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Os cristãos estão voltando para a igreja, mas talvez não para a mesma

Em meio a todos os movimentos e mudanças dos últimos dois anos, muitas congregações viram uma aceleração na rotatividade de membros.

Christianity Today February 18, 2022
Image: Cavan Images / Getty / Edits by Christianity Today

A Igreja Northwest de Houston sofreu grandes danos com o furacão Harvey, em 2017. No momento em que suas instalações danificadas pela inundação foram finalmente reconstruídas, cerca de dois anos atrás, a congregação voltou a funcionar a pleno vapor por seis semanas, antes que os cultos fossem suspensos pela pandemia.

À medida que a igreja sofria um revés atrás do outro, o pastor sênior Steve Bezner testemunhava as idas e vindas do rebanho.

“Cerca de um terço de nossa congregação que comparece presencialmente aos cultos são rostos novos”, disse ele.

Atualmente, sua igreja atrai 1.600 participantes por semana, incluindo várias centenas de visualizações on-line — um número não muito distante de sua média semanal antes da pandemia, de 1.700 pessoas. Bezner se maravilha com o número de membros que saíram durante a pandemia e com o número de novas pessoas que apareceram para substituí-los.

“isso faz você acreditar na preservação do Espírito Santo”, disse o pastor de Houston.

A rotatividade de membros é algo tão comum ao ciclo de vida de uma igreja quanto batismos, casamentos e funerais. Mas a pandemia acelerou as idas e vindas das pessoas e exigiu novas estratégias para acolher e integrar novos membros na comunidade da igreja. Essas tarefas foram complicadas pela evolução das precauções contra a COVID-19 e pelo desafio de identificar quem ainda pertence à igreja, quando muitos continuam a adorar de forma online.

“Não reunir a congregação presencialmente despertou essas questões”, disse Steve Smith, pastor executivo da Highpoint Church em Naperville, Illinois. “O evangelho não mudou e sempre seremos centrados na Bíblia, mas a forma como engajamos as pessoas está mudando.”

A COVID-19 impulsionou as pessoas para todos os tipos de mudanças nos últimos dois anos, incluindo as de carreira, novos relacionamentos e realocação. Algumas mudanças foram por necessidade e outras por novas prioridades. Um estudo do Pew Research Center descobriu que três quartos das pessoas viram algum impacto positivo decorrente da pandemia.

Isso também aconteceu com as escolhas em relação a igrejas. Para aqueles que já estavam lutando com sua igreja, a pandemia serviu como um catalisador para começar a explorar outras congregações. Uma frequentadora de uma igreja de Atlanta disse que a pandemia a empurrou para a mudança, depois de atravessar difíceis dinâmicas sociais dentro de seu grupo de jovens adultos.

“Decidi começar de novo em outro lugar”, disse Elisa Hoover, 27 anos. “Foi mais fácil visitar outras igrejas durante a pandemia e minha ausência foi menos notada na comunidade sempre tão unida da minha igreja.”

Para muitas pessoas, o isolamento continuado da pandemia aumentou seu desejo por conexão e por uma comunidade espiritual.

Muitos novos participantes da Igreja Northwest de Houston vieram de um grande complexo de apartamentos, do outro lado da rua, onde moram principalmente adultos solteiros. “Eles sentiram a pressão psicológica da solidão e quiseram conhecer nossa igreja”, disse Bezner. “Eles queriam descobrir quem é Deus.”

Esse desejo por conexão e por raízes espirituais transcendeu a demografia, e afetou a todos, desde solteiros que moram sozinhos até pais com filhos pequenos e paroquianos que moravam muito longe de sua igreja para se envolverem mais profundamente.

Quando a pandemia chegou, em 2020, Dylan Parker e sua esposa perceberam que moravam muito longe de sua igreja no Arkansas para se envolverem tanto quanto gostariam.

“Até a pandemia nos desacelerar, não tínhamos percebido o preço que pagávamos por viver em mais de uma cidade”, disse ele. Eles começaram a procurar uma igreja mais perto de casa, mas logo descobriram que ele fora aceito em um programa de doutorado no Seminário Teológico Fuller, e que se mudariam para a Califórnia. Parker e a esposa agora moram a uma curta distância de sua igreja e de muitos de seus membros.

“Já sentimos que temos uma comunidade mais próxima e mais forte aqui do que no Arkansas”, disse Parker.

Este pai de dois filhos também valoriza a abordagem de sua nova igreja para lidar com questões desafiadoras que surgiram durante a pandemia, entre elas as de justiça social. Embora ele diga que não teria mudado de igreja apenas por esse motivo, reconhece que sua igreja na Califórnia é mais adequada.

“Minha igreja anterior não estava permitindo espaço para conversas que eu queria ter sobre justiça social”, disse ele. “Cheguei a um ponto da minha vida em que precisava de espaço para responder a essas perguntas.”

Navegando em águas desafiadoras

É impossível analisar o tópico da mudança de igreja durante a pandemia sem reconhecer o pano de fundo da polarização nacional, em questões que vão do uso de máscara e vacinação à tensão racial e política. Frequentemente, os pastores se sentem mal preparados para abordar essas questões de maneira que satisfaça membros que representam um amplo espectro de pontos de vista.

Bezner descreve a turbulência dos últimos dois anos como um “trauma nacional agravado que causou fadiga de decisão nos pastores”.

Decisões controversas, tomadas sob maior escrutínio, podem ser o que leva certos participantes a repensarem a adequação da igreja.

“Costumava ser uma coisa mais silenciosa, mas agora as pessoas saem juntas, em grupo, e isso chama mais a atenção do que costumava chamar”, disse Smith da Highpoint Church, em Illinois.

As igrejas muitas vezes estão perdendo as “últimas fileiras”, o que fez aqueles que estavam altamente envolvidos se envolverem ainda mais durante o curso da pandemia, aqueles que estavam moderadamente envolvidos se manterem firmes e muitos dos participantes menos engajados caírem fora.

“Estamos vendo que as pessoas que vinham à igreja de 8 a 12 vezes por ano pararam de comparecer”, disse Smith. “Sua musculatura espiritual atrofiou.”

Nas sete congregações da Highpoint Church, a igreja não-denominacional viu poucas dessas pessoas se envolverem novamente, apesar de uma campanha de comunicação robusta, encabeçada por líderes e voluntários da igreja.

Oferecer cultos virtuais ajuda durante a pandemia, mas dificulta a contagem do número de membros. A mescla de pessoas que mudam de igreja e participam de cultos on-line criou mistério em torno do verdadeiro número de membros que deixaram a igreja definitivamente.

Quase todas as igrejas haviam reaberto no verão passado, com apenas três quartos dos participantes regulares de volta aos bancos, apurou a Lifeway Research.

Construindo uma comunidade mais profunda

“O anonimato constitui uma grande parcela do cenário da igreja americana”, disse Len Tang, diretor da Iniciativa de Plantação de Igrejas no Seminário Teológico Fuller. “Em igrejas menores, porém, você não pode ser anônimo.”

De certa forma, pequenas igrejas e igrejas plantadas estão em melhor posição para conservar seus membros durante a pandemia. A congregação de Tang, a Missio Church, em Pasadena, Califórnia, não viu muitas mudanças de igreja durante a pandemia.

“As pessoas geralmente são leais à visão de uma igreja plantada e menos propensas a mudarem de igreja”, disse ele. A Lifeway também descobriu que as igrejas menores se recuperaram mais rapidamente do que as grandes.

“A maioria das igrejas pequenas ainda não voltou aos níveis pré-pandemia, mas muitas delas estão chegando mais rápido a esse ponto do que as igrejas maiores”, disse Scott McConnell, diretor executivo da Lifeway Research. “É possível que as igrejas pequenas sejam auxiliadas pela sensação de segurança em uma reunião de pessoas que é naturalmente menor, pelas diferenças nas opções de tecnologia para reuniões on-line ou pela força das conexões relacionais.”

Igrejas grandes e pequenas se concentraram no discipulado de pequenos grupos, quando os cultos presenciais foram suspensos.

“As igrejas que entendem o discipulado como sua essência puderam continuar essa missão”, disse Tang.

Na Highpoint Church, os pastores não podiam mais usar a frequência aos domingos como forma de medir o discipulado na igreja; então, eles ajustaram sua abordagem para o treinamento de liderança. Em vez de simplesmente compartilhar métodos de discipulado, eles se concentraram em ensinar aos líderes por que o discipulado é essencial e como engajar as pessoas de forma significativa.

“Estamos tentando ajudá-los a entender: ‘Como você consegue acessar as lutas e os anseios mais profundos das pessoas como parte da formação espiritual?’”, disse Smith.

Em Houston, a igreja de Bezner começou a oferecer jantares de visão, para acomodar mais pessoas do que as tradicionais classes de novos membros.

Matt e Dara Osborn, de Spring, Texas, participaram recentemente de um desses jantares de visão para aprender mais sobre o passado da igreja e suas expectativas para o futuro.

“Algumas igrejas estão focadas na reconstrução e outras estão avançando”, disse Matt Osborn. “A Igreja Northwest de Houston está avançando. Nesta nova era, reabrir é como começar de novo.”

Osborn acredita que esse momento de transição durante a pandemia pode estar preparando a igreja para uma nova fase de crescimento à frente. Ele disse: “Talvez Deus esteja colocando as pessoas onde elas precisam estar para que seu reino cresça em tempos pós-pandemia”.

Traduzido por Mariana Albuquerque.

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