Gerenciamento de tempo não existe

Talvez a produtividade não tenha para Deus a importância frenética que imaginei.

Christianity Today February 5, 2022
Image: Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Stas / Unsplash / Patrick Strattner / Getty

Eu costumava ser uma leitora perene de livros sobre gerenciamento de tempo. Depois que o mundo parou, em março de 2020, tirei o pijama para enfrentar o desafio de uma agenda praticamente em branco. Acreditei em todos os artigos que me diziam que aquele era o momento propício para limpar meus armários, organizar minha despensa, para fazer uma seleção das minhas fotos.

No início da pandemia, adorei ver minha garagem recém-organizada; eu me senti feliz por ter enfrentado montes de papelada que eu normalmente evitava. A produtividade é, evidentemente, uma fonte moderna de consolo existencial. Um bom dia é aquele em que você consegue fazer as coisas.

Neste novo ano, porém, não vou procurar um planner melhor. Nem vou procurar o melhor e mais novo aplicativo para produtividade. Pela primeira vez, não alimentarei ilusões de que uma nova técnica ou algum produto de consumo melhor ajudarão a domar a fera selvagem do tempo.

O gerenciamento de tempo é algo ilusório. Embora tempo possa ser dinheiro, como já dizia Benjamin Franklin, não podemos aumentar nosso portfólio desse bem. Claro, podemos tentar maximizar o que rendem os minutos, mas, como a própria pandemia continua a nos ensinar, o amanhã nunca é garantido. Em vez [de nos preocupar com o tempo], devemos administrar nossa atenção.

Apesar de ter renovado todos os meus esforços de produtividade no início da pandemia, nunca consegui silenciar as batidas do meu coração ansioso. Eu tinha tempo de sobra, tempo produtivo — e ainda assim sofria de ansiedade em relação ao tempo.

Como cristã, sei que o tempo é importante para Deus, mas estou começando a achar que não tem para ele a importância frenética que imaginei. Por certo é verdade que apenas recentemente chegamos a esse concepção de tempo como algo mensurável e instrumental, como algo a ser usado ou desperdiçado, economizado ou gasto. Contudo, mesmo antes da invenção do relógio — em algum mosteiro medieval — há anos os seres humanos já eram criaturas ansiosas em relação ao tempo.

Como David Rooney escreve em About Time, alguns anos depois que o primeiro relógio de sol foi instalado em Roma, em 263 a.C., um personagem de uma peça exclamou: “Maldito seja o homem que primeiro descobriu as horas e — sim, o que primeiro instalou aqui um relógio de sol, que fatiou meu dia em pedaços, pobre de mim!”

O gerenciamento de tempo não pode resolver a crise da mortalidade, essa sensação agourenta de que os dias e os anos são curtos. Por certo que desenvolvi algumas habilidades úteis nos muitos livros de gerenciamento de tempo que li: aprendi a planejar com antecedência, a dividir grande projetos em tarefas menores, a eliminar sem dó nem piedade o que não é essencial. Mas, como Melissa Gregg argumenta em Counterproductive, é bem provável que também seja verdade que eu poderia ter lido somente um bom livro sobre gerenciamento de tempo, se levarmos em conta quão poucas ideias novas foram propostas desde o início do século 20.

O que parece muito mais importante do que disciplinas para gerenciamento do tempo são disciplinas para gerenciamento da atenção. Os minutos não são nossos para que os multipliquemos. Nós os recebemos como um presente. O que podemos fazer, no entanto, é cultivar a capacidade de ocupar esses minutos com atenção ou com presença não diluída e não fragmentada. Simone Weil notou os ganhos de atenção em sua vida espiritual, quando começou a recitar a oração do Senhor em grego, todos os dias. Sempre que sua atenção divagava, ela começava de novo. “Foi durante uma dessas recitações que […] o próprio Cristo desceu e tomou posse de mim”.

Muitos têm notado que vivemos hoje em uma economia da atenção, o que significa dizer que hoje o mais valioso são os segundos, os minutos que passamos online — tempo esse que é vendido para alguém com fins lucrativos. Quando o Facebook abriu seu capital, em 2012, por exemplo, eles não tinham um plano claramente articulado para gerar receita, mas sabiam que eram donos do tempo do mundo.

Matthew Crawford observa, em The World Beyond Your Head, que um desafio da vida moderna é que a capacidade de direcionar nossa atenção nem sempre nos pertence. Quer estejamos sentados em um aeroporto, na fila do supermercado ou folheando as manchetes do dia — há sempre alguém tocando seu megafone, agressivamente e alto, implorando para comprarmos, assinarmos, acreditarmos em algo. A atenção é um recurso disputado e, assim como uma cidade sem muros, será invadida, a menos que construamos muros, coloquemos neles sentinelas e a fortaleçamos contra os ataques.

As condições de hoje dificultam esses cuidados, principalmente com um smartphone zumbindo o tempo todo no bolso. Mas, assim como a ansiedade em relação ao tempo é coisa antiga, a disputa por atenção também o é. Foi a atenção que o apóstolo Paulo aconselhou os filipenses a cultivarem: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma excelência há, se algum louvor existe, pensem nestas coisas” (Filipenses 4.8, ESV, ênfase acrescentada).

Paulo estava dizendo: Sua atenção é valiosa. Use-a para o bem. Quando Paulo instruiu os coríntios a “levarem cativo todo pensamento” (2Coríntios 10.5), não acho que ele acreditava que a atenção fosse meramente uma faculdade racional. Acho que ele estava apontando, de forma mais ampla, na direção de um exercitar moral da atenção de amar o bem e nos habituar a ele: “O que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim — essas coisas pratiquem” (Filipenses 4.9).

Crawford argumenta que atenção requer submissão, um entendimento que parece ser peculiarmente cristão. Ele sabe que a palavra é chocante, uma vez que a autonomia é muitas vezes considerada o bem maior da vida moderna. A atenção requer “submissão a coisas que têm seus próprios modos obstinados”, escreve ele, “seja a coisa um instrumento musical, um jardim ou a construção de uma ponte”. Para Crawford, a atenção nunca é algo fechado em si mesmo. Não é um olhar voltado para si mesmo. É uma forma de devoção ao outro. A atenção requer não apenas que olhemos para cima (dos nossos celulares), mas que olhemos em volta — para além de nós mesmos.

Hoje estou mais interessada em projetos que se preocupam com o cultivo da atenção — livros como The Common Rule, de Justin Whitmel Earley, que estamos estudando em nosso pequeno grupo da igreja. O livro de Earley não se dedica à administração do tempo. Em vez disso, sugere ritmos regulares — de tempo — que nos chamem à submissão ao nosso Criador, aquele a quem pertence todo o tempo: hábitos diários, como orar de joelhos, praticar o ascetismo digital e alguns hábitos semanais, como tempo sabático e jejum.

Essa estrutura — de hábitos e de uma regra de vida — é monástica. É um projeto de atenção. No entanto, não é simplesmente um exercício individual; ele é coletivo. Isso levanta a questão do que as igrejas podem fazer para ajudar seus congregados a cultivarem a faculdade da atenção. No contexto da minha própria igreja, eu adoraria que nos tornássemos menos dependentes de celulares para assuntos operacionais nas manhãs de domingo, possibilitando assim, especialmente para os envolvidos, que deixassem seus celulares em casa, ou pelo menos silenciados e efetivamente ignorados. Eu adoraria ver esse nosso esforço coletivo para pensar com mais cuidado sobre nossos hábitos e nossas práticas digitais ao longo da semana — porque a atenção parece uma habilidade analógica.

Acho que atenção é o que o irmão Lawrence aprendeu a praticar na cozinha do mosteiro, enquanto lavava pratos. Ele não se preocupava com o tempo e seu transcorrer, mas considerava que todo o tempo era valioso, na medida em que era ocupado com atenção devotada:

O tempo de fazer negócios não difere para mim do tempo de oração; no barulho e na algazarra da minha cozinha, enquanto várias pessoas pedem coisas diferentes ao mesmo tempo, experimento Deus com tanta tranquilidade quanto se estivesse de joelhos no santíssimo sacramento.

O marketing do gerenciamento de tempo aproveita-se do pavor existencial: do fato de que a vida é curta, de que somos mortais. Suas dicas e seus truques podem nos ajudar a administrar alguns aspectos complicados da vida e do trabalho contemporâneos, mas não nos ensinarão, como disse o irmão Lawrence, “a fazer todas as coisas por amor a Deus”. Para isso, precisaremos de prática na atenção.

Jen Pollock Michel é escritora, apresentadora de podcast e palestrante em Toronto. Ela é autora de quatro livros e está trabalhando no quinto: In good time: 8 habits for reimagining productivity, resisting hurry, and practicing peace (Baker Books, 2022).

Traduzido por Mariana Albuquerque.

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A violência doméstica afeta milhares de mulheres brasileiras. A igreja está contribuindo para piorar o problema?

Apesar de suas boas intenções, pastores e líderes da igreja não estão ajudando as vítimas a encontrarem segurança.

Christianity Today January 31, 2022
Illustration by Rick Szuecs / Source images: Anna Shvets / Pexels / Wikimedia Commons

No segundo semestre do ano passado, anunciamos um concurso de ensaios escritos em língua portuguesa por cristãos brasileiros. Esses ensaios foram meticulosamente revisados por nossas equipes editoriais de idiomas e, em seguida, avaliados anonimamente por uma equipe de juízes. Hoje, estamos empolgados em compartilhar o ensaio vencedor com nossos públicos de línguas portuguesa e inglesa. Para saber mais sobre como escrever para nós, envie-nos um e-mail para christianitytodaypt@christianitytoday.com.

Gostaríamos de expressar nossos sinceros agradecimentos aos juízes participantes da avaliação:

• Aldair Queiroz, Brasil: pastor/Igreja Missão Paixão e Compaixão, Mestre em teologia.
• Rômulo Monteiro, Brasil: pastor/Primeira Igreja Batista de Aquiraz, diretor do Instituto de Teologia Semear,teólogo e escritor.
• Tiago Rossi, Brasil: pós-graduado em teologia, PhD em relações internacionais/Kuyperian political thinking.
• Carlos Marques, Brazil: pastor/Igreja Batista, teólogo e podcaster

Gerente de mídia global: Morgan Lee, Havaí, Estados Unidos
Diretora editorial em língua portuguesa: Marisa Lopes, Brasil


Coordenadora de projetos: Mariana Albuquerque, Brasil

A maneira como trata seus membros mais vulneráveis revela o caráter de uma igreja. Os pobres, os exilados, as viúvas e os órfãos constituem, segundo o filósofo americano Nicholas Wolterstorff, o “quarteto da vulnerabilidade”. A meu ver, não seria exagero incluir, entre as viúvas, as brasileiras vítimas de violência doméstica, mulheres invisíveis que têm clamado por socorro, mas cujo grito ainda encontra pouca ressonância.

O panorama da violência doméstica no Brasil

O Brasil é um lugar perigoso para as mulheres. Em 2018, a cada duas horas, uma mulher foi assassinada, segundo dados do Atlas da violência. A cada dois minutos, houve um espancamento, e todos os dias, uma média de 180 estupros. Esses indicadores colocam o país entre os campeões globais de agressão contra mulheres, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O pior é que os números são subnotificados, uma vez que,de acordo com o Anuário, apenas 40% das vítimas registram a ocorrência.

O Atlas da Violência 2020 mostra ainda que, enquanto os indicadores gerais de violência no Brasil melhoraram ao longo da última década, as mortes violentas de mulheres aumentaram 4,2%, entre 2008 e 2018. Outra pesquisa — realizada pelo Datafolha entre os dias 05 e 06 de dezembro de 2019 — mostra que as igrejas evangélicas brasileiras são compostas em sua maioria (59%) por mulheres negras e pobres. Esse grupo, que representa justamente o público majoritário nos bancos das igrejas evangélicas brasileiras, foi o mais atingido: a taxa de homicídio entre as mulheres negras aumentou 12,4% no período, enquanto caía 11,7% entre as não negras, segundo dados do Atlas da violência. Enquanto no Brasil 54% da população é negra, um levantamento feito pelo IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — divulgado no fim de 2021, também mostra que a média de ganhos de pretos e pardos equivale a menos de dois terços da renda dos brancos, evidenciando a desigualdade e maior vulnerabilidade dessa população.

A violência doméstica nos lares

As mulheres evangélicas aparecem em destaque nesse quadro dramático. A pesquisadora Valéria Vilhena entrevistou muitas dessas vítimas de agressão para sua tese de mestrado, que mais tarde virou livro: Uma igreja sem voz: análise de gênero da violência doméstica entre mulheres evangélicas. Sua pesquisa revelou que 40% dessas mulheres entrevistadas eram evangélicas. Ela analisou os relatos de mulheres acolhidas pela Casa Sofia, um centro de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica, na zona sul de São Paulo, a maior cidade brasileira. Seu estudo viralizou, tornando-se referência nesse tema.

Sua pesquisa revela que as igrejas e suas lideranças, inadvertidamente, têm colaborado para perpetuar esse trágico cenário. Ao buscarem o pastor de sua comunidade local para aconselhamento e apoio, na esperança de escapar de uma realidade de agressões físicas e psicológicas, muitas mulheres são recebidas, invariavelmente, com o mesmo discurso: “Irmã, você deve orar mais, jejuar, clamar a Deus pela conversão de seu esposo”. Eles citam 1Pedro 3.1-2: “Se ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês”.

Esse tipo de atitude, que trata uma questão penal com ferramentas espirituais, coloca lenha na fogueira da violência contra a mulher evangélica brasileira. Desta maneira, muitos pastores, ainda que sem perceber, têm contribuído para a perpetuação da violência doméstica nos lares cristãos, que resulta, em alguns casos extremos, no assassinato das mulheres envolvidas. Poucos deles entendem o impacto negativo e as consequências que sua teologia tem para as sobreviventes.

Essas nossas irmãs de fé são vitimizadas duplamente: pela violência em casa e por uma leitura legalista das Escrituras, que as mantém aprisionadas, pedindo socorro e esperando somente em Deus por livramento, enquanto essa ajuda poderia vir de seus próprios pastores.

Em minha pesquisa realizada para escrever o livro O grito de Eva, lançado pela Thomas Nelson Brasil em 2021, entrevistei algumas dessas mulheres sofredoras, entrando em contato pela primeira vez com um universo repleto de dor e ressentimento. Muitas tiveram a juventude destruída pelo convívio com homens impiedosos, alguns inclusive empoderados pelas lideranças da igreja.

Uma questão complexa e desafiadora

“Por que essas mulheres ficam e se submetem a isso?”, eu me perguntei muitas vezes após as entrevistas. Atrás de uma resposta, procurei psicólogos com experiência em atender cristãos evangélicos, como a analista Dora Eli Martin Freitas, de corrente junguiana. Segundo Dora, essas mulheres muitas vezes reproduzem padrões familiares e já vêm de um contexto de violência:

Em alguns casos, é a mãe dominadora e cruel; em outros, o pai autoritário ou alcoólatra e opressor. O filho ou aprende a ferir com as mesmas armas com que foi ferido, tornando-se mau e até perverso, ou se transforma numa pessoa passiva, amedrontada. Os homens que espancam suas mulheres também trazem esse histórico.

O comportamento subalterno da mãe em relação ao pai, ou o contrário, pode resultar em traumas nos filhos, que se tornam ou muito agressivos ou excessivamente passivos. Ainda segundo Dora Eli, essas mulheres mais passivas, que não conseguem externar seus desejos, são propensas a somatizações, desde uma enxaqueca que nunca se cura até um câncer. É a forma que elas encontram de suportar. Elas não conseguem levar uma vida autêntica, nem transgredir, então acabam cometendo uma traição a si mesmas.Transgredir, neste sentido junguiano, conforme explica Dora, é a pessoa deixar de cumprir a expectativa dos outros sobre si mesma. É quando a pessoa enxerga o padrão a que foi submetida e tem a coragem de dizer: “Eu não sou e não serei esta pessoa”. É ter a ousadia de romper com essa expectativa.

Além dessas questões de fundo psicológico, a dependência financeira do agressor é outro motivo importante para que essas mulheres permaneçam caladas. O medo de seus parceiros é a maior razão pela qual as mulheres não os denunciam, de acordo com uma pesquisa nacional do Instituto DataSenado, realizada com 2.400 mulheres. A segunda razão é a falta de autonomia financeira.

Submissão

Como cristãos, todos somos chamados a manifestar uma disposição de servir e de nos sujeitar ao próximo, por temor a Cristo (Efésios 5.21). Essa convocação geral também se aplica especificamente às relações conjugais. O desafio é evitar que a obediência a esse princípio nos transforme em vítimas numa relação desequilibrada, em que predomina o exercício do domínio de um cônjuge sobre o outro.

Após esse princípio geral, o texto de Efésios 5 prossegue, descrevendo em detalhes o que espera da dinâmica específica para o relacionamento conjugal. “Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor” (Efésios 5.22). E acrescenta, logo em seguida: “Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Efésios 5.25). Portanto, o texto mostra que à submissão da mulher deve corresponder o amor sacrificial do marido por ela. Assim, segundo o conceito bíblico de submissão, a mulher não deve se submeter à violência do marido, mas, sim, ao seu amor.

A psicologia também nos ajuda a entender melhor o conceito bíblico de submissão.“Eu entendo”, afirma Dora, “que servir o outro não é se sujeitar ao poder do outro. Trata-se de demonstrar a disponibilidade de ajudar o outro, independentemente de quem seja este outro. Mas não é sujeitar-se ao papel que ele representa”.“Muitas vezes esposo e esposa são apenas papéis pré-estabelecidos, cheios de estereótipos, e para cumprir esses papéis, as pessoas precisam virar ‘personas’, ou seja, atores, distanciando-se do seu eu mais profundo. Transgredir, neste caso, é dizer — não aceito viver como um ator.”

Muitos pastores apenas reforçam os estereótipos femininos, limitando as mulheres às caixinhas da religião ou mesmo da cultura, na visão de Dora Eli. É como aquele ditado alemão, que reserva às mulheres os três “k”: kinder,küche und kirche, ou seja, filhos, cozinha e igreja.

A compreensão do conceito bíblico de submissão também recebe ajuda do universo jurídico. A advogada Priscila Diacov trabalha como mediadora de conflitos familiares em São Paulo e tem contribuído para levar informação às igrejas. Em suas palestras, ela ensina sobre as diferentes formas de abuso e mostra que a atitude das mulheres evangélicas, em comparação com a das não evangélicas em geral, está relacionada ao ensinamento da submissão ao marido a qualquer preço, à obrigação de ter que perdoar o parceiro por seus atos violentos, à culpa por prejudicar sua reputação dentro da comunidade, caso venha a denunciá-lo, e ao medo de ser julgada por estar indo contra a Palavra de Deus. “Elas também se sentem culpadas por não orarem o suficiente para que o cônjuge mude de comportamento e, no caso de pedirem o divórcio, julgam-se as responsáveis por destruir a família.”

Com base nesse conceito equivocado de submissão, os pastores e líderes muitas vezes estão ajudando a formar e a disseminar modelos mentais distorcidos e difíceis de serem mudados. Mas pouco progresso pode ser feito, se não confrontarmos essas convicções e não trouxermos à luz suas distorções das Escrituras. Segundo a visão de Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon, organização filantrópica com diversos programas de combate à violência contra a mulher: “Na essência da cultura judaico-cristã está a ideia da dignidade da pessoa humana criada, homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus. Este é o padrão que deve ser ensinado.”

O desafio da mudança

A violência contra a mulher não é um problema só das mulheres, mas de todas as esferas sociais: de famílias, igrejas, empresas e das autoridades públicas constituídas. Todos podemos desempenhar um papel de conscientização em nossas áreas de influência. Segundo Daniela Grelin, da mesma maneira que não podemos deixar que apenas os negros lutem pelo fim do racismo, ou relegar apenas aos judeus lutarem contra o antissemitismo, assim também não é possível relegar somente à mulher a defesa desta causa. “É necessário engajar os homens nesta mudança.”

Iniciar um trabalho de acolhimento a vítimas de agressão dentro das igrejas depende de um forte engajamento da liderança. “É um trabalho complexo, de muitas mãos, e depende de capacitação de pastores e líderes eclesiais,” diz Priscila Diacov.

Infelizmente, porém, a questão do uso de violência doméstica por parte de homens cristãos não faz parte dos assuntos que figuram nas agendas dos pastores. Eles simplesmente ignoram essa realidade ou atribuem às mulheres a responsabilidade de lidar com o problema. Muitos desconhecem as diferentes formas de abuso, estão mal informados sobre questões de gênero e violência infantil, por exemplo.

Com apoio de voluntários e membros das áreas de saúde mental, direito ou assistência social, os pastores e demais lideranças da igreja local poderiam montar pequenos espaços seguros de escuta e acolhimento. “Importa que essas mulheres sejam escutadas, acolhidas e que recebam orientação adequada para preservação da vida e de sua dignidade,” acrescenta Priscila Diacov.

Mas os agressores também precisam de ajuda. Homens maduros e capacitados podem formar grupos de conversa focados em escuta e mentoria, pois muitos destes agressores trazem feridas emocionais profundas,fruto dos abusos sofridos por eles na infância.

A violência doméstica, infelizmente, é um problema social gravíssimo e generalizado,desafiador tanto para países menos desenvolvidos da América Latina como para países mais ricos do Hemisfério Norte. Num país como o Brasil, no qual a pandemia aprofundou o desemprego, a pobreza e a desigualdade, a violência contra a mulher evangélica é mais um item em uma agenda social desafiadora.

A igreja de Cristo, em sua multiforme sabedoria e discernimento, tem, sim, força moral e conteúdos capazes de reduzir esses terríveis indicadores, tornando-se parte da solução, e não mais do problema. Afinal, todos recebemos, por meio de Cristo, o ministério da reconciliação (2Coríntios 5.18). Mas, para isso, é essencial que os ensinos que tratam da submissão feminina sejam íntegros, e convoquem não somente as esposas a terem uma atitude de companheirismo amoroso e de respeito para com seus maridos, mas também os maridos a amarem suas mulheres como Cristo amou a igreja, e por ela se sacrificou.

Marília de Camargo Cesar nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.

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Culture

Os novos cânticos de adoração duram apenas alguns anos

Estudo detecta uma rotatividade cada vez maior para as músicas cantadas na igreja.

Christianity Today January 24, 2022
Courtesy of Sandals Church

Igrejas em todos os Estados Unidos e Canadá cantaram “O fogo do refinador /o único desejo do meu coração/é ser santo” por uma década inteira, depois que o pastor de adoração da Vineyard, Brian Doerksen, lançou esse cântico, em 1990.

Overcome ”, escrito em 2007 por Jon Egan, líder de louvor de uma megaigreja, era tão popular quanto o primeiro cântico. Mas as igrejas norte-americanas só cantaram seus versos, “digno de honra e glória/digno de todo o nosso louvor/você venceu”, por cerca de três anos.

Os cânticos de adoração já não duram mais tanto quanto costumavam. A duração média de uma música largamente cantada é cerca de um terço do que era há 30 anos, de acordo com um estudo que será publicado na revista Worship Leader, em janeiro.

Para o estudo, Mike Tapper, professor de religião da Southern Wesleyan University, reuniu dois analistas de dados e dois ministros de louvor para analisar décadas de registros da Christian Copyright Licensing International (CCLI). A organização licenciadora fornece assessoria em direitos autorais para cerca de 160 mil igrejas na América do Norte e recebe relatórios periódicos sobre as músicas de louvor cantadas nessas igrejas, acompanhando cerca de 10 mil congregações ao mesmo tempo.

Olhando para as principais músicas [cantadas] nessas igrejas, de 1988 a 2020, os pesquisadores foram capazes de identificar um ciclo de vida comum para as músicas de louvor populares, segundo disse Tapper a CT. Uma música normalmente desponta nas paradas, sobe, atinge o pico e depois desaparece, conforme as equipes de louvor a retiram de suas listas de músicas cantadas no domingo de manhã.

No entanto, o arco de popularidade de um cântico de adoração, em média, diminuiu drasticamente de 10 a 12 anos para meros 3 ou 4. Os pesquisadores não sabem o porquê.

Marc Jolicoeur, que trabalhou no estudo, disse que os dados confirmam o que muitos ministros de louvor sentiam intuitivamente. Eles correspondem à sua experiência como ministro de louvor wesleyano, em New Brunswick, Canadá.

“Recebi três e-mails de pessoas da minha igreja esta semana, que diziam: ‘Você viu essa música nova, pastor?’”, conta ele. “O pastor da minha igreja não está dizendo: ‘Preciso do melhor e mais recente cântico de adoração esta semana’, mas, ao mesmo tempo, os cânticos parecem [ficar] obsoletos mais rapidamente do que antes.”

O aumento de velocidade da rotatividade das músicas parece estar de alguma maneira conectado às mudanças nos estilos musicais, disse Jolicoeur. O modelo perene de verso-refrão-verso para as canções cantadas nas igrejas deu lugar a músicas como Elevation Worship ou o lançamento de 2021 da Maverick City, “Jireh”, que tem versos que soam como refrões, seguidos por refrões de verdade, seguidos por várias pontes — três ou mais, dependendo de quem está tocando. “Jireh” é “um rolo compressor em forma de música”, de acordo com Jolicoeur, mas também é um exemplo das inovações musicais que envelhecem rapidamente.

“As músicas sempre mudaram”, disse Jolicoeur. “Mas queremos que as músicas mudem mais rápido agora. É a cultura. São as águas em que estamos nadando.”

Estudiosos da música cristã, entretanto, dizem que provavelmente não são as canções em si que estão provocando a mudança, mas a maneira como a música é distribuída.

Nos anos 90, os líderes de louvor conheciam as novas canções em conferências. Eles, então, ensinavam uma música para suas congregações, tocando-a por três semanas seguidas, pulando uma semana, tocando-a novamente no domingo seguinte e, em seguida, colocando-a em uma rotatividade regular. Ela podia permanecer em rotatividade por uma dúzia de anos.

Hoje, os líderes de louvor conhecem as músicas novas quando são lançadas no Spotify, Apple Music, Amazon, iTunes, Pandora e YouTube. Muitos cristãos terão ouvido uma nova música por semanas, via stream, antes de ouvi-la na igreja. E todo o processo caminha a uma velocidade diferente.

“Tudo está ligado aos mecanismos de como as pessoas estão descobrindo as músicas e como os padrões de consumo estão mudando”, disse Leah Payne, professora de teologia do Seminário de Portland, que está escrevendo uma história da música cristã contemporânea. “Trata-se de uma adoração que é sensível aos padrões de consumo.”

O novo modelo de distribuição é organizado em torno do “lançamento do álbum” como um evento, disse Adam Perez, pós-doutor em estudos litúrgicos na Duke Divinity School. Isso significa que todos — do compositor ao líder de louvor e aos fãs que vão à igreja — estão focados nas próximas novidades.

Esse modelo enfraquece o valor que tinham, no passado, um repertório musical comum e uma coletânea comum de canções. Mas também ajuda muitas igrejas a cumprirem sua missão de alcançar e incluir novas pessoas.

Para muitas congregações, é importante falar para o momento presente, segundo Perez. Os líderes de louvor não estão preocupados se uma música que tem boa aceitação hoje também será relevante em 2033. Ela só precisa se conectar com os dias de hoje. Isso lhes dá mais liberdade e os incentiva a abraçar novos estilos, mantendo-os atentos a canções que atrairão novas pessoas.

Mas nem todo mundo gosta disso. Algumas igrejas, evidentemente, optam por não usar cânticos de louvor contemporâneos. E mesmo aqueles que cantam as músicas de contemporâneas às vezes ainda sentem que essa rápida rotatividade pode criar uma sensação de que nada é sólido, de que nada dura, diz Nathan Shaver, um compositor e músico cristão que hoje pastoreia uma igreja em Indianápolis. A constante mudança de estilos e de modas pode fazer com que as pessoas sintam que a fé em si é uma moda passageira.

“Há um motivo para algumas pessoas estarem redescobrindo e cantando os salmos”, disse ele. “Sabe algo que é familiar, que tem história, que não mudou nem vai mudar amanhã? Eu me pergunto se as pessoas não sentem necessidade disso.”

No final das contas, Shaver decidiu que precisava ignorar as pressões do mercado ao escrever sua música. E tentou abordá-la como arte, como paixão.

“Você tem de escrever música porque ama. É daí que vêm os melhores cânticos de adoração ”, diz ele.

Mark Nicholas concorda. Vice-presidente de lançamentos da Integrity Music, Nicholas diz que os artistas podem cair na armadilha de perseguir um sucesso e passar todo o tempo analisando temas e tendências populares, em vez de se concentrar no que Deus deseja que escrevam.

“A luta do nosso negócio — e a luta de qualquer negócio, na verdade — é manter essa tensão entre nossos ideais e a realidade da economia”, disse Nicholas. “Você pode sentir quando uma música está em construção. Quando são escritas para atender a uma necessidade na vida de alguém, essas músicas carregam um algo mais. ”

Esse algo pode ser cantado nas igrejas por 10 anos ou por apenas uns poucos. Mas isso realmente não importa, disse Nicholas, contanto que a música certa se conecte às pessoas no momento certo.

Ele se lembrou da época em que colocou seu filho para dormir pela primeira vez, depois de adotá-lo aos quatro anos. Uma frase do hino “Grande é a tua fidelidade” me veio à mente: ‘Bênçãos todas minhas, com dez mil ao lado’”.

Ele não conseguia se lembrar da última vez que cantara isso, mas não importava. Aquele trecho veio a ele quando precisou.

Ele espera que as músicas que a Integrity Music lança para o mundo tenham esse tipo de impacto, criando o tipo de momento em que o fragmento de uma linha abre um coração para Deus.

No ano passado, quando a COVID-19 infectou milhares e, depois, centenas de milhares morreram, as igrejas em toda a América do Norte cantaram Way Maker: “fazedor de caminhos, fazedor de milagres, guardião de promessas, luz nas trevas, meu Deus.” A música foi divulgada pela Integrity, que fez um acordo com o autor da música, Sinach, um líder de louvor nigeriano, para tê-la gravada por Michael W. Smith e a banda Leeland. A música apareceu na lista da CCLI, subiu, e por um tempo ocupou o primeiro lugar das paradas.

Pode não estar lá no próximo ano. Até lá as igrejas podem não mais precisar dessa música.

Mas Nicholas acha que ainda terá importância. “Músicas que nos acompanham em certos momentos vão ficar conosco, mesmo que desapareçam um pouco mais rápido”, disse ele. “A música ‘Way Maker’ significará algo para as pessoas até seu leito de morte, porque as ajudou a atravessar um período difícil.”

Quer as igrejas cantem uma música por um ano ou por 10 mil, isso é tudo que se pode pedir de um cântico de adoração.

Daniel Silliman é editor de notícias da Christianity Today.

Traduzido por Mariana Albuquerque.

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Books

O cosmo está mais povoado do que você pensa

Como uma oração antiga e um bebê recém-nascido mudaram minha perspectiva sobre os anjos.

Christianity Today January 24, 2022
Image: Illustration by Jared Boggess / Source Images: WikiMedia Commons / Laureen March / Getty

Por cerca de quinze anos, eu esqueci que anjos existiam.

Prayer in the Night: For Those Who Work or Watch or Weep

Prayer in the Night: For Those Who Work or Watch or Weep

IVP

208 pages

$12.57

Não que eu tivesse decidido que não acreditava mais neles. Simplesmente eu não pensava sobre eles e, se pensava, era um pensamento passageiro sobre o quanto é cafona a forma como eles são retratados.

Eu redescobri os anjos ao colocar um bebê para dormir à noite.

Na época em que minha primeira filha tinha acabado de nascer, notei, certa noite, para minha surpresa, que sem perceber eu tinha criado o hábito de pedir para Deus enviar seus anjos para protegê-la.

Naquele tempo, eu trabalhava na Vanderbilt University e costumava frequentar um café/livraria grego ortodoxo, que ficava perto do campus e se chamava Alektor Café. Eu amava a beleza daquele ambiente sereno, seus livros antigos e seu chili vegetariano. Ali conheci o Padre Parthenios, um padre antioquino, e sua esposa (conhecida por todos simplesmente como “presbítera” ou “a esposa do padre”), que eram os donos do local. Uma tarde, no fim da minha gravidez, a presbítera me entregou a imagem de um anjo e me disse que era para o meu bebê. Eu agradeci sua gentileza, mas não fiquei muito tocada espiritualmente. Eu sou protestante, afinal. Naquela época, eu não nutria um ceticismo muito forte em relaçã a imagens ou anjos, mas também não sentia uma profunda conexão com eles. Ainda assim, preguei a pequena imagem de madeira na parede do quarto da minha filha.

Meses depois, enquanto orava por minha filha, antes de colocá-la para dormir, eu apontei para a imagem e pedi que os anjos ficassem por perto e a protegessem. Não sei o que mudou na minha mente ou no meu coração. Minha única explicação é que a enorme responsabilidade — e o amor e a vulnerabilidade — advindos da maternidade abriram meu coração para pedir ajuda onde quer que eu pudesse encontrá-la.

A maternidade trouxe um novo nível de ansiedade. Eu tinha uma forte sensação da pequenez e da fragilidade da minha filha neste imenso cosmo, e sabia que nem mesmo toda paixão do meu amor maternal seria suficiente para protegê-la. Eu era pequena e frágil também. Contudo, em nossa casa comum, igual a tantas outras, na vasta escuridão da noite, eu acreditei que não estava sozinha.

Coisas estranhas

O Livro de Oração Comum contém várias orações para o Ofício de Completas, nome dado à tradição das orações noturnas da igreja [anglicana]. Uma delas inclui essa linha: “Manda que teus anjos guardem os que dormem”. Esta oração das Completas nos desafia a acreditar em um cosmo povoado.

Como filhos do Iluminismo ocidental, esvaziamos o cosmo da vida sobrenatural, tão certamente quanto o homem esvaziou a Costa do Marfim de marfim. Nosso pensamento padrão hoje, ainda que inconscientemente, é imaginar o cosmos como um oceano vazio no qual estamos sozinhos, à deriva. Ele não está cheio de encanto, não está repleto de mistérios e certamente não está povoado de anjos.

Mas nem sempre foi assim. A igreja, ao longo da história, imaginou um universo cheinho de anjos, e antigos líderes cristãos falavam bastante sobre anjos — sinceramente, bem mais até do que eu gostaria. Tomás de Aquino os chamava de “criaturas intelectuais” ou “criaturas incorpóreas”. Dionísio, o Areopagita, no século quinto, escreveu: “os anjos amontam a milhares de milhares, a dez milhares de dez milhares […] tão numerosos são os benditos exércitos de seres transcendentes inteligentes que ultrapassam o campo frágil e limitado de nossos números físicos.” Hilário de Poitiers escreveu que “tudo que parece vazio está cheio de anjos de Deus e não há espaço que não seja habitado por eles, à medida que ministram.”

O que se pressupôs por séculos — que o universo está fervilhante de vida divina — é algo em que preciso fazer um esforço para acreditar. Contudo, a minha ambiguidade sobre os anjos não se deve à razão. Ela vem de um déficit da minha imaginação, imaginação esta moldada por uma visão desencantada do mundo — a visão do cosmo como um oceano vazio.

Admito que acreditar no sobrenatural pode ser um pouco embaraçoso nos círculos urbanos que frequento. Anjos? Sério que você acredita nisso? Anjos como aquelas estatuetas bregas que lotam as estantes da sua tia? Não que eu rejeitasse tanto assim a crença em anjos, mas o fato é que eles foram extirpados da realidade. Tornaram-se algo ridículo, uma paródia sentimental.

Nós, cristãos, podemos ser tentados a transformar nossa fé em algo carente de encanto. Tentamos inflá-la de respeitabilidade. Mas o fato é que ainda cremos em muitas coisas estranhas. Se não acatarmos a ideia desse cosmo encantado — dessas coisas estranhas — perderemos a plenitude da realidade, a plenitude de Deus, e nunca abraçaremos por completo o mistério de nossa própria vida. Para tolerar o mistério, devemos aprender a surfar nas ondas fervilhantes do encantamento.

A porta para o sobrenatural

A noite é um período em que ouvimos os sussurros desse cosmo povoado e imaginamos essas realidades espirituais ocultas. A nossa imaginação corre solta por muitas possibilidades — toda cultura na face da terra está cheia de histórias de fantasmas e de outros espíritos que aparecem à noite. A tradição das Completas, ou seja, da oração noturna pela proteção dos anjos, nos chama de volta para o sobrenatural. Nela, esbarramos na incômoda realidade de um universo que vai além daquilo que podemos ver, medir ou controlar.

A própria oração, sob qualquer forma, nos desafia a interagir com um mundo que está além do material, um mundo repleto de mais mistérios do que podemos falar nos círculos urbanos. Em certo sentido, a oração é algo inteiramente corriqueiro, ordinário. Ela é comum e cotidiana. E, no entanto, é uma porta para a realidade sobrenatural. Por mais que alguém embeleze a oração com um momento de silêncio ou que a envolva com palavras escritas e belas, ainda assim, em uma cultura que imagina o mundo em apenas três dimensões, a oração é inevitável e benditamente indigna.

Quando me tornei pastora da minha igreja local, fenômenos sobrenaturais se tornaram inevitáveis. É comum que os membros da igreja peçam ajuda a um dos pastores por causa de algum encontro espiritual inexplicável. E não são só as tias carolas. Médicos, professores, empreendedores, pessoas que aparentemente são inteligentes, bem-ajustadas e normais, perguntam se poderíamos talvez orar nos seus lares, porque pensam ter visto um demônio ou tido outra experiência inexplicável. Com o passar do tempo, os pastores aprendem a lidar com o sobrenatural como os encanadores lidam com um cano entupido. São ossos do ofício. Todo pastor mais velho que eu conheço tem suas histórias para contar.

Entretanto, não foi ser pastora nem foi qualquer experiência estranha com o sobrenatural que me levou a crer mais profundamente no sobrenatural. Em última instância, foi a oração.

A oração expande a nossa imaginação sobre a natureza da realidade. Ela muitas vezes antecede a crença. A maioria das visões populares sobre a oração entendem isso de trás para frente. Pensamos na oração mais como uma forma de autoexpressão — uma maneira de colocar em palavras nossa vida interior. Segundo esse jeito de pensar, começamos com crenças e sentimentos sobre Deus e o mundo e, por causa disso, aprendemos a orar. Mas a oração, na verdade, molda a nossa vida interior. E, se fizermos as orações que recebemos, independentemente de como nos sentimos sobre elas ou sobre Deus naquele momento, às vezes, descobriremos, para nossa surpresa, que elas nos ensinam como crer.

Isso vale especialmente para tempos de sofrimento e de tristeza. Em períodos de dor profunda em minha própria vida, o que me carregou foi a crença na igreja. Quando confessamos os credos na adoração, não dizemos: “Creio em Deus Pai […]”. Em vez disso, confessamos que “Cremos […]”. A crença não é um sentimento que está dentro de nós, mas sim uma realidade externa na qual adentramos. Quando sentimos que nossa fé está vacilante, às vezes, tudo o que podemos fazer é nos agarrarmos avidamente à fé dos santos.

As Escrituras, os cânticos, os sacramentos e as orações da igreja nos dão um bote salva-vidas em meio à dor. Quando queremos conhecer a Deus, mas estamos fracos demais para caminhar, essas práticas nos carregam.

Um ato de rendição

O que eu mais amo sobre orar para que Deus mande que seus anjos guardem os que dormem é que isso entrelaça a estranheza do sobrenatural cósmico à mais cotidiana das atividades humanas: dormir.

Nós dormimos toda noite em nossa cama comum, dentro de nossa casa simples, comum, no contexto de nossa vida corriqueira. E dormimos num universo cheio até a borda de mistério e deslumbramento. Nós sempre dormimos num quarto povoado em nosso cosmo povoado, e então pedimos uma coisa maluca: que Deus envie seres sobrenaturais inimagináveis para nos guardar, enquanto babamos em nossos travesseiros.

Todos os dias, queiramos ou não, precisamos entrar em um estado de vulnerabilidade a fim de dormir. Podemos ser feridos. Podemos ser roubados. Ficamos à mercê dos que nos cercam, à mercê da noite.

Dormir nos lembra do quanto somos frágeis, até mesmo para continuar vivos. Na tradição cristã, o sono sempre foi visto como uma forma de praticar a morte. Tanto Jesus quanto Paulo falam sobre a morte como uma espécie de sono. Nossa descida noturna para a inconsciência é um memento mori [um lembrete sobre a morte] diário, um lembrete de nossa condição de criatura, nossas limitações e nossa fraqueza.

Mas é claro que nossos corpos e cérebros não ficam inativos quando dormimos. Há todo um mundo de atividade acontecendo dentro de nossas cabeças. Nós sonhamos. Nós lutamos contra uma enfermidade. Nós formamos, classificamos e fortalecemos memórias do nosso cotidiano. Os cientistas nos dizem que o aprendizado, na verdade, depende do nosso sono. As informações que absorvemos durante o dia se repetem subconscientemente em nossos cérebros enquanto dormimos, de modo que possamos absorvê-las, lembrá-las e integrá-las em nossa vida.

E, de forma crucial, tudo isso acontece sem nosso conhecimento, consentimento nem controle. Nosso corpo exige que afrouxemos nosso controle sobre a autossuficiência e o poder, se quisermos prosperar. Tanto física quanto espiritualmente, então, devemos estar dispostos a abraçar a vulnerabilidade, se quisermos aprender ou crescer.

A cada noite, a rotação dos planetas, a atividade dos anjos e a ação de Deus no mundo continuam tranquilamente sem nós. Para o cristão, dormir é um ato de rendição — uma declaração de confiança.

A ergonomia da salvação

Vários anos atrás, meu pai teve um extenso ataque cardíaco num cruzeiro, no meio do oceano. Meu irmão, minha irmã e eu recebemos uma mensagem de nossa mãe nos contando, mas, por cerca de um dia, não recebemos mais informações. Finalmente, conseguimos falar com o médico do navio e descobrimos que meu pai seria transferido para um hospital na América do Sul, mas que o navio precisaria navegar a noite toda para chegar à terra firme.

Eu me lembro de ficar acordada na cama, naquela noite, pensando no meu pai e na minha mãe balançando para cá e para lá num navio, no meio do oceano. Eu sabia que não poderia salvá-los, nem visitá-los, nem mesmo ligar para eles. Eu não podia fazer o navio ir mais rápido. Eu não podia prever se meu pai estaria vivo na manhã seguinte. Como uma criança que sabe que não é trabalho seu controlar a bolsa de valores de Nova York, já que ela mal sabe controlar os próprios horários, a sensação de quão pouco eu podia controlar me fez simplesmente relaxar nas mãos de Deus.

A prática da oração, assim como a prática de dormir, ajudam-nos a encontrar descanso em Deus em momentos que nos vemos diante da mais pura fragilidade, quando não temos promessas de como nem quando a manhã chegará. Esta é a ergonomia da salvação, a forma que aprendemos a caminhar neste mundo de trevas.

Há mais mistério em nossos cérebros e em nossos quartos do que jamais poderíamos explicar. Assim, a cada noite nos deitamos e dormimos, sabendo que não estamos sozinhos.

Trecho extraído e adaptado de WARREN, Tish H. Oração da noite. Trad. Guilherme Cordeiro. São Paulo: Pilgrim; Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2021.

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Books

Trump ou Netanyahu? Evangélicos americanos apoiam Israel, mas há sinais de mudança

Treze especialistas avaliam nova pesquisa, posterior ao conflito de Gaza, que mostra solidariedade para com o Estado judeu, mas um aumento da preferência por palestinos entre evangélicos mais jovens e que não são brancos.

Christianity Today January 24, 2022
Frédéric Soltan / Corbis / Getty Images

Na discussão pública entre Donald Trump e Benjamin Netanyahu, quem os evangélicos americanos apoiariam? Uma nova pesquisa sugere que pode ser o israelense.

Realizada logo após o conflito de Gaza, em maio do ano passado, a pesquisa também revela uma lacuna geracional substancial no nível de apoio a Israel e uma falta de impacto dos pastores em seus púlpitos.

E, coincidentemente, os resultados da pesquisa foram lançados logo após os comentários explosivos de Trump.

Em trechos de uma entrevista divulgada recentemente, o ex-presidente criticou o ex-primeiro-ministro [de Israel] por sua declaração parabenizando Joe Biden, após as eleições de 2020.

“Ninguém fez mais por Bibi. E eu gostava de Bibi. Ainda gosto de Bibi ”, afirmou Trump em uma crítica severa repleta de palavras de baixo calão, na qual usou o apelido de Netanyahu. “Mas eu também gosto de lealdade […] Bibi poderia ter ficado quieto. Ele cometeu um erro terrível.”

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Netanyahu respondeu com elogios a Trump. Mas, ao sinalizar uma amizade com Joe Biden, ele também honrou a parceria de longa data entre Estados Unidos e Israel.

Durante sua presidência, Trump transferiu a embaixada americana para Jerusalém, reconheceu a soberania israelense sobre as Colinas de Golan e negociou com cinco nações de maioria muçulmana para normalizar as relações com o Estado judeu.

Evangélicos americanos juntaram-se a Netanyahu em agradecimento. Segundo um questionário online, que pesquisou um painel multiétnico de aproximadamente 1 mil cristãos que se identificam como evangélicos ou “nascidos de novo”, 35% deles dizem que se tornaram mais favoráveis a Israel por causa das políticas de Trump. Apenas 11% apoiaram mais os palestinos, enquanto 53% não tiveram nenhuma mudança.

E, no geral, 68% dos evangélicos americanos acreditam que o povo judeu hoje tem direito ao território de Israel, em virtude da aliança que Deus fez com Abraão, que “permanece intacta hoje”. (Cerca de 23% dizem que não sabem.)

Apoio de evangélicos americanos a Israel vs. palestinos (julho de 2021)Imagem: Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Apoio de evangélicos americanos a Israel vs. palestinos (julho de 2021)

A pesquisa, conduzida pelos professores Kirill Bumin e Motti Inbari da Universidade da Carolina do Norte-Pembroke em conjunto com o Barna Group, foi divulgada em 15 de dezembro de 2021, mas realizada em julho desse ano, bem antes de chegar ao conhecimento público o desentendimento de Trump com Netanyahu.

O primeiro-ministro israelense, há 15 anos no cargo, obteve uma avaliação favorável de uma parcela de 74%, com base na proporção de evangélicos que deram a ele uma pontuação de 6 ou mais em uma escala de 10 pontos. Um em cada cinco (22%) deu-lhe a melhor classificação possível.

A pesquisa não incluiu uma comparação direta. Mas dado o fato de que incluiu evangélicos de todas as etnias (59% brancos, 24% negros, 11% hispânicos), os pesquisadores descobriram que o apoio a Biden e a Trump por porcentagem de votos era quase idêntico (42% vs. 40%) — muito embora 49% dos evangélicos acreditassem que a presidência de Biden viria a prejudicar o relacionamento dos Estados Unidos com Israel. Por outro lado, 31% acreditavam que Biden não prejudicaria esse relacionamento.

Da mesma forma, 47% acreditam que a derrota de Netanyahu, como primeiro-ministro, para uma coalizão liderada por Naftali Bennett, prejudicaria o relacionamento de Israel com os evangélicos dos EUA. Apenas 16% acreditavam que não prejudicaria.

Aproximadamente 1 em cada 2 (47%) acredita que Netanyahu melhorou essas relações, em comparação com apenas 16% que não acreditam.

Em termos da relação com os palestinos, os evangélicos americanos reconheceram amplamente a política israelense como “justa”. Questionados sobre como Israel trata os palestinos nos territórios palestinos, 53% dos entrevistados pontuaram o tratamento dispensado por Israel em 6 ou mais em uma escala de 10 pontos. Enquanto apenas 14% disseram que era “totalmente justo”, apenas 19% pontuaram o tratamento dado por Israel em 4 ou menos.

Opiniões de evangélicos americanos sobre o tratamento dispensado por Israel em territórios palestinos (julho de 2021)Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Opiniões de evangélicos americanos sobre o tratamento dispensado por Israel em territórios palestinos (julho de 2021)

O conflito de 11 dias entre Israel e o Hamas, em maio, na Faixa de Gaza, não alterou significativamente as percepções evangélicas.

Protestando contra a ameaça de despejar palestinos de suas casas, situadas em Jerusalém Oriental, por causa de contratos de arrendamento complexos, o Hamas lançou mísseis contra cidades israelenses. Israel reagiu, afirmando que seus mísseis eram direcionados a alvos militares, muitas vezes localizados em centros civis. De acordo com a ONU, 256 pessoas, incluindo 66 crianças e 40 mulheres, foram mortas em Gaza, ao passo que, em Israel, 13 pessoas foram mortas, incluindo duas crianças e seis mulheres.

Enquanto 48% dos evangélicos americanos não relataram nenhuma mudança em sua opinião geral, 26% afirmaram que o conflito aumentou seu apoio a Israel. Apenas 7% afirmaram que o conflito aumentou seu apoio aos palestinos.

Uma maioria (43%) culpa ambos os lados, igualmente. Um em cada três (34%) culpa principalmente os palestinos, enquanto 17% culpa principalmente Israel.

No geral, o relatório, patrocinado pela Chosen People Ministries, organização de judeus messiânicos, observa que “apenas” 50% dos evangélicos americanos apoiam Israel (25% “fortemente”) em sua disputa com os palestinos, os quais, por sua vez, recebem o apoio de 19%. Os 31% restantes não apoiam nenhum dos lados.

Visões de evangélicos americanos sobre a aliança de Deus com Israel (julho de 2021)Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Visões de evangélicos americanos sobre a aliança de Deus com Israel (julho de 2021)

Uma pesquisa semelhante, publicada no início deste mês pela Gray Matter Research, identificou 20% dos protestantes evangélicos americanos como pessoas “leais a Israel”, que veem os judeus como “o povo escolhido de Deus” ainda hoje e atribuem alta prioridade a apoiá-los por meio de ajuda assistencial. (Não foi feita uma pesquisa especificamente sobre os palestinos.)

Baseando-se na definição de quatro pontos dos evangélicos por crença, formulada pela National Association of Evangelicals, mas não restringindo sua amostra a evangélicos brancos, como muitas pesquisas fazem, o estudo da Gray Matter encontrou uma divisão quase uniforme entre os evangélicos que acreditam que o apoio assistencial a Israel tem alta prioridade e os que consideram esse apoio de baixa prioridade; a pesquisa também detectou uma divisão uniforme entre os evangélicos que acreditam que os judeus são o povo escolhido de Deus ainda hoje e os que não acreditam nisso.

Essas estatísticas se alinham bem com a pesquisa UNC-Pembroke, que descobriu que 52% dos evangélicos americanos dizem que sua crença religiosa os torna mais favoráveis a Israel. Apenas 8% dizem que ela os torna mais favoráveis aos palestinos, e 40% dizem que ela não afeta sua visão de nenhum dos lados.

É digno de nota o fato de que apenas um terço dos evangélicos americanos afirmam que seu conhecimento do conflito é “moderado” (23%) ou “extenso” (13%). Metade afirma ter conhecimento “limitado” (26%) ou “muito limitado” (26%) do conflito, e 13% afirmam ter “nenhum conhecimento”.

Autoavaliação dos evangélicos americanos sobre o conhecimento a respeito do conflito entre Israel e palestinos (julho de 2021)Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Autoavaliação dos evangélicos americanos sobre o conhecimento a respeito do conflito entre Israel e palestinos (julho de 2021)

Em termos de política, 41% querem que os EUA apoiem Israel, enquanto 10% querem que os EUA apoiem os palestinos. Cerca de 1 em cada 3 (36%) quer que os EUA permaneçam neutros.

Apesar das críticas generalizadas de que as políticas de Trump, enquanto esteve na presidência, favoreceram Israel, ele consistentemente sustentou que seus esforços foram uma nova estratégia para ressuscitar um processo de paz fracassado.

A pesquisa não questionou os evangélicos sobre quem eles consideram o principal culpado pela falta de paz. Mas, como muitos, Trump inicialmente atribuiu a responsabilidade aos palestinos.

Ele parece ter mudado de ideia.

“Bibi não queria fazer as pazes. Nunca quis”, afirmou Trump para um projeto de um livro em hebraico que trata dos acordos de normalização, lançado na semana passada. “Eu [tinha] pensado que os palestinos eram impossíveis e que os israelenses fariam qualquer coisa pela paz e por um acordo. Descobri que isso não é verdade. ”

A reportagem afirma que Netanyahu surpreendeu a Casa Branca, ao anunciar uma controversa anexação da Cisjordânia, durante a apresentação do plano de paz de Trump. O então embaixador de Israel nos EUA nega a alegação.

Será que a mudança de Trump é semelhante à dos evangélicos americanos mais jovens, os quais estão se tornando menos apegados à nação de Israel, conforme pesquisas anteriores descobriram? Aqueles com 65 anos ou mais têm quatro vezes mais probabilidade de expressar altos níveis de apoio a Israel do que os que têm menos de 30 anos.

No geral, 29% dos evangélicos mais jovens apoiam Israel, enquanto 45% apoiam os palestinos. E enquanto 40% culpam israelenses e palestinos igualmente pelo conflito de Gaza, aqueles que culpam um lado ou outro estão equilibrados. Três em cada dez atribuíram a culpa principalmente a Israel (29%) ou aos palestinos (27%).

Quanto à política dos EUA, 36% dos evangélicos com menos de 30 anos querem que os EUA permaneçam neutros. Israel ocupa uma posição ligeiramente superior no que diz respeito ao apoio dos EUA, com 31%, enquanto 26% querem que os EUA apoiem os palestinos.

A geração mais jovem é consistente com os evangélicos em geral em ver como justo o tratamento que Israel dispensa aos palestinos em seus territórios: 53% deram uma pontuação de 6 ou mais em uma escala de 10 pontos. Porém, mais pessoas escolheram uma classificação “injusta” do que os evangélicos em geral: 25% deram uma pontuação de 4 ou menos.

Apoio dos evangélicos americanos a Israel vs.palestinos, por idade (julho de 2021)Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Apoio dos evangélicos americanos a Israel vs.palestinos, por idade (julho de 2021)
Opiniões dos evangélicos americanos sobre o modo que Israel trata palestinos em seus territórios, por idade (julho de 2021)Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Opiniões dos evangélicos americanos sobre o modo que Israel trata palestinos em seus territórios, por idade (julho de 2021)

Embora a idade tenha o maior impacto estatisticamente significativo, não é o único fator correspondente.

Evangélicos que nunca vão à igreja têm 63% menos probabilidade de apoiar Israel do que aqueles que vão à igreja ao menos uma vez por semana. Os adeptos das escatologias pós-milenistas e amilenistas (que compreendem 22% e 33% dos evangélicos, respectivamente) têm 51% menos probabilidade de apoiar Israel do que os pré-milenistas (que compõem 33%). E aqueles com visões positivas dos muçulmanos (34%) têm 27% menos probabilidade de apoiar Israel do que aqueles com visões negativas (19%). (Uma pluralidade de 34% dos evangélicos é neutra.)

Não há relação entre a frequência das declarações pastorais de apoio a Israel e a opinião evangélica em geral. Raça, etnia ou compromisso com a justiça social também não são fatores estatisticamente significativos.

No entanto, os pesquisadores notaram que os evangélicos afro-americanos expressaram os níveis mais baixos de apoio a Israel (37%) e os mais altos níveis de apoio aos palestinos (31%). Entre os evangélicos hispânicos, 40% apoiam Israel e 23% apoiam os palestinos. Entre os evangélicos brancos não hispânicos, 58% apoiam Israel e 14% apoiam os palestinos.

Evangélicos americanos revelam a frequência com que seu pastor ou outros crentes falam sobre apoiar Israel (julho de 2021)Kirill Bumin e Motti Inbari, UNC-Pembroke / Barna Group / Chosen People Ministries
Evangélicos americanos revelam a frequência com que seu pastor ou outros crentes falam sobre apoiar Israel (julho de 2021)

E, enquanto um quarto dos evangélicos americanos dizem que seu pastor fala sobre “a importância de Israel para os cristãos” toda semana (27%) ou uma vez por mês (24%), uma parcela diz que ele fala “raramente” (37%), e 1 em cada 10 diz que “nunca” (13%) fala.

Da mesma forma, uma pluralidade de evangélicos americanos dizem que “raramente” ouvem outros evangélicos falar sobre “a importância de apoiar Israel” (43%), em comparação com aqueles que ouvem toda semana (18%) ou uma vez por mês (23%) ou nunca (16%).

A CT convidou especialistas evangélicos nos Estados Unidos e em Israel para interagir com os resultados da pesquisa:

Mais informações:


Quando se trata de ações pessoais de evangélicos norte-americanos:

41% já oraram por Israel.
22% já oraram pelos territórios palestinos.

17% já oraram com um judeu.
12% já oraram com um palestino.

14% já doaram dinheiro para causas pró-Israel.
7% já doaram dinheiro para causas pró-palestinas.

8% já viajaram para Israel.
5% já viajaram para os territórios palestinos.

5% já fizeram trabalho missionário em Israel.
6% já fizeram missões em territórios palestinos.

10% já envolveram judeus com o evangelho.
7% já engajaram palestinos com o evangelho.

7% já se manifestaram contra o anti-semitismo.
8% já se manifestaram contra Israel e suas políticas em relação aos palestinos.

8% já entraram em contato com seu representante no Congresso para expressar apoio às políticas dos EUA que favorecem Israel.
6% já entraram em contato com seu representante no Congresso para expressar apoio às políticas dos EUA que favorecem os palestinos.

38% não fizeram nenhuma das oito ações listadas relacionadas a Israel.
57% não fizeram nenhuma das oito ações listadas relacionadas a palestinos.

Robert Nicholson, presidente do Philos Project:

A maioria dos jovens evangélicos ainda acredita nas promessas bíblicas a respeito do povo e da terra de Israel, mas tem dificuldade em pensar no Estado de Israel e por que é necessário defender esse povo naquela terra. Eles não percebem que um país de maioria judaica torna o Oriente Próximo mais pluralista, não menos. Pior de tudo, eles acreditaram na ideia tola de que o apoio a um Estado judeu significa oposição aos palestinos, árabes ou muçulmanos — o que, obviamente, não é verdade.

Os jovens evangélicos, por mais opinativos que sejam, não sabem muito sobre israelenses nem palestinos. Suas opiniões são baseadas em sentimentos viscerais, impressões da mídia, slogans e pressão dos colegas. Poucos passaram algum tempo na região e menos ainda sabem alguma coisa sobre o povo judeu que vá além das histórias da escola dominical com as quais cresceram.

É a ignorância total dos judeus, e também dos palestinos, que produziu os resultados dessa pesquisa. A resposta é educação imersiva e encontro pessoal.

Gary Burge, professor de Novo Testamento no Calvin Theological Seminary, autor de Whose Land? Whose Promise? What Christians Are Not Being Told About Israel and the Palestinians:

As gerações mais jovens veem a justiça social como um aspecto central de sua fé. Apesar do esforço consistente de Israel para moldar a narrativa palestina, quando esta pesquisa é comparada com pesquisas paralelas de apenas 20 anos atrás, os evangélicos estão cada vez mais neutros em suas visões políticas sobre Israel e a Palestina, à medida que as gerações mais jovens percebem que quatro milhões de pessoas mantidas sob ocupação militar por Israel é uma questão moral.

Mas pesquisas como essa geralmente apresentam dois problemas. Em primeiro lugar, os que se “autoidentificam” como evangélicos podem hoje representar apenas aqueles que casaram sua fé com a política republicana, visto que muitos outros evangélicos mais jovens partiram e não estão representados aqui. Em segundo lugar, a pesquisa usa uma linguagem bíblica sobre o “povo da aliança” de Deus, que distorce as decorrentes questões sobre justiça. Quando uma pesquisa é encomendada por uma organização pró-Israel (Chosen People Ministries), é sensato questionar seus resultados.

Danny Kopp, co-pastor da Congregação da Rua Narkis, em Jerusalém:

O próprio enquadramento desta questão nesta pesquisa como algo binário é um reflexo trágico de nossa incapacidade como cristãos de aquilatar a complexidade moral em nossas vidas e nas vidas das nações. A Bíblia tece uma narrativa complexa do chamado único de Deus a um povo específico, os judeus, para demonstrar seu amor universal e seu cuidado imparcial por todos os povos.

É um truísmo misericordioso o fato de que, em toda a narrativa bíblica, todo herói seja imperfeito e nenhum vilão esteja além da redenção. Ainda assim, nós, como cristãos, que deveríamos ser os maiores adeptos da introspecção e da autocrítica, jogamos esse princípio pela janela e estamos ficando cada vez mais conhecidos como os mais primitivos em nossa lealdade cega e inabalável a dogmas políticos e a personalidades.

Os israelenses têm o direito de viver em paz com seus vizinhos, em sua própria nação, enquanto os palestinos merecem apoio em sua busca por uma acomodação política que lhes conceda direitos iguais em sua pátria nacional. Manter uma perspectiva bíblica matizada e elaborada de forma alguma significa que devamos atribuir equivalência moral a erros políticos de ambos os lados, mas significa que nunca podemos perder de vista o chamado de Deus, único, particular e equivalente, tanto para israelenses quanto para palestinos.

Munther Isaac, reitor acadêmico do Bethlehem Bible College e pastor da Igreja Evangélica Luterana de Natal, em Belém:

O preocupante é que muitos evangélicos têm opiniões muito fortes sobre a Palestina e Israel, embora tenham conhecimento limitado sobre a realidade local. O que falta é uma teologia da justiça e da pacificação que não deve depender da visão escatológica de cada um, mas sim do nosso chamado para levar o amor de Deus a todos os povos, como embaixadores da reconciliação.

Os evangélicos, assim como todos os cristãos, devem assumir posições esclarecidas. A pacificação envolve ouvir os dois lados de um conflito, correr riscos e ficar do lado da justiça. Devemos enfrentar o poder com a verdade, mesmo quando isso envolve nosso próprio povo, religião ou nação.

Trump e Netanyahu não foram bons para a paz. Sua abordagem era baseada na lógica da força e do poder, não em verdade e justiça. Estados Unidos e Israel são aliados políticos, e baseiam suas ações no que é melhor para seus próprios interesses políticos. Suas políticas não refletiram o versículo bíblico: “Aja com justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus”.

Michael Brown, judeu messiânico e apresentador do programa de rádio Linha de fogo :

Dada a forma como esses evangélicos votaram, estou agradavelmente surpreso que o apoio a Israel seja tão alto quanto é. Dito isso, a pesquisa confirma uma tendência crescente e preocupante.

Por que isso acontece? Em primeiro lugar, a geração mais jovem não tem memória dos horrores do Holocausto e do nascimento milagroso do Estado de Israel. Para eles, Israel é um agressor que intimida e fere a população palestina. E, como eles têm um coração voltado para a justiça e os oprimidos, naturalmente ficam mais do lado dos palestinos.

Se tivessem uma imagem mais precisa e completa, perceberiam que ter um coração voltado para a justiça significa reconhecer a história agonizante do povo judeu, o grau em que Israel está cercado por inimigos hostis, até mesmo mortais, e o profundo desejo de Israel de viver em paz com seus vizinhos árabes.

Em segundo lugar, como sabemos através da história da igreja, as formas de teologia da substituição, também conhecidas como supersessionismo, abrem a porta para o antissemitismo.

A chave para os cristãos de todas as idades é a educação: que estejam bem fundamentados nas Escrituras, que conheçam a história da igreja e que tenham uma visão completa do conflito. Se o fizerem, reconhecerão a restauração por Deus do povo judeu à sua terra; buscarão justiça para todos; e amarão seu próximo muçulmano assim como amam seu próximo judeu. E, quando Israel errar, como amigos e apoiadores de Israel, eles falarão a verdade em amor.

Lisa Loden, co-presidente da Iniciativa Lausanne para Reconciliação Israel-Palestina:

O apoio evangélico a Israel está em constante fluxo, na dependência de eventos atuais e das diversas teologias. Pesquisas são sempre um instantâneo, nunca um corte transversal, e esta pesquisa não é exceção.

Os evangélicos precisam integrar totalmente o aspecto social do evangelho com sua teologia e, em especial, com sua escatologia. São lamentáveis a ignorância dos evangélicos, sua polarização e a falta de interesse ativo no efeito, em tempo real, que o conflito entre Israel e palestinos tem sobre as populações locais.

Os evangélicos brancos dos EUA provavelmente continuarão a apoiar Trump e Netanyahu, cujas visões solidamente favorecem Israel, independentemente do discurso atual e da redução de seus papéis nacionais.

Salim Munayer, diretor-executivo de Musalaha e diretor regional da Rede de Paz e Reconciliação da Aliança Evangélica Mundial:

Por essa pesquisa — especialmente em relação ao conflito recente em Gaza — podemos notar uma tendência, a saber, há uma lacuna crescente entre os evangélicos jovens e os mais velhos. Uma possível explicação são as múltiplas fontes de informação a que os jovens são expostos nas redes sociais.

Também é incrível perceber que, apesar de terem sentimentos muito fortes [a esse respeito], os evangélicos americanos afirmam ter conhecimento limitado do conflito. Em especial quando apenas 10% já viajou para a região para conhecer a realidade local.

Parece que suas opiniões são altamente moldadas pela teologia, por sua visão sobre o Islã e pela participação na vida da igreja.

Gerald McDermott, autor de Israel Matters, organizador das obras The New Christian Sionism e Understanding Jewish Roots of Christianity:

A pesquisa sugere o que muitos de nós temos notado há várias décadas: que os evangélicos estão menos instruídos biblicamente e menos informados sobre o que está acontecendo em Israel hoje. Mais e mais evangélicos não estão cientes, por exemplo, da crença de Paulo na aliança contínua de Deus com o povo judeu (Rm 11.28,29); da sua crença na promessa da terra (At 13.19), e da promessa de Jesus de que um dia Jerusalém o receberá (Mt 23.39; Lc 13.35). Eles também não sabem que mais de dois milhões de cidadãos israelenses são palestinos que desfrutam de educação e de serviços de saúde de nível mundial e não querem viver sob o domínio palestino na Cisjordânia ou em Gaza.

A pesquisa também mostra que o apoio a Israel caiu entre aqueles com menos de 30 anos, mas há surpresas. Enquanto 45% oferecem forte apoio aos palestinos, apenas 29% dizem que Israel é o culpado pelos recentes conflitos em Gaza, e apenas 26% dizem que os EUA deveriam ficar do lado dos palestinos no conflito. Além disso, a maioria dos menores de 30 anos diz que Israel é “justo” com os palestinos que vivem em territórios palestinos.

A recente interação entre Trump e Netanyahu mostra Trump como mesquinho e Netanyahu como um estadista. Acho que a maioria dos evangélicos concordaria.

James Zogby, presidente do Arab American Institute:

Esta pesquisa acompanha as pesquisas que fizemos, que mostram uma mudança significativa nas atitudes dos eleitores mais jovens, inclusive daqueles que se identificam como “nascidos de novo”, em relação a Israel/Palestina. Acreditamos que seja o resultado do acesso a fontes ampliadas de informação.

Esta geração é mais tolerante, mais receptiva e mais inclusiva, e sugiro que seu pensamento está mais em sintonia com a visão de Jesus. Eles veem situações como o conflito entre Israel e palestinos como algo menos preto no branco e têm mais compaixão por aqueles que identificam como vítimas das hostilidades. Portanto, essa mudança de atitude entre os jovens cristãos nascidos de novo não me surpreende em nada.

Dito isso, estou intrigado pelo fato de a raça não ter sido um fator significativo na determinação do apoio a Israel. Em nossas pesquisas, os dois principais fatores na formação de atitudes em relação a Israel são idade e raça.

Jaime Cowen, ex-presidente da União das Congregações de Judeus Messiânicos:

Eu acredito que o apoio da igreja evangélica a Israel faz parte de uma correção na reconstrução das relações entre a igreja e o povo judeu. Embora a igreja não possa desfazer o tremendo dano causado pelo antissemitismo cristão histórico, percorreu um longo percurso no sentido de derrubar os muros entre cristãos e judeus e pavimentou o caminho para o surgimento do judaísmo messiânico. Portanto, embora as visões que os evangélicos têm do governo e da política contemporânea de Israel sejam incrivelmente ingênuas e, com frequência, unilaterais, isso ainda é melhor do que as injustiças do passado.

Infelizmente, a politização do evangelho nos Estados Unidos afastou muitos jovens, incluindo aqueles que estavam em igrejas evangélicas. É estranho e lamentável como o apoio a Israel é posto lado a lado com a oposição ao aborto, as questões LGBT e a teoria crítica da raça. O apoio a Israel se torna problemático, especialmente à medida que as gerações mais jovens enfrentam injustiças sociais, que incluem a política israelense em relação aos palestinos. A menos que Israel tente com seriedade abordar a questão palestina, o apoio a Israel provavelmente continuará a diminuir.

O apoio a Trump entre os evangélicos é a coisa mais chocante que já testemunhei como crente. Ele era popular entre a maioria dos israelenses, mas prejudicou as relações EUA-Israel ao oferecer apoio americano a qualquer coisa que Israel fizesse. Quanto a Netanyahu, ele nada fez a respeito de um problema que eventualmente deve ser tratado. Embora seus esforços para chegar a acordos com outras nações árabes sejam altamente louváveis, isso não nega o desconforto existente.

Todd Deatherage, diretor-executivo do The Telos Group:

A mudança de atitude dos evangélicos mais jovens em relação a israelenses e palestinos em seu conflito é significativa, mas não surpreendente. Há anos temos visto movimentos dentro de bolsões do evangelicalismo, à medida que mais cristãos tentam centrar novamente sua fé em torno de Jesus e seus ensinamentos e para longe da politização. Quando Jesus está no centro, as formas nacionalistas de cristianismo, como o sionismo cristão, simplesmente não se sustentam.

Essas mudanças de atitude representam uma abertura para os cristãos apoiarem o florescimento mútuo de israelenses e palestinos, ambos os quais merecem doses iguais de liberdade, dignidade e segurança, como portadores que são da imagem de Deus.

E acho que esses números também estão relacionados a outra coisa que estamos vendo: a quantidade crescente de cristãos que buscam justiça e reconciliação de várias maneiras, ao cumprirem a incumbência dada por Jesus a seus seguidores para que sejam pacificadores.

Botrus Mansour, advogado, escritor e líder evangélico em Nazaré:

Lamento que seja limitado grande parte do conhecimento que os evangélicos americanos têm sobre o conflito, como eles próprios admitem. Mas isso tem grande impacto nas políticas americanas que são colocadas em prática. Eles tiveram um grande papel na promoção do sentimento antipalestino que marcou a era Netanyahu-Trump, o que foi ruim para a paz na Terra Santa.

A visão dos jovens evangélicos sobre o conflito é mais justa. Os palestinos são pessoas criadas à imagem de Deus e têm direito à dignidade humana. Eu espero que mais evangélicos americanos orem por eles e ajam como intermediários pela paz.

Mitch Glaser, presidente do Chosen People Ministries e patrocinador da pesquisa:

Estou preocupado com a forma como os evangélicos veem Israel, já que costumam ser os maiores apoiadores de Israel nos Estados Unidos. No entanto, muitas vezes parece que, à medida que a reputação de Israel fica manchada, particularmente entre os evangélicos mais jovens, Israel é considerado um agressor, ao invés de um país que responde à agressão. É necessário desenvolver mais a educação em faculdades, seminários e igrejas locais cristãs. Vídeos, podcasts e mídias sociais devem ser criados para informar ainda mais esses futuros líderes da igreja.

Infelizmente, quando temos uma visão negativa dos outros, sejam eles palestinos ou judeus israelenses, muitas vezes, em vez de amor e missão, há inimizade e falta de paixão em ganhar esses primos abraâmicos para Jesus.

Acredito que a profecia foi cumprida com a criação do moderno Estado de Israel, em 1948, mas Israel ainda não é o que se tornará. Um dia, meu amado povo judeu se voltará para Yeshua, o Messias, conforme prometido pelo profeta Zacarias, e “olharão para mim a quem traspassaram”.

Até lá, oro para que meus companheiros evangélicos tenham uma visão positiva do povo judeu e até cheguem à conclusão de que, em virtude da aliança abraâmica, a terra pertence a eles.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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Books

Os 50 países em que é mais difícil ser cristão em 2022

O relatório mais recente sobre a perseguição a cristãos afirma que a Nigéria tem 4 em cada 5 mártires, a China tem 3 em cada 5 ataques a igrejas e o Afeganistão, agora, está pior do que a Coreia do Norte.

Portas Abertas Lista Mundial da Perseguição 2022

Portas Abertas Lista Mundial da Perseguição 2022

Christianity Today January 19, 2022
Illustration by Mallory Rentsch / Source Image: Benne Ochs / Getty Images

Nota do editor: Portas Abertas já lançou a Lista Mundial da perseguição cristã de 2023.

No ano passado, mais mil cristãos foram mortos por sua fé do que no ano anterior.

Mais mil cristãos foram detidos.

Mais seiscentas igrejas foram atacadas ou fechadas.

E o Afeganistão é o novo país número 1, de acordo com a Lista Mundial da Perseguição (World Watch List — WWL) de 2022, a última estimativa anual feita pela organização Portas Abertas nos 50 principais países onde é mais perigoso e difícil ser cristão.

“As revelações deste ano indicam mudanças sísmicas no cenário da perseguição”, disse David Curry, presidente da Portas Abertas USA.

Desde que a Portas Abertas começou sua monitoração, em 1992, a Coreia do Norte lidera o ranking. Mas desde a tomada do Afeganistão pelo Talibã, em agosto passado, os crentes afegãos tiveram de deixar seu país ou se mudar internamente. Muitos perderam tudo o que tinham, segundo observa o relatório, enquanto igrejas domésticas foram fechadas em seu rastro.

“Antes do Talibã, o cenário não era ótimo, mas era bom,” disse um afegão evacuado, pedindo para permanecer no anonimato, na esperança de um dia poder retornar. “[Agora] os cristãos estão vivendo com medo, em segredo, totalmente clandestinos.”

A organização Portas Abertas foi rápida em notar que o deslocamento da Coreia do Norte para a segunda posição da lista não reflete uma melhoria na liberdade religiosa por lá. Pelo contrário, uma nova lei voltada para o pensamento anti-reacionário resultou em um aumento de prisões de cristãos e no fechamento de igrejas domésticas.

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No total, 360 milhões de cristãos vivem em nações com altos níveis de perseguição ou discriminação. Isso representa 1 em cada 7 cristãos em todo o mundo, inclusive 1 em cada 5 na África, 2 em cada 5 na Ásia e 1 em cada 15 na América Latina.

No ano passado, pela primeira vez em 29 anos de acompanhamento, todos os 50 países pontuaram tão alto a ponto de registrar níveis de perseguição “muito altos” na matriz de 84 perguntas da organização Portas Abertas. Este ano, todos esses 50 se classificaram novamente — bem como mais 5 países que ficaram bem próximo do ponto de corte [para figurar na lista].

Embora o extremismo islâmico continue a gerar a maior perseguição, a Portas Abertas observou que as restrições da COVID-19 “tornaram-se uma maneira fácil de aumentar o controle e a vigilância sobre minorias religiosas e cultos”, na China e em outras nações. Os pesquisadores também descobriram que a perseguição está desalojando cada vez mais os cristãos de suas comunidades, fazendo dezenas de milhares deles — especialmente de Mianmar — tornarem-se refugiados em outras nações.

O objetivo das listas anuais da perseguição — que relatam como a Coreia do Norte entrou na competição, à medida que a perseguição foi ficando cada vez pior — é orientar as orações e ter como alvo uma ira mais eficaz, bem como, ao mesmo tempo, mostrar aos cristãos perseguidos que eles não foram esquecidos.

A versão de 2022 rastreia o período de 1º de outubro de 2020 a 20 de setembro de 2021, e é compilada a partir de relatórios de campo de funcionários da organização Portas Abertas em mais de 60 países.

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Onde os cristãos são mais perseguidos hoje

O Afeganistão não representa a única mudança substancial na classificação deste ano. Mianmar passou da 18ª posição para a 12ª da lista, devido ao aumento da violência após o golpe e à discriminação na área de atendimento médico. O Catar subiu da 29ª posição para a 18ª da lista, pois as igrejas domésticas, anteriormente toleradas, não foram autorizadas a reabrir após o fechamento por causa da COVID-19, apesar da permissão concedida às mesquitas e aos poucos edifícios de igrejas oficialmente registradas. A Indonésia subiu da 47ª posição para a 28ª, impulsionada por dois ataques mortais de islamistas a igrejas, apesar da repressão do governo contra os terroristas. E Cuba saltou da 51ª posição para a 37ª, devido à intensificação das ações contra líderes e ativistas cristãos que se opõem aos princípios comunistas.

No geral, os 10 primeiros países da lista apenas trocaram de posição em relação à lista do ano passado. A Somália manteve-se estável na 3ª posição, assim como a Líbia na 4ª, a Eritreia na 6ª e a Índia na 10ª posição. O Iêmen subiu duas posições, para a 5ª, tomando o lugar do Paquistão, que caiu três posições, para a 8ª. O Irã caiu uma posição, para a 9ª, e a Nigéria subiu duas posições, para a 7ª, completando o desonroso grupo.

Surpreendentemente removida, em novembro, da lista anual de Países de Preocupação Particular do Departamento de Estado dos EUA, depois de finalmente ter sido incluída em 2020, a Nigéria recebeu atenção especial no relatório feito pela Portas Abertas.

Países onde é mais difícil ser seguidor de Jesus:



1. Afeganistão
2. Coreia do Norte
3. Somália
4. Líbia
5. Iémen
6. Eritreia
7. Nigéria
8. Paquistão
9. Irã
10. Índia

“Uma vez que alguém é cristão na Nigéria, sua vida está sempre em risco,” disse Manga, cujo pai foi decapitado pelo Boko Haram. “[Mas] não temos outro lugar para ir, não temos opção.”

A nação mais populosa da África ficou em primeiro lugar nas subcategorias da lista mundial da perseguição, no quesito cristãos mortos, sequestrados, assediados sexualmente, abusados física ou mentalmente e de casas e empresas atacadas por motivos religiosos. E ficou em segundo lugar nas subcategorias de ataques à igreja e deslocamento interno [forçado].

“Tornou-se […] cada vez mais claro que os cristãos (e grupos minoritários) não podem contar com o aparato de segurança pública para sua proteção”, afirmou o relatório.

As violações da liberdade religiosa na Nigéria estão ligadas a uma presença islâmica em rápido crescimento na região do Sahel africano. O Mali subiu da 28ª para a 24ª posição, e a Portas Abertas teme que possa subir ainda mais no próximo ano. Burquina Fasso manteve-se estável na 32ª posição e o Níger saltou da 54ª para a 33ª posição. Perto dali, a República Centro-Africana (RCA) subiu da 35ª para a 31ª posição.

“O epicentro do jihadismo internacional é agora a área do Sahel”, disse IlliaDjadi, analista sênior da Portas Abertas para liberdade de religião e crença na África Subsaariana. “Esse terrorismo está se deslocando para o sul […] e países predominantemente cristãos, como Benim, Togo, Gana e Costa do Marfim, agora estão sendo afetados” (nenhum deles consta da lista).

Os países de maioria cristã ocupam uma posição relativamente baixa entre os primeiros 50 da lista, e incluem Colômbia (30º), Cuba (37º), Etiópia (38º), República Democrática do Congo ou RDC (40º), Moçambique (41º), México (43º) e Camarões (44º).

Dos primeiros 50 países da lista:

• 11 têm níveis “extremos” de perseguição e 39 têm níveis “muito altos”. Outros cinco países, além desses 50 primeiros, também se classificam como países com um nível “muito alto” de perseguição: Quênia, Sri Lanka, Comores, Emirados Árabes Unidos e Tanzânia.

• 18 países ficam na África (6 no Norte da África); 29, na Ásia; 10, no Oriente Médio; 4, na Ásia Central e 3, na América Latina.

• 34 países tem o Islã como religião principal; 4 tem o budismo; 2 tem o hinduísmo; em 1 deles impera o ateísmo; em 1, o agnosticismo — e 10 seguem o cristianismo.

A lista de 2022 incluiu dois novos países: Cuba e Níger. Dois países saíram da lista: Quênia e Comores.

Outros crescimentos dignos de nota incluem a Arábia Saudita em 11º lugar, vinda do 14º, devido à disponibilidade de informações mais específicas sobre a situação dos imigrantes convertidos. Da mesma forma, outra nação do Golfo, Omã, subiu da 44ª para a 36ª posição, após um aumento da vigilância sobre os cristãos, especialmente os convertidos, tendo vários deles sido forçados a deixar o país. E na Ásia, o Butão subiu da 43ª para a 34ª posição, devido ao aumento da violência contra cristãos nessa nação budista tradicionalmente não-violenta.

Onde cristãos enfrentam o maior nível de violência:



1. Nigéria
2. Paquistão
3. Índia
4. República Centro-Africana
5. Repúblia Democrática do Congo
6. Moçambique
7. Camarões
8. Afeganistão
9. Mali
10. Sudão do Sul

Período do relatório Portas Abertas: 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021

Nem todo movimento observado foi negativo. Iraque e Síria caíram três posições cada, para a 14ª e a 15ª, respectivamente, devido à diminuição no número de igrejas atacadas e de cristãos mortos. A Tunísia caiu da 35ª para a 25ª posição, pois menos cristãos foram presos, ao passo que a diminuição da violência contra os cristãos fez com que o Tajiquistão caísse da 43ª para a 45ª posição. Enquanto isso, um número menor de ataques de grupos radicais hindus na nação himalaia do Nepal levou sua classificação a cair da 34ª para a 48ª posição.

A organização Portas Abertas sugeriu que alguns desses declínios podem ser superficiais, no entanto, causados pela diminuição da atividade cristã devido à COVID-19. O Egito caiu da 16ª posição para a 20, e a Turquia caiu da 35ª posição para a 42ª, à medida que os ataques às igrejas diminuíram. No entanto, no Egito, a violência contra indivíduos cristãos permaneceu alta, com oito cristãos mortos, enquanto a Turquia testemunhou uma retórica governamental cada vez mais agressiva contra os cristãos, que sofreram com a crescente desconfiança social.

Outros países anularam desdobramentos positivos com negativos. O Sudão permaneceu em 13º lugar, uma vez que as reformas na área de liberdade religiosa em nível nacional ainda não foram implementadas em nível local. A Colômbia manteve-se estável em 30º lugar, pois menos cristãos foram mortos, embora ações criminosas e a hostilidade social tenham aumentado — especialmente nas comunidades indígenas. E a Etiópia, que caiu duas posições para o 38º lugar, testemunhou a queda na violência contra os cristãos ser contrabalançada por pressões da comunidade, em meio às condições de guerra civil, que dificultam a distinção entre perseguição religiosa e étnica.

Como os cristãos são perseguidos nesses países?

A organização Portas Abertas acompanha a perseguição em seis categorias — levando em conta a pressão social e governamental sobre indivíduos, famílias e congregações — e tem um foco especial nas mulheres.

Quase todas as categorias sofreram aumentos este ano, e algumas delas atingiram níveis recordes.

Quando a violência é isolada como categoria, os 10 principais perseguidores mudam drasticamente — apenas Afeganistão, Nigéria, Paquistão e Índia permanecem. Na verdade, 16 países são mais mortais para os cristãos do que a Coreia do Norte.

Os martírios tiveram um aumento de mais de 1 mil em relação ao ano anterior, uma vez que a Portas Abertas registrou que 5.898 cristãos foram mortos por sua fé durante o período do relatório. Representando um aumento de 24%, o número continua a ser uma melhora em relação à alta de 2016, que ficou na faixa de 7.106 mortes. A Nigéria respondeu por 79% do total de mortes, seguida pelo Paquistão, com 11%.

A Portas Abertas inclui na lista suas estatísticas de violência daqueles países que alcançam 41 pontos ou mais na classificação. A organização é conhecida por favorecer uma estimativa mais conservadora do que outros grupos, que muitas vezes contabilizam 100 mil martírios por ano.

Onde os cristãos foram mais martirizados:



1. Nigéria: 4.650
2. Paquistão: 620
3. Nome ocultado: 100*
4. Burquina Fasso: 100*
5. República Democrática do Congo: 100*
6. Moçambique: 100*
7. República Centro-Africana: 29
8. Camarões: 27
9. Tanzânia: 25
10. Indonésia: 15

*Número estimado |

Período do relatório Portas Abertas: 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021

Onde os números não podem ser verificados, são dadas estimativas em números arredondados de 10, 100, 1 mil ou 10 mil, presumindo-se que são mais altos na realidade. E algumas tabulações nacionais podem não ser fornecidas por motivos de segurança, aparecendo sob a designação “N.N.” (sigla que significa “não identificado”) para países como Afeganistão, Maldivas, Coreia do Norte, Somália e Iêmen.

Sob esta rubrica, um país não identificado, Burquina Fasso, RDC e Moçambique seguem com uma contagem simbólica de 100 mártires.

Uma segunda categoria contabiliza ataques a igrejas e a outros edifícios cristãos, como hospitais, escolas e cemitérios, que foram destruídos, fechados ou confiscados. A contagem de 5.110 representa um aumento de 14% em relação ao ano passado, mas é apenas cerca de metade da alta de 9.488 ataques, em 2020.

A China (17ª posição) — que voltou a figurar entre os 20 maiores perseguidores no ano passado, pela primeira vez em uma década — liderou a categoria, com 59% dos ataques registrados a igrejas. A Nigéria ficou em segundo lugar, com 470 incidentes, seguida por Bangladesh, Paquistão e Catar. Foram simbolicamente atribuídos 100 ataques a República Centro-Africana, Burquina Fasso, Moçambique, Burundi, Angola e Ruanda.

A categoria de cristãos que foram detidos sem julgamento, presos, sentenciados e mantidos na prisão alcançou um novo recorde em 2021, com um total de 6.175 casos, cerca de 1 mil casos a mais do que no período anterior. A Portas Abertas divide isso em duas subcategorias, com 4.765 cristãos detidos, o que representa um aumento de 69%. A Índia — que liderou essa subcategoria, com 1.310 casos — juntamente com uma nação não identificada, Paquistão e China chegaram a 90% do total.

Países onde igrejas foram mais atacadas ou fechadas:



1. China: 3.000
2. Nigéria: 470
3. Bangladesh: 200
4. Paquistão: 183
5. Qatar: 100
6. República Centro-Africana: 100*
7. Burquina Fasso: 100*
8. Moçambique: 100*
9. Burundi: 100*
10. Angola: 100*

*Número estimado |

Período do relatório Portas Abertas: 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021

O cálculo de 1.410 cristãos que foram presos, no entanto, representou um decréscimo de 4 por cento em relação ao período anterior. Uma nação não identificada, Eritreia, China e Bangladesh respondem por 91% do total.

Outra nova alta foi registrada no número de cristãos sequestrados, com um total de 3.829, o que representa um aumento de 124% em relação ao período anterior. A Nigéria responde por 66% do total, seguida pelo Paquistão, com 26%.

De longe, o maior total por categoria foi no quesito deslocamento interno [forçado], com 218.709 cristãos que foram forçados a deixar suas casas ou a se esconder por motivos relacionados à fé. Outros 25.038 cristãos foram forçados a deixar seus países. Mianmar responde por 91% e 80%, nessas duas faixas, respectivamente.

A Portas Abertas afirmou que várias categorias foram particularmente difíceis de calcular com precisão, sendo a mais alta delas a dos 24.678 casos de abuso físico e mental, que incluem espancamentos e ameaças de morte. Dos 74 países pesquisados, 36 receberam estimativas simbólicas. A Nigéria teve a estimativa mais alta, seguida por Índia, duas nações não identificadas, Eritreia, Paquistão, Mianmar, China, RCA, Moçambique e Malásia.

Um total estimado de 4.543 casas e propriedades cristãs foram atacadas em 2021, juntamente com 1.906 lojas e empresas. Destas últimas, 18 dos 36 países receberam estimativas simbólicas, com a Nigéria em primeiro lugar.

Nigéria, Paquistão e Moçambique alcançaram o maior número na primeira categoria, com apenas Camarões e Bangladesh tendo sido capazes de registrar casos reais. Iraque, Síria, China, Burquina Fasso e RDC completaram os 10 primeiros lugares, cada qual com uma pontuação simbólica de 100 ataques.

Categorias específicas para mulheres também foram difíceis para os pesquisadores da organização Portas Abertas calcular com precisão. Houve um total de 3.147 casos de estupro e assédio sexual, liderados por Nigéria e Paquistão com os índices mais altos, e sendo que 36 dos 48 países receberam uma estimativa simbólica. Para casamentos forçados com não-cristãos, houve um total de 1.588, liderados pelo Paquistão, com o índice mais alto dos 25 entre os 37 países que receberam uma estimativa simbólica.

Por que os cristãos são perseguidos nesses países?

A motivação principal varia de país para país, e entender melhor as diferenças pode ajudar os cristãos de outras nações a orar e a lutar com mais eficácia por seus irmãos e irmãs em Cristo perseguidos.

A Portas Abertas divide as principais causas de perseguição cristã em oito grupos:

Opressão islâmica (33 países): Esta é a principal causa de perseguição que os cristãos enfrentam em mais da metade dos países que constam da lista da perseguição, entre os quais encontram-se 7 dos 10 primeiros da lista: Afeganistão (1º lugar), Somália (3º), Líbia (4º), Iêmen (5º), Nigéria (7º), Paquistão (8º) e Irã (9º). A maioria dos 33 são nações oficialmente muçulmanas ou que têm maioria muçulmana; no entanto, 6 são de maioria cristã, na verdade: Nigéria, República Centro-Africana (31º), Etiópia (38º), República Democrática do Congo (40º), Moçambique (41º) e Camarões (44º).

Paranoia ditatorial (5 países): Esta é a principal causa de perseguição que os cristãos enfrentam em cinco países de maioria muçulmana, principalmente na Ásia Central: Uzbequistão (21º), Turcomenistão (25º), Bangladesh (29º), Tajiquistão (45º) e Cazaquistão (47º).

Opressão comunista e pós-comunista (5 países): Esta é a principal causa de perseguição que os cristãos enfrentam em cinco países, principalmente na Ásia: Coreia do Norte (2º), China (17º), Vietnã (19º), Laos (26º) e Cuba (37º).

Nacionalismo religioso (4 países): Esta é a principal causa de perseguição que os cristãos enfrentam em quatro nações asiáticas. Os cristãos são visados principalmente por nacionalistas hindus na Índia (10º) e no Nepal (48º), e por nacionalistas budistas em Mianmar (12º) e no Butão (34º).

Crime organizado e corrupção (2 países): Esta é a principal causa de perseguição que os cristãos enfrentam na Colômbia (30º) e no México (43º).

Protecionismo denominacional cristão (1 país): Esta é a principal causa de perseguição que os cristãos enfrentam na Eritreia (6º).

Intolerância secular (0 países) e opressão por clãs (0 países): A Portas Abertas rastreia essas duas causas de perseguição enfrentadas pelos cristãos, mas nenhuma delas é a principal causa em nenhum dos 50 países que figuram na lista de 2022. No entanto, no ano passado, a opressão por clãs foi o principal fator em países como Afeganistão, Somália, Laos, Catar, Nepal e Omã.

Como comparar a Lista Mundial da Perseguição (WWL) a outros relatórios importantes sobre perseguição religiosa?

A organização Portas Abertas acredita que seja razoável dizer que o cristianismo é a religião mais severamente perseguida do mundo. Ao mesmo tempo, observa que não há documentação comparável para a população muçulmana do mundo.

Outras avaliações da liberdade religiosa em todo o mundo corroboram muitas das descobertas do relatório da Portas Abertas. Por exemplo, a última análise feita pelo Pew Research Center sobre hostilidades governamentais e sociais em relação à religião descobriu que os cristãos foram assediados em 153 países em 2019, mais do que qualquer outro grupo religioso. Muçulmanos foram perseguidos em 147 países, seguidos por judeus, em 89 países.

Ao examinar apenas a hostilidade por parte de governos, os muçulmanos foram assediados em 135 países e os cristãos, em 128 países, segundo o relatório do Pew Research Center. Ao examinar apenas a hostilidade dentro da sociedade, os muçulmanos foram perseguidos em 115 países e os cristãos, em 107 países.

O detalhamento corresponde aos dados [do levantamento] da Portas Abertas. China, Mianmar, Sudão e Síria registraram cada um mais de 10 mil incidentes de assédio por parte do governo. Sri Lanka, Afeganistão e Egito se destacaram por seus altos níveis de hostilidade social.

A maioria das nações na lista da Portas Abertas também aparece na lista anual do Departamento de Estado dos EUA, que nomeia e condena governos que “se envolveram ou toleraram violações sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa”.

Entre os primeiros classificados da lista anual de Países de Preocupação Particular do Departamento de Estado dos EUA encontram-se Mianmar (12º na Lista Mundial da Perseguição 2022), China (17º), Eritreia (6º), Irã (9º), Coreia do Norte (2º), Paquistão (8º), Rússia (que saiu da Lista Mundial da Perseguição no ano passado), Arábia Saudita (11º), Tajiquistão (45º) e Turcomenistão (25º). O segundo escalão da lista especial inclui Argélia (22º), Comores (que saiu da Lista Mundial da Perseguição este ano), Cuba (37º) e Nicarágua (país não classificado, mas monitorado pela Portas Abertas).

O Departamento de Estado americano também faz uma lista de Entidades de Preocupação Particular, isto é, de atores não governamentais que geram perseguição, todos ativos em países da lista da Portas Abertas. Entre eles estão o Boko Haram e o Estado Islâmico na África Ocidental, na Nigéria (7º na Lista Mundial da Perseguição); o Talibã, no Afeganistão (1º); o Al-Shabaab, na Somália (4º); o ISIS ou Estado Islâmico do Iraque e Síria, principalmente no Iraque (14º); o Hayat Tahrir al-Sham, na Síria (15º); os houthis, no Iêmen (5º); e o ISIS-Grande Saara e o Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin, no Sahel.

Enquanto isso, a Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA (USCIRF, em inglês) em seu relatório de 2021 recomendou as mesmas nações para a lista de Países de Preocupação Particular, com o acréscimo de Nigéria, Índia (10º), Síria, e Vietnã (19º). Para a lista de monitoração do Departamento de Estado, a USCIRF recomendou as mesmas nações, com exceção de Comores e com o acréscimo de Afeganistão, Azerbaijão (país não classificado, mas monitorado pela Portas Abertas), Egito (20º), Indonésia (28º), Iraque, Cazaquistão (47º), Malásia (50º), Turquia (42º) e Uzbequistão (21º).

Todas as nações do mundo são monitoradas por pesquisadores e equipes de campo da organização Portas Abertas, mas uma atenção mais profunda é dada a 100 países, com foco especial nos 76 deles que registram níveis “altos” de perseguição (que pontuam mais de 40 em uma escala de 100, feita pela organização Portas Abertas).

Conheça a Lista Mundia da Perseguição 2022

Classificação País
1 Afeganistão
2 Coréia do Norte
3 Somália
4 Líbia
5 Iémen
6 Eritreia
7 Nigéria
8 Paquistão
9 Irã
10 Índia
11 Arábia Saudita
12 Mianmar
13 Sudão
14 Iraque
15 Síria
16 Maldivas
17 China
18 Catar
19 Vietnã
20 Egito
21 Uzbequistão
22 Argélia
23 Mauritânia
24 Mali
25 Turcomenistão
26 Laos
27 Marrocos
28 Indonésia
29 Bangladesh
30 Colômbia
31 República Centro-Africana
32 Burquina Fasso
33 Níger
34 Butão
35 Tunísia
36 Omã
37 Cuba
38 Etiópia
39 Jordânia
40 República Democrática do Congo
41 Moçambique
42 Turquia
43 México
44 Camarões
45 Tajiquistão
46 Brunei
47 Cazaquistão
48 Nepal
49 Kuwait
50 Malásia

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Cristãos negros estão confrontando mentiras criadas por negros sobre o cristianismo

Como a apologética urbana luta contra distorções promovidas pelos movimentos de “consciência negra”.

Christianity Today January 11, 2022
Illustration by Sarah Gordon / Source Images: Raimund Koch / Labsas / Portra / Getty

Quando entrei para a faculdade, na Bowie State University, em 1991, eu — como muitos afro-americanos nos anos 80 e 90 — adentrei em um novo ninho de ideologias de identidade. Muitos dos negros que entraram na faculdade naquela época (historicamente, nas faculdades negras em particular) usavam algum tipo de acessório cultural que mostrava sua conexão com a África, desde medalhões africanos feitos de couro a camisetas que retratavam o continente africano e usavam alguma estampa artística de lá.

Urban Apologetics: Restoring Black Dignity with the Gospel

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Zondervan

304 pages

$13.92

Aquele foi um momento histórico significativo para os negros que lutavam por nossa identidade étnica e cultural. Víamos irmãos no sindicato estudantil vendendo livros e óleos como Nilo Azul, sândalo, incenso e mirra. As barracas onde estes produtos eram vendidos estavam repletas de recursos que prometiam preencher o vazio de nossas mentes negras com a verdade que os homens brancos reprimiram para nos impedir de saber quem éramos.

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Como cristão negro, às vezes sou levado a sentir que estou seguindo a religião de meus opressores. É como a síndrome de Estocolmo, a compreensão de que tudo o que você achava saber estar certo está errado. Inerente à condição de ser negro e cristão na América, há uma tensão constante gravada na psiquê de muitos afro-americanos.

Considere as seguintes citações de proponentes das chamadas comunidades de “consciência negra”. De acordo com Elijah Muhammad, há muitos anos o líder da Nação do Islã, “o dito Negro deve despertar antes que seja tarde demais. Eles acham que o cristianismo do homem branco os salvará, independentemente do que aconteça, e estão seriamente enganados. Eles devem saber que a religião do homem branco não vem de Deus, nem de Jesus ou de qualquer outro dos profetas. É controlada pela raça branca e não pelo Todo-Poderoso Alá (Deus).”

Ou veja, por exemplo, Jabari Osaze, historiador que se autodenomina sacerdote do antigo reino quemético (egípcio). Como ele afirma em 7 little white lies: the conspiracy to destroy the black self-image:

“Lembro-me de ir para a aula da escola dominical, e o professor puxava essas figuras de papelão de Moisés e Noé para fora da caixa […] e todos elas eram invariavelmente de homens brancos, idosos e vestidos com túnicas. Eles se pareciam com o meu vizinho, mas com túnicas. Imagine que me foi incutido, quando criança, que todos os heróis do cristianismo eram brancos. Eu acho que isso não está nada certo.”

Comentários como esses criam uma dissonância cognitiva para os negros que é difícil de superar. Como apologistas cristãos, não devemos abandonar esse desafio. Significa simplesmente que temos muito trabalho a fazer, e esta é uma das muitas razões pelas quais uma abordagem que chamo de apologética urbana é necessária hoje.

É verdade que o cristianismo europeu, branco e ocidental muitas vezes trabalhou com afinco para destruir a identidade negra. No entanto, essas comunidades de consciência negra jogaram o bebê fora junto com a água do banho, ou seja, acabaram jogando fora toda a fé cristã. Seus adeptos não fizeram a necessária lição de casa de examinar a verdade de perto. Uma apologética urbana neutraliza as histórias de origem falsa que esses grupos promovem.

Cristãos negros estão sempre sendo questionados por representantes das comunidades de consciência negra. Invariavelmente, ouvimos falar um bocado sobre a nossa aceitação do cristianismo porque os brancos, que se diziam cristãos, desempenharam um papel central no sequestro e na escravidão dos negros. Muitos negros foram ensinados que o primeiro contato dos africanos com o cristianismo foi por meio do comércio de escravos. Muitos veem o papel histórico do cristianismo na escravidão como um fator-chave na destruição da mente negra. E veem o cristianismo como uma invenção europeia, usada pelos opressores brancos como uma ferramenta para manter os negros em cativeiro.

E há mérito neste argumento. Durante a época da escravidão no Ocidente, havia uma falsa forma de cristianismo que justificava o sequestro de seres humanos. Os proponentes dessa forma de cristianismo de fato criaram uma Bíblia resumida, que se chamava “a Bíblia do escravo”, para evitar que os escravos tivessem uma compreensão clara e abrangente do evangelho? Sim, criaram. Será que certos supostos cristãos trataram os negros como algo menos do que seres humanos, contaminando assim a imago Dei que há dentro de cada ser humano? Sim, trataram.

Durante grande parte dos últimos cem anos, a comunidade negra lutou para oferecer respostas teológicas robustas aos desafios que nossa comunidade enfrenta. Apenas mais recentemente vimos um esforço concentrado para abordar as objeções e questões levantadas pelos proponentes dos movimentos da consciência negra. E na era atual da Internet, o jogo mudou. As objeções se espalham com mais rapidez. As falsidades sobre o cristianismo duram mais tempo. É por isso que precisamos com urgência de uma apologética exclusivamente urbana, que aborde os movimentos da consciência negra e outras objeções ao cristianismo criadas por negros.

Respondendo a narrativas revisionistas

O que é a apologética urbana? O termo urbano é uma palavra popular hoje, cujo uso tem crescido constantemente nas últimas quatro décadas e meia. Ele aponta para a cidade. Antes de se tornar um jargão, o termo urbano tinha a conotação de complexidade concentrada — uma paisagem definida por densos aglomerados de pessoas, edifícios e tráfego, junto com uma mistura diversificada de cultura, comércio, política e espiritualidade.

Em algum lugar ao longo do caminho, no entanto, urbano tornou-se a palavra-código para preto, pardo e pobre. É assim que o mundo corporativo usa o termo urbano hoje. As divisões urbanas das empresas se dedicam a comercializar seus produtos para negros e pardos. Hoje em dia, é claro, a cultura urbana não está mais confinada à cidade, em grande parte devido à crescente popularidade de formas de arte como o hip-hop. É uma cultura móvel que também encontramos em áreas rurais e suburbanas.

Apologética é um termo cunhado a partir de 1Pedro 3.15: “Mas em seus corações considerem a Cristo Senhor como santo, e estejam prontos a qualquer momento para apresentar uma defesa a qualquer um que lhes perguntar o motivo da esperança que há em vocês” (CSB) A palavra aqui traduzida por “defesa” vem da palavra grega apologia. No contexto, a apologética envolve a mente, as emoções e a vontade, mostrando aos outros a obra transformadora de Cristo. É uma defesa racional do evangelho baseada na esperança escatológica e iminente que se tem em Jesus.

Judas, versículo 3, é outro texto-chave quando se trata de explicar os fundamentos bíblicos da apologética: “Queridos amigos, embora eu estivesse ansioso para lhes escrever sobre a salvação que compartilhamos, achei necessário escrever apelando para que vocês contendam pela fé que foi entregue aos santos de uma vez por todas”(CSB). A palavra contendam traduz uma palavra grega (epago¯nizomai ) que se refere a competições atléticas, como a luta livre. Paulo sugere essa associação em 1Coríntios 9.25: “Todos os que competem nos jogos seguem um treinamento rigoroso. Fazem isso para conseguir uma coroa que não vai durar; nós, porém, fazemos para conseguir uma coroa que durará para sempre” (grifo nosso).

A apologética apresenta-se sob vários tipos. A apologética clássica enfatiza argumentos em prol da existência de Deus. A apologética evidencial enfatiza a necessidade de evidências em apoio às afirmações da verdade cristã, sejam elas racionais, históricas, arqueológicas ou mesmo experienciais. A apologética histórica enfatiza a evidência histórica que apóia as afirmações da verdade cristã. A apologética experiencial apela à experiência religiosa em geral ou a experiências religiosas específicas, como fenômenos sobrenaturais aparentes, como base para a crença em Cristo. A apologética pressuposicional tipicamente pressupõe a verdade básica do cristianismo e, então, passa a mostrar, de várias maneiras, por que somente o cristianismo faz sentido.

Quando falo de apologética urbana estou me referindo especificamente a uma defesa da fé cristã contra as objeções criadas pelos negros e um argumento de como o cristianismo atende às necessidades típicas dos negros. A apologética urbana usa várias das abordagens listadas acima de maneira harmônica. Empregamos abordagens apologéticas clássicas, quando falamos com ateus negros ou agnósticos, muitos dos quais valorizam mais explicações científicas do que afirmações baseadas na fé. O tipo evidencial é particularmente útil, quando enfrentamos desafios do tipo “prove para mim que Jesus existiu” ou “onde estão todos os sepulcros dos personagens da Bíblia?” ou “o cristianismo foi criado na Europa”.

Subjacentes à maioria das declarações ou questões que encontramos na apologética urbana estão várias narrativas revisionistas. Essas narrativas apelam à experiência que muitos negros têm com o racismo e a injustiça, bem como afirmam-na. Para refutá-las, podemos recorrer a elementos das apologéticas histórica e experiencial. Nosso trabalho na apologética urbana é abordar essas questões em espírito de oração, com humildade e cuidado.

Falando a verdade em um mundo de mentiras

A apologética urbana faz o trabalho de compartilhar o evangelho ao oferecer uma defesa do cristianismo aos negros, à luz das preocupações intelectuais, emocionais e de identidade étnica de comunidades minoritárias. Consiste em dar aos negros a razão da esperança no evangelho, apesar das barreiras culturais, históricas, espirituais e teológicas que os negros têm para com a fé cristã. E, no cerne da apologética urbana, está a restauração da imago Dei. A injustiça e a desigualdade raciais criaram a necessidade de afirmar a humanidade ao mesmo tempo em que se desafia a arrogância humana pecaminosa. A Escritura exige que tratemos todas as pessoas como portadoras da imagem de Deus (Gênesis 1.26-27; Tiago 3.9).

A apologética urbana também busca falar a verdade em um mundo que se tornou caracterizado por mentiras. Vivemos em um mundo de falsas verdades promovidas pelos Black Religious Identity Cults (BRICs, ou seja, os Cultos de Identidade Afro-Religiosa). Como muitas pessoas não aprenderam a distinguir a verdade do erro ou o real do falso, elas acreditam nas mentiras. A maioria das ideologias ou cultos que atraem os negros têm base na cosmovisão judaico-cristã. Elas abordam, à luz da história cristã, suas rejeições ao cristianismo e sua construção da suposta verdade. A apologética urbana busca demonstrar que apenas o cristianismo prova-se racional e verdadeiro como cosmovisão.

A apologética urbana também dissipa uma infinidade de lendas urbanas, mitos históricos, falácias teológicas, equívocos científicos e visões reducionistas do cristianismo que existem na comunidade negra. Muito do que combatemos na apologética urbana são argumentos, que eram populares nas gerações anteriores e agora estão ressurgindo com um viés étnico. Por exemplo, estamos vendo o ressurgimento da teoria de que o cristianismo é cópia de uma antiga religião egípcia chamada quemetismo — uma teoria que já foi refutada décadas atrás.

Porque a comunidade negra tem profunda desconfiança em relação aos brancos e às ideias europeias, muitos negros tendem a ser facilmente influenciados por qualquer sugestão de corrupção branca, e o cristianismo é um alvo fácil. Quando os BRICs sugerem que o cristianismo é uma religião branca, instituída por europeus brancos, muitos negros acreditam neles. No entanto, na realidade, o cristianismo se espalhou de Jerusalém para a África, e depois para a Europa. Muito antes de a cristandade se formar em Roma, a sede do cristianismo era em Alexandria, no Egito.

A disposição das pessoas em acreditar que os europeus disseminaram o cristianismo na África destaca um problema ainda maior. Como o teólogo Thomas C. Oden explicou em seu livro de 2010, How Africa shaped the Christian mind:

Os historiadores intelectuais modernos se acostumaram demais à premissa fácil de que tudo o que a África aprendeu, ela aprendeu com a Europa. No caso do neoplatonismo seminal, entretanto, sua trajetória da África à Europa (um movimento sul-norte) é textualmente clara. Mas por que é tão fácil esquecer ou descartar essa trajetória?

Crenças errôneas sobre as origens do cristianismo na África podem ser atribuídas à influência subjacente do racismo, que testemunhamos nas erudições tanto secular quanto cristã. Em meus próprios estudos históricos sobre Cuxe (reino da África negra situado ao longo do Nilo até o sul do Egito) e o papel que os cuxitas desempenharam no mundo bíblico, encontrei um preconceito racial persistente dentro da academia, que ainda é dominada por estudiosos brancos.

O que quero dizer com preconceito racial? Não estou me referindo ao preconceito racial flagrante, que era relativamente comum nos estudos históricos e religiosos do século 19 e início do século 20. Em vez disso, o que encontramos hoje é um preconceito racial subconsciente ou sutil — muitas vezes não intencional, mas ainda assim real. Esse preconceito racial é algo que permeia todas as facetas da sociedade, incluindo estudos históricos cristãos, e tem gerado grandes desafios aos esforços dos afro-americanos para compartilhar o evangelho com outros negros. O racismo subconsciente e cúmplice destruiu a colheita nos campos da comunidade negra.

Hoje, nós lutamos contra o racismo no mundo e na igreja, lutamos com os negros que apoiam a brancura ao negar o racismo, e resistimos aos cultos de mistério e às ideologias negras que estão destruindo nossas comunidades. Temos um trabalho difícil pela frente!

Lutando pelas almas

Quando se trata de questões de verdade versus falsidade, será que a cor importa? Não particularmente. Ainda assim, os esforços dos brancos ao longo da história para pintar a história cristã com cores brancas e europeias transformaram a cor da pele em um problema. Em vez de liderar o enfrentamento do racismo, os estudos cristãos ocidentais seguiram os passos dos revisionistas seculares. Esse branqueamento da história é repugnante para Deus. Causa divisão pintar a história com a cor preferida de alguém, em vez de pesquisar as verdadeiras etnias das pessoas mencionadas na Bíblia e das figuras importantes da história da igreja. É uma afronta à própria boa-nova sugerir que Deus só salvou e trabalhou por meio de europeus brancos.

Não posso culpar meus irmãos negros por suas constantes suspeitas em relação ao cristianismo. A apologética existe por causa da pecaminosidade de todos os homens e mulheres, e a apologética urbana explora o modo que esse pecado afeta as minorias étnicas em particular. Isso é necessário, infelizmente, por causa da pecaminosidade do racismo e da injustiça em nosso mundo. Você pode imaginar pessoas rejeitando o evangelho por acreditarem que ele é apenas para os brancos? Que isso nunca aconteça!

Nossa tarefa é dar respostas que tratem do trauma psicológico que os negros experimentaram quando a cristandade ocidental se fundiu com a fé cristã histórica (não ocidental). Desde o tempo da igreja primitiva, o cristianismo tem de lidar com o problema de um grupo de pessoas que deseja excluir outro. Essa questão de saber se o cristianismo é apenas para uma determinada etnia não é nova — remonta à visão de Pedro sobre a salvação das nações (Atos 10) e ao Concílio de Jerusalém (Atos 15). Gálatas 2 demonstra ainda que excluir pessoas com base em linhas divisórias étnicas é uma questão central para o evangelho.

No final, somos chamados a pregar o evangelho a todas as pessoas, independentemente de raça ou origem, e fazemos isso no poder que Deus fornece. Como Paulo diz em 1Coríntios 2.1-4:

Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloquente nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus. Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês. Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito.

Paulo aqui apela para a própria conversão dos coríntios. O que os salvou foi a poderosa pregação da fraqueza da cruz, e não uma retórica humanamente poderosa (1.18).

Apologética não significa vencer a discussão; trata-se de contender pela alma do ouvinte. Não se engane: embora estejamos lidando com barreiras de identidade étnica, racismo e injustiça, em última análise, estamos tentando ajudar as pessoas a reconhecer sua própria pecaminosidade (João 16.8). Nosso desejo é que o Espírito Santo ilumine a necessidade que as pessoas têm do evangelho.

Não queremos apenas falar sobre as atrocidades que foram cometidas contra os negros. Não ignoraremos essas atrocidades, mas não devemos permitir que elas nos impeçam de destacar a necessidade que toda pessoa tem do poder redentor do evangelho de Jesus Cristo em nossa vida.

Este artigo foi extraído de Urban apologetics: restoring black dignity with the Gospel, editado por Eric Mason. Copyright ©2021 por Zondervan. Usado com permissão de Zondervan. www.zondervan.com.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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O ataque ao Capitólio foi um sinal de uma igreja pós-cristã, e não apenas de uma cultura pós-cristã.

Os eventos do ano passado em Washington ameaçaram não apenas a democracia americana, mas também o testemunho evangélico.

Christianity Today January 10, 2022
Edits by Christianity Today / Source Images: Andrew/Caballero-Reynolds / Tasos Katopodis / Stringer / Getty

Um ano se passou desde o ataque insurrecional de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos; duas imagens ainda assombram minha mente. Uma é a de uma forca improvisada, construída com o intuito de ameaçar o assassinato do vice-presidente dos Estados Unidos. E a outra é a de um cartaz, levantado acima daquela multidão furiosa, que dizia: “Jesus salva”. O fato de essas duas imagens coexistirem na mesma multidão é sinal de crise para o evangelicalismo americano.

Alguns podem não dar importância aos símbolos cristãos presentes na insurreição — não apenas cartazes, mas orações “em nome de Jesus”, [que figuraram] lado a lado com um xamã que usava chifres, no palanque central do Senado evacuado dos EUA. E alguns podem não levar em conta os evangélicos que falsamente alegaram, nos dias seguintes, que a responsável pelo ataque tinha sido uma multidão de ativistas Antifa, e não de pessoas oriundas do comício em que o então presidente dos Estados Unidos incitou a multidão a marchar até o Capitólio.

E, no entanto, pesquisa após pesquisa mostra que um número alarmante de evangélicos brancos acredita na mentira por trás do ataque: que a eleição de 2020 foi roubada por uma vasta conspiração de esquerda, a qual de alguma forma abrange governadores republicanos conservadores e funcionários de zonas eleitorais na Geórgia e no Arizona.

Uma megaigreja evangélica recebeu Donald Trump recentemente — ao som de uma multidão que gritava “USA!”, em resposta ao discurso político do ex-presidente. Essa cena pode ser um pouco exagerada para a maioria dos evangélicos, mas dados de pesquisa mostram que não é uma aberração. E as mesmas pesquisas mostram que, longe de “esfriarem” após a era Trump e o ataque insurrecional ao Capitólio, essas pessoas acreditam que a violência pode ser justificada nos dias que vêm pela frente.

De certa forma, o que vimos ao longo do ano, desde a insurreição, representa uma mudança. Observe o número crescente de pessoas que se identificam como “evangélicas” — muitas das quais nem mesmo frequentam uma igreja —, por presumirem que esta é a designação religiosa esperada para seu movimento político.

Mas, de maneiras talvez ainda mais preocupantes, essas tendências representam algo que em nada mudou.

Nos dias que antecederam à insurreição, alguns cristãos evangélicos se reuniram no National Mall para uma “marcha de Jericó”, repetindo as mesmas falsidades: que a eleição havia sido roubada e, portanto, deveria ser anulada. Esse tipo de afirmação de que “Se você não lutar […] não terá mais um país” — , como colocou Trump —, dificilmente é novidade para grandes setores do evangelicalismo americano.

Alguns desses setores já venderam suprimentos para bunkers, fossem eles literais ou metafóricos, em razão do iminente colapso da civilização, que certamente viria por causa da chegada do ano 2000 ou da lei da sharia ou da decisão da Suprema Corte no caso Obergefell ou da teoria crítica da raça ou de um complô para fechar igrejas permanentemente devido à pandemia, ou por qualquer outra coisa que seja. Muitos setores do evangelicalismo se tornaram apocalípticos em relação a tudo, exceto ao verdadeiro apocalipse.

Tal como acontece com a insurreição (e praticamente com todos os movimentos autoritários da história), um momento apocalíptico é uma emergência que requer medidas emergenciais. Assim, vemos a dissonância cognitiva de pessoas que apóiam a lei e a ordem (às vezes citando Romanos 13), mas batem em policiais e quebram janelas para calar o dever constitucional do Congresso de contar os votos da eleição. Essas são as mesmas pessoas que podem ridicularizar as próprias palavras de Jesus Cristo sobre dar a outra face como algo ingênuo e débil.

Esse tipo de emergência, segundo nos dizem, não pode se preocupar com as normas constitucionais nem com o caráter cristão. O raciocínio é que o Sermão do Monte não é um pacto suicida, e que a maneira usada por Jesus só funciona com inimigos mais razoáveis do que esses atuais, inimigos como, suponho eu, o Império Romano que crucificou aquele que nos deu tal ensinamento.

Isso é um sinal não de uma cultura pós-cristã, mas de um cristianismo pós-cristão; não de uma sociedade secularizada, mas de uma igreja paganizadora.

Uma coisa seria se fosse apenas uma questão de a multidão ter atacado o Capitólio naquele dia. Mas é outra coisa, completamente diferente, quando pessoas — incluindo pessoas com suas Bíblias todas grifadas e com pedidos de oração pregados em suas geladeiras — diminuem a importância do ataque, como se tivesse sido um mero protesto a partir do qual devemos “seguir em frente”. Isso representa mais do que uma ameaça à democracia americana — embora isso já seja ruim o suficiente —, pois é uma ameaça ao testemunho da igreja.

Não se pode levar as boas-novas a pessoas que, se as coisas ficarem suficientemente ruins, você pode ter de espancar ou matar. Não se pode chegar ao bem fazendo o mal. Não se pode “defender a verdade” empregando mentiras.

Talvez o dia 6 de janeiro de 2021 tenha sido uma anomalia terrível em nossa história, algo que nunca se repetirá. E assim espero. Ou talvez esse 6 de janeiro tenha sido, como disse o The Atlantic, um “treino” para mais tentativas de golpe e violência de massa que ainda hão de vir. Eu não sei. De qualquer forma, o que sei é isto: nós, como evangélicos americanos, não podemos justificar o que aconteceu no Capitólio há um ano. Não podemos ignorar isso também. Se Jesus é aquele que salva, então, devemos seguir a sua direção — e ela aponta para a missão, não para o ressentimento, para o evangelho, e não para a ira.

E isso significa que devemos escolher entre o caminho da forca e o caminho da Cruz.

Russell Moore lidera o Projeto de Teologia Pública da Christianity Today.

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Luz para os gentios

Leitura devocional para a Epifania.

Christianity Today January 6, 2022

Epifania:

Neste dia, celebramos a visita dos Magos e sua adoração a Jesus. Refletimos sobre a revelação da identidade e propósito de Jesus para os povos do mundo.

Clique Aqui e faça o download do nosso devocional diário “O Evangelho do Advento”.

Leia Mateus 2.1-12

Para quem é a boa nova? Essas promoções e ofertas que recebemos pelo correio às vezes são chamadas de promoção especial para “amigos e família”. Algumas coisas são boas demais para a pessoa guardar para si mesma, mas também radicais demais para serem contadas para todos. Essa abordagem de marketing destaca como estamos condicionados a pensar que, se algo é exclusivo — se de alguma forma temos o status de um insider — aquilo é valioso. E também mostra que, pelo contrário, se algo é universal, não é valioso.

É isso que faz do nascimento de Jesus algo tão chocantemente revolucionário. É a melhor notícia que o mundo poderia receber: Deus veio para salvar seu povo! Mas essa salvação não era apenas para as pessoas com quem Deus havia feito uma aliança. Era para todos — todas as pessoas, de todos os lugares, em todos os tempos.

Temos um primeiro vislumbre disso em Mateus 2 e o contraste traçado entre o rei Herodes e o rei Jesus, o verdadeiro Messias. Herodes vergonhosamente ascendeu ao poder por meio de oportunismo político e brutalidade. Quando se espalhou o boato de que um novo rei dos judeus havia nascido em Belém, Herodes fez tudo que estava a seu alcance — incluindo matar bebês inocentes (v. 13-18) — para proteger o poder que maquinara para obter.

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Mas, enquanto a história de Herodes trata de uma ascensão ao poder, a de Jesus trata de uma descida do poder. Lá, na manjedoura, estava aquele que “não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se”, que “esvaziou-se a si mesmo” por nós (Fp 2.6,7). Enquanto Herodes mentia e matava para manter as pessoas afastadas, Jesus em sua infância e juventude já estava trazendo as pessoas para perto.

E não apenas algumas pessoas, ou mesmo apenas o povo da aliança de Deus. Mateus nos fala sobre os magos — astrólogos, filósofos ou homens sábios — que vieram de longe, trazendo presentes para esta criança. A adoração que esses visitantes não judeus ofereceram ao Messias de Israel, prostrando-se diante dele, sinaliza o extenso escopo da promessa de Deus. O menino Jesus seria “uma luz para os gentios” para que “você leve a minha salvação até aos confins da terra” (Is 42.6; 49.6). Nesta cena da infância de Jesus, vemos o alcance global do evangelho: “As nações virão à sua luz e os reis ao fulgor do seu alvorecer” (Is 60.3).

Apesar dos esforços de Herodes para se agarrar ao poder terreno, há apenas um Rei para cujo nome todos os joelhos se dobrarão (Fp 2.10). Apenas um Rei cujo reino é boa notícia não só para alguns, mas para todos. O Senhor reina — que a terra se regozije! Venham adorar o Rei Jesus!

Glenn Packiam é pastor sênior associado da New Life Church, em Colorado Springs. Entre as obras de sua autoria estão Worship and the World to Come e The Resilient Pastor (fevereiro de 2022).

Reflita sobre Mateus 2.1-12

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(Opção: leia também Isaías 49.1-6; 60.1-6; Filipenses 2.6,7.)


Por que essa cena inicial que mostra gentios adorando a Jesus é tão significativa? O que essa cena transmite sobre a boa nova? Como você deseja responder a Deus?

Os 20 artigos mais lidos da Christianity Today em português

A confiança indevida em Ravi Zacharias, famoso líder cristão que ocultou casos de má conduta sexual; A maior ameaça ao cristianismo é o apoio do Estado; Desistir da igreja acarreta um alto preço que será pago por nossas mentes e corpos.

Christianity Today December 30, 2021

In this series

Leia os principais artigos em português publicados em 2021 pela CT, organizados por ordem crescente de popularidade.

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