O cenário cultural está mudando no que diz respeito a religião, ateísmo e cristianismo no Ocidente. Três histórias recentes em meu feed são um lembrete de como isso está acontecendo rapidamente.
Richard Dawkins, ateu mundialmente famoso, tem redobrado suas críticas ao movimento transgênero e às ideologias progressistas em geral. O popular apresentador de podcast Joe Rogan, cujo programa tem mais de 190 milhões de downloads por mês, contou com a participação de Stephen Meyer, especialista em design inteligente , que defende a existência de um Deus criador por trás do universo e critica a evolução por seleção natural.
E, pela primeira vez, menos da metade das pessoas no Reino Unido se identificam como cristãs. O mais recente censo do Reino Unido, realizado a cada dez anos, viu o número de pessoas que assinalam a opção “ cristão ” cair para 46%, e viu os que se identificam como “sem religião” aumentarem para 37% da população. Esse declínio reflete-se nos Estados Unidos, onde quase metade dos millennials e da geração Z identificam – se hoje como “sem religião” (sem afiliação religiosa).
Mas poucos dos que assinalam a opção “sem religião” identificam-se como ateus materialistas ao estilo de Richard Dawkins. Na verdade, é mais provável que os sem religião se descrevam como agnósticos que são “espirituais, mas não religiosos”. Muitos deles ainda oram ocasionalmente, envolvem-se com práticas da Nova Era ou até mesmo com ocultismo.
Isto é, as pessoas hoje não são necessariamente menos religiosas; elas apenas são religiosas a respeito de coisas diferentes. Quando as pessoas rejeitam a fé institucionalizada, os “vazios que trazem em si e que têm a forma de Deus” serão preenchidos por outra coisa.
À medida que alguns dos líderes ateus mais dogmáticos da atualidade assumem a guerra cultural como sua nova causa sagrada, também demonstram um interesse crescente em ouvir pontos de vista que sejam de fora da corrente secular predominante sobre a ciência e a natureza da realidade.
Na obra The Surprising Rebirth of Belief in God [O surpreendente renascimento da crença em Deus], discuto como o novo ateísmo se tornou uma coisa do passado e em seu lugar está surgindo uma nova abertura para explicações sobrenaturais. Por exemplo, muitos intelectuais seculares — como o psicólogo Jordan Peterson, o historiador Tom Holland e o jornalista Douglas Murray — estão relativizando a questão sobre Deus.
Muitos daqueles que costumavam se voltar para Richard Dawkins e seu bando de cavaleiros do novo ateísmo descobriram que as respostas que estes lhes davam (buscar a ciência e a razão, e banir a religião) não forneceram a iluminação e a vida que esperavam. Seguindo o exemplo desses novos pensadores seculares, muitos estão agora sendo inspirados a explorar a antiga sabedoria das Escrituras, a entrar numa ou duas igrejas antigas — ou até mesmo a cruzar a linha da fé.
Esses secularistas identificaram uma “crise de significado” em nossa cultura materialista e estão cada vez mais conscientes de que a história cristã moldou a cultura ocidental de formas que não são fáceis de serem ignoradas ou reinventadas. Ainda que eles professem incerteza pessoal sobre a existência de Deus, estão começando a se perguntar se algum de nós pode realmente viver sem Deus.
Tudo isso provocou o surgimento do agnóstico curioso sobre o cristianismo: o indivíduo dos tempos atuais que ainda se pergunta se pode existir alguma verdade (ou ao menos alguma utilidade) na antiga história judaico-cristã em que seus antepassados um dia acreditaram.
Mas como podem aqueles de nós que acreditam nesta história — de um Deus que encarnou, viveu, morreu e ressuscitou para trazer a humanidade de volta ao relacionamento com ele — travar um diálogo com um agnóstico curioso? Aqui estão três lições que aprendi ao conversar com líderes e adeptos desta nova onda do movimento ateísta:
1. Faça-os querer que a história seja verdadeira, e, então, mostre a eles que é.
Blaise Pascal, matemático e filósofo do século 17, certa vez escreveu: “Torne a religião atrativa. Faça com que os homens de bem desejem que ela seja verdade, e, então, mostre a eles que é.” Continua sendo um conselho sábio para hoje.
No passado, os pensadores cristãos muitas vezes usaram, com graus variados de sucesso, uma apologética baseada na lógica em suas batalhas contra os novos ateus. Mas uma ferramenta baseada na razão pode soar demasiadamente brusca, ríspida para a sensibilidade de alguns agnósticos curiosos sobre o cristianismo.
Em vez disso, a apologética cultural está se tornando cada vez mais atrativa para eles porque, como Andrea Palpant-Dilley observou num artigo anterior para a CT, ela “oferece uma estrutura para conectar as pessoas àquelas partes profundas, que todos temos dentro de nós, e que buscam a beleza em filmes, livros e música” —; para essa apologética “o objetivo não é promover uma transcendência vaga, mas possibilitar um encontro com o Deus vivo”.
Todos somos inspirados pela arte, pela literatura e pela beleza — por histórias de heroísmo e de sacrifício e pela busca de um propósito transcendente. É por isso que amamos Harry Potter, os filmes da Marvel e O Senhor dos Anéis (ainda que as opiniões sobre o spin-off do Amazon Prime possam variar).
Sedentos por significado em uma história da realidade que é frequentemente reduzida à política, à economia e à biologia, precisamos encantar de novo a imaginação dos nossos amigos e vizinhos. A justiça pela qual anseiam, a identidade que procuram cultivar, bem como a arte e a música que os comovem profundamente têm sua origem em algo ainda mais profundo. Tudo isto são ecos de uma história alternativa e muitas vezes esquecida da imagem de Deus que está impressa no ser humano.
C. S. Lewis criou com maestria o universo de Nárnia — um reino mágico de cavaleiros, dragões, animais falantes, heroísmo, valor e sacrifício — que é governado por um rei leão chamado Aslam, que era amoroso, mas não domesticado. Ele fez gerações de crianças e adultos desejarem que esta história fosse verdadeira, e, então, nos mostrou que é.
Podemos fazer o mesmo com os que hoje estão buscando [a Deus], cativando sua imaginação, suas esperanças, seus sonhos e seus anseios. Devemos demonstrar por que motivo eles desejariam que tal mundo dotado de valores, significado e propósito transcendente realmente existisse. Só então alguns deles estarão prontos para ouvir argumentos apologéticos tradicionais a favor de Deus e da historicidade das Escrituras.
Devemos mostrar-lhes que de fato existem boas razões para crer na existência de uma fonte suprema de amor, beleza e justiça por trás deste mundo e que ele [essa fonte] veio pessoalmente nos visitar.
2. Mantenha a estranheza do cristianismo.
Converso com muitas pessoas seculares que parecem abertas ao cristianismo, mas não querem uma igreja que pareça uma réplica da cultura. Isso soa especialmente verdadeiro em minhas conversas com líderes de mentalidade agnóstica, muitos dos quais parecem nutrir um desejo melancólico de voltar para a igreja.
Por exemplo, temos Douglas Murray, editor associado de tendências conservadoras da revista The Spectator, que já teve uma espécie de fé no passado, mas que agora se autodenomina um “ateu cristão”. Ele reconhece os valores e as virtudes do legado cristão no Ocidente, mas se considera incapaz de crer.
Certa vez, numa conversa comigo, Murray observou que, caso voltasse aos bancos da igreja, precisaria encontrar algo muito mais profundo e misterioso na igreja do que uma versão requentada do humanismo secular.
Da mesma forma, é perigoso quando as igrejas tentam imitar os valores da cultura das celebridades e da indústria do entretenimento para serem culturalmente relevantes. Isso é algo que o jornalista Ben Sixsmith — que se descreve como alguém que tem um “agnosticismo aberto, curioso e hesitante” — observou.
Sixsmith tem sido cada vez mais atraído pela seriedade da fé e da filosofia na tradição católica, mas tem castigado as igrejas que diluem a sua mensagem para parecerem mais inclusivas ou mais relevantes, e até já escreveu:
Não sou um homem religioso, portanto, não cabe a mim ditar aos cristãos em que eles devem ou não crer. Ainda assim, se alguém tem uma fé que vale a pena seguir, sinto que as suas crenças deveriam me fazer sentir desconfortável por não segui-la. Se eles compartilham de 90% do meu estilo de vida e dos meus valores, então, não há nada de especialmente inspirador neles. Em vez de me fazerem querer ser mais parecido com eles, parece muito mais que eles querem se tornar mais parecidos comigo.
Sentimentos semelhantes foram expressos por Tom Holland, conhecido historiador e apresentador de podcasts, enquanto ele transitava de volta para a fé cristã. A sua investigação sobre o mundo antigo revelou quão radical era o cristianismo do primeiro século e o quanto ele devia a este cristianismo seus valores modernos e instintos morais — algo que ele conta no seu livro de história, o best-seller Dominion: How the Christian Revolution Remade the World [Domínio: como a revolução cristã recriou o mundo].
No entanto, Holland lamenta que a igreja substitua frequentemente a sua história miraculosa por uma “pasta” de frases banais com “pensamentos do dia” e manifestações públicas politicamente corretas. E continua:
As igrejas precisam […] abraçar [suas crenças] de forma absoluta, em vez de se sentirem meio envergonhadas delas. […] As igrejas têm de reivindicar como seu tudo o que houver […] de mais estranho, de mais contracultural, de mais peculiar. Não se esquivem de tudo o que é dito sobre anjos e coisas assim — enfatizem isso!
Este conselho pode parecer contraintuitivo. Muitas igrejas assumiram como missão parecer tão “normais” e inofensivas quanto possível, em seu esforço para fazer as pessoas entrarem por suas portas.
Mas muitos dos agnósticos curiosos sobre o cristianismo que entram pelas portas das igrejas estão procurando algo completamente diferente da sua vida cotidiana e corriqueira. Eles querem ser transportados para outro mundo, para uma história diferente.
3. Crie uma comunidade que combata a cultura do cancelamento.
Peço que perdoem a aliteração no título, mas qualquer que seja a aparência da igreja da próxima geração, ela deve ser sempre um lugar de graça — onde pessoas falhas e pecadoras aprendam a conviver com outras pessoas assim. As pessoas estão sedentas por significado, mas também estão sedentas por uma comunidade onde possam buscar esse significado lado a lado com outras pessoas.
À medida que o mundo ocidental se torna cada vez mais consumista e individualista, as oportunidades de fazer parte de uma comunidade genuína diminuem constantemente. Mas fomos criados para estarmos conectados olhos nos olhos, e no mesmo espaço físico. As igrejas estão entre os poucos lugares que restaram onde as pessoas ainda podem fazer isso regularmente.
Aqueles que emergem dessa crise de significado estão procurando sentido para si próprios e para o seu papel numa história maior; por isso, as igrejas precisam ser locais de comunidade ampla e generosa. Precisamos estar prontos para acolher os que chegam feridos e abrir espaço para aqueles que estão no início de sua jornada.
A igreja local precisa ser um lugar de graça contracultural em uma sociedade polarizada, moralista e implacável. A graça é o antídoto para essa cultura do cancelamento tão nociva, e as pessoas estão desesperadas por isso.
Talvez o maior testemunho que a igreja possa oferecer à sociedade é que, mesmo quando discordamos, ainda podemos amar uns aos outros. “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”, disse Jesus (João 13.35). Não saberão pelas nossas opiniões políticas partilhadas, nem mesmo pela nossa sólida teologia, mas sim pelo nosso amor.
Tenho esperança de que a igreja ainda esteja de portas abertas para compartilhar o evangelho com os pagãos de hoje. Nossa cultura está se desintegrando, na medida em que tentamos navegar pela vida sem a história abrangente que o cristianismo já proporcionou a tantas pessoas. Como todos os ídolos criados para ocupar o lugar de Deus, as histórias individualistas que com frequência contamos a nós mesmos jamais nos satisfarão verdadeiramente.
Nenhum de nós pode prever como o diálogo sobre a fé, o ateísmo e o cristianismo continuará a mudar nos próximos anos, mas acredito que Deus está sempre empenhado em nos surpreender. Estaremos prontos para responder às questões e às necessidades tanto dos novos ateus quanto dos agnósticos curiosos, em sua busca por uma história melhor?
Justin Brierley é escritor, locutor e palestrante no Reino Unido. Seu segundo livro, The Surprising Rebirth of Belief in God: Why New Atheism Grew Old and Secular Thinkers Are Considering Christianity Again [O surpreendente renascimento da crença em Deus: por que o novo ateísmo envelheceu e os pensadores seculares estão considerando o cristianismo novamente] já está disponível.
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