inevitável atentar para a pessoalidade de Cristo. O bebê cujo nascimento consideramos não está fazendo nada ativamente, e a nós só resta ficarmos maravilhados perante sua identidade divina.

É por isso que tantas canções natalinas retomam um tom de simples adoração: “Ó vinde adoremos”. É também por isso que muitas delas nos fazem perguntas como “Que criança é essa?” A adoração por quem Jesus é, em vez do agradecimento pelo que ele faz, é o segredo do estranho silêncio que se abate sobre nós no âmago desta data comemorativa. Isso acontece porque tudo o que podemos fazer é celebrar, reunirmo-nos com os entes queridos e trocar presentes e gratidão.

Em My Utmost For His Highest, Oswald Chambers diz: “Depois do incrível deleite e liberdade de perceber o que Jesus Cristo faz, vem a escuridão impenetrável de perceber quem Ele é”. É uma escuridão impenetrável porque Jesus é o eterno Filho de Deus, tão misterioso e transcendente quanto Deus.

Vimos que a encarnação nos leva a considerar Jesus Cristo como aquele que assume a natureza humana e é a pessoa divina do Filho entre nós. Isso significa que olhamos o tempo todo para a sua plena humanidade e, até onde podemos ver, para a sua verdadeira divindade. Esse é um vasto escopo, que une em nossas mentes humanidade e divindade. E é por isso que muitas perguntas que podemos ter sobre todas as implicações da morte e da ressurreição de Jesus são de fato respondidas por antecipação no Natal, com seu convite para nos engajarmos na teologia da encarnação. A criança, de fato, nasceu para morrer. Mas se tivermos observado corretamente o que significa para ele ter nascido, teremos uma melhor compreensão de sua obra na morte e ressurreição.

Normalmente usamos a palavra encarnação em três sentidos diferentes. Em primeiro lugar, podemos usá-la no sentido de ponto inicial da assunção da natureza humana pelo Filho (sua concepção virginal e especialmente seu nascimento). Em segundo lugar, podemos usá-la no sentido de toda a vida terrena de Cristo, desde a concepção até a ascensão (o que Hebreus chama de “seus dias da vida na terra”, Hebreus 5.7). Em terceiro lugar, podemos usá-la no sentido do estado de Jesus ser encarnado, um estado que continua em sua humanidade após a ascensão. Todos os três são sentidos legítimos do termo, mas é bom estar atento a qual sentido o falante está se referindo. Em particular, essa distinção ajuda a explicar por que A encarnação do Verbo de Atanásio nos surpreende: pode ser por esperarmos que essa obra seja sobre o primeiro sentido da encarnação (o Natal), mas ela acaba sendo principalmente sobre o segundo sentido (a história da vida de Cristo), com generosas doses do terceiro sentido também (o ministério contínuo entre o seu povo do Senhor ascenso à direita de Deus).

O Natal também é mais amplo do que a Páscoa de uma forma que é especialmente óbvia na cultura ocidental. É uma celebração maior, uma festa maior, para mais pessoas. De alguma forma, de todos os dias especiais do calendário da igreja, foi o Natal que conquistou a mente do público, assumiu o controle da programação secular e se instalou na imaginação popular. Descrentes e semicrentes celebram o feriado de Natal. Especialmente nos Estados Unidos, até mesmo adeptos de outras religiões abrem espaço para esta comemoração e encontram maneiras de participar. Todo um panteão de personagens e tradições não especificamente cristãs surgiu para ajudar a estender a alegria o máximo possível: Rudolf e Frosty, Scrooge e Buddy, o duende [personagens do imaginário natalino dos Estados Unidos].

A uma distância considerável do aspecto religioso ou teológico do Natal, a festa tomou conta. A Páscoa, em contrapartida, nunca foi assim tão popular entre os incrédulos. Ovos de Páscoa e cores pastéis podem aparecer nas lojas, mas logo dão lugar a simples observação da chegada da primavera, em vez da ressurreição. E a Sexta-feira Santa é um assunto estritamente para crentes de verdade e para quem frequenta a igreja com regularidade.

Por alguma razão, as pessoas parecem pensar que o Natal é para todos. G. K. Chesterton disse certa vez que os equívocos populares estão quase sempre certos. Tenho certeza de que os cidadãos seculares não se sentem atraídos pelo Natal porque compreendem a teologia da encarnação — as boas novas universais do Filho de Deus ter assumido a natureza humana. No entanto, o Natal tomou conta da cultura. Esta festa da encarnação, de algum modo, apresenta-se ao mundo como uma celebração aberta e acessível para todos.

Francamente falando, a popularidade secular do Natal em várias culturas continua sendo um mistério para mim — no entanto, há algo de profundo mesmo nessa sua superficialidade. Por que pessoas que não frequentam ou quase não frequentam uma igreja cantam “tra lá lá lá lá lá lá lá lá” e enfeitam a sala com ramos de azevinho, com um senso tão evidente de bem-estar e boa vontade, quando estão tão distantes de um assentimento inteligente do profundo significado teológico da festa toda? Os personagens dos filmes natalinos estão sempre buscando “o verdadeiro significado do Natal” e quase sempre se contentando com uma resposta teologicamente inadequada.

Mas, talvez, essa busca que se repete todo ano seja algum tipo de parábola. Talvez o mundo cansado tenha alguma noção distante e confusa de que sua própria humanidade lhes dá uma participação nesta festa anual, nesta que é a menos exigente e a mais convidativa representação pública do amor de Deus.

Como jovem convertido à fé cristã, muitas vezes eu ficava mal-humorado (sentia que era um ciúme justo) sobre a maneira como a alegria superficial, secular e sazonal tendia a enterrar a verdade sob enfeites de Natal e sinos. Mas agora acho que estou começando a entender. Mesmo para além do círculo da fé, o Natal espalha a notícia de que Deus não desistiu da humanidade. Hoje em dia, mal consigo ficar bravo com o Papai Noel da Coca-Cola ou com “Home for the Holidays” [famoso filme de Natal]. Eles não captam exatamente “a mensagem”, teologicamente falando, mas não espero que captem. Eu me alegro com eles e participo de sua alegria, mesmo que tenham se juntado a um movimento que não compreendem totalmente.

Do mesmo modo que A encarnação do Verbo, de Atanásio, pode ser uma ótima leitura de Natal que acaba não sendo muito sobre o Natal, a obra de Handel, Messias: um oratório sagrado, é uma peça muito amada de música natalina que acaba não sendo muito sobre o Natal. Cristãos e não cristãos se reúnem para ouvir “Porque um menino nos nasceu” e os anjos cantando “Glória a Deus” para os pastores. Mas a peça Messias dura mais de duas horas e inclui não só a crucificação e a ressurreição, mas também a ascensão, a missão da igreja, a propagação do evangelho e a volta de Cristo (que é de fato o tema do coro “Aleluia” de Handel).

Na mente popular, o Messias de Handel fala sobre o nascimento de Jesus; na realidade, porém, fala sobre toda a sua obra como Salvador, e tem como seu centro de gravidade a expiação. A encarnação é ordenada para a expiação — este é o evangelho que abraçamos e compartilhamos —, mas a mensagem da encarnação é maior do que costumamos imaginar, e atrai as pessoas. Que ela expanda nossos próprios horizontes ao virmos adorá-lo.

Fred Sanders é professor de teologia no Torrey Honors College da Biola University e autor de vários livros, entre eles Fountain of Salvation: Trinity and Soteriology e The Deep Things of God .

Traduzido por Mariana Albuquerque

Editado por Marisa Lopes

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Deus de Misericórdia e Poder

Leitura do Advento do dia 21 de dezembro.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Christianity Today December 21, 2022
Stephen Crotts

Semana 4: Emanuel


À medida que passamos pelos eventos que cercam o nascimento de Jesus, contemplamos a encarnação. Jesus — o Deus Poderoso, o Príncipe da Paz, a Luz do Mundo —se fez carne e habitou entre nós. Conforme a profecia de Isaías previu, ele é “Deus conosco”. Jesus é Emanuel.

Leia Lucas 1.57-80

Louvado seja o Senhor, o Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo. (LUCAS 1.68)

Nós, seres humanos, não sabemos bem como manter em equilíbrio misericórdia e poder. Aqueles que conquistam o poder muitas vezes dele desfrutam e tendem a querer mais, ao passo que aqueles que são graciosos tendem a abrir mão do poder (ou a vê-lo ser tirado de si). Sem dúvida há exceções, mas, na ampla maioria das vezes, nós sabemos e podemos observar que esse equilíbrio não é algo fácil de ser alcançado. Deus, porém, ao contrário de nós, de alguma forma é tanto o mais poderoso quanto o mais misericordioso, além de perfeito em exibir cada uma dessas virtudes.

Vemos o poder gracioso de Deus destacado de várias maneiras na história sobre o nascimento e os primeiros dias de João Batista. Na verdade, esse tema do poder gracioso está oculto aos nossos olhos de leitores. Aprendemos que Isabel quer chamar o menino de João, de acordo com a mensagem de Gabriel para Zacarias (Lucas 1.13). Aqueles ao seu redor ficam surpresos; sua atitude não combinava com o costume da época, de dar a uma criança o nome de alguém da família. Então, por que esse nome “João” (Yohanan, no hebraico)? Ele significa “Deus é misericordioso”, e este menino proclamará as obras graciosas de Deus em favor do mundo inteiro.

Zacarias não conseguia falar desde o dia em que soube que sua esposa teria um filho. Mas, assim que ele escreve o nome do menino, recupera a fala e explode em louvor. Por este sinal, as pessoas sabem que se trata de um menino especial. E se perguntam: O que ele será?

Zacarias, porém, lança o olhar das pessoas na direção certa. Sim, o menino tem um papel especial, mas o Senhor deve ser louvado. O poderoso Senhor de tudo “virá até nós”, diz Zacarias, e estará no meio de seu povo.

Contudo, a demonstração de poder do Senhor não será opressora. Em vez disso, será libertadora. O Senhor “levantou um chifre de salvação” para “mostrar misericórdia aos nossos antepassados” e para “nos resgatar”.

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A ideia de Deus mostrando misericórdia está ligada à ideia de o povo de Deus estar em pecado. Como seus antepassados, que receberam profecias semelhantes (1Samuel 2.10; Miqueias 7.20; Ezequiel 16.60), eles merecem punição, mas recebem um derramar de graça.

Por que Deus faz isso? Para que possamos servi-lo. Este é um dom para que possamos experimentar verdadeiramente “Deus conosco”. O cântico de Zacarias promete o perdão de nossos pecados e iluminação para nos guiar no “caminho da paz”. À medida que prossegue em seu evangelho, Lucas retomará esses temas muitas vezes, destacando como a vinda do Messias traz restauração e justiça — paz verdadeira e duradoura.

Madison N. Pierce é professora associada de Novo Testamento no Western Theological Seminary. Entre seus livros está a obra Divine Discourse in the Epistle to the Hebrews.

Medite em Lucas 1.57-80.


Onde você vê o grandioso poder de Deus nesta passagem? Onde você vê a misericórdia e a graça de Deus? Ore, expressando sua resposta a Deus.

Não existem “distâncias seguras”

Nossa cultura valoriza a autoproteção. Mas o amor verdadeiro exige que nos aproximemos uns dos outros.

Christianity Today December 20, 2022
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Getty

Certa vez, tivemos uma discussão em particular que fará parte do nosso folclore familiar por gerações: os adultos, no andar de cima, atacavam uns aos outros com acusações em alta voz, enquanto as crianças, no andar de baixo, lentamente percebiam que o filme de Natal, planejado para a tarde, não aconteceria.

Anos depois, não consigo me lembrar dos motivos que levaram a esse conflito entre os membros da família. Só sei que as condições foram adequadas. A “época mais maravilhosa do ano” estava chegando e as expectativas estavam lá em cima.

Isso que chamamos de amor é um negócio bem arriscado. Infelizmente, no ambiente da nossa cultural atual — no qual a segurança pessoal é tão valorizada — temo que nos tornemos cada vez menos tolerantes às contusões normais que acontecem no esporte de contato das relações humanas. Amamos contanto que nunca nos machuquem.

Uma rápida olhada nas mídias sociais revela uma porção de conselhos para relacionamentos; todos são conselhos que se concentram na autoproteção. Somos ensinados a ficar vigilantes contra injustiças, a repudiar a toxicidade e a evitar situações que façam com que nos sintamos inseguros. A lei do “não passe deste ponto sem a minha permissão” tornou-se inviolável.

Para ser clara, celebro a crescente ênfase na questão da responsabilização. É bom e correto proteger as vítimas dos agressores, e saúdo as formas mais precisas com que passamos a nomear as violações da confiança humana. É importante ressaltar que o evangelho cristão nunca minimiza o trauma do pecado e a necessidade de reparação. Com um Messias crucificado em seu centro — um bode expiatório criado para sofrer pelos pecados do mundo — [o evangelho] é uma história que defende a necessidade de justiça.

Ainda assim, eu me preocupo com o fato de que as nossas expectativas para os relacionamentos humanos estão se tornando irreais. Buscamos segurança, conceito que para nós muitas vezes significa invulnerabilidade. Imaginamos que ser ferido em um relacionamento nos aponta motivos para desistir dele, e não os riscos típicos de um trabalho bem-feito.

Nos últimos anos, a fratura relacional, especialmente nos Estados Unidos, tornou-se uma pandemia, e fica cada vez mais difícil trabalhar para restaurar relacionamentos em nossas amizades, famílias e igrejas. Com a crescente desconfiança em relação às instituições, temos menos autoridades para arbitrar os conflitos. Numa era digital que promove que cada um escolha a própria “verdade”, reafirmamos diferentes formas de ver o mundo, e até mundos completamente diferentes.

Isso para não falar desse espírito reinante de inquietação, que os pais e as mães do deserto chamavam de acédia [tristeza ou melancolia profunda]. Ficamos incomodados com o esforço que a resolução de conflitos exigirá de nós — e ficamos resistentes às exigências do amor, como definiu Rebecca DeYoung.

Como parece claro na Bíblia, o conflito é um aspecto inevitável das relações humanas e uma realidade que exige sabedoria. Se o conflito fosse mais raro, e não algo comum, poderia parecer que Paulo exagerou, quando falou sobre a necessidade de rejeitarmos pecados como “ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja” e, em vez disso, praticarmos “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5.20-23).

Se o conflito fosse a exceção, e não a regra, talvez o próprio Jesus tenha exagerado, quando disse que o perdão nas relações humanas é uma decisão perseverante de perdoar “setenta vezes sete” (Mateus 18.22).

Mas não, essas determinações persistentes para as pessoas se darem bem umas com as outras (veja o apelo de Paulo a Síntique e a Evódia, em Filipenses 4.2) revelam que devemos esperar conflitos. O conflito é a centelha — e, às vezes, o barril de pólvora — da conexão humana. Amar (ou tentar amar) é falhar, e às vezes até ferir intencionalmente. O amor de Deus é paciente e bondoso, mas nós não somos Deus.

À medida que aprendermos a esperar conflitos em nossos relacionamentos, poderemos nos comprometer a crescer na sabedoria que o conflito exigirá. Sendo bem clara, a sabedoria, como categoria bíblica, não se alcança por meio de técnicas de relacionamento. Ninguém pode aprender sobre sabedoria assistindo a vídeos do YouTube, lendo livros de autoajuda ou mesmo seguindo práticas de mindfulness. O mais maravilhoso é que a sabedoria é algo prático — mas dominar sua prática não é simplesmente uma questão de know-how. A sabedoria nasce primeiro a partir de uma orientação do coração para Deus. O primeiro princípio da sabedoria é o temor do Senhor (Provérbios 9.10).

Relacionarmo-nos corretamente com Deus é o primeiro passo para nos relacionarmos corretamente com nossos semelhantes. A oração do Pai Nosso destaca essa dinâmica, quando nos ensina a orar primeiro pelo perdão de nossos próprios pecados, e depois pela capacidade de conceder perdão aos outros. Esse perdão que buscamos e concedemos não é meramente terapêutico, como explica Tim Keller em seu livro mais recente, Forgive [Perdoe]. Nós esperamos e trabalhamos por reparação e restauração.

Cresci em um lar onde a ausência de conflito era considerada saúde relacional. E, muito embora eu tenha amadurecido e vindo a entender melhor que o conflito, quando manejado com amor, sugere riscos e recompensas da intimidade, isso não quer dizer que eu soubesse como lidar com conflitos. Tive de fazer o que a sabedoria pede a qualquer um de seus aprendizes: encontrar mestres e aprender. Praticar e admitir os erros.

Meu marido e eu tentamos ensinar a nossos filhos as habilidades necessárias para lidar com as mágoas pessoais que acontecem nos relacionamentos. Eles vão pecar e ser vítimas do pecado, e isso não é nenhuma surpresa. Ensinamos a eles um fundamento simples para lidar com o colapso relacional: peça desculpas. Admita sua culpa. Peça perdão. Nenhuma dessas etapas pode ser omitida, e é melhor segui-las nessa ordem.

Sim, mais vezes do que podemos contar, as desculpas foram superficiais — um “Sinto muito” dito com mau humor. E não, este ensinamento por si só não cobre todas as bases da devida resolução de conflitos. Mas o destinatário do pedido de desculpas também tem um papel importante a desempenhar. Ele ou ela é encorajado a nunca minizar a falha (com um “Não tem importância” ou um “Não é tão grave assim”), mas sim a dizer simplesmente: “Eu perdoo você”.

Juntos, meu marido e eu praticamos essas habilidades durante a pandemia, quando finalmente nos inscrevemos para quatro sessões de aconselhamento conjugal. Vinte e seis anos de casamento ainda não haviam nos ensinado os perigos inerentes ao conflito — para o qual eu corria precipitadamente e do qual meu marido fugia precipitamente. Precisávamos aprimorar nossas habilidades e também fortalecer a firmeza que todos os relacionamentos exigem. Felizmente, são nossos votos que nos fazem continuar suportando e acreditando, esperando e perseverando; é a nossa fé que nos torna sóbrios para termos uma noção correta de nós mesmos.

Nem todos os relacionamentos são protegidos por um compromisso de aliança, é claro, e, às vezes, certos padrões de conflito podem de fato sugerir que uma amizade deve terminar. Mas talvez o discipulado cristão deva agora enfatizar (contra o Zeitgeist cultural da frágil autoproteção) a paciência e a perseverança que o amor exige, o trabalho que todos os relacionamentos engendram. Não estou segura para amar os outros se, por estar segura quero dizer que nunca sentirei dor. Mas posso aprender a viver menos na defesiva, com menos medo, admitindo meu pecado e dando passos para uma reparação.

“Eu sinto muito. Eu estava errada(o) em machucar você. Pode me perdoar, por favor?”

Tenho certeza de que foi assim que aquela cena de família de anos atrás terminou, com crianças e adultos aliviados. Perdemos o filme, mas conseguimos manter a celebração do Natal. Foi mais uma oportunidade para aprendermos que o amor é muito mais arriscado do que pensamos — e muito mais resiliente.

Jen Pollock Michel é autora de cinco livros, entre eles In Good Time: 8 Habits for Reimagining Productivity, Resisting Rush e Practicing Peace (Baker Books, dezembro de 2022).

Traduzido por Mariana Albuquerque.

Editado por Marisa Lopes.

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O Convite da Encarnação

Leitura do Advento do dia 20 de dezembro.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Christianity Today December 20, 2022
Stephen Crotts

Semana 4: Emanuel


À medida que passamos pelos eventos que cercam o nascimento de Jesus, contemplamos a encarnação. Jesus — o Deus Poderoso, o Príncipe da Paz, a Luz do Mundo —se fez carne e habitou entre nós. Conforme a profecia de Isaías previu, ele é “Deus conosco”. Jesus é Emanuel.

Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse! (LUCAS 1.45)

Poucas interrupções na vida são tão incômodas quanto uma viagem, especialmente quando a ela se somam a fadiga e o enjoo matinal que muitas vezes acompanham o início de uma gravidez. A viagem de Maria, partindo de Nazaré para a colinas da Judeia, não foi fácil nem segura. Ainda assim, encorajada por sua fé, mas também precisando de apoio, Maria enfrentou essa viagem grávida, pobre e provavelmente perplexa. Por que, afinal, optou por ir?

