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Missionários americanos são mortos em Porto Príncipe

Um confronto entre gangues no Haiti deixa três mortos e uma casa em chamas. E a intervenção das forças internacionais ainda é aguardada.

Davy (à esquerda) e Natalie (centro) Lloyd trabalhavam em um orfanato no Haiti desde 2022.

Davy (à esquerda) e Natalie (centro) Lloyd trabalhavam em um orfanato no Haiti desde 2022.

Christianity Today May 27, 2024
Missions in Haiti

Dois jovens missionários americanos foram assassinados no Haiti no dia 23 de maio, em meio à crise contínua da violência de gangues que assola o país.

Davy e Natalie Lloyd, bem como Jude Montis, membro da equipe haitiana e líder de igreja, foram emboscados por três caminhões cheios de membros de gangues, na saída de um culto do grupo de jovens, em Porto Príncipe, de acordo com a página do Facebook da organização Missions in Haiti [Missões no Haiti]. Enquanto homens armados roubavam vários veículos, nos quais colocavam o que era saqueado da missão, outra gangue chegou e os dois grupos entraram em confronto violento.

“Não tenho certeza do que aconteceu, mas alguém foi baleado, morreu, e então essa gangue começou um ataque generalizado”, escreveu um missionário que recebia nos EUA relatos dos acontecimentos. “Davy, Natalie e Jude [estavam] na minha casa, no fundo da propriedade, usando a internet Star Link para me ligar. Eles estavam escondidos lá, e as gangues começaram a atirar em todas as janelas da casa e não paravam de atirar.”

A organização Missions in Haiti teria tentado entrar em contato com a polícia haitiana, sem sucesso. Então, as linhas telefônicas caíram.

“POR FAVOR, OREM”, pediu a organização aos seus 4.500 seguidores no Facebook. “Vai ser uma longa noite.”

Por volta das 21h, a casa [em que os missionários estavam] estava em chamas e Davy e Natalie Lloyd, bem como Jude Montis estavam mortos.

Jude tinha 45 anos. Davy tinha 23. Natalie, 21.

“Meu coração está partido em mil pedaços”, escreveu Ben Baker, pai de Natalie e deputado estadual pelo estado do Missouri. “Nunca senti uma dor como essa.”

Gangues criminosas mataram perto de 5.000 pessoas no Haiti no ano passado. Depois, em 2024, as gangues uniram-se, voltaram-se contra os políticos que antes colaboraram com elas por poder, e empreenderam ataques coordenados contra o governo. As gangues incendiaram delegacias de polícia, fecharam o aeroporto principal e o porto marítimo e invadiram duas prisões, libertando cerca de 4.000 presos. Vandalizaram escritórios do governo, invadiram o Palácio Nacional e assumiram o controle de cerca de 80% da capital.

“Hoje, elas são um poder em si mesmas”, disse à Associated Press Robert Fatton, professor de governança e relações exteriores na Universidade da Virgínia. “A autonomia das gangues atingiu um ponto crítico. É por isso que, hoje, elas são capazes de impor certas condições ao próprio governo.”

O primeiro-ministro renunciou em abril, e foi criado um conselho governamental interino, que ficou encarregado de reprimir a violência e restaurar a ordem.

Uma missão de paz aprovada pela ONU, composta por 1.000 agentes da polícia queniana, está sendo reiteradamente adiada. Duzentos deles deveriam chegar no Haiti na quinta-feira (23 de maio) — quando o presidente queniano, William Ruto, reuniu-se com o presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca —, mas o voo de Nairóbi foi cancelado no último minuto.

Os policiais não receberam nenhuma explicação para o atraso e foram orientados a aguardar, segundo a Reuters, porque poderiam embarcar a qualquer momento. Autoridades dos EUA disseram que a força não possui os veículos blindados, helicópteros, armas e equipamentos de comunicação necessários para a operação.

O governo americano alocou 300 milhões de dólares para a missão. Desde abril, os EUA evacuaram centenas de cidadãos americanos com helicópteros e muitas organizações sem fins lucrativos também coordenaram planos de evacuação de emergência. Nem todos puderam sair, porém, e alguns optaram por não fazê-lo.

A organização Missions in Haiti disse a seus mantenedores, em março, que a sua área de Porto Príncipe estava tranquila e que os missionários não estavam preocupados com a sua segurança.

A organização foi fundada pelos pais de Davy Lloyd, David e Alicia, em 2000. A missão atende principalmente crianças — oferecendo comida, educação e orientação espiritual. Em 2002, cerca de 100 crianças frequentaram o programa de escola bíblica de verão da missão e, naquele outono, havia 10 crianças no orfanato e outras 30 matriculadas na escola.

Em 24 anos, a escola cresceu e passou a atender mais de 400 crianças por ano, de acordo com relatórios divulgados aos mantenedores. E a missão também se expandiu, plantou uma igreja e abriu uma padaria que emprega alunos que se formaram.

A escalada da violência no Haiti, no entanto, começou a preocupar seriamente David Lloyd em 2022.

“Não existe um governo que funcione, a nação do Haiti está em total anarquia”, escreveu o velho Lloyd. “Essas gangues assassinam, estupram, roubam e destroem à vontade.”

Ele relatou que sua organização quase foi dominada por “uma das gangues mais perversas”, mas “caímos de joelhos e Deus interveio de forma milagrosa, e fez com que aquela gangue se afastasse!”

Os missionários permaneceram esperançosos e pediram a seus mantenedores que orassem e escrevessem aos políticos nos EUA.

Davy e Natalie Lloyd ingressaram na organização em 2022, depois de se formarem no Ozark Bible Institute, uma escola pentecostal da Holiness, e se casarem.

Davy, que cresceu na missão, dedicava-se a projetos de manutenção, reformando banheiros de dormitórios, consertando veículos e construindo uma nova lavanderia.

Ele disse a mantenedores que, quando voltou para lá, pôde ver os problemas maiores que assolam o Haiti com mais clareza do que quando era criança e ia à escola e à igreja, cuidava das galinhas e brincava com seus amigos haitianos.

“Meus olhos estão mais abertos”, disse o jovem Lloyd, em um vídeo compartilhado pela Missions in Haiti. “Realmente, precisamos de um milagre. Precisamos de um mover de Deus.”

Natalie trabalhava no orfanato e cuidava das crianças. Ela compartilhou imagens do ministério no Instagram do casal: pintando equipamentos do playground, dando mangas e cocos às crianças e ensinando-as sobre a plena armadura de Deus.

A jovem missionária expressava certa preocupação com a situação política no Haiti, mas se concentrava mais no seu prazer em servir as crianças e na sua confiança em Deus.

“Deus é sempre fiel a suas promessas. Ele é imutável, nunca vacila”, escreveu ela. “Quero colocar minha esperança Naquele que nunca falha, Naquele cujas misericórdias se renovam a cada manhã, Naquele que, enquanto mudam as estações, permanece o mesmo”.

Poucos dias antes do ataque das duas gangues, os missionários expressaram esperança de que a ajuda estava chegando e de que a ordem poderia ser restaurada em breve. Eles viram aviões militares dos EUA sobrevoarem a área várias vezes ao dia, provavelmente trazendo equipamentos para as forças quenianas. O aeroporto foi reaberto e a atividade das gangues parecia estar diminuindo, de acordo com a página do Facebook da missão.

“O domínio das gangues pode terminar em breve”, escreveu David Lloyd. “Estamos orando para que isso aconteça, e quanto mais cedo melhor. Obrigado por suas contínuas orações.”

Na tarde de sexta-feira, familiares relataram que os corpos de Davy e Natalie Lloyd haviam sido transferidos para a embaixada americana.

Correção: Uma versão anterior desta notícia dizia que o orfanato foi incendiado. Na verdade, foi a casa de um missionário, e não o orfanato, que foi incendiado.

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