News

Pesquisa: evangélicos contradizem suas próprias convicções

O novo relatório sobre o Estado da Teologia mostra que há consenso em torno de crenças centrais, mas também há muita confusão nas crenças dos evangélicos contemporâneos.

Stained glass window depicting Jesus
Christianity Today October 31, 2025
Evan Jeung / Unsplash

Nota da edição em português: a matéria a seguir foi escrita com base em um estudo que teve por objeto a igreja estadunidense. Mas acreditamos que ela também traz ensinamentos importantes para a igreja de língua portuguesa ao redor do mundo.

Quando os evangélicos dos Estados Unidos afirmam a Trindade, mas não consideram o Espírito Santo como um ser pessoal, quando consideram Jesus como a única fonte de justiça, mas ainda assim insistem que as pessoas são inerentemente boas, isso pode indicar das duas, uma: ou que poucas igrejas estão ensinando a sã doutrina; ou que poucos fiéis estão dispostos a ouvi-la.

Foi isso que o Ministério Ligonier afirmou sobre os resultados de sua mais recente pesquisa sobre o Estado da Teologia, realizada em parceria com a Lifeway Research.

Receba nossas atualizações diretamente no seu celular! Faça parte do nosso canal no WhatsApp.

“Muitas das respostas dos evangélicos nessa pesquisa de 2025 revelam uma alarmante falta de conhecimento bíblico, bem como uma tendência de sustentar crenças contraditórias, aparentemente sem perceber sua incongruência”, afirmou o relatório.

A pesquisa, realizada a cada dois ou três anos, analisa as posições teológicas entre adultos norte-americanos, especialmente os evangélicos. O estudo define evangélicos como cristãos que professam forte crença na autoridade bíblica, no evangelismo, em Jesus como seu Salvador e no poder da Cruz.

Não é de surpreender, portanto, que quase todos os que concordam com esses princípios elementares da fé também afirmem crer na Trindade (98%), num Deus imutável (95%) e na ressurreição física de Cristo (98%).

Em outras perguntas da pesquisa, porém, suas respostas contradizem crenças fundantes no Deus da Bíblia. De alguma forma, 28% dos evangélicos que afirmaram crer “em Jesus Cristo somente” para a salvação, concordaram também com metade do país em dizer que Jesus foi um grande mestre, mas não era Deus. E, apesar de professarem crer que “há um só Deus verdadeiro em três pessoas”, mais da metade dos evangélicos dizem que o Espírito Santo não é um ser pessoal.

“A pesquisa parece indicar que os evangélicos, definidos na pesquisa de acordo com o Quadrilátero de Bebbington [modelo que identifica e define as quatro características basilares do evangelicalismo], estão confusos sobre a natureza de Deus e de seu relacionamento com o mundo que Ele criou”, disse Glenn R. Kreider, professor de estudos teológicos no Seminário Teológico de Dallas. “Também demonstra que há inconsistência nas crenças, que chegam até mesmo ao ponto de se contradizerem.”

Os evangélicos, segundo ele, poderiam se sair bem melhor do que isso na síntese de suas crenças e na prática do pensamento teológico sistemático — mas tal coisa requer treinamento.

Com o passar dos anos, à medida que cada pesquisa do “Estado da Teologia” é feita, os evangélicos vêm demonstrando uma propensão a concordar com crenças que não pertencem à ortodoxia cristã: hoje, cerca de metade deles afirma consistentemente que as pessoas são boas por natureza e que Deus aceita a fé de outras religiões não cristãs.

A prevalência de equívocos ou de crenças inconsistentes entre os evangélicos tem se mantido relativamente estável ao longo da última década, e não teve aumentos significativos. (Em geral, na maioria dos pontos, as posições dos norte-americanos também não mudaram muito.)

Embora sejam preocupantes, os teólogos veem essas tendências como uma oportunidade para a igreja.

“Não é preciso muita sabedoria para analisar os números do estudo de 2025 e perceber que há um problema teológico. No entanto, é preciso sabedoria para entender qual é o melhor caminho a seguir, uma vez que tomamos conhecimento do estudo”, disse Ronni Kurtz, professor de teologia sistemática no Seminário Teológico Batista do Centro-Oeste. “Na minha opinião, o estudo é mais um chamado para o discipulado do que um chamado para uma caça às heresias”.

É neste ponto que teólogos, estudiosos e professores veem sinais de esperança: os evangélicos, segundo eles, estão demonstrando maior interesse em estudar doutrina, credos e teologia sistemática.

Kreider lembra que, décadas atrás, quando os estudantes evangélicos se concentravam em exegese e hermenêutica bíblicas, muitos não viam o valor de uma formação teológica mais aprofundada.

“Tenho observado um interesse cada vez maior na teologia e estou animado com o fato de muitos reconhecerem que a teologia construtiva precisa de uma base na ortodoxia cristã”, disse ele. “Faz muito tempo que não ouço estudantes questionarem a necessidade de cursos de teologia sistemática e histórica.”

Da mesma forma, Kurtz tem observado entre os pastores um interesse renovado pelos pais da igreja e pensadores de séculos passados, “especialmente no que se refere aos tópicos teológicos que chamamos de ‘teologia propriamente dita’ — que tratam de doutrinas como a Trindade e os atributos divinos”.

No ano passado, pela primeira vez em uma década, a maioria dos seminários dos EUA registrou crescimento no número de matrículas, de acordo com a Associação de Escolas Teológicas (ATS, sigla em inglês), e as tendências são particularmente fortes nos principais seminários evangélicos. O número de estudantes de doutorado em teologia aumentou mais de 13% nos últimos cinco anos, e as matrículas em cursos de extensão dispararam em 46%.

Ainda assim, mesmo pastores-teólogos com diplomas de seminário e estudos mais aprofundados terão dificuldades para discipular evangélicos que não consideram o envolvimento na igreja uma prioridade.

Essa é uma das mudanças no cenário teológico que tem persistido desde a pandemia: 63% dos norte-americanos e 44% dos evangélicos afirmam que adorar a Deus sozinhos ou com a família é tão bom quanto ir à igreja. A maioria dos norte-americanos e quase um terço dos evangélicos (31%) não acredita que os cristãos tenham a obrigação de frequentar uma igreja.

Kurtz adverte contra adotar uma abordagem indignada e confrontadora em relação aos equívocos teológicos refletidos nos resultados dessa pesquisa; em vez disso, vê a situação como um chamado para conduzir os irmãos na fé a uma compreensão mais rica e mais verdadeira de Deus.

“Embora haja espaço para a defesa da ortodoxia, estou convencido de que muitos mais pessoas participariam do banquete que é a teologia se simplesmente se sentissem convidadas”, disse ele. “Eu encorajaria aqueles que estão desanimados com os números [da pesquisa] a convidar as pessoas a mergulhar nas águas mais profundas do pensamento teológico, mas de uma maneira que demonstre um verdadeiro amor ao próximo e o desejo de que elas ‘venham e vejam’ a beleza que tanto nos transformou.”

Para ser notificado de novas traduções em Português, assine nossa newsletter e siga-nos no Facebook, X, Instagram ou Whatsapp.

Our Latest

Você não precisa ser radical para ser cristão

A maioria dos cristãos não são monges, missionários nem mártires. São apenas pessoas comuns e imperfeitas — mas salvas pela graça extraordinária de Deus.

News

Igrejas da periferia impulsionam o crescimento dos evangélicos no país

O avanço do protestantismo no Brasil é movido por pequenas igrejas pentecostais de bairros periféricos e pobres.

News

Pesquisa: evangélicos contradizem suas próprias convicções

O novo relatório sobre o Estado da Teologia mostra que há consenso em torno de crenças centrais, mas também há muita confusão nas crenças dos evangélicos contemporâneos.

Uma vida comum pode ser um grande testemunho

Excelência e fidelidade constante podem ser os ingredientes para vencer a guerra cultural.

Geração 60+: sirvam, pois vocês têm a vida inteira pela frente.

Nós estamos sendo abençoados com o aumento da expectativa de vida. O que faremos com isso?

O perigo de viver em um mundo distorcido pelo medo

Quando nos deixamos governar pelo medo, ele distorce nossas percepções, estreita nossa visão e nos afasta do amor a Deus e ao próximo.

Perdi três bebês em um ano. E ninguém sabia me consolar.

Conceitos cristãos equivocados sobre o aborto espontâneo não são novos, mas precisam mudar.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube