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Evangélicos brasileiros clamam por reconciliação após condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe

O ex-presidente recebeu uma pena de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de estado.

Supporters of former Brazilian president Jair Bolsonaro participate in a protest in his support on August 3, 2025.

Supporters of former Brazilian president Jair Bolsonaro participate in a protest in his support on August 3, 2025.

Christianity Today September 12, 2025
Anadolu / Contributor / Getty

O Supremo Tribunal Federal do Brasil condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão por conspirar uma tentativa de golpe para derrubar as eleições presidenciais de 2022.

É a primeira vez que o país julga e condena uma pessoa por tentar derrubar um governo eleito.

Durante os dias que antecederam o veredicto, os apoiadores evangélicos de Bolsonaro foram às ruas em manifestações e fizeram vigília com cartazes, bandeiras e velas do lado de fora do condomínio do político em Brasília.

O tribunal considerou Bolsonaro culpado de orientar líderes de alto escalão que encorajaram manifestantes a ocupar prédios do Governo Federal durante uma tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Entre a multidão, estavam alguns evangélicos. Quatro pastores estavam entre as 1.400 pessoas presas Muitos dos que estavam na invasão do Congresso continuaram a apoiar o ex-presidente e outros que enfrentaram acusações por seu envolvimento.

Bolsonaro nega as acusações e afirma que estava fora do Brasil em 8 de janeiro; ele embarcou em um avião da Força Aérea Brasileira com destino a Orlando, Flórida, em 30 de dezembro de 2022, dois dias antes da posse, e permaneceu lá até 30 de março de 2023. No tribunal, ele chamou de “loucos” aqueles que foram às ruas pedindo um golpe militar.

O pastor Silas Malafaia, líder da [igreja] Vitória em Cristo, parte das Assembléias de Deus do Brasil, organizou manifestações de rua e defendeu a anistia para todos os manifestantes presos. No mês passado, ele foi alvo da polícia e acusado de obstrução da justiça.

Malafaia, por sua vez, pediu a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, responsável pela investigação do Supremo sobre Bolsonaro. 

“Esse apoio quase indiscriminado que os evangélicos deram ao bolsonarismo é uma das marcas mais claras do movimento golpista”, disse a cientista política Carla Ribeiro Sales, que pertence a uma igreja batista no Recife. “Confesso que tenho vergonha — não do evangelho, mas dessa confusão em que nos metemos.”

Os conflitos em torno de Bolsonaro polarizaram as igrejas brasileiras, ecoando as divisões nos Estados Unidos em torno do presidente Donald Trump.

“É terrível ver pessoas magoadas, famílias divididas, igrejas doentes por causa dessa polarização”, disse Cynthia Muniz, pastora da Igreja Anglicana Porto, em São Paulo. “Famílias inteiras deixaram igrejas porque achavam que seu líder deveria tomar uma posição a favor de um candidato ou de outro.”

Em 2019, o Brasil elegeu Bolsonaro com o apoio de 69% dos evangélicos, mas esse apoio diminuiu. Em 2022, ele perdeu a reeleição por uma margem de 2,1 milhões de eleitores, ou 1,8% do eleitorado.

“Bolsonaro certamente não teria nenhuma relevância se não fosse pelos evangélicos”, disse a teóloga Jacira Monteiro.

Alguns líderes evangélicos esperam que a condenação do ex-presidente possa estimular uma reflexão entre os evangélicos. O teólogo Valdir Steuernagel aponta para o desafio da igreja de recuperar o ministério da reconciliação, conforme descrito em 2 Coríntios 5.

“Fomos tão capturados pela polarização política que perdemos a capacidade de ouvir as Escrituras, que nos chamam para o encontro, não para o distanciamento”, disse ele à CT. “Somos chamados para reconciliar.”

Não será uma tarefa fácil. Alguns evangélicos brasileiros permanecem leais a Bolsonaro e continuam participando de manifestações públicas, como a realizada no dia 7 de setembro em São Paulo. Os manifestantes pediram anistia para todos os acusados de golpe de Estado, incluindo Bolsonaro.

Um dos porta-vozes mais veementes é Malafaia. “A Constituição, as leis e o sistema judiciário foram jogados no lixo por aqueles que deveriam ser o maior exemplo de defesa da lei: o Supremo Tribunal Federal”, disse ele em um vídeo divulgado após a condenação

Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, disse que as igrejas têm três desafios: defender a democracia e o Estado secular, promover a paz e a reconciliação entre todas as pessoas e multiplicar os sinais de justiça e solidariedade.

“Precisamos impedir que o pensamento das comunidades evangélicas seja sequestrado por ideologias políticas, sejam elas de direita ou de esquerda”, disse ele.

O julgamento de Bolsonaro, embora criticado pelos apoiadores do ex-presidente, tem sido visto como exemplar em seu objetivo de coibir iniciativas antidemocráticas nas nações ocidentais.

“Nossa preocupação como pastores é não permitir que isso aconteça novamente”, disse Muniz, que também enfatiza a superioridade da ética bíblica sobre as ideologias e a polarização produzida por elas.

Ela usa as palavras de Jesus a Pôncio Pilatos em João 18.36 como referência para abordar a polarização política: “Meu reino não é deste mundo. Se fosse, meus servos lutariam para impedir minha prisão pelos líderes judeus. Mas agora meu reino é de outro lugar.”

Para Muniz, o Reino de Deus não é algo distante ou irrelevante para o presente e para a criação, muito pelo contrário: tem um impacto real no mundo, trazendo justiça, bondade e esperança. “Ele não nasce de sistemas humanos, nem está sujeito à lógica do poder, às estruturas políticas, muitas vezes injustas e violentas, ou às ideologias deste mundo. Portanto, “Deus não pode ser reduzido ou cooptado por partidos ou figuras políticas”, disse ela.

O ex-presidente continua em prisão domiciliar, agora condenado por golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito, organização criminosa armada, danos agravados à propriedade pública e deterioração de um edifício tombado. 

Ele e seus ex-assessores podem ir para a prisão em breve. Espera-se que o Supremo Tribunal Federal decida sobre todos os recursos até o final do ano.

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