Por que o Podcast sobre Mars Hill Fez Você Esperar

O produtor de “Rise and Fall”, Mike Cosper, leva os ouvintes aos bastidores para responder a perguntas sobre atrasos na produção, sua experiência pessoal e muito mais.

Christianity Today December 17, 2021
Image: Portrait Courtesy of Mike Cosper / Edits by Christianity Today

Na semana passada, Mike Cosper, diretor de podcasts da CT, postou o episódio final e muito aguardado da série The Rise and Fall of Mars Hill [Ascensão e Queda de Mars Hill]. Stefani McDade, editora da CT, sentou-se com ele para falar sobre o estresse e a alegria das entrevistas não previstas, sobre como exvangélicos e outros grupos responderam à série e o que os ouvintes podem esperar dos episódios de bônus e projetos futuros.

Como você se sente sobre a recepção geral do podcast e seu amplo público?

Se você tivesse me perguntado quem vai ouvir o podcast, eu teria dito: “Acho que pastores e líderes da igreja, homens da Geração X, com idades entre 35 e 50 anos, que fizeram parte desse fenômeno”. E então, sabe, também alguns com interesses mais amplos além disso. O fato de esse podcast ter tido milhões de downloads não é algo que teríamos imaginado a princípio. Quer dizer, ontem estávamos de volta aos top 10 podcasts da Apple, sabe?

Você teve alguns atrasos significativos na produção. Conte-nos sobre isso.

Com todo esse fluxo de entrevistas e conversas que eu não havia previsto, decidimos continuar seguindo em frente. No final de julho, estávamos pensando: “Isso vai ser um problema”. Pegamos o enredo, que era uma espécie de linha reta, e continuamos a expandi-lo e a abri-lo — “Vamos seguir este tema, vamos seguir aquele tema”. E então, algumas histórias surgiram no último minuto, histórias que realmente queríamos incluir. Pensamos: “Vale a pena fazer uma pausa. Isso é importante.”

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O que você acha que fez todas essas pessoas mudarem de ideia e decidirem falar com você no último segundo, principalmente no episódio final?

Houve algumas coisas que aconteceram em determinados episódios que inspiraram certa confiança nas pessoas. E isso, então, mostrou a elas que entendíamos [a situação]: não estávamos tentando pintar um quadro daquela comunidade que demonizasse todos dentro dela, mas estávamos, na realidade, tentando pintar um quadro de como é complicado quando você se vê preso em determinada situação.

Dissemos isso no podcast, mas uma pessoa com quem nos conectamos bem mais tarde no processo foi Lindsay, que apareceu no episódio final. E sua motivação era: “Eu sei que não estou sozinha. Eu sei que não sou a única que passou por algo assim.” Para alguém que já passou por uma experiência como essa — de violência doméstica, de ser ferido na igreja e tudo mais — puxa, essa é uma situação difícil. Assim, para ter coragem de falar sobre isso demorava um tempo.

Alguns grupos muito diferentes de pessoas — de exvangélicos e outros — envolveram-se na série de podcasts. Alguma coisa em particular surpreendeu você?

Muitas pessoas que já trilharam caminhos como esse passaram por algo semelhante a Mars Hill. O episódio de Josh Harris foi controverso por vários motivos. Não pressionamos muito sobre coisas relacionadas à desconstrução no episódio em si. Mas acho que parte da pressão exercida nesse episódio foi sobre coisas que precisam fazer parte de um diálogo contínuo, mesmo enquanto falamos sobre as noites escuras da alma. Terminamos o episódio dizendo: “Ei, ainda acreditamos que Jesus está agindo nessas vidas. Acreditamos que ele está trabalhando na vida de Josh”.

A reação a isso foi meio engraçada. Eu disse a um amigo meu, é como se precisássemos de um título amanhã de manhã, na primeira página da CT, que dissesse: “Notícia de última hora: a Christianity Today ainda é cristã”.

Acho que a outra parte disso que me interessa é que muitas pessoas queriam que concluíssemos que o problema em si é a teologia reformada, o complementarismo e o evangelicalismo como um todo. Vejo comentários nas redes sociais dizendo coisas como: “A CT chegou tão perto de dizer isso, mas eles estão com medo de dizer”. Eu posso compreender essa reação. Principalmente quando vinda de alguém que deixou um contexto complementarista no qual foi ferido.

Você recebeu algum e-mail de ódio de ouvintes zangados?

Sim, recebi algumas respostas desse tipo. Um punhado daqueles que escrevem comentários veem tudo como um festival de fofocas. E, repito, eu entendo o impulso de encarar as coisas dessa forma. Poderíamos ter dado a essa série um tom muito mais fofoqueiro do que fizemos. As verdadeiras mensagens de ódio, curiosamente, vieram de pessoas de teologia fortemente conservadora, que pensam que tudo isso é um ataque à teologia reformada e ao complementarismo. E não é. A outra reação de ódio que recebemos — de crítica severa — veio de progressistas que disseram que [o que fizemos] não é suficiente.

Eu vi alguns comentários dizendo: “Ok, agora que The Rise and Fall of Mars Hill acabou, quando vamos falar sobre todos os outros pastores daquela era, aspirantes a Mark Driscoll?”

Essa é uma das razões pelas quais queríamos falar sobre isso, certo? Este é o cara que, de muitas maneiras, foi pioneiro na “marketabilidade” social de pastores. Há uma coisa muito americana e muito performática que vem junto nessa história. Você tem estes ingredientes: o oeste americano, Seattle, Califórnia, empreendedorismo, celebridade. São todas essas coisas. Algumas delas são muito atraentes no mundo da plantação de igrejas.

Uma das coisas que não fez parte da edição final foi essa conversa muito interessante que tive com Collin Hansen. Quando estava saindo da escola de divindade com seu mestrado, ele dizia: “Se você fosse homem de verdade, plantaria uma igreja”. Em 2007, 2008, 2009 era assim — era isso que almas valentes iam e faziam. E por quê? Por causa de Mark Driscoll, Darrin Patrick e outros caras icônicos da época, que estavam fazendo um trabalho realmente interessante e inovador.

Então, sim, acho que houve muitos imitadores. E acho que houve muitas consequências. Eu poderia facilmente citar uma dúzia de pastores que foram produzidos nesse molde e que tiveram trajetórias semelhantes de serem disciplinados e abandonarem suas igrejas.

Diante de toda a loucura e lugares sombrios que este podcast o levou, o que manteve você entusiasmado durante todo o processo?

Essa é uma ótima pergunta. Existem algumas respostas para isso. Uma delas é que, durante grande parte do processo, a gente apenas vive na adrenalina: “Ok, mais um dia; não, 12 horas; não, mais 14 horas”. Seja o que for, você permanece ali. A segunda resposta é que eu me lembro de ouvir, anos atrás, o produtor de rádio Ira Glass falando sobre mergulhar em uma história como esta e dizer: “Você sabe que chegou a um ponto realmente interessante da história quando pode olhar em volta e dizer: ‘Meu Deus, eu amo essas pessoas.’”

Houve uma dinâmica interessante em que quase parecia que algumas dessas pessoas estavam realmente nesta jornada comigo. Estávamos nos aproximando a cada dia mais. Dizíamos: “Ei, eu me lembrei disso, pensei sobre aquilo, vá falar com essa pessoa, aqui estão alguns antecedentes”.

E ainda tem Erik Petrik, produtor executivo — puxa, não consigo expressar a gratidão que sinto por ele. O apoio que me deu e o tempo que dedicou, quando ele e eu estávamos sentados, conversando por telefone, à meia-noite e meia ou a uma hora da manhã, resolvendo coisas, tentando fazer tudo funcionar. Esse senso de solidariedade, de comunidade me ajudou. Em nenhum momento eu me senti sozinho em tudo isso. Definitivamente, havia pessoas ao meu redor. Mas foi diferente de tudo que eu já experimentei antes.

Se você pudesse voltar e fazer tudo de novo, faria algo diferente?

Como contadores de histórias, há decisões que tomamos intencionalmente, tentando provocar e levar as pessoas a fazerem questionamentos difíceis. Essa provocação, em parte, não sei se saiu bem da maneira que queríamos. Mas também não sei se faria diferente.

A decisão que tomávamos ao fim do dia era a de deixar o personagem falar, deixar as histórias se contarem por si mesmas e deixar o público travar um embate com a história. E então, no material incluído como bônus, meio que retomar os pontos e dizer: “Ok, o que a igreja pode aprender com isso?” Então, não sei, acho que gostaria de ver a reação a isso, certo? Será que funcionou? Provocou a reação certa? Eu espero que sim.

Este é um dos desafios da narrativa cristã. Você vê filmes e livros cristãos e coisas do gênero. Frequentemente, seus desfechos adotam maneiras que tentam dizer ao público exatamente o que pensar. E eu queria resistir um pouco a esse impulso. Eu queria provocar. Queria deixar essas coisas um pouco mais tensas.

Em algum ponto, eu preciso ouvir tudo novamente. Essa é uma das coisas mais engraçadas que aconteceram. Hesitei até mesmo em ouvir de novo, à medida que avançavamos, pois, quando um episódio é lançado, já ouvi cada trecho dele milhares de vezes. Portanto, seria muito estranho.

Do que você mais se orgulha?

Bem, vou colocar desta forma. Acho que o que mais me importou — mais do que agradar às multidões ou qualquer outra coisa — foi perguntar: “Será que as pessoas de Mars Hill que estavam dispostas a compartilhar suas histórias sentiram que fizemos isso de forma honesta e justa?” O feedback que recebi diretamente delas foi muito positivo nesse sentido. Elas sentiram que representamos sua experiência e contamos a história de maneira justa e honesta. O que mais me encoraja é achar que conseguimos.

Que projetos você prevê para o futuro?

Muitas pessoas nos contaram histórias realmente comoventes sobre sua própria dor, suas próprias feridas por causa da igreja. E levamos isso muito a sério. Não é algo que simplesmente descartamos de imediato.

Portanto, estou muito interessado em dizer: “Bem, que outras histórias podemos explorar, que nos ajudem a responder a perguntas semelhantes sobre onde estamos agora e como chegamos aqui?” Acho que a de Mars Hill é uma história que nos ajuda a entender onde estamos agora — em termos de cultura da igreja, mas também, em certa medida, no que se refere ao momento de desconstrução exvangélica.

Então, eu quero dizer: “Bem, quais são as histórias que nos ajudam a entender nosso momento — seja onde a igreja encontra-se culturalmente, ou o que as pessoas estão vivenciando em termos de fé e dúvida, ou nosso senso de identidade como igreja?” Há muito o que falar.

Estou abraçando a chance de deixar essas coisas em ebulição um pouco, deixar a poeira assentar. Vamos montar esses episódios de bônus nas próximas semanas, e então, vamos olhar seriamente para isso no início do ano que vem.

O que os ouvintes podem esperar ver em um dos episódios de bônus?

Teremos um episódio que mostra alguns clipes curtos que não chegaram a fazer parte da série, mas são histórias paralelas ou vinhetas interessantes. Vão ser ótimos.

Traduzido por Mariana Albuquerque

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