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O que as pesquisas dizem sobre as cinco linguagens do amor

Até mesmo Gary Chapman esclarece que a questão não é escolher uma única linguagem do amor.

Christianity Today February 27, 2024
RgStudio / Getty Images

Quando Katie Frugé e Lafayette, seu marido, decidiram se casar, em 2007, tinham 21 anos e não estavam conscientes de que havia muita coisa que ainda não sabiam.

“Éramos jovens demais para nos casarmos e jovens demais para de fato nos importarmos”, disse Frugé, que hoje é diretora do Center for Cultural Engagement [Centro para Engajamento Cultural] da Convenção Geral Batista do Texas.

Em busca de orientação, o jovem casal recorreu à obra The Five Love Languages [As cinco linguagens do amor], um livro bem conhecido de Gary Chapman, autor e pastor da Carolina do Norte. Publicado pela primeira vez em 1992, o livro explora diferentes maneiras de as pessoas expressarem o amor — palavras de afirmação; toque físico; tempo de qualidade; atos de serviço e presentes —, na esperança de ajudar casais a encontrarem a felicidade.

O livro afirma que compreender a linguagem do amor um do outro pode ajudar a criar casamentos saudáveis. Frugé se lembra de ter pensado que o livro era a chave para um futuro brilhante.

“Pensamos que bastava aprendermos as linguagens do amor um do outro e tudo ficaria bem”, disse ela. “Nunca mais teremos brigas e ambos nos sentiremos plenamente satisfeitos o tempo todo.”

A vida de casada, no entanto, mostrou-se um pouco mais complicada do que isso.

Frugé disse que, 17 anos depois, ela e o marido ainda estão casados e felizes, mas enfrentaram muitos problemas, entre eles várias crises relacionadas à saúde — “Atravessamos aquela parte [sobre a promessa de estarmos juntos] ‘na saúde e na doença’ ”, disse ela. E precisaram de mais amor ao longo do caminho do que uma simples fórmula poderia proporcionar.

“Quando sou diagnosticada com câncer, o que preciso não é que meu marido saia e compre um presente para mim”, disse ela.

Uma vez que se popularizou principalmente nos círculos cristãos evangélicos, as Cinco Linguagens do Amor explodiram e se tornaram um fenômeno da cultura pop. O aplicativo de namoro Bumble oferece um teste com esse tema; o conceito também foi apresentado no programa The Bachelorette [A Solteira] e nos principais meios de comunicação, enquanto o perfil Five Love Languages [Cinco Linguagens do Amor] no TikTok já atraiu dezenas de milhões de visualizações. Chapman vendeu mais de 20 milhões de exemplares de seus livros e criou uma indústria informal de conferências, livros relacionados ao tema e um teste on-line já respondido dezenas de milhões de vezes.

Toda essa atenção levou pesquisadores — como Emily Impett, professora de psicologia e diretora do Laboratório de Relacionamentos e Bem-Estar da Universidade de Toronto, Mississauga — a perguntarem se as alegações das Cinco Linguagens do Amor resistem ao escrutínio científico e, talvez tão importante quanto isso, a descobrirem: O que os acadêmicos podem aprender com a popularidade da obra de Chapman?

Um novo artigo publicado na revista “Current Directions in Psychological Science” [Rumos Atuais na Ciência da Psicologia] sugere que a teoria de Chapman sobre como o amor funciona não é tão convincente assim. Para o artigo, Impett e dois colegas analisaram uma série de estudos que tentaram testar três ideias principais sobre as Cinco Linguagens do Amor: as alegações de que as pessoas têm uma linguagem do amor principal; de que existem cinco linguagens do amor e de que as pessoas são mais felizes quando têm um parceiro que fala a sua linguagem do amor principal.

Segundo Impett e seus colegas, os estudos não sustentam essa teoria.

Por exemplo, as pessoas escolherão uma linguagem preferida, se forem forçadas a fazê-lo em um teste. No entanto, os pesquisadores descobriram que, se perguntadas sobre cada uma das cinco linguagens do amor de forma individual, as pessoas dão uma nota alta para cada uma delas. Os pesquisadores também descobriram que algumas ideias importantes, como apoiar os objetivos do parceiro ou do cônjuge, não se encaixam no modelo das cinco linguagens do amor e que pessoas que têm as mesmas linguagens do amor não são mais felizes do que outros casais.

“O amor não se assemelha a uma linguagem que alguém precisa aprender a falar, mas pode ser entendido de forma mais apropriada como uma dieta equilibrada, na qual as pessoas precisam de uma gama completa de nutrientes essenciais para cultivar um amor duradouro”, escreveram Impett e seus colegas.

Eles sugeriram que o livro de Chapman de fato atendeu a uma necessidade dos casais, pois “oferece aos parceiros uma oportunidade de refletir, discutir e responder às necessidades um do outro”.

Em um e-mail posterior, Impett disse que ler o livro sobre as linguagens do amor — que inclui exemplos de como praticar a demonstração de amor de diferentes maneiras — é muito mais útil do que responder ao questionário on-line. Isso se deve, em parte, ao fato de que o foco em descobrir a principal linguagem do amor de um parceiro pode ser muito restritivo e acaba colocando as pessoas em uma caixa.

Já, ao contrário disso, “todos os comportamentos que Chapman identificou são importantes” disse ela ao Religion News Service [Serviço de Notícias Religiosas] em um e-mail.

“Não estamos sugerindo que as pessoas sejam necessariamente multilíngues (hábeis em todos os cinco comportamentos), mas que deveriam aprender a ser, pois os cinco comportamentos que Chapman identifica são coisas realmente importantes que as pessoas podem fazer para manter seus relacionamentos.”

Chapman concorda com esse ponto.

O autor, hoje com 86 anos, que recentemente deixou o cargo, após 50 anos integrando a equipe da Calvary Baptist Church, em Winston-Salem, na Carolina do Norte, disse que todas as linguagens do amor são importantes.

“Não resta a menor dúvida de que o que faz uma pessoa se sentir amada não necessariamente faz outra pessoa se sentir amada”, disse ele em uma entrevista. “Mas não quero dizer [com isso] que você só deve falar a principal linguagem do amor da pessoa.”

Chapman, que ainda viaja e se apresenta em conferências sobre casamento e outros eventos, disse que ficou surpreso com algumas das descobertas do artigo, mas que aprecia o fato de os pesquisadores levarem seu trabalho a sério. Quanto mais pesquisas, disse ele, melhor.

Ele disse que continua a se surpreender com a popularidade do conceito das linguagens do amor. Chapman desenvolveu o conceito para o livro, enquanto aconselhava casais com problemas em sua igreja. Esses casais, segundo ele, muitas vezes não sabiam mais o que fazer, pois cada parceiro achava que estava agindo de forma amorosa, mas o outro não se sentia amado.

Como um exímio contador de histórias, Chapman lembrou-se de um marido que dizia que preparava o jantar na maioria das noites, compartilhava as tarefas domésticas e o trabalho com a área externa da casa, e fazia tudo o que podia para sustentar a família. Mas a esposa se sentia distante [dele], porque ele estava tão ocupado ajudando em casa que eles nunca tinham tempo para conversar.

Analisando suas anotações de aconselhamento, Chapman começou a procurar por padrões e acabou chegando às cinco linguagens do amor.

“É um conceito simples”, disse ele. “Mas eu sabia, por causa dos meus aconselhamentos e do meu trabalho com casais, que ele ajudaria as pessoas, se elas pudessem entender esse conceito. Em todos os meus textos, tentei falar de forma clara sobre esse conceito, para que as pessoas pudessem entendê-lo facilmente.”

Os pesquisadores dizem que podem aprender algo com essa abordagem.

Em seu artigo sobre as linguagens do amor, eles disseram que o livro de Chapman se conectou com as pessoas porque usa “metáforas intuitivas, que podem repercutir nas pessoas e transmitir uma mensagem de fácil digestão, livre de jargões científicos”.

Impett também disse que o foco em encontrar uma linguagem do amor principal pode ofuscar o motivo pelo qual tantas pessoas consideram o livro de Chapman útil. O livro, disse ela em um e-mail, “faz com que as pessoas identifiquem quaisquer necessidades em seu relacionamento que não estão sendo atendidas no momento (áreas de melhoria) e abre canais de comunicação para atender a essas necessidades”.

Chapman, que está casado há 62 anos, disse que esse é o ponto. Ele disse que o amor começa com a emoção, mas é sustentado pela atitude correta e por ações que colocam seu cônjuge ou parceiro amoroso em primeiro lugar.

Essa atitude correta, segundo ele, pode ser resumida da seguinte forma: “Quero fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-lo (ou ajudá-la) a se tornar a pessoa que você quer ser. Quero fazer tudo o que for bom para você”.

Meleah Smith, de Chattanooga, Tennessee, que orienta “marcas e bandas” na área de marketing, disse que o conceito das cinco linguagens do amor nunca a atraiu muito. Ela sabe que o livro funcionou para outras pessoas, mas, para ela, é simplista demais, disse a mulher de 40 e poucos anos, que se descreveu como uma “solteira de carteirinha”.

Smith — que ajuda a administrar a banda de seu irmão — disse que tem muito amor em sua vida, de amigos, da sua igreja e de sua família, mas [não tem] nenhum relacionamento amoroso. Ela disse que as linguagens do amor podem ser simplistas demais às vezes — levando as pessoas a se sentirem tentadas a evitar o trabalho árduo de conhecer alguém e de prestar atenção no outro.

“Se eu tiver que lhe dar uma lista de coisas que você precisa fazer por mim, talvez não sejamos um bom casal”, disse ela.

Após 17 anos de casamento, Frugé deu alguns conselhos para quem usa as cinco linguagens do amor. Lembre-se de que as pessoas precisam de todos os tipos de amor, e não de um tipo apenas. Preste atenção nelas — em vez de correr para encontrar todas as respostas em um livro.

Às vezes, as respostas de que você precisa estão bem na sua frente.

“Relacionamentos prósperos ocorrem quando você tem um parceiro que entende e conhece o outro, enxerga a sua necessidade naquele momento e a atende.”

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