Com as férias escolares, provavelmente também aumentará o tempo de tela de crianças e adolescentes. Contudo, novos dados e o consenso bipartidário no sentido de que celulares são nocivos para esse grupo de usuários mais jovens podem fazer os pais refletirem.
Um crescente corpo de pesquisas, ainda que certamente não sejam incontestáveis, aponta que smartphones com acesso irrestrito à internet e às mídias sociais têm tido sérios efeitos negativos para usuários mais jovens, especialmente para garotas adolescentes. No final de maio, o cirurgião-geral Vivek Murthy publicou um alerta formal e um relatório sobre os efeitos das mídias sociais na saúde mental de crianças e adolescentes.
Desde 2012, com a integração dos smartphones em todas as áreas da nossa vida — e à medida que essa integração foi se tornando um marco cada vez mais precoce na infância — a saúde mental dos jovens se deteriorou. Ansiedade, depressão e até mesmo ideação suicida em adolescentes acompanharam assustadoramente, lado a lado, essa mudança tecnológica.
Como sociedade, colocamos a caixa de Pandora nas mãos de jovens de 15 anos. Boa sorte, crianças! Mergulhem fundo. Mas eles, pelo contrário, ficaram perturbados, desconsolados e totalmente relutantes em abrir mão do celular.
Surgiram duas “soluções” principais para esse problema: responsabilidade parental ou regulamentação governamental. Ambas têm apelo evidente. Mas é provável que ambas se mostrem inadequadas — se não contraproducentes — para a tarefa em questão. Nenhuma família pode resolver totalmente o problema das crianças com os celulares, embora o Congresso também não possa. Em cada caso, a escala da solução está errada. E o lugar onde temos a melhor chance de acertar essa escala é na igreja local.
A defesa da responsabilidade parental é simples e convincente. Um pai ou uma mãe responsável, que está ciente das consequências do uso do tabaco, não daria cigarros a seu filho. Um pai cristão, que está ciente da formação espiritual, dos hábitos e do pecado, não compraria para seu filho uma assinatura de um site pornográfico. Da mesma forma, cientes daquilo que cada vez mais ficamos sabendo sobre smartphones e mídias sociais, os defensores da responsabilidade parental como solução dizem: “Quem sabe não deixar seu filho ter um iPhone resolva o problema?”
Em certo sentido, eles não estão errados. A maioria dos menores de idade não precisa de um smartphone, e certamente não antes do final da adolescência, quando começam a dirigir, entram na faculdade e alguns começam a trabalhar. Dispositivos mais simples do que um smartphone oferecem soluções alternativas para os recursos de segurança que muitos pais desejam, como rastrear a localização e fazer chamadas ou enviar mensagens de texto básicas; além disso, um laptop é bem melhor para uso acadêmico ou mesmo profissional.
Mas não é nada simples se recusar a dar um smartphone ao seu filho adolescente — e menos ainda tirá-lo dele, depois de tê-lo dado. É o que os cientistas sociais chamam de problema de ação coletiva, como explicou o psicólogo social Jonathan Haidt. Se você pudesse proibir todos os adolescentes de usar smartphones e redes sociais, isso seria bem melhor para todos eles. Mas como você só pode proibir a sua filha, é quase certo que ela ficaria pior do que antes, pois o que você efetivamente fez foi castigá-la, impedindo-a de acessar metade de sua vida social ou até mais.
Tecnicamente, isso não é um castigo, mas ainda assim parecerá que é. Ela vai sentir falta de todas as brincadeiras do seu grupo de amigos, dos encontros espontâneos e do zumbido constante e casual do chat do grupo. A inevitável acusação de que você está “sendo ruim”, “arruinando a minha vida” e “me enlouquecendo” (Efésios 6.4 era um versículo ao qual eu sempre recorria na minha adolescência) vai ser bem justa. É muita coisa para sentir falta.
Mas e quanto a uma regulamentação nacional da questão?
“Os legisladores podem promulgar mudanças transformadoras, quase que da noite para o dia, se tiverem vontade de agir”, argumentou o senador americano Josh Hawley (do partido Republicano), um proeminente defensor dessa abordagem, no The Washington Post, em fevereiro deste ano. “E consigo pensar em pelo menos uma questão apartidária que merece esse tipo de urgência: a proteção das crianças no ambiente online. Deveríamos começar estabelecendo uma idade mínima de 16 anos para uso das mídias sociais.”
O que o artigo de Hawley deixou de mencionar, no entanto, é que a maioria dos sites das mídias sociais — e certamente todos os grandes, entre eles o TikTok, o Instagram, o Snapchat, o Facebook e o Twitter — já tem uma idade mínima para uso. Essa idade é 13 anos, e ela é definida por uma lei federal vigente há mais de duas décadas.
Na verdade, isso não funciona. É no mínimo ineficaz, como sabe qualquer pessoa familiarizada com os hábitos de mídia social do grupo nessa faixa etária de até 12 anos. Na internet, ninguém sabe se o outro é criança. No entanto, aumentar a idade mínima e impor um rigor maior em relação a isso traria outros problemas. A sugestão de Hawley é “exigir processos reais de verificação de idade”, aplicados por auditorias federais ocasionais. De acordo com a legislação que ele propôs, isso significaria que o usuário teria de fornecer às redes sociais seu nome legal (seu nome oficial e completo), a data de nascimento e, algo crucial, “uma digitalização, imagem ou um upload de um documento de identidade emitido pelo governo”.
Os riscos à privacidade são gritantes — imagine a vantagem que isso traria para a vigilância em massa por Washington e por governos estrangeiros mal-intencionados, sem mencionar os hackers, ladrões de identidade e outros criminosos. Além disso, há o perigo para a liberdade de expressão. A verificação da identidade acabaria com o anonimato online para aqueles que não têm o traquejo tecnológico necessário para se aventurar nos recantos mais obscuros da web.
Na verdade, as preocupações de natureza constitucional são sérias o suficiente para que essa ideia possa ser rejeitada pelos tribunais. “Tornar obrigatória a verificação da idade significa que todo usuário será forçado a fornecer informações de identificação antes de acessar conteúdo legal ou de falar nas redes sociais — uma proposta assustadora que os tribunais rejeitarão com a mesma facilidade com que o fizeram no passado”, disse Ari Cohn, advogado especialista na Primeira Emenda, à revista Reason (da qual sou colaboradora).
Talvez surjam outras propostas regulatórias com menos desvantagens jurídicas e práticas, mas não estou otimista. Isso se deve, em parte, à lamentável variedade de ideias atualmente disponíveis. Também se deve, em parte, ao fato de a proibição estatal de produtos altamente desejáveis ser com frequência malsucedida, quando não totalmente catastrófica, porque o consenso intelectual de que celulares são ruins para crianças frequentemente não se traduz em nenhuma mudança comportamental real, e também porque adolescentes são especialistas em driblar limites indesejados.
E isso nos leva à igreja. Ao contrário do governo federal, uma congregação local é pequena o suficiente para que um acordo de proibição de smartphones para crianças possa ser implementado e aplicado de forma realista; além disso, evidentemente não há restrições constitucionais em relação a esse tipo de regra de vida que é voluntária e comunitária. E, ao contrário de uma família isoladamente, uma congregação local é grande o bastante para que os pais não se vejam sozinhos para lidar com esse problema, e para que os adolescentes não fiquem isolados do núcleo social do qual todos os seus amigos desfrutam.
É claro que esse tipo de pacto congregacional não seria uma panaceia. A maioria de nós tem amigos e familiares fora da nossa igreja local, o que significa que muitos pais ainda teriam de lidar com regras conflitantes entre os amigos da escola, primos, vizinhos e assim por diante.
Isso exigiria também a seriedade de se comprometer com um padrão de comportamento que abrangeria toda a igreja, algo que muitas congregações simplesmente não têm. Legalista, fundamentalista, ludista — você ouviria de tudo, pois esta é uma proposta legitimamente difícil em nossa cultura.
E é precisamente por causa dessa dificuldade que vale a pena considerá-la. Uma política da igreja para smartphones é uma maneira típica do século 21 de carregarmos os fardos uns dos outros e de fazermos o bem a todos, especialmente aos da família da fé (Gálatas 6.2, 10). A inovação desse fardo não o torna menos pesado. Nossos pequenos precisam de ajuda para carregá-lo (Lucas 17.1-2). Como no caso de muitas disciplinas espirituais, a igreja local pode estar em uma posição única para oferecer essa ajuda.