As 10 principais descobertas da arqueologia bíblica em 2021

Evidências do talento de Herodes para jardinagem, de métodos romanos de crucificação e de bananas filisteias contribuem para nossa compreensão do mundo da Bíblia.

Christianity Today February 8, 2022
Mahmoud Khaled/Getty Images

A arqueologia leva anos, décadas e até mesmo meio século. O trabalho meticuloso de escavar e peneirar é seguido por longos períodos de espera, análise e interpretação. Os últimos 12 meses, porém, testemunharam anúncios regulares de desdobramentos e descobertas — alguns esperados, embora outros bastante surpreendentes — que aprofundam e ampliam nossa compreensão do mundo da Bíblia.

Aqui estão as 10 principais histórias das últimas notícias arqueológicas em 2021:

10. O talento para jardinagem de Herodes, o Grande

Descobriu-se que o rei Herodes — mais conhecido na Bíblia por ordenar a morte de toda criança que pudesse ter a idade de Jesus — tinha um hobby, a jardinagem. Amostras de solo de escavações feitas em seu palácio de Jericó, extraídas há quase meio século, foram recentemente analisadas, e partículas de pólen revelaram uma horticultura sofisticada.

Árvores em miniatura, como pinheiros, ciprestes, cedros e oliveiras, cresciam em vasos de barro que foram originalmente recuperados pelo arqueólogo Ehud Netzer. Muitas das espécies de árvores [encontradas] normalmente não teriam crescido no deserto ao redor de Jericó, o que faz do jardim uma demonstração da grandeza de Herodes, uma façanha da horticultura para impressionar convidados e súditos.

9. Herodes e seu complexo de entretenimento à beira-mar

A Autoridade de Antiguidades de Israel anunciou a redescoberta e a preservação da basílica de Herodes, o Grande, em Asquelom. Herodes era conhecido em seu tempo pela localização dramática de seus palácios e fortalezas, e esta construção em estilo romano, um edifício público para atividades comunitárias, não foi exceção.

O enorme edifício, maior do que um campo de futebol, foi escavado pela primeira vez há mais de um século, mas agora está sendo reescavado e passando por um trabalho de desenvolvimento para atrair visitantes ao Parque Nacional de Tel Ashkelon. A reconstrução final incluirá um pequeno teatro antigo chamado odeon, pilares e capitéis de mármore e enormes estátuas de mármore de divindades pagãs.

8. Monumento fronteiriço de um faraó bíblico

Descoberto nos campos de um fazendeiro no nordeste do Egito, este monumento com uma inscrição leva o nome de um dos poucos faraós de fato mencionados no Antigo Testamento. Hofra liderou um exército egípcio em Judá, para ajudar o rei Zedequias a resistir a uma invasão de Nabucodonosor, rei babilônico. A manobra foi apenas temporariamente bem sucedida, e o faraó foi morto por seus inimigos, após uma incursão desastrosa na Líbia, de modo fiel à profecia em Jeremias 44.30.

A estela contém 15 linhas de hieróglifos, até agora não traduzidos. Mostafa Waziry, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, descreveu-a como uma estela fronteiriça que “o rei ergueu durante suas campanhas militares em direção ao leste”. Isso levanta a intrigante possibilidade de que possa ser uma descrição da campanha de Hofra para apoiar Zedequias.

7. Uma cidade egípcia desconhecida

Arqueólogos anunciaram a descoberta de uma cidade, até então desconhecida, na margem oeste do Nilo, perto de Luxor. Acredita-se que seja uma das maiores cidades egípcias já desenterradas, data do reinado do faraó Amenhotep III. Este faraó foi avô de Tutancâmon, mas, talvez mais importante, foi neto de Amenhotep II, considerado por muitos estudiosos evangélicos o faraó do Êxodo.

A cidade parece ter sido subitamente abandonada. Os habitantes podem ter sido expulsos de suas casas, quando Amenhotep IV, mais conhecido como Aquenáton, reuniu trabalhadores para construir uma capital completamente nova no centro do Egito. O que resta hoje da cidade pode revelar muitos detalhes da vida cotidiana no Egito, na época de Moisés.

6. Um pé crucificado

A prática romana da crucificação é bem conhecida por fontes antigas, inclusive por relatos dos evangelhos sobre a morte de Jesus. Até agora, a única evidência arqueológica de crucificações havia sido encontrada em uma caverna, em Israel, no ano de 1986. No início de dezembro de 2021, foi anunciado que um esqueleto havia sido encontrado em uma escavação de um túmulo, em Fenstanton, Cambridgeshire, na Inglaterra. Os restos tinham um prego cravado na parte de trás do pé direito. O enterro data de cerca de 400 d.C., durante a ocupação romana da Inglaterra.

5. Mais descobertas do Mar Morto

A Autoridade de Antiguidades de Israel anunciou os resultados de um projeto de escavação de quatro anos em cavernas de difícil acesso com vista para o Mar Morto. Entre os achados estão pontas de flechas, moedas, pentes, os restos mumificados de uma jovem e dezenas de fragmentos de textos bíblicos. Os fragmentos de um rolo que contém passagens de Zacarias e Naum não têm relação com os textos produzidos pela comunidade de Qumran, conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. Eles, no entanto, lançam luz sobre o extenso trabalho de tradução e transcrição das Escrituras.

Para os arqueólogos, a descoberta mais surpreendente foi um cesto de 10.500 anos.

O cesto, encontrado inteiro e com a tampa intacta, data do período neolítico pré-cerâmico, o que faz dele o cesto mais antigo que existe. É uma reminiscência dos cestos da Bíblia, como aquele em que Moisés foi colocado quando bebê, no Êxodo, os que carregavam as sobras, quando Cristo alimentou as multidões nos Evangelhos, e o cesto que ajudou o apóstolo Paulo a escapar da perseguição, quando foi baixado por sobre a muralha de Damasco.

4. Yavne, apenas Yavne

A moderna cidade de Yavne, localizada entre Tel Aviv e Ashdod, foi um local prolífico para descobertas arqueológicas em 2021. A cidade está crescendo rapidamente e, à medida que uma grande extensão de terra é preparada para a construção de novas moradias, os arqueólogos estão descobrindo artefatos incríveis.

Cerca de 1.500 anos atrás, Yavne foi um centro industrial para a produção de vinho, que produzia cerca de 1.892.500 litros de vinho por ano. Arqueólogos descobriram cinco enormes áreas de produção com lagares, cada uma medindo mais da metade do tamanho de uma quadra de basquete, juntamente com quatro enormes armazéns e fornos para queima de jarros para armazenamento de vinho. Eles também encontraram lagares mais antigos do período persa, datados de cerca de 300 a.C.

Nas décadas posteriores à destruição do templo judaico em Jerusalém, Yavne tornou-se um centro espiritual, o lar de muitos rabinos e do Sinédrio. Um edifício identificado com pertencente a esse período foi escavado, e um belo mosaico de 1.600 anos atrás está sendo restaurado.

Talvez a descoberta mais rara de Yavne tenha sido um ovo de galinha, intacto, de 1.000 anos atrás, encontrado nos restos de uma latrina.

3. Um salão de banquetes no Monte do Templo

Um luxuoso edifício público localizado próximo ao Monte do Templo foi escavado e aberto ao público. Parte do edifício foi descoberto pela primeira vez pelo arqueólogo britânico Charles Warren, em 1867, e o local foi parcialmente escavado em 1966. Agora que a escavação está completa, os arqueólogos dataram sua construção de 20 d.C. — durante a vida de Jesus.

O edifício continha duas câmaras idênticas, separadas por uma elaborada fonte. A natureza luxuosa da instalação e sua adjacência ao Monte do Templo indicam que, provavelmente, foi usado pelos membros da elite da comunidade judaica do primeiro século, pelas famílias dos sumos sacerdotes e outras figuras religiosas importantes.

Arqueólogos dizem que foi danificado por um terremoto em 33 d.C., depois reconstruído e reconfigurado em três salões abobadados. A data da destruição sugere possível evidência do terremoto registrado nos relatos dos Evangelhos, durante a crucificação de Jesus.

2. Jarro de Gideão

“Jerubaal” é o apelido dado a Gideão em Juízes 6.31-32, depois que este destruiu um altar de Baal, deus pagão. Significa “que Baal dispute com ele”. É também o nome que encontraram escrito em um fragmento de um jarro de cerâmica escavado em Khirbat er-Ra’i, um local perto de Tel Lachish, no sul de Israel.

É improvável que o jarro tenha pertencido ao próprio Gideão. Khirbet er-Ra’i localiza-se a cerca de 160 quilômetros ao sul do vale de Jezreel, onde a Bíblia diz que Gideão, com um pequeno exército, derrotou tropas muito maiores dos midianitas. Os arqueólogos que escavaram em Khirbat er-Ra’i dataram de 1.100 a.C. o estrato em que o jarro foi encontrado, o período dos juízes, mas provavelmente cerca de um século depois de Gideão, com base na cronologia interna da Bíblia.

Contudo, há pouco registro arqueológico desse período, de modo que a descoberta ligando um nome bíblico à época é notável.

Os arqueólogos também dizem que a descoberta fornece evidências da disseminação da escrita alfabética, desenvolvida pela primeira vez pelos cananeus, que viveram no Egito por volta de 1.800 a.C. Perto de Laquis, onde foram encontradas outras inscrições alfabéticas cananeias da Idade do Bronze tardia, pode ter sido um centro de preservação da escrita alfabética. A descoberta de uma inscrição alfabética em Laquis, datada do século 15 a.C., também foi anunciada em 2021.

O nível de alfabetização no Antigo Testamento ainda é uma questão debatida entre os estudiosos. Curiosamente, a história de Gideão faz referência a um jovem que “escreveu os nomes dos 77 anciãos de Sucote” (Juízes 8.14).

1. Uma segunda sinagoga em Magdala

A Universidade de Haifa anunciou a descoberta de outra sinagoga do primeiro século em Magdala, no final de dezembro de 2021, localizada na costa noroeste do Mar da Galileia. A primeira sinagoga de Magdala, descoberta há doze anos, era notável porque estava em uso antes da destruição de Jerusalém, quando o culto ainda estava centrado no templo. Agora há duas sinagogas.

Apenas umas poucas sinagogas do primeiro século foram escavadas em Israel. Dentre elas, estas duas são, mais provavelmente, as que Jesus visitou durante seu ministério (Mt 4.23), por causa de sua localização próxima à estrada Nazaré-Cafarnaum e de sua associação com a cidade natal de Maria Madalena.

Esta segunda sinagoga, localizada a menos de 200 metros da primeira, foi descoberta durante a preparação de um projeto de alargamento da estrada. Ela “está agora mudando nossa compreensão da vida judaica neste período”, de acordo com a Autoridade de Antiguidades de Israel. Muitos estudiosos pensavam que as sinagogas floresceram e assumiram uma função mais religiosa somente após a destruição do templo de Jerusalém. Essa nova evidência parece indicar que as sinagogas, que eram mais como centros comunitários em seus primeiros dias, incluíam mais atividades religiosas.

Bônus: bananas filisteias

Sabemos que o rei Salomão alimentava seus convidados com carne bovina, cordeiro, cervo e aves, além de pão, bolos, tâmaras e outras iguarias. Mas… banana?

A quantidade de água necessária para cultivar bananas as torna uma fruta improvável no antigo Israel; no entanto, um novo estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, relatou que restos inesperados desse alimento foram raspados dos dentes de cananeus e filisteus que morreram no final do segundo milênio a.C., o período do reinado de Salomão. E dentes não mentem: eles comiam bananas.

A evidência dietética aponta para “uma rede de troca dinâmica e complexa que conectava o Mediterrâneo ao sul da Ásia”, de acordo com o relatório. Christina Warinner, antropóloga de Harvard e uma das principais pesquisadoras, disse que a fruta pode ter sido importada seca, como os chips de banana que temos hoje.

Gordon Govier é o editor da Artifax, uma revista trimestral de arqueologia bíblica, e apresentador do podcast The Book & The Spade.

Traduzido por: Mariana Albuquerque

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