Bolsonaro acredita em “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”?

1ª pergunta da entrevista da Christianity Today sobre as eleições brasileiras de 2022.

Christianity Today September 19, 2022
Illustration by Rick Szuecs / Source Image: Antonio Cruz / Agencia Brasil

O slogan da campanha de Bolsonaro é: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. Você vê esse slogan como algo em que ele realmente acredita?

Guilherme de Carvalho: No meu julgamento, e com base em testemunhos de pessoas com acesso ao presidente, creio que ele realmente acredita nesse slogan. Ele não é um farsante — ao menos, não o é conscientemente. A questão é outra: ele não tem uma compreensão de Deus e do que tal slogan implicaria de fato para a nação. A razão de ter escolhido esse slogan é evidente: para se comunicar com uma faixa das populações católica e evangélica praticantes, cujos valores são ignorados por nossas elites culturais.

Lamentavelmente, Bolsonaro tem uma compreensão distorcida de Deus e do evangelho, e isso faz com que ele tome o nome de Deus em vão, associando-o ao seu projeto pessoal. Mas isso não é uma novidade política; vivemos num país em que há um cristianismo cultural muito disseminado e bastante distorcido. O brasileiro comum fala de Deus o tempo inteiro, apesar de não saber bem do que está falando. A esquerda tenta também, às vezes, usar o nome de Deus, mas convence pouco, pois todos notam que é uma farsa. No caso do Bolsonaro é mais difícil mostrar o engano, justamente por ele acreditar no que diz.

Iza Vicente: Apesar de ser impossível afirmar quais são as crenças mais profundas de uma pessoa, inclusive as do Bolsonaro, entendo que o slogan adotado pelo bolsonarismo não nasce de uma genuína convicção na soberania e na magnitude de Deus, mas sim de uma isca de marketing para capturar o sentimento de fé presente na maioria dos brasileiros. É também uma sinalização autoritária e teocrática, pois, ao enfatizar o “Deus [que está] acima de tudo” como imperativo de força, ele se esquece do Deus que também esteve entre nós, sendo servo de todos.

Ziel Machado: Quem transforma Deus em cabo eleitoral está correndo o sério risco de tomar o nome de Deus em vão.

Durante a pandemia, Bolsonaro fez deboche de pessoas que estavam morrendo de COVID-19 e lutavam para respirar. Para mim, essas ações não demonstraram um conhecimento ou uma relação com o Deus das Escrituras. Então, é possível que ele acredite no que diz, mas comparando o que ele diz com seus atos de misericórdia, que foram nulos, equivale a tomar o nome de Deus em vão e passa uma imagem não bíblica de Deus. E um presidente cujas políticas têm mostrado repetidamente falta de empatia pela dor do povo não pode estar se referindo ao mesmo Deus amoroso e compassivo das Escrituras.

Clique aqui para voltar para o artigo principal.

Jacira Monteiro: Esse slogan é propaganda política, e não uma crença de Bolsonaro. Os evangélicos são alvos de conquista por parte dos políticos, pois, no Brasil, têm um peso de voto considerável. Valendo-se da prerrogativa de ser cristão (embora seu cristianismo certamente não seja o mesmo da Bíblia, não seja o cristianismo de Jesus Cristo), Bolsonaro conquistou cristãos evangélicos, manipulando essa massa com o seu slogan “cristão”.

Contudo, o próprio Deus disse que devemos “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22.21). A separação entre Estado e igreja é um princípio bíblico. O cristão que busca poderio político e manipula cristãos com esse propósito não entendeu os ensinos de Jesus e está em pecado.

Sobre a segunda parte do slogan, é óbvio que nós, como brasileiros (as), devemos amar o Brasil e lutar pelo bem comum. Mas patriotismo cego não é algo cristão, pois a Bíblia diz que nossa pátria está nos céus (1Pedro 2.11 e Filipenses 3.20), não aqui na terra. O Brasil não deve estar acima de todos, mas deve, sim, servir a todos. Como cristãos somos chamados a servir, não a dominar, e um presidente “cristão” deveria saber disso.

Ricardo Barbosa: Geralmente, o slogan de uma campanha política ou de um governo funciona como uma forma de publicidade, de afirmação de valores e expectativas etc. O slogan do Bolsonaro é isso. Imagino que ele o tenha escolhido para afirmar valores como fé, religião, pátria ou patriotismo. Mas não tenho como responder à pergunta se ele acredita ou não neste slogan. É uma pergunta que só ele pode responder.

Confira a biografia dos nossos entrevistados no artigo principal.

Para ser notificado de novas traduções em Português, assine nossa newsletter e siga-nos no Facebook, Twitter ou Instagram.

Also in this series

Our Latest

Review

Desvalorizar mães e filhos é desvalorizar a ‘imago Dei’

Uma sociedade que espera retorno econômico de todos os seus membros perde de vista a preciosidade inerente à humanidade.

News

Onde estão as músicas cristãs brasileiras de natal?

A indústria da música gospel e cristã tem crescido no país mas, durante a época do natal, as igrejas seguem cantando os hinos antigos ou traduzindo músicas feitas lá fora.

A encarnação vai além do nascimento de Cristo

Como Atanásio, um antigo bispo africano, defendeu o arco redentor da encarnação.

Se as arenas digitais lhe fazem pecar, arranque-as e lance-as fora

Os cristãos devem exercer o domínio próprio, fruto do Espírito, para combater o uso viciante das redes sociais, nosso Coliseu moderno

Um conselho para enfrentar a ansiedade de fim de ano

Concentrar-se em ser fiel no pouco que está ao nosso alcance faz uma diferença tangível em nossa vida e em nossa comunidade local.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube