Nunca se deixe “curar” da prática de frequentar uma igreja

A jornada de um cristão sem igreja é solitária e exaustiva. E o único antídoto para isso é a comunidade cristã.

Christianity Today January 12, 2024
Illustration by Mallory Rentsch Tlapek / Source Images: Unsplash

Quando minha família se mudou do estado de Washington para a Califórnia, nossos pais prepararam os filhos para uma busca para encontrar outra igreja que poderia levar algum tempo. Mas, depois de um único domingo, nos apaixonamos por uma congregação que a minha família ainda frequenta mais de 15 anos depois.

Ao sair de casa, quando entrei na faculdade, eu esperava que a história se repetisse. Em vez disso, vivi exatamente o oposto. De fato, até cerca de seis meses atrás, eu fiquei por seis anos sem ter uma igreja para chamar de minha — uma realidade familiar para muitos cristãos da Geração Z.

Hoje, cerca de um terço dos jovens vai à igreja com menos frequência do que antes da pandemia. Um estudo de 2022 do Survey Center sobre o estilo de vida norte-americano descobriu que a pandemia parece ter feito com que aqueles que já tinham um compromisso mais fraco com a frequência religiosa regular — entre eles, jovens, pessoas solteiras e os que se identificam como liberais — parassem de vez de frequentar a igreja em uma proporção muito maior do que outros grupos de norte-americanos.

Durante toda a minha busca por uma igreja, lutei com pensamentos de dúvida em relação a mim mesma, perguntando-me se eu era o problema: será que eu estava sendo muito exigente em minhas expectativas? Será que eu estava descartando igrejas por motivos superficiais? Em minha mente, na época, o motivo pelo qual eu ainda não havia encontrado uma igreja para frequentar era uma combinação de fatores igualmente válidos que contribuíram para isso, ao longo de minha carreira universitária.

No meu primeiro ano, visitei, de ônibus, já que eu não tinha carro, o que me pareceram centenas de igrejas. E quando a pandemia nos atingiu em cheio, nos meus segundo e terceiro anos da faculdade, comecei a assistir em casa [online] aos cultos da minha amada igreja na Califórnia. No último ano, eu estava determinada a encontrar uma comunidade e não tinha nenhuma expectativa de encontrar algo que se comparasse a minha antiga comunidade.

Comecei a fazer um trajeto de 40 minutos, indo para a cidade em busca de uma comunidade de crentes que fosse rica e diversificada — dos pontos de vista étnico, geracional e socioeconômico. Decidi que me comprometeria com uma igreja que eu amasse, independentemente da distância que tivesse de percorrer para encontrá-la. Mas logo percebi como era difícil me integrar à comunidade da igreja, quando se é a única pessoa que mora longe — eu não podia passar para tomar café depois do trabalho, como os outros membros que moravam na região.

Enquanto isso, domingo após domingo, eu sentia o isolamento de não ter uma igreja para chamar de “minha”.

Um dos motivos para isso foi que muitas das congregações que visitei eram homogêneas, e eu queria desesperadamente aprender e ser desafiada por um grupo diversificado de pessoas. Outros motivos eram um pouco mais objetivos: uma igreja que visitei tocou música do Pitbull [um rapper] durante a oferta. O site de outra igreja usava um bot de IA para “me mostrar o local”, mas para obter informações adicionais sobre liderança e envolvimento na comunidade, eu precisava entrar no canal do Slack [aplicativo de mensagens]. Em outra igreja que visitei, o pastor fez um comentário casual no púlpito que, para mim, foi um grande sinal de alerta.

Eu simplesmente não confiava em algumas igrejas, em parte por causa de seu envolvimento com denominações que estavam lutando contra escândalos ou fazendo vista grossa para abusos sexuais. Infelizmente, nos tempos atuais, comprometer-se com uma igreja muitas vezes exige um equilíbrio delicado entre confiar nos pessoas da congregação e ficar sempre atento. E, especialmente por ser uma mulher jovem, eu queria um lugar onde pudesse me permitir ser vulnerável.

Mesmo quando a denominação em sentido mais amplo está lutando em busca de justiça e prestação de contas, sei que há igrejas que individualmente estão indo bem. Mas como posso saber qual congregação ou qual líder de igreja será alvo do próximo escândalo — ou se não serei eu a próxima vítima?

Estudos mostram que não estou sozinha nesse medo. De acordo com um estudo do Barna Group, de 2022, 27% das pessoas dizem que sua dúvida sobre o cristianismo se deve a experiências passadas com uma instituição religiosa. Estatisticamente e de forma anedótica, muitos membros da Geração Z que conheço compartilham a preocupação de que a igreja não parece ser um ambiente seguro, em meio a tantos escândalos.

Há outra razão frequentemente citada para as pessoas evitarem se comprometer com uma igreja: Em meus círculos sociais formados por jovens, ouço muitos deles dizerem que simplesmente não encontraram uma igreja que compartilhe de todas as convicções deles.

Nesse caso, lembro-me da advertência assustadora que C. S. Lewis faz em The Screwtape Letters [Cartas de um Diabo a seu aprendiz], quando o “demônio” escreve para seu protegido: “Certamente você sabe que, se um homem não pode ser curado de frequentar a igreja, a próxima melhor coisa a fazer é mandá-lo por toda a vizinhança à procura da igreja que ‘lhe convenha’, até que ele se torne um provador ou um conhecedor de igrejas”.

Também ouvi falar de outras pessoas que simplesmente não veem a igreja como um requisito da fé cristã. Como Daniel K. Williams escreve: “E se o problema com os evangélicos sem igreja não for sua compreensão errônea da fé, mas sim a própria falta de ênfase da teologia evangélica na igreja?” Ele defende que os evangélicos precisam redescobrir uma teologia da igreja que seja convincente — para estabelecer uma resposta exclusivamente evangélica à pergunta: “Por que ter uma igreja?”

Até mesmo eu me deparava com as mentiras do isolamento em cada esquina. Passei por períodos em que simplesmente não frequentava a igreja, e dizia a mim mesma que não era necessário. Às vezes, eu citava Mateus 18.20 para me convencer de que estava sempre “na igreja” quando estava com duas ou mais pessoas reunidas em nome de Jesus.

Nesse sentido, estudar em uma faculdade cristã era uma faca de dois gumes. Fica mais fácil evitar frequentar uma igreja local quando você está constantemente cercado pela comunidade cristã — frequentando a capela três vezes por semana e se envolvendo com um currículo bíblico todos os dias. Mas eu me sentia envergonhada, como se fosse um péssima cristã, sempre que as pessoas me perguntavam a que igreja eu estava indo. Parecia que o fato de estar conectada a uma igreja local era um teste decisivo para o meu bem-estar espiritual.

No entanto, nenhuma dessas desculpas resolvia meu profundo anseio por uma comunidade cristã. Não ter uma igreja é um estado solitário, além de ser um ponto de vulnerabilidade para que o inimigo introduza mentiras em nossa mente. Satanás sabe que a busca por uma igreja é algo exaustivo e exige fé para perseverarmos, enquanto procuramos uma congregação saudável que nos desafie a servir aos outros e a crescer em nossa caminhada espiritual. É por isso que ele frequentemente nos incentiva a ser apáticos e indiferentes, para nos distanciar de nossos desejos por Deus e por uma comunidade. Isso, aliado à solidão, pode ser uma combinação poderosa.

A igreja é essencial para a nossa fé, sem mencionar o fato de que a adoração presencial pode melhorar nosso bem-estar geral e diminuir nosso sofrimento psicológico. Mas superar o estágio de não ter uma igreja exige tempo, energia mental e resistência emocional. Muitos de nós lutam com a resiliência para enfrentar isso — em especial aqueles que são jovens adultos ou solteiros.

No entanto, pode haver uma bênção oculta nessa própria luta. Citando Romanos 5.3-5, “Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.”

Mais do que qualquer outra coisa, sou grata pelo fato de o Senhor se importar com nosso sofrimento e nos socorrer em meio a tudo isso.

Há alguns meses, como já havia feito muitas vezes antes, entrei sozinha em mais uma nova igreja — sentindo que cada célula do meu ser não queria entrar sozinha naquele santuário. Naquele momento, ouvi uma voz mansa e suave em minha mente dizer algo que me deu uma sensação imediata de paz: “Uma igreja deve ser o lugar mais seguro para se estar sozinho.”

Desde então, participei da aula para me conectar com a igreja, me inscrevi em um pequeno grupo e me juntei ao ministério de mulheres. Anotei os nomes das pessoas que conheci a cada semana como um lembrete de que minhas orações por uma comunidade cristã foram atendidas. Neste domingo, estarei sentada no santuário, cercada por menos estranhos do que na semana anterior — com minha Bíblia e meu caderno, minha lista de prioridades e a mente aberta — orando para que este seja o lugar onde eu possa plantar minhas raízes e prosperar.

E, à medida que continuo a ir à igreja a cada semana, Deus continua a demonstrar sua fidelidade a mim. Todos os domingos, agradeço ao Senhor por me dar forças para lutar contra a solidão; e quanto mais me conecto [à comunidade], mais minha solidão se dissipa. Além disso, sou grata pelas oportunidades de ver mais do reino de Deus em ação ao meu redor e de conhecer outras pessoas que têm seus próprios motivos para comparecer à igreja, apesar de seus impedimentos pessoais.

Isso não quer dizer que ainda não haja manhãs de domingo em que eu não queira acordar e ir à igreja. Mas quando olho para trás e vejo alguns dos momentos mais difíceis da minha vida, vejo que me senti mais distante de Deus quando não estava cercada por outros crentes que pensam como eu — e a única maneira de sair dessas trincheiras foi quando decidi dar outra chance à igreja.

Na verdade, houve momentos em minha vida em que a única razão pela qual eu ainda me agarrava à minha fé foi por saber que havia outros cristãos orando por mim. Nos dias em que me sinto chateada com Deus ou desanimada com nosso mundo pecaminoso, sei que alguém está orando por mim, para que eu recupere o senso de esperança.

Em tudo isso, quero lembrar àqueles que estão sofrendo com a falta de uma igreja — especialmente jovens adultos e pessoas solteiras como eu — que vocês não estão sozinhos. Mais do que isso, não precisam se contentar com essa solidão. Vocês podem ser resilientes e encontrar a família que Deus lhes prometeu.

E toda vez que tomamos a decisão e nos esforçamos para comparecer ao culto, em uma manhã de domingo, nossa simples presença na casa de Deus significa que o diabo não conseguiu nos curar de frequentar a igreja.

Mia Staub é gerente de conteúdo da Christianity Today.

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