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O pensamento evangélico sobre a Trindade costuma ser notavelmente revisionista

O teólogo Matthew Barrett diagnostica nosso afastamento de uma compreensão ortodoxa de Pai, Filho e Espírito Santo.

Christianity Today March 9, 2021
Illustration by Rick Szuecs / Source image: Envato

Em geral, os cristãos evangélicos americanos têm uma visão conservadora das Escrituras e da moralidade. De acordo com o teólogo Matthew Barrett, entretanto, suas afirmações mais básicas sobre Deus costumam ser notavelmente revisionistas.

Barrett, professor do Midwestern Baptist Theological Seminary e editor executivo da Credo Magazine, é o autor de Simply Trinity: The Unmanipulated Father, Son, and Spirit. O livro — uma continuação de sua obra de 2019, None Greater: The Undomesticated Attributes of God — faz duas coisas. Primeiro, mostra como uma boa parte da teologia evangélica sobre a Trindade se afastou da tradição cristã clássica. Em segundo lugar, recruta um verdadeiro “time dos sonhos” de professores adeptos de toda essa tradição para trazer os leitores de volta ao porto seguro da ortodoxia bíblica. O tom é acessível, mas as fontes são profundas.

Como o evangelicalismo se equivocou em sua compreensão da Trindade? Barrett apresenta um amplo leque, mas se concentra no desenvolvimento, na teologia recente, do que ele chama de “trinitarismo social”. Os proponentes dessa visão, que é mais uma postura comum do que uma escola monolítica, tendem a conceber a unidade de Deus como uma comunidade de pessoas. Barrett apresenta algumas de suas principais figuras, incluindo teólogos liberais, como Jürgen Moltmann e Leonardo Boff, e teólogos conservadores americanos, como Wayne Grudem e Bruce Ware.

A marca do trinitarismo social é a sua disposição para se apropriar das relações entre as pessoas da Trindade como modelo para vários projetos sociais. Para liberais como Moltmann e Boff, isso pode significar invocar um status igual para Pai, Filho e Espírito, a fim de promover uma visão igualitária da sociedade. Conservadores como Grudem e Ware às vezes apontam para supostas hierarquias dentro da Trindade — por exemplo, algo que eles chamam de “submissão eterna” do Filho ao Pai — como base para suas visões complementaristas sobre os papéis dos gêneros. (Muitos complementaristas discordam. Liam Goligher, pastor da Tenth Presbyterian Church, soou o alarme há vários anos, em uma postagem de blog na qual acusava Grudem e Ware de minar a unidade que existe entre Pai, Filho e Espírito.) A obra Simply Trinity fornece uma análise detalhada de como as tendências revisionistas em relação à teologia trinitária se estabeleceram no mundo aparentemente conservador do evangelicalismo americano.

Qual é o caminho de volta? Na segunda parte de seu livro, Barrett resgata os ensinamentos trinitários clássicos, abordando a relação entre eternidade e história, ao mesmo tempo em que afirma a unidade e a simplicidade de Deus. As doutrinas que ele aborda — a “geração eterna” do Filho, a “processão eterna” do Espírito e as “operações inseparáveis” do Deus triúno — podem parecer bastante elevadas, mas Barrett as explica com facilidade e clareza.

Entre esses capítulos, Barrett também oferece um único capítulo em que examina a afirmação de Grudem, Ware e outros de que o Filho é “eternamente subordinado” ao Pai. Ele mostra corretamente que as relações de origem entre Pai, Filho e Espírito afetam profundamente nosso entendimento da salvação.

O livro não é perfeito. Barrett nem sempre se aprofunda o suficiente ao abordar as raízes do revisionismo recente ou as glórias da compreensão cristã clássica da Trindade. E ele falha em situar o trabalho de reflexão sobre a Trindade no âmbito de questões mais amplas da formação espiritual cristã, o que restringe o foco do livro principalmente a questões de debate intelectual e interpretação bíblica.

Isso não corresponde exatamente ao estilo do pensamento cristão clássico. Considere o pai da igreja do século IV, Gregório de Nazianzo, por exemplo. Em suas Cinco Orações Teológicas, ele certamente aborda passagens da Bíblia sobre o Pai, o Filho e o Espírito — mas somente depois de refletir sobre a preparação espiritual necessária para o colóquio trinitário.

Em suas Confissões, Agostinho demonstra que Deus, conforme caracterizado nas Escrituras, é uma pessoa diferente de qualquer outra. Mas os trinitarismos sociais, de esquerda ou de direita, tendem a cometer o erro de fazerem falsas analogias entre Deus e outras pessoas. A menos que tratemos da raiz desse problema, continuaremos a ver sintomas de erros teológicos surgindo de quando em quando.

Ainda assim, a obra Simply Trinity percorre um bom caminho no sentido de identificar e eliminar algumas dessas tendências prejudiciais. Para qualquer um que tenha lido postagens confusas sobre a Trindade nos últimos anos, o livro o ajudará a recuperar seus rumos teológicos. E, para quem busca recuperar as riquezas de adorar a um Deus em três pessoas, Barrett provará ser um guia mais do que capaz.

Michael Allen é professor de Teologia Sistemática no Reformed Theological Seminary, em Orlando, Flórida. Ele é coeditor da obra The Oxford Handbook of Reformed Theology.

Traduzido por Maurício Zágari

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