Aos 24 anos, quando eu era recém-formado no seminário e tinha me casado há apenas seis dias, comecei meu primeiro ministério como capelão hospitalar. Nunca tinha visto um cadáver antes. Não tinha experiência com luto e dor. Estava completamente fora da minha zona de conforto.
Assim que cheguei, fui brevemente recepcionado pela equipe do hospital, que me entregou quatro bips (dispositivos de notificação de mensagens populares nos anos 1980 e 1990) e me levou para conhecer as instalações. Poucos minutos depois, um dos bips começou a piscar e logo me vi em um quarto pequeno, cheio de pessoas descontroladas e gritando. Elas tinham acabado de ser informadas que a mãe havia morrido na mesa de cirurgia. Eu não tinha ideia do que fazer. Foi ali que fiquei cara a cara com a minha ansiedade pela primeira vez.
As semanas seguintes foram semelhantes. Não há nada como uma morte súbita, testes de medula óssea, crianças carecas e cirurgias de emergência para gerar ansiedade. Fiquei surpreso com o quanto tudo isso gerava ansiedade em mim.
Capelães entram em dezenas de quartos repletos de ansiedade todos os dias. Nós nos conectamos profundamente com estranhos, nos piores e mais íntimos momentos de suas vidas. Damos testemunho da presença de Cristo em meio a isso tudo. Como fazermos isso, dia após dia, sem absorver toda a ansiedade ao nosso redor? Como não contaminarmos o ambiente com a nossa própria ansiedade? Aquelas primeiras semanas como capelão revelaram uma grande inquietação que borbulhava sob a superfície da minha consciência. Isso afetava minha capacidade de estar presente e conectado com Deus e com as pessoas, em seus piores momentos.
No ano em que servi como capelão, fui apresentado à teoria dos sistemas, que ajuda especificamente a identificar a ansiedade — primeiro, em nós mesmos e, depois, nas pessoas ao nosso redor. Estudei mais sobre isso na pós-graduação e venho estudando e ensinando essa teoria desde então. Agora viajo pelo mundo ajudando líderes a aprenderem ferramentas para identificar seus próprios gatilhos, perceber quando estão reativos, em vez de conectados, e reconhecer os padrões de ansiedade que se desenvolvem em suas equipes.
Passei a ver a gestão da ansiedade como um caminho essencial para o bem-estar. É um trabalho complexo, pois a maioria dos líderes tem o foco tão voltado para a missão a ser cumprida ou para os outros que sente dificuldade em perceber a ansiedade em si mesmos. Eles não percebem com naturalidade quando estão sob o controle da ansiedade ou quando a estão absorvendo e espalhando por aí.
Depois de um turno particularmente exaustivo, durante meus dias de capelania, o médico responsável saiu do quarto de um paciente e me disse: “Quando o coração de alguém parar de bater, primeiro verifique seu próprio pulso”. Você provavelmente já ouviu um comissário de bordo dizer a mesma coisa com palavras diferentes: “Primeiro coloque a máscara de oxigênio em você, antes de ajudar os outros.”
Você não é capaz de ajudar outra pessoa, quando seu próprio corpo está faminto por oxigênio. Você não pode ser um servo eficaz para Deus, quando seus próprios gatilhos e pressupostos falam mais alto em seus ouvidos do que a orientação do Espírito.
E assim começou uma lição de vida que contrariava todas as minhas expectativas, uma lição que ainda estou aprendendo: primeiro, devo verificar meu próprio pulso, colocar a máscara de oxigênio em mim e me conectar comigo mesmