A Estrela da Manhã brilha cada vez mais ao longo dos séculos

O título de Jesus em Apocalipse só é reforçado pelo aprimoramento do nosso conhecimento da astronomia.

Christianity Today December 14, 2022
Noriakimasumoto / Getty / Wikimedi Commons / Edits by Rick Szuecs

Às vezes, os escritores bíblicos se expressam melhor do que imaginam. Eles dizem coisas e usam imagens que são profundas e esclarecedoras por si só, mas que se tornam muito mais profundas e esclarecedoras à medida que aprendemos mais sobre o mundo.

Tomemos, por exemplo, uma passagem bem conhecida do Salmo 8: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? ” (v. 3-4). Ao ler isso hoje em dia, ficamos maravilhados com o fato de haver bilhões de vezes mais estrelas do que Davi imaginava, e que a humanidade é incomensuravelmente menor no cosmos do que ele pensava. Ou consideremos a declaração de João de que Deus é luz. Vemos mais camadas nela do que João jamais imaginou: toda a gama de cores que tem a luz branca, o paradoxo onda-partícula, os alcances invisíveis do espectro e assim por diante.

Um belo exemplo está no último capítulo das Escrituras, quando João registra Jesus dizendo: “Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã” (Apocalipse 22.16). A primeira metade dessa afirmação é clara, ainda que paradoxal. Jesus, como Isaías havia profetizado, é simultaneamente o produto da linhagem messiânica (“o Descendente de Davi”) e a fonte dela (“a Raiz”). A segunda metade, porém, contém profundidades que João sequer imaginava.

Ninguém no mundo antigo poderia deixar de notar a estrela da manhã. Seu brilho fez dela um ponto de referência comum na história da humanidade, presente do mito sumério à poesia grega e até mesmo na obra A noite estrelada, de Vincent van Gogh. Como o corpo celeste mais brilhante no céu, depois do sol e da lua, a estrela da manhã era um símbolo inequívoco para qualquer coisa ou pessoa que brilhasse mais do que seus pares. É assim que a imagem aparece em outras partes das Escrituras, seja negativamente (ao descrever o rei da Babilônia, em Isaías 14.12-15) seja positivamente (ao descrever Cristo, em 2Pedro 1.19). João, em Apocalipse, claramente a emprega com este último sentido.

Ele pode ter visto algo mais na imagem também. Na época em que o Novo Testamento foi escrito, os greco-romanos eruditos estavam cientes de que a estrela da manhã e a estrela da tarde eram idênticas: a primeira estrela a aparecer e a última a desaparecer eram uma só estrela, a mesma. Dada a frequência com que Jesus é descrito como o início e o fim da história, em Apocalipse 22 — o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim, a Raiz e o Descendente — João pode ter cogitado essa conexão também. Jesus não é apenas a estrela mais brilhante do firmamento, mas a estrela que está presente antes que as outras apareçam e depois que todas desaparecerem.

O que João não sabia, no entanto, é que a estrela da manhã é fundamentalmente diferente de todas as outras estrelas do céu noturno. Ela é feita de rocha, não de gás. Reflete a luz do sol, em vez de gerar luz própria. Do ponto de vista da física, é mais parecida com a Terra em suas propriedades do que com as estrelas. Hoje, nós a chamamos de planeta Vênus.

Ao mesmo tempo, João não tinha noção da surpreendente proximidade da estrela da manhã em relação ao restante do exército celestial. Vários modelos do cosmos existiam em sua época, com várias teorias de como o sol, a lua, os planetas e as estrelas se encaixavam. Podemos apenas especular o quanto João sabia sobre isso. Mas ele dificilmente poderia imaginar que a estrela da manhã estava 175 mil vezes mais próxima do que a mais próxima das outras estrelas.

Como Vênus em relação às estrelas, Jesus é totalmente diferente de todos os “deuses” a quem as pessoas o comparam. Tudo o mais no céu noturno da teologia é distante, fixo e imóvel. A Estrela da Manhã, em compensação, pertence a uma classe própria. Jesus não é apenas muito mais brilhante do que os demais. Ele não apenas abre e fecha a sinfonia celestial como abertura e gran finale. Ele é diferente deles em sua própria essência, semelhante a nós de maneiras que ainda lutamos para acreditar, e muito, muito mais próximo do que imaginamos.

Do ponto de vista exegético, geralmente é considerado uma má prática encontrar significados em textos que o autor original não pretendia dar. Mas, relembro que toda Escritura tem dois autores originais — um divino e um humano — e quem fala neste caso é a própria Estrela da Manhã, o Criador dos céus e de tudo o que neles há: o Senhor Jesus. Talvez haja mais aqui do que sabemos.

Andrew Wilson é pastor e professor na King's Church London e autor de God of All Things .

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