Gabriel havia dito a Maria que sua parente Isabel também estava esperando um filho — o que era um milagre para uma mulher como ela, de idade já avançada. Reconhecendo que Isabel era a única pessoa na face da terra que poderia entender o que estava passando, Maria foi até ela. E quando lá chegou, Isabel fez a exata saudação de que Maria tanto precisava: “Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz!” (Lucas 1.42). Isabel elogiou Maria por sua resposta de fé. Com essas palavras, imagino que os temores de Maria relacionados à gravidez inesperada e às consequências desconhecidas para sua vida se desvaneceram em uma fé maior.

O encorajamento de Isabel lembrou a Maria que essa interrupção do Senhor em seus planos também era um convite — não apenas para carregar e dar à luz o Emanuel, o “Deus conosco”, mas também para se engajar em um senso mais profundo de comunidade, de “nós conosco”. Com o ânimo renovado pela bênção de Isabel, Maria respondeu com um cântico de louvor. E refletiu sobre esse convite à interdependência, em suas palavras finais do Magnificat: “Ajudou a seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia para com Abraão e seus descendentes para sempre, como dissera aos nossos antepassados” (ESV). Em seu júbilo, Maria meditou sobre como precisamente esse mesmo Deus, que havia falado “aos nossos antepassados” que remontam a Abraão, tinha agora falado a ela e a Isabel.

Maria acreditava no “Deus conosco”, e disse sim, quando o anjo Gabriel apareceu para ela. Mas sua fé ainda precisava ser nutrida. A Encarnação significou uma grande interrupção na vida de Maria; foi algo maravilhoso, sim, mas também foi um fardo pesado. Estava acontecendo com ela algo que nunca tinha se passado antes na história do mundo, e Maria precisava de apoio e de ajuda para aceitar e se preparar para tudo aquilo.

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Então, ela se voltou para a piedosa Isabel. Só podemos imaginar o quanto foi fortalecedor para Maria ouvir palavras de bênção da boca de Isabel. Na verdade, eu diria que, sem o encorajamento de Isabel, não teríamos o Magnificat de Maria.

Esse é o poder da interdependência, da fé em comunidade. Em nossa sociedade individualista, muitas vezes é difícil estarmos abertos para sermos abençoados por outros. Estamos condicionados a considerar mais as possibilidades de dano do que a potencial ajuda da comunidade. Mas a verdade é que, assim como Maria, todos nós precisamos de um encorajamento como o de Isabel. A Encarnação é uma interrupção e um convite para conhecer o “Deus conosco” e também para abraçar o “nós conosco”.

Rasool Berry atua como pastor na área de ensino na The Bridge Church, no Brooklyn, Nova York. Ele também é o anfitrião do podcast Where Ya From?

Medite em Lucas 1.39-56.


Que verdades sobre Jesus — o Deus conosco — você vê nesta passagem? Como as palavras de Isabel e seu papel na vida de Maria também falam a você sobre a natureza “nós conosco” da fé?

Os 20 artigos mais lidos em 2022 da Christianity Today em Português

O slogan de Bolsonaro; a guerra na Ucrânia e como ela tem afetado a igreja local; as forças espirituais por trás das guerras deste mundo; como examinar uma palavra profética; a polarização da igreja brasileira.

Christianity Today December 20, 2022
Illustration by Christianity Today

In this series

Leia os principais artigos em português publicados em 2022 pela CT, organizados por ordem crescente de popularidade.

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Confira aqui os artigos mais lidos de 2022 da CT.

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Church Life

Copa do Mundo mostra atletas cristãos e suas obras no Catar

Um resumo do heroísmo e das boas obras de atletas, treinadores e torcedores.

Christianity Today December 19, 2022
Associated Press

Neste terceiro domingo do Advento, milhões de cristãos estarão na igreja. Mas milhões também estarão colados a uma tela, ansiosos para descobrir se o melhor jogador de todos os tempos da Argentina finalmente conquistará o título da Copa do Mundo. Apesar de ter passado do seu auge, o capitão da seleção argentina, Lionel Messi, de 35 anos, tem brilhado na competição, com cinco gols e três assistências até as semifinais, e lidera a corrida pelo prêmio Chuteira de Ouro, em sua quinta Copa do Mundo.

Embora o reservado Messi, que traz no braço direito uma tatuagem de Jesus com uma coroa de espinhos, não tenha expressado sua fé abertamente, exceto pelo fato de apontar para o céu depois de fazer um gol, esta Copa do Mundo contou com o heroísmo de numerosos cristãos confessos.

Liderando o irrefreável ataque francês contra a Argentina estará o jogador Olivier Giroud, de 36 anos, que tem o salmo 23 “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” tatuado em latim no braço direito. Durante esta Copa do Mundo, Giroud se tornou o maior artilheiro de todos os tempos da França, com quatro gols magníficos.

Enquanto o talismã do time francês, Kylian Mbappé, fez jus à fama com sua velocidade alucinante e seus chutes letais, Giroud propiciou um ponto focal confiável no ataque, e, com seu jogo altruísta, criou aberturas para seus companheiros de equipe. “Tento falar sobre minha fé sempre que posso”, disse ele, após vencer a Copa do Mundo em 2018. “Sinto que devo usar meu perfil na mídia para falar sobre meu compromisso com Jesus Cristo.”

Durante a maior parte da última década, quando Giroud jogou por dois clubes em Londres, ele frequentou a Igreja St. Barnabas, em Kensington, que pertence à ala evangélica da Igreja Anglicana. Durante as quartas de final da França contra a Inglaterra, quando ele marcou de cabeça para garantir uma vitória por 2 a 1 para os Les Bleus, ele enfrentou a próxima geração de alas ingleses que estão vivendo sua fé cristã com graça.

Com três gols cada, Marcus Rashford e Bukayo Saka foram craques no Catar. Ambos foram criados em i grejas pentecostais negras, e Rashford, de 25 anos, já se destacou como ativista e filantropo contra o racismo e a falta de moradia. Aos 21 anos, Saka apareceu na capa da revista Time, depois de ganhar o prêmio de jogador do ano na Inglaterra; ele compartilhou que a Bíblia todas as noites para ter “paz e felicidade”. Embora Rashford e Saka tenham recebido insultos racistas online, depois de perderem pênaltis, na final da Euro 2020, ambos foram elogiados por sua resiliência e por promoverem um ambiente de saudável camaradagem na seleção inglesa.

A Inglaterra enfrentou a seleção masculina dos EUA (USMNT) na fase de grupos, e a forte defesa americana, liderada por Walker Zimmerman, filho de pastor, deu aos azarões um respeitável 0-0, um empate contra a formidável seleção da Inglaterra. Zimmerman, o nativo da Geórgia que leva o filho de um ano para os treinos, tem sido um líder imponente na defesa e um defensor do controle de armas e da igualdade racial e de gênero; tem, ainda, lutado em especial por igualdade salarial para a seleção feminina dos EUA.

Zimmerman tem um companheiro de fé em Christian Pulisic, o “Capitão América”, que marcou o gol da vitória contra o Irã e classificou a seleção norte-americana na fase eliminatória, enquanto sofria uma lesão abdominal, após colidir com o goleiro adversário. Pulisic disse à revista GQ, no ano passado, que sua transferência de US$ 73 milhões para o Chelsea F.C. aproximou o de Deus, apesar da forte disputa por sua posição de armador e das lesões que sofreu lá. Dois meses antes da Copa do Mundo, ele postou o Salmo 147.11 como legenda no Instagram. O versículo diz: “O Senhor se agrada dos que o temem, dos que colocam a esperança no seu amor leal”.

Do outro lado do campo, o goleiro número um do Brasil, Alisson Becker, fez algumas defesas espetaculares, registrando duas partidas sem sofrer gols e sofrendo apenas dois gols em quatro jogos. Embora um gol croata desviado, aos 117 minutos, infelizmente tenha eliminado os favoritos nas quartas de final, Alisson retornará ao Liverpool F.C., onde está rodeado irmãos em Cristo. Seu carismático treinador, Jürgen Klopp, é um cristão declarado, e Alisson batizou seu companheiro de equipe, Roberto Firmino, em uma piscina em sua casa. Outro companheiro de equipe, Virgil van Dijk, até apelidou Alisson, que é membro de uma igreja Hillsong em Liverpool, de “goleiro santo”.

Apesar da decepção com a eliminação nas quartas de final, o ex-técnico brasileiro Tite deu ao seu time muito pelo que torcer. Católico devoto, Tite colocou todos os 26 jogadores de seu elenco para jogar no Catar, e dançou com eles, para comemorar a enxurrada de gols durante a goleada de 4 a 1 do Brasil sobre a Coreia do Sul. Durante a Copa do Mundo de 2018, ele participou de uma missa na Rússia, e, durante os treinos no Catar, foi visto com um rosário.

Talvez o time mais devoto tenha sido o do Equador. Um dia antes do início do torneio, o meio-campista Carlos Gruezo compartilhou um vídeo em que ele e seus companheiros estavam orando. “Hoje começa uma nova história e quem guia nossos passos é Deus”, escreveu na legenda. “Sem ti nada podemos fazer. A ti damos toda honra e toda a glória.”

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Depois que o companheiro de equipe de Gruezo, Enner Valencia, converteu um pênalti na partida de abertura do Equador na Copa do Mundo, contra o anfitrião Catar, ele e seus companheiros fizeram um círculo, de joelhos, e levantaram as mãos para louvar a Deus.

Enquanto muitos esperavam atrapalhar o domínio das seleções europeias nas últimas Copas do Mundo, o técnico marroquino Walid Regragui ganhou as manchetes por levar a primeira nação árabe ou africana a uma semifinal. Embora sua fé seja desconhecida, ele certamente incorporou o imperativo bíblico de honrar pai e mãe, convidando as famílias de seus jogadores a se juntarem a eles gratuitamente no Catar. Uma das imagens mais emocionantes durante a Copa do Mundo foi o lateral-direito marroquino Achraf Hakimi correndo para a mãe, que estava na arquibancada, para lhe dar um beijo, após a histórica vitória do Marrocos sobre a Bélgica. “Nosso sucesso não é possível sem a felicidade de nossos pais”, disse Regrarui.

Enquanto os torcedores marroquinos se somaram aos torcedores argentinos e brasileiros como alguns dos mais fervorosos do mundo, durante esta Copa, os mais queridos foram os torcedores japoneses. A limpeza que fizeram nos estádios — com seus sacos de lixo azuis, após as vitórias do Japão sobre as seleções pesos-pesados da Alemanha e da Espanha —viralizou nas redes e inspirou atos semelhantes. Os Samurais Blues também deixaram seus vestiários impecáveis após cada jogo, o que conquistou o respeito da FIFA.

A Copa do Mundo do Catar não teria sido possível sem as centenas de milhares de trabalhadores imigrantes, vindos de países do sul da Ásia, que construíram o estádio, muitas vezes a um custo significativo para si mesmos. Mais de 2.000 trabalhadores nepaleses morreram no Catar, desde 2010, enquanto construíam estádios monumentais sob um calor tórrido e condições atrozes. Outros sofrerão de dores crônicas pelo resto da vida, enquanto suas famílias continuarão atoladas em dívidas e pobreza.

“Suas mortes [dos trabalhadores imigrantes] foram aceitas e não foram investigadas, suas famílias não foram indenizadas como deveriam”, escreveu o vencedor da Copa do Mundo de 2014 e ex-capitão da Alemanha, Philipp Lahm, cristão, sobre o motivo de ter boicotado a ida ao Catar.

Entre as últimas palavras do americano Grant Wahl, jornalista esportivo que faleceu durante a Copa do Mundo, estava uma repreensão contundente à apatia pelo sofrimento alheio.

“Eles simplesmente não se importam”, escreveu ele, referindo-se à morte de outro trabalhador imigrante, que ocorreu durante o torneio, em um dos resorts de treinamento do time.

Ao voltarmos para os cultos, depois de torcer por Messi e Mbappé neste domingo, talvez possamos fazer uma pausa para refletir se essa acusação de Wahl não se aplica também a nós.

J. Y. Lee é estudante de doutorado no Seminário de Princeton e jornalista freelance que fez reportagens no Brasil, durante a Copa do Mundo de 2014.

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