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Mais cristãos estão assistindo à pornografia. Menos cristãos acham que pornografia é pecado.

A igreja precisa de iniciativas para alcançar os fiéis que dizem assistir à pornografia online [e não veem problema nisso].

Christianity Today October 19, 2024
Illustration by Christianity Today / Source Images: Getty

O consumo de pornografia continuou a crescer ao longo da última década, especialmente entre os jovens que são expostos a imagens explícitas mais cedo do que nunca. No entanto, a maioria dos americanos hoje não vê a pornografia como algo nocivo para a sociedade, e muitos cristãos dizem que não estão preocupados com seus efeitos.

É o que diz um novo relatório divulgado recentemente por Barna e Pure Desire, um ministério para pessoas com vícios em pornografia.

Pesquisadores descobriram que 61% dos americanos dizem que assistem à pornografia pelo menos ocasionalmente, número acima dos 55% da pesquisa de 2015 do Barna sobre o mesmo tópico. Além disso, mais mulheres estão assistindo à pornografia do que no passado (44% atualmente contra 39% nove anos atrás).

Na igreja, os pastores de hoje estão mais propensos a falar de um histórico pessoal de consumo de pornografia (67% atualmente contra 57% nove anos atrás). Quase 1 em cada 5 pastores afirma lutar contra a pornografia. E entre cristãos que participaram de cultos no último mês, mais da metade diz que assiste à pornografia pelo menos ocasionalmente.

“O consumo de pornografia não está mais confinado a uma demografia ou a uma subcultura específicas”, disse o relatório. “Ele atinge todos os segmentos da sociedade (de jovens a idosos) sem levar em conta gênero, status social ou crenças religiosas.”

Os novos dados se alinham com outras pesquisas que mostram aumentos drásticos na quantidade de pornografia online criada e consumida nos últimos anos.

Um estudo recente sugeriu que, a cada minuto, 2,5 milhões de pessoas assistem à pornografia online, cujo consumo aumentou em 91% desde 2000. A maior disponibilidade, a facilidade de acesso à pornografia na internet e até mesmo o isolamento social exacerbado pelos lockdowns da pandemia da COVID-19 são vistos como os principais fatores que contribuíram para o aumento.

Alguns esforços de instituições confessionais para conter o crescimento da indústria pornográfica online têm defendido restrições legais, inclusive pressionando para que sejam aprovadas leis que exijam verificação de idade e regulamentações mais rígidas para aqueles que criam os dispositivos tecnológicos. Outros ministérios têm se concentrado em ajudar indivíduos a superar o vício em pornografia.

Líderes do Barna e da Pure Desire disseram que esperam que sua pesquisa ressalte a difusão da pornografia e incentive mais pastores e pessoas envolvidas nos ministérios da igreja a priorizarem o apoio àqueles que estão lutando [contra esse mal]. Mas as estatísticas podem revelar um obstáculo ainda maior: muitas pessoas, entre elas muitos cristãos, não veem nenhum problema em consumir esse tipo de conteúdo.

“Mais de três em cada cinco cristãos (62%) dizem ao Barna que concordam que uma pessoa possa assistir à pornografia regularmente e viver uma vida sexualmente saudável”, diz o relatório. Isso fica apenas quatro pontos percentuais abaixo da parcela de todos os adultos dos EUA que não consideram prejudicial assistir à pornografia (66%).

Além disso, 49% dos cristãos praticantes que admitem assistir à pornografia dizem que estão “confortáveis ​​com a quantidade de pornografia” que consomem.

“Simplesmente essa não é uma questão preocupante para eles… não há nenhum senso de urgência [sobre isso]”, disse Sean McDowell, professor da Universidade Biola e apresentador do podcast Think Biblically. “Acho que este é um exemplo de como as pessoas estão se inspirando muito mais na cultura e nas ideias que nos cercam do que nas Escrituras e em sua visão de mundo cristã.”

No entanto, no estudo, os entrevistados que disseram usar pornografia com certa regularidade foram muito mais propensos a relatar que frequentemente se sentiam ansiosos, críticos de si mesmos, facilmente sobrecarregados e deprimidos.

“Há, em geral, uma correlação direta entre quanto mais pornografia você assiste menos saudável você é mental, emocional e relacionalmente”, disse Nick Stumbo, diretor-executivo da Pure Desire. “Não podemos aceitar sem nos preocupar um comportamento que está minando nossa saúde mental, emocional e relacional.”

Uma pesquisa recente do Institute for Family Studies/YouGov [Instituto para Estudos sobre a Família/YouGov] relatou descobertas semelhantes que correlacionam o consumo de pornografia com solidão e depressão. Seus pesquisadores sinalizaram que o vício generalizado em pornografia é um problema de saúde pública, observando como os sites pornográficos “usam técnicas semelhantes às plataformas de mídia social, como rolagem infinita, reprodução automática e conteúdo personalizado, para manter os usuários engajados” e como os usuários frequentes buscam vídeos mais extremos à medida que ficam dessensibilizados.

O relatório do Barna inclui uma série de perguntas focadas em “trauma de traição” ou o impacto que o consumo de pornografia tem sobre os cônjuges ou outras pessoas importantes na vida do usuário.

As diferenças entre homens e mulheres são gritantes. As mulheres tinham pelo menos o dobro da probabilidade de dizer que o consumo de pornografia por seu parceiro prejudicou o relacionamento deles de alguma forma. A principal preocupação de 44%  das mulheres era que seu parceiro não se sentisse mais atraído por elas. No entanto, a mesma parcela de homens — 44% — relatou não se preocupar com o consumo de pornografia por suas parceiras.

Depois, há ainda o impacto que a pornografia tem sobre os jovens. O relatório mostrou que 39% dos adultos da Geração Z assistem à pornografia diariamente ou semanalmente. Além disso, mais da metade dos jovens da geração Y e dos adultos da Geração Z (uma faixa que vai dos 18 aos 37 anos) dizem já terem enviado nudes [fotografias e vídeos sem roupa] de si mesmos para outra pessoa, e três quartos dizem ter recebido esse tipo de conteúdo, descobriu o Barna Research Group.

Outros estudos recentes indicaram que as crianças estão vendo pornografia muito mais cedo do que as crianças das gerações anteriores — a idade média para a primeira exposição das crianças à pornografia hoje em dia é 12 anos.

Stumbo disse que a Pure Desire está desenvolvendo programas de treinamento para pais que estão procurando maneiras de falar sobre pornografia com seus filhos. Mas mesmo essa estratégia enfrenta obstáculos: o estudo do Barna perguntou aos entrevistados quem ou o que teve o maior impacto na visão que eles têm sobre sexo e comportamento sexual. As respostas “Minha mãe” e “meu pai” ficaram abaixo de “meus amigos”, “televisão ou filmes”, “pesquisa na internet” e da própria pornografia.

“Se você realmente quer ajudar seus adolescentes, uma das melhores coisas que pode fazer é abordar sua própria história e sua própria fragilidade em sua sexualidade”, ele disse. “Quanto mais saudável você ficar nesse aspecto da vida, mais poderá ajudar os adolescentes a ficarem também.”

McDowell disse que é importante que as igrejas ofereçam recursos para pessoas que lutam contra a pornografia, mesmo que estas afirmem não ver problema nisso. A pesquisa descobriu que 83% dos adultos com histórico de consumo de pornografia não têm ninguém em suas vidas que os ajudem a evitá-la.

“Eu suspeito que aqueles que são cristãos e não veem problema com a questão da pornografia acharam os argumentos contra ela pouco convincentes”, ele disse. “Muitas vezes há mágoa, vidas quebradas, há ansiedade, há… estressores subjacentes e má teologia impedindo as pessoas de conseguir a ajuda de que precisam.”

Ele recomenda que, além de ensinar sobre sexualidade saudável no púlpito, cada igreja deve ter um grupo de apoio para pessoas que lutam contra qualquer tipo de vício, seja de natureza sexual ou não.

Juli Slattery, psicóloga e fundadora da Authentic Intimacy [Intimidade Autêntica], concorda que oferecer uma comunidade segura para pessoas que lutam contra a pornografia é fundamental. Ela contribuiu com um dos especialistas que opinaram sobre as descobertas do relatório.

