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Cristãos protestantes da Geração Z querem ser famosos por seus hobbies e talentos

Para esses jovens a fé tem caráter individual, e Deus é essencial para impulsionar seu senso de propósito e bem-estar.

Four young people playing sports on a colorful background.
Christianity Today November 29, 2024
Illustration by Elizabeth Kaye / Source Images: Unsplash

Os protestantes da Geração Z não querem ser conhecidos por sua fé.

Em vez disso, querem ser reconhecidos por seus talentos, interesses, hobbies e nível de instrução acadêmica.

Eles veem sua fé como um apoio para tempos desafiadores. A oração é a segunda maneira mais comum que esses jovens utilizam para lidar com o estresse, e empata com distrações proporcionadas por coisas que assistem nas telas ou pela leitura.

Além disso, embora possam ser frequentemente considerados uma “geração ansiosa”, eles são otimistas sobre o futuro. Quatro em cada cinco cristãos protestantes da Geração Z acreditam que podem causar um impacto significativo no mundo para as gerações seguintes.

A Young Life ofereceu à CT, com exclusividade, os resultados do The Relate Project [O Projeto Relacionar], um estudo que examinou as crenças e aspirações de 7.261 jovens entre 13 e 24 anos.

Os pesquisadores decidiram não usar o termo evangélico no relatório, porque ele “pode ​​significar coisas diferentes para pessoas diferentes em países diferentes”, disse Kimberly Nollan, diretora de pesquisa e avaliação da Young Life.

“O foco do Relate Project era entender melhor os relacionamentos dos integrantes da Geração Z consigo mesmos, uns com os outros e com Deus”, disse Nollan. “Para manter esse foco e evitar interpretações equivocadas, optamos por evitar essa linguagem.”

O estudo abrangeu oito países: EUA, Reino Unido, México, Índia, Quênia, Uganda, Etiópia e Tanzânia. Entrevistou adolescentes de várias religiões, entre julho e agosto de 2023. A amostra de cristãos nesse estudo também incluiu aqueles que se identificaram como católicos, ortodoxos, coptas ou outros.

Em linhas gerais, descobriu-se que a crença em Deus é essencial para impulsionar o senso de propósito e de bem-estar da Geração Z.

“Os jovens podem florescer sem a fé, mas nossa pesquisa descobriu que aqueles sem uma estrutura de fé (por exemplo, ateus, agnósticos e não religiosos) relatam níveis mais baixos nesse aspecto”, afirmou o relatório.

Os pesquisadores também observaram que as diferenças culturais podem ser responsáveis ​​por variações nas respostas. Por exemplo, nos grupos focais descobriu-se que os jovens adultos nos quatro países da África Oriental e na Índia geralmente são mais resistentes a conversar com adultos mais velhos por temerem sua desaprovação.

Para fins deste artigo, o termo “global” se refere aos oito países pesquisados ​​pela Young Life.

Reputação e reconhecimento

Pelo menos metade dos jovens protestantes nos EUA e no Reino Unido disseram que gostariam de ser reconhecidos por seus talentos (54%), bem como por seus interesses ou hobbies (52%).

Apenas cerca de 1 em cada 3 (32%) queria ser reconhecido por sua religião ou por suas crenças.

Os resultados da pesquisa foram semelhantes na África Oriental, Índia e México. Pouco menos da metade (43%) dos protestantes da geração Z entrevistados nesses países preferiam ser reconhecidos por suas qualificações educacionais, enquanto 2 em cada 5 (40%) queriam que seus talentos fossem a principal fonte que os destacasse.

O desejo de ser identificado por sua religião ou por suas crenças ficou em quarto lugar (27%).

Essas descobertas são consistentes com o que Alexis Kwamy observou sobre os crentes da Geração Z em Dar Es Salaam, na Tanzânia, onde ele mora.

“Essa mudança sugere uma nova maneira de integrar a fé na vida diária, segundo a qual a identidade religiosa nem sempre se expressa abertamente, mas está entrelaçada a realizações pessoais e a contribuições à sociedade”, disse Kwamy à CT.

Chris Agnew, líder da Pioneer Mission [Missão Pioneira] na Coastal Church, em Portrush, Irlanda do Norte, concordou. “Religião não é uma palavra bem-vista ou é uma questão privada”, disse ele. “A [palavra] espiritualidade seria mais bem recebida, mas é mais fácil dizer a alguém [que] você é bom em cantar ou joga bem futebol do que dizer que possui uma fé ou está envolvido com uma igreja.”

Outros líderes acham que as descobertas da pesquisa são discutíveis.

“Jovens apresentados a Cristo em tenra idade apreciam [ser conhecidos por suas] crenças religiosas”, disse Patrick Barasa, secretário-geral do ministério universitário Focus Uganda [Uganda em Foco]. “São aqueles jovens que tendem ao secularismo que vivem de acordo com seus interesses [pessoais].”

O formato tradicional de participação na igreja também pode contribuir para a forma como a identidade protestante da Geração Z está sendo formada, disse Mary Olguin, secretária-geral do ministério estudantil Compa (Companherismo Estudantil), no México.

Há uma percepção de que “o cristão é excelente com base no modo como ele serve (por exemplo, mostrando seu talento no louvor), e não com base nos frutos que gera”, disse ela.

Raychel Sanders, 21 anos, é uma ávida corredora e alpinista. Mas ela aprendeu a também se sentir confortável em construir uma identidade cristã pública.

Como caloura na Mississippi State University, ela falou sobre a beleza e a complexidade da criação, durante uma conversa com um professor agnóstico na escola. Ainda hoje ela lembra que o professor lançou-lhe um olhar de zombaria.

Desde aquele incidente, no entanto, Sanders respondeu às perguntas de seu professor sobre o cristianismo e compartilhou sua fé com ele várias vezes.

Além de ser reconhecida por suas atividades ao ar livre, ela quer ser conhecida por “ter compaixão pelas pessoas, a fim de ganhá-las para Cristo, mas sem abrir mão do que é verdade”, disse ela.

Outros jovens adultos, como Ananya Rachel Mathew, de Uttar Pradesh, na Índia, afirmaram que as habilidades de uma pessoa podem ser usadas para representar e honrar a Deus.

“Todos os nossos talentos vêm como um presente de nosso Pai”, disse a jovem de 21 anos, que gosta de cantar, dançar e pintar. “O Pai que nos concedeu nossos talentos [ficaria] satisfeito se os empregássemos para louvar e glorificar o seu nome.”

Oração e estresse

Globalmente, a oração ocupa o segundo lugar (43%) entre os protestantes da Geração Z como mecanismo de enfrentamento do estresse, e está empatada com o entretenimento — assistir a coisas em telas ou ler. Ouvir música está em primeiro lugar (62%), enquanto ler ou meditar nas Escrituras está em quinto lugar (19%).

A Geração Z tende a levar uma vida mais agitada e pode não arrumar tempo para orar individualmente, diz Olguin, no México. “Essa dinâmica frequentemente faz com que a oração seja relegada a segundo plano ou feita de forma rápida e mecânica, pois muitas vezes é vista como uma prática passiva ou algo que não é diretamente ligado às suas realizações imediatas”, disse ela.

No entanto, Olguin notou que mais alunos passaram a comparecer às reuniões de oração da Compa após a pandemia, e acredita que isso se deu porque eles gostam de orar em comunidade.

Embora orar em público possa ser algo mais natural para os crentes jovens mexicanos, esse não é o caso dos adolescentes com quem Bruce Campbell trabalha em seu ministério de jovens na Irlanda do Norte, o Exodus.

“O medo mais comum de que ouço os jovens falarem, quando o assunto é oração, é o medo de orar em voz alta e em ambiente de grupo”, disse ele.

Campbell notou um interesse crescente entre jovens cristãos da sua região em ouvir música de adoração, algo que ele supõe que possa estar ligado ao desejo crescente de buscar experiências emocionais.

“Embora eu veja isso como algo bastante positivo, às vezes sou cauteloso sobre como essa tendência pode levar a um discipulado ‘barato’”, disse Campbell. “É muito mais fácil relaxar curtindo um álbum do [grupo] Bethel do que ler os profetas menores ou falar sobre Jesus para um amigo.”

Preocupações com a saúde mental

Nos oito países pesquisados, cuidar de sua saúde mental pessoal e do bem-estar mental de suas comunidades foram algumas das principais prioridades dos protestantes da Geração Z, e ficaram à frente de outras preocupações como oportunidades de emprego adequadas, mudanças climáticas e tensões religiosas.

No Reino Unido, a saúde mental precária “atingiu proporções quase pandêmicas”, disse Sonia Mawhinney, diretora regional da Young Life para o Reino Unido e Irlanda. A falta de acesso à ajuda profissional também colocou “sobre os líderes jovens em tempo integral e voluntários uma grande pressão para tentar ajudar jovens que passam por crises de saúde mental”, disse ela.

Atualmente, o ministério está explorando maneiras de fazer parcerias com escolas, igrejas, clubes esportivos e agências governamentais em toda a região, para fornecer suporte e cuidados aos jovens.

“O incentivo a coisas como autoajuda e wellness [busca do bem-estar] na sociedade atual pode ser confuso para os jovens”, disse Agnew, um dos líderes sediados na Irlanda do Norte. Ele observou que é difícil para os crentes da Geração Z descobrir onde Jesus entra nesse cenário.

 “O desafio é acompanhar gentilmente as pessoas em suas jornadas e, ao mesmo tempo, não permitir que as dificuldades pessoais cancelem o convite divino de parceria naquilo que ele está fazendo no mundo”, disse ele.

Construir relacionamentos intergeracionais mais fortes é outro fator importante para lidar com as dificuldades de saúde mental que os crentes da Geração Z enfrentam, disseram os líderes à CT.

“O silêncio das gerações mais velhas em torno da questão da saúde mental está fazendo com que as gerações mais jovens se distanciem”, disse Tanita Maddox, diretora regional associada da Young Life em Spokane, Washington. “[Deveríamos] ser como Jesus, que chorou no túmulo de Lázaro, embora ele soubesse que o ressuscitaria.”

Em março, Olguin e sua equipe finalizaram um manual intitulado Salud mental en la pastoral universitaria (saúde mental no ministério universitário), para a capacitação de líderes que trabalham com a Geração Z no México.

O manual, que abrange tópicos como a teologia das emoções e a síndrome de burnout, foi criado em colaboração com a Iniciativa Logos e Cosmos da International Fellowship of Evangelical Students (IFES) [Associação Internacional de Estudantes Evangélicos]. Uma segunda edição está em andamento e deve ser publicada em fevereiro de 2025.

Enquanto isso, de acordo com o diretor regional Pratt Butler, a Young Life México está conduzindo um estudo para examinar a saúde mental, física e emocional de líderes e crianças envolvidas no ministério.

Impacto futuro

Mais de 4 em cada 5 (83%) protestantes da Geração Z acreditam que podem mudar o mundo para melhor.

Os jovens da Geração Z que têm alguma afiliação religiosa se sentem mais capacitados para efetuar mudanças, descobriu o Relate Project. “Os cristãos protestantes e ortodoxos têm um senso de agir mais forte, ao passo que este senso é mais baixo entre ateus, agnósticos e ‘não religiosos’”, observou o relatório.

Evangelizar “o maior número possível de pessoas à minha volta” é como Mathew, um indiano de 21 anos, imagina criar um impacto significativo nas próximas gerações.“Somos seu povo e recebemos a ordem de realizar uma tarefa muito específica — que é levar a sua palavra para aqueles que não conhecem nosso Senhor”, disse ele.

Alguns líderes, no entanto, acham que a fé de alguém pode não necessariamente aumentar seu nível de influência, sobretudo se a fé for considerada apenas um relacionamento privado e pessoal com Deus.

“Para nossos jovens, agir para tornar o mundo um lugar melhor é algo fragmentado ou desconectado de sua fé cristã”, disse Maddox, diretor regional associado da Young Life nos EUA. “[Mas] nosso relacionamento com Deus deve nos levar a trazer o Reino dos Céus aqui para a Terra, nos importando com as coisas com as quais Deus se importa e agindo a respeito dessas coisas.”

Esta geração é muito compassiva, disse Mawhinney, diretora da Young Life no Reino Unido e Irlanda. “Os jovens ficam agradavelmente surpresos quando encontram o que a Bíblia tem a dizer sobre sua paixão pela justiça e pelo cuidado com a criação”, disse ela.

“Quando ensinamos a eles a metanarrativa completa das Escrituras e como a visão redentora de Deus inclui a necessidade de amar ao próximo e ao mundo que ele criou, os jovens ficam surpresos e inspirados, ao ver que sua paixão está em sintonia com a de Deus.”

Reportagem adicional de Surinder Kaur.

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