Anos atrás, um amigo me contou sobre uma conversa estranha que teve com uma colega de trabalho. Entre uma reunião e outra, ele mencionou um artigo do Wall Street Journal sobre o declínio das matrículas de homens em faculdades nos Estados Unidos, uma tendência que avançou tanto, que hoje os homens estão atrás das mulheres, em níveis recordes, e as faculdades estão intensificando seus esforços para recrutá-los. Esperando uma resposta empática, ele foi pego de surpresa, quando ela declarou, em tom perplexo: “E agora, de quem é a culpa?”
Nessa hora, ele lembrou-se que sua colega era uma forte defensora dos direitos das mulheres. E imaginou que a resposta dura dela estava ligada à crença de que [mostrar] empatia pelos homens prejudicaria a antiga luta das mulheres pela equidade de gênero. No entanto, ele não queria imaginar essas causas como algo que estivesse preso em uma disputa na qual para um lado ganhar o outro tem necessariamente que perder. Como ele me perguntou, certa tarde: “Não podemos nos preocupar, ao mesmo tempo, com os direitos das mulheres e com os homens e meninos vulneráveis?”
É uma boa pergunta.
O livro inovador de Richard Reeves , Of Boys and Men: Why the Modern Male Is Struggling, Why It Matters, and What to Do about It [Sobre meninos e homens: por que o homem moderno está enfrentando dificuldades, por que isso importa e o que fazer a respeito disso], apresenta uma tese convincente de que os homens, em todo o mundo moderno, estão realmente enfrentando dificuldades e precisam de nossa atenção.
Perdendo terreno
Reeves, um estudioso da Brookings Institution, reúne uma série de estatísticas reveladoras para defender seu ponto de vista. Por exemplo, você sabia que as meninas geralmente superam os meninos no campo da educação? As meninas têm uma probabilidade de 14 pontos percentuais a mais do que os meninos de estarem “prontas para entrar na escola” aos cinco anos e, quando chegam ao ensino médio, as meninas representam dois terços dos alunos classificados entre os 10% melhores, de acordo com o GPA [média de notas de um determinado período]. A diferença entre os gêneros aumenta ainda mais no ensino superior: nos Estados Unidos, 57% dos diplomas de bacharel são concedidos a mulheres, que também recebem a maioria dos diplomas no curso de Direito. Em contraste, os homens são significativamente mais propensos a “parar” (interromper seus estudos) ou a abandonar a faculdade.
Os homens também estão perdendo espaço no mercado de trabalho. A participação de homens em idade nobre (de 25 a 54 anos) na força de trabalho caiu 7% nos últimos cinquenta anos, devido, pelo menos em parte, à automação e à mudança de trabalho braçal bem remunerado para uma economia de serviços. O salário médio real por hora de homens da classe trabalhadora atingiu o pico na década de 1970, e vem caindo desde então. E embora seja verdade que os homens tendem a ganhar mais do que as mulheres, Reeves mostra que a disparidade salarial entre os sexos é, em grande parte, uma disparidade ligada à parentalidade, na medida em que ela praticamente desapareceu para jovens adultos sem filhos. Devemos agradecer principalmente às mulheres, e não aos homens, pelo aumento da renda da classe média desde a década de 1970.
E pais estão cada vez mais em falta. Tradicionalmente, o papel masculino era definido pela cultura como o de provedor da família. Entretanto, com a maior independência econômica das mulheres (uma coisa boa), os homens estão a cada dia que passa mais incapazes de desempenhar o papel tradicional de provedor. “A dependência econômica das mulheres em relação aos homens reprimia as mulheres, mas também escorava os homens”, escreve Reeves. “Agora, as escoras se foram e muitos homens estão desabando.” Se os homens não são mais necessários como provedores, muitos deles questionam se são realmente necessários para as famílias.
O que intriga os estudiosos é que as intervenções para ajudar os homens parecem não estar ajudando. Veja, por exemplo, o caso da cidade de Kalamazoo, no Michigan. Graças a um grupo de benfeitores, os alunos de seu sistema educacional K-12 [ou seja, do jardim da infância ao fim do ensino fundamental] têm suas mensalidades pagas em quase todas as faculdades do estado. As mulheres que participam do programa obtêm grandes ganhos, entre eles, um aumento de 45% nas taxas de conclusão da faculdade, mas os homens, como observa Reeves, “parecem não extrair nenhum benefício [do programa]”.
Os pesquisadores encontraram resultados semelhantes em outros lugares. Um programa de mentoria estudantil em Fort Worth; um programa de escolha escolar em Charlotte, na Carolina do Norte; um programa para ajudar assalariados de baixa renda em Nova York — cada um desses programas mostra que há ganhos significativos para mulheres e meninas, mas não para meninos e homens. Quando perguntados por que isso ocorre, os pesquisadores simplesmente dizem: “Nós realmente não sabemos”.
Algo está errado com os homens. E é um fenômeno sobre o qual os cristãos — tanto homens quanto mulheres — precisam refletir seriamente.
Mal-estar masculino
O livro Of Boys and Men: Why the Modern Male Is Struggling, Why It Matters, and What to Do about It recebeu elogios generalizados, e por boas razões.
Reeves não se contenta em simplesmente apontar um problema social desanimador e seguir em frente, despreocupado. Ele oferece soluções. Ele argumenta com eloquência que deveríamos adotar políticas para que os meninos entrassem na escola um ano mais tarde, a fim de dar tempo para que seus cérebros se desenvolvam. Ele defende a tese de que precisamos colocar os homens em ocupações do grupo “HEAL”, sigla em inglês que designa empregos nas áreas da saúde, educação, administração e alfabetização — tanto porque esses empregos acompanham as previsões sobre o futuro da força de trabalho, quanto porque ajudam a remover o estigma contra homens trabalharem em empregos tradicionalmente “femininos”, como enfermeiro ou professor de ensino fundamental.
Além disso, segundo Reeves argumenta, precisamos fazer um grande investimento em paternidade. “A paternidade engajada”, escreve ele, “tem sido associada a uma ampla gama de resultados, desde saúde mental, conclusão do ensino médio, habilidades sociais e alfabetização até riscos menores de gravidez na adolescência, delinquência e uso de drogas”. É hora de pensar em licença paternidade, direitos iguais de guarda dos filhos para os homens que são pais, após o divórcio, e estruturas de trabalho flexíveis e favoráveis aos papais.
Reeves escreveu um livro tremendamente instigante, bem embasado em pesquisas e convincente sobre a situação do homem moderno. Por ser um especialista em políticas, ele propõe soluções baseadas em políticas. Ainda assim, como cristão, não pude deixar de pensar além da questão do que se fazer, por mais essencial que ela seja, e questionar mais sobre o porquê. Que tipo de mal-estar masculino está se espalhando por nossa cultura?
Em um artigo para a revista National Affairs, Reeves oferece uma resposta sucinta: “O problema”, escreve ele, “não é que os homens tenham menos oportunidades; é que eles não estão tomando posse delas. O desafio parece ser um declínio geral na ação, na ambição e na motivação.” Embora esse problema pareça particularmente ruim para os homens da classe trabalhadora, os profissionais [mais qualificados] do sexo masculino também estão experimentando uma ampla e global diminuição da vontade.
Como o próprio Reeves argumenta que as intervenções de políticas raramente estão ajudando os homens, não pude deixar de me perguntar: será que as mudanças nas normas econômicas e culturais em torno dos papéis masculinos causaram não apenas uma crise social, mas também espiritual?
Humildade e compaixão
O que significa ser homem? É uma pergunta difícil para os evangélicos responderem. Muitos homens cristãos sabem o que não devem ser. Eles não devem confundir Jesus e John Wayne, por exemplo, nem juntar-se às fileiras dos nacionalistas cristãos. Apesar de sua constituição biológica ser mais agressiva, dada a assumir riscos e sexualmente mais orientada do que a das mulheres (e, de fato, há ciência por trás disso), eles sabem que não devem ser dominadores nem infiéis. Em suma, eles não devem viver de acordo com os estereótipos do que costumamos chamar de “masculinidade tóxica”.
É fácil zombar de ministérios masculinos de postura arrogante e machista ou criticar o “bom e velho clube dos meninos” da associação comercial local. É muito mais difícil, porém, chegar a uma definição pró-social de masculinidade. No entanto, muitos homens que perderam o senso de direção e de propósito anseiam justamente por isto: por uma visão de masculinidade que tanto homens quanto mulheres possam aplaudir.
Claro, existem exemplos maravilhosos. O belo Kinsmen Journal, de Peter Ostapko, uma revista que anuncia a fé, a paternidade e o trabalho, é um dos exemplos que me vêm à mente. Assim como o chamado de Arthur Brooks à fé, ao trabalho, à família e à amizade. Acho que até mesmo uma apreciação da arte da masculinidade pode ajudar. No entanto, esses apelos à masculinidade saudável são muito raros.
Os cristãos podem começar a trabalhar neste ponto. Podemos tornar normais as conversas entre homens sobre trabalho e paternidade. Podemos — e devemos — investir mais tempo em amizades. Podemos apoiar vizinhos e colegas de trabalho de baixa renda, podemos abraçar a sexualidade como um dom de Deus dentro do casamento e podemos redefinir o “trabalho masculino” para melhor, incluindo uma gama mais ampla de ocupações.
Mas será que podemos graciosamente ter uma discussão teológica sobre o desígnio de Deus para homens e mulheres? Você pode imaginar se os ministérios de mulheres discutissem obras como Of Boys and Men: Why the Modern Male Is Struggling, Why It Matters, and What to Do about It, e se os ministérios de homens discutissem livros como The Making of Biblical Womanhood [A formação da feminilidade bíblica], de Beth Allison Barr? Afinal, humildade é uma virtude essencial do Filho do Homem.
Não tenho certeza se isso vai acontecer tão cedo. Mas, depois de ler o livro sério e equilibrado de Reeves, posso dizer com segurança que, se você for mulher e conhecer algum homem, ele provavelmente está passando por um momento difícil. Mostre a ele compaixão.
E se você for homem, bem, vamos pelo menos encontrar uma maneira de lutar juntos.
Jeff Haane é escritor e empresário. Ele é o fundador do Denver Institute for Faith and Work e autor de An Uncommon Guide to Retirement: Finding God’s Purpose for the Next Season of Life e também dos futuros lançamentos Working from the Inside Out e God of the Second Shift.
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