“Você pode dizer às pessoas ‘Deus diz para não vermos pornografia’”, escreveu Slattery. “Mas se você não fornecer as ferramentas e uma comunidade para que elas tratem das questões mais profundas, muitas pessoas vão se sentir realmente de mãos atadas, incapazes de lutar. [Muitos cristãos] não entendem o que está sendo perdido quando a sexualidade é afetada [por práticas imorais], porque eles veem a sexualidade mais como uma ética comportamental, e não como um campo de batalha profundamente espiritual.”

Stumbo, da Pure Desire, disse que, nos últimos anos, notou um interesse cada vez menor das igrejas em acolher ministérios de recuperação do vício em pornografia, após um boom de conscientização e interesse que ocorreu no início dos anos 2000.

A ascensão da internet levou à fundação de vários ministérios de recuperação do vício em pornografia, entre eles o Covenant Eyes [Olhos da Aliança] — que oferece um software para ajudar as pessoas a evitar a pornografia online — e o XXXchurch. A questão continuou a atrair atenção nos anos que se seguiram, especialmente após o lançamento dos smartphones.

A pesquisa anterior do Barna sobre o consumo de pornografia, “The Porn Phenomenon” [O fenômeno da pornografia], foi publicada em 2016. Na época, “parecia ser um período em que essa bolha estourou e as igrejas estavam dizendo: ‘temos que fazer algo em relação à pornografia’”, disse Stumbo. Dois anos antes, a Pure Desire tinha lançado sua popular Conquer Series [Série Conquista], um material em vídeo que oferece um passo a passo para a recuperação do vício em pornografia, que já foi visto por mais de 2 milhões de homens em mais de 100 países.

“A Pure Desire cresceu muito naqueles dois anos”, disse Stumbo. Na mesma época, em 2016, a Covenant Eyes ampliou sua missão e começou a fazer parcerias com outros ministérios, para aumentar a conscientização sobre a pornografia na igreja. Um ano antes, os cristãos fundaram o Protect Young Eyes [Proteja os Olhos dos Jovens], um ministério para ajudar escolas e famílias a criarem políticas para uso de tecnologia que fossem seguras para crianças.

Stumbo disse que o foco na questão [da pornografia] esmoreceu um pouco desde então: “Quando olhamos para trás… acho que a igreja meio que deixou essa luta de lado”.

A apatia que se percebe por parte da igreja em relação à pornografia pode inadvertidamente reforçar outro mito comum: a pesquisa do Barna Group mostrou que 66% dos adultos acreditam que “com força de vontade suficiente, uma pessoa pode superar o vício em pornografia por conta própria”.

Como qualquer vício, no entanto, o primeiro passo para a recuperação é a pessoa admitir que tem um problema. Se quase dois terços dos cristãos acreditam que é possível assistir à pornografia regularmente e ainda assim levar uma vida saudável, esse primeiro passo pode ser o mais difícil.

A normalização moral do consumo de pornografia pode ter uma pequena vantagem: o CEO do Barna Group, David Kinnaman, disse que os entrevistados da pesquisa estão muito mais dispostos a serem abertos e honestos sobre seus hábitos pornográficos do que costumavam ser — uma tendência que ajuda os pesquisadores da área de ciências sociais a captarem a extensão do problema. Ele comparou essa abertura à crescente abertura dos millennials e da geração Z sobre suas lutas com a saúde mental.

“Esse tipo de coisa costumava ser mais difícil de perguntar”, disse Kinnaman. “É realmente notável como as pessoas são honestas [sobre esse assunto]… especialmente online.”

Kinnaman disse que espera que o estudo convença os pastores a tratar das lutas de suas congregações com a pornografia em todas as áreas do discipulado. Isso significa ensinar do púlpito uma visão bíblica da integridade sexual e promover uma verdadeira comunidade entre pequenos grupos, onde as pessoas possam encontrar uma alternativa aos “roteiros internos” que lhes permitem racionalizar seus pecados.

Mas sua preocupação é que o problema não vai embora tão cedo. Segundo Kinnaman, toda pesquisa leva os pesquisadores a começarem a fazer um brainstorming sobre as perguntas que farão da próxima vez, e esta pesquisa não é uma exceção.

“Se achamos que estamos vivendo na era da pornografia hoje”, disse ele, “espere só até a inteligência artificial [se estabelecer].”

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