Lições para criar raízes no local em que vivemos

Mais pessoas estão preferindo morar em um só lugar. Mas como podemos viver assim de forma intencional?

Christianity Today July 18, 2023
Szabo Viktor / Unsplash

O culto de lamento da nossa igreja aconteceu em março; havíamos nos mudado para Cincinnati no verão anterior. Não compareci ao culto pensando em minha própria tristeza — mas ela me alcançou, no silêncio sombrio e melancólico consagrado àqueles que compareceram. A dor de nossa mudança recente me atingiu em cheio, enquanto estava sentada ali, no banco da igreja, naquela noite de inverno. Deixar o lar, ainda que voluntariamente, acarreta uma ladainha sem fim de perdas.

Eu poderia ter acreditado que a pandemia da COVID-19 contribuiu para um aumento na mobilidade geográfica, uma vez que empresas — como a do meu marido — venderam suas sedes e optaram por manter a força de trabalho totalmente remota. Essa flexibilidade nos permitiu mudar de cidade para cuidar de um de nossos pais, já idoso, e a maioria dos americanos ainda relata ter o desejo de trabalhar de casa em período integral (enquanto apenas 13% o fazem).

Dados recentes, no entanto, revelam que há quatro décadas a mobilidade geográfica está em declínio nos Estados Unidos. Embora os distúrbios causados pela pandemia tenham levado a um aumento inicial no deslocamento de pessoas (muitas vezes de zonas urbanas para subúrbios ou zonas rurais), esses números se estabilizaram. Mais americanos estão criando raízes.

Talvez nosso apetite nacional pela transitoriedade esteja diminuindo. Ainda assim, confesso que me sinto pessimista em relação ao nosso compromisso coletivo em criar raízes e uma responsabilidade geográfica. Em nossos novos ambientes de teletrabalho, telessaúde e teleigreja, parece quase tão fácil optar por se desligar de um lugar quanto é optar por pertencer a ele. Com vidas socialmente mediadas, não há ausências imediatas e agudas a preencher, se você mudar de endereço. Com os acordos de trabalho remoto, há menos oportunidades de fazer novos amigos. Na verdade, ao comparar nossa mudança de 2022 com a de 2011, algo que me pareceu curioso é o quão pouca coisa muda hoje em dia, apesar da mudança na localização geográfica.

Cada vez mais parece não haver nada de inevitável em se criar raízes em um só lugar. Podemos trabalhar de casa, fazer compras de casa, socializar de casa, assistir cultos de casa. (De acordo com o relatório State of the Church Tech, da Pushpay, publicado em janeiro de 2023, 89% das igrejas ainda estão oferecendo um modelo híbrido de culto online e presencial, sendo que este último tipo sofreu um declínio de 5% na frequência.) A quase totalização de nosso ambiente digital imita a alienação material do subúrbio americano, que se desdobrou em meados do século 20 — embora agora a porta da garagem nunca precise ser aberta.

À medida que fica mais difícil viver e criar raízes, torna-se mais urgente que as igrejas incorporem uma identidade local e se comprometam a amar os geograficamente próximos de carne e osso.

O pertencimento a um lugar pode parecer um fator incidental para o florescimento humano em uma sociedade móvel; porém, de acordo com a história bíblica, um lugar é uma das primeiras dádivas de Deus para seu povo. Em Where Mortals Dwell [Onde os Mortais Habitam], obra de Craig Bartholomew, o estudioso do Antigo Testamento realoca o conhecido arco narrativo da criação, queda e redenção para dentro do contexto de lugar.

Como conta Bartholomew, bem no começo, o povo de Deus foi alocado — recebeu um lar físico com Deus, no Jardim do Éden que o Criador havia plantado para eles. A maldição do pecado não significou apenas o afastamento de Deus; mas também deslocamento — um exílio do jardim e a perda da estabilidade geográfica. A história da salvação, então, trata da recuperação de todos os aspectos do shalom perdido, entre eles a bênção de um lar físico e geográfico. Na Nova Jerusalém, seremos reconciliados com Deus — e realocados em uma cidade cujas luzes nunca se apagam.

Sem dúvida, hoje é preciso um esforço intencional para recebermos o lugar onde vivemos como uma dádiva, e não uma limitação. No mundo físico, há interrupções e contingências — fricções — que posso escolher evitar, quando opto por uma experiência de vida virtual. Existem próximos reais sofrendo na vida e, se eu permitir contato aberto [com eles], suas necessidades podem facilmente se impor de formas inconvenientes — como no dia em que um vizinho me confidenciou, dez minutos antes de uma ligação de trabalho, uma angústia de cortar o coração.

Mesmo com o compromisso de amar responsavelmente o lugar em que vivemos, nossos esforços podem ser frustrados pela ignorância. Com o desaparecimento dos jornais locais na última década, temos menos recursos para ficar sabendo dos problemas atuais enfrentados por nossos bairros, cidades e vilas. Quando as redações locais desaparecem (e, com elas, as reportagens sobre reuniões do conselho municipal, reuniões do conselho escolar e arrecadação de fundos na comunidade), isso corresponde a “menor participação dos eleitores, maior polarização [e] uma erosão geral do engajamento cívico”, segundo reportagem de McKay Coppins, da The Atlantic. É difícil amar de maneira significativa um lugar sem conhecer seus anseios e esperanças, suas dores e problemas.

As igrejas que levam a sério suas identidades locais podem desenvolver em seus membros o amor por um lugar e seu povo — mas isso também exigirá intencionalidade. Obrigará os líderes da igreja a dizerem de maneira franca e gentil: “A menos que sua saúde impeça você, participe presencialmente [dos cultos e atividades]”. Exigirá que as igrejas aprendam sobre os lugares em que foram plantadas — e que tragam esse aprendizado para a experiência da adoração comunitária.

Reconheço que tem uma parte particularmente formativa da liturgia de nossa igreja em Toronto — a Oração pela Igreja e pela Cidade — da qual sinto muita falta. Era a parte do culto em que orávamos pelo sindicato dos professores que estava ameaçando entrar em greve; quando elevávamos a Deus os nomes dos nossos líderes municipais; quando louvávamos a Deus pelos parques da nossa cidade. O culto semanal sempre levantava meus olhos e atraía a minha atenção para as realidades concretas da nossa cidade e de suas necessidades. Suspeito que esta seja uma experiência mais rara do que comum, pois muitas igrejas acham mais fácil, e talvez menos divisivo, falar do mundo do porvir em vez deste mundo em que vivemos.

Mas se a fidelidade cristã for algo encarnado (e sempre é), criar raízes locais não é opcional. O amor não pode ser arremessado de longe. Muitas vezes, o amor toma a forma de uma lasanha caseira, que apareceu na minha porta em setembro do ano passado, quando um membro da minha nova igreja soube que eu estava doente. (Até aquele momento, tínhamos ido apenas seis vezes à nova igreja.) Eu poderia facilmente ter pedido comida pelo Uber Eats, mas isso teria me impedido de experimentar a bênção de aprender a pertencer à minha nova família de fé.

Acabamos de comemorar o aniversário de um ano de nossa mudança para Cincinnati, e de dois meses como membros de uma igreja local. Ainda tenho muito a aprender sobre minha nova cidade e preciso me esforçar muito para amar meus novos próximos de maneira significativa. Mas sou grata por me sentir menos estrangeira, especialmente na igreja.

“Seja bem-vinda”, dizem eles, nas manhãs de domingo, entregando-me o boletim da igreja. E eu realmente acho que eles dizem isso de coração.

Jen Pollock Michel é apresentadora de podcast, palestrante e autora de cinco livros, entre eles In Good Time: 8 Habits for Reimagining Productivity, Resisting Rush e Practicing Peace (Baker Books, 2022).

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