Ideas

24 preceitos para estas eleições (e todas as outras)

Sobre discordância, fidelidade, tolerância e votos.

Christianity Today October 1, 2024
Ilustração de Elizabeth Kaye / Source Images: Getty

Este artigo foi adaptado para ser contextualizado à realidade brasileira.

Estamos, mais uma vez, na temporada de eleições. Ficamos com o estômago embrulhado. As intenções de voto oscilam. Os debates entre candidatos esquentam.

E quanto à igreja? Muitos de nós também estamos tremendo: de medo, de raiva, de antecipação pelo que quer que esteja reservado para nós nos centros políticos do país — e em nossas próprias casas e templos.

Algumas semanas atrás, um colega meu aqui na CT escreveu um artigo sobre política, e a reação que teve online foi furiosa. As reações nas redes sociais cruzaram todas as linhas da prudência que aprendemos em Provérbios, e teriam feito Martinho Lutero corar.

E os comentários não vieram de bots de redes sociais, de máquinas programadas para automatizar a desumanidade. Muitos dos nomes nos comentários são conhecidos. Eles não são computadores, não; eles são cristãos. São pessoas como nós.

Quando digo “nós”, não quero dizer que você, pessoalmente, está criticando alguém nas mídias sociais; sei que eu não estou. Em vez disso, quero dizer que os preceitos que proponho a seguir não são — nem podem ser, se pretendemos que sirvam para alguma coisa — reflexões e orientações que dirigimos com altivez para aquelas pessoas lá, para aqueles cristãos que nos envergonham, nos frustram e nos confundem.

A maneira de atravessarmos este próximo mês e os meses que vierem com a mais vaga semelhança que seja de amor e de unidade cristãos é copiando a atitude de Paulo em 1Timóteo: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior” (1.15). E não basta só dizer isso, é preciso realmente acreditar no que dizemos.

Por isso, gostaria de sugerir estes 24 preceitos para um ano de eleições:

  1. A oposição de um cristão ao candidato X não implica que ele apoie o candidato Y. Não implica esse apoio nem de forma prática, nem por inferência. Insistir no contrário, refutando os protestos de seu irmão em Cristo, é fomentar a discórdia e a calúnia.
  2. Você pode criticar a visão política de um colega cristão sem questionar a fé dele, e vocês dois devem ser capazes de ouvir as discordâncias um do outro.
  3. Sua crítica à posição política de um colega cristão pode muito bem incluir lembrá-lo de compromissos e obrigações de sua fé.
  4. Sua crítica à posição política de um colega cristão pode nunca persuadi-lo [a mudar]. Em caso de impasse político com um irmão em Cristo, a tolerância e a graça mútuas geralmente são um caminho melhor do que a discussão contínua. Será que não existem coisas melhores que vocês dois poderiam fazer com seu tempo?
  5. Há uma linha na posição política de um cristão que, se cruzada, justifica que se lancem dúvidas sobre sua profissão de fé. Essa linha pode não estar onde nós supomos que esteja.
  6. Essa linha pode até mesmo ser diferente para diferentes cristãos em diferentes épocas, lugares e estágios do processo de santificação, pois Deus não trata todos os nossos pecados, erros e fraquezas de uma só vez.
  7. Alguns de nós podem precisar de mais coragem para expressar suas convicções, especialmente quando fazem parte de uma minoria religiosa, política ou cultural em suas igrejas e comunidades mais amplas.
  8. Mas, nesta cultura impetuosa e precipitada em que vivemos, o mais provável é que a maioria de nós precise de tolerância e graça para com aqueles que supomos serem menos preparados do ponto de vista espiritual, moral, da inteligência ou menos informados do que nós.
  9. Tolerância não é complacência. Graça não é condescendência.
  10. Tolerância e a graça também não são indecisão e covardia.
  11. Lembre-se de 1João 4.20: “Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar o seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”
  12. Discordâncias políticas duradouras entre cristãos não são, por si só, evidências de pecado, de falta de fé ou de qualquer outro fator disfuncional. Cristãos sensatos ​​e fiéis podem, de boa fé, chegar a conclusões diferentes. Todos eles podem ter uma sólida base bíblica para suas opiniões; todos eles podem buscar o bem comum; todos eles podem buscar amar seus próximos; e todos eles podem discordar [entre si].
  13. Cristãos sensatos ​​e fiéis podem decidir considerar seriamente apenas candidatos viáveis.
  14. Cristãos sensatos ​​e fiéis podem decidir que a viabilidade é menos importante do que o alinhamento ético e político.
  15. Cristãos sensatos ​​e fiéis podem decidir votar em branco ou anular o voto: “Não confieis em príncipes, nem em filhos de homens, em quem não há salvação” (Salmo 146.3, KJV).
  16. Ter esperança é uma virtude cristã; iludir-se não.
  17. A sabedoria é um chamado cristão; o cinismo não é sábio.
  18. Seu voto não pertence a nenhum candidato. Nem mesmo se você acredita que tem o dever de votar. Ainda que você faça parte de um partido específico.
  19. Com algumas exceções, o voto em eleições municipais e estaduais — especialmente para vereadores, prefeitos, deputados e governadores — terá efeitos mais frequentes e tangíveis em sua vida e na de seus vizinhos do que os votos para presidente.
  20. Esta provavelmente não é a eleição mais importante da sua vida. E se for a eleição mais importante da sua vida, você não conseguirá saber isso em tempo real. Você só será capaz de fazer essa avaliação com lucidez daqui a 5, 10 ou 20 anos, mas não tem como saber isso agora.
  21. Seu voto não chega às mãos dos candidatos com uma nota explicativa. Os candidatos não sabem que você estava em conflito ou que votou de forma estratégica para mudar os rumos do partido adversário. Eles só sabem que venceram com o apoio de milhares ou milhões de cidadãos, e agirão em nome desses eleitores — ou seja, em seu nome.
  22. O que você faz na privacidade da cabine de votação é problema seu e pode ser mantido em segredo. Mas se você se sentir hesitante ou envergonhado em relação a compartilhar como votou, pergunte a si mesmo porque está se sentindo assim.
  23. No geral, seu voto individual tem importância ínfima para determinar o resultado de uma eleição ou o futuro do país. No entanto, pode ser que tenha uma importância espiritual substancial para você.
  24. “Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8.38-39)

Bonnie Kristian é a diretora editorial de ideias e livros da Christianity Today.

Para ser notificado de novas traduções em Português, assine nossa newsletter e siga-nos no FacebookTwitterInstagram ou Whatsapp.

Our Latest

News

Ira santa ou pecado? “Irai-vos, mas não pequeis”.

O conselheiro cristão Brad Hambrick fala sobre como lidarmos com nossa própria fúria em tempos acalorados.

Contra a cultura da demonização

O problema não é quando o conflito está fora, mas sim dentro do cristão.

A epidemia das apostas esportivas: um problema que os cristãos não podem ignorar

Jogos de azar online não são necessariamente pecaminosos, mas certamente não são um uso cuidadoso da riqueza que Deus nos deu.

Os evangélicos brasileiros estão divididos sobre o legado de Lausanne

Cristãos da América Latina desenvolveram a teologia da missão integral. Agora não sabem o que fazer com ela.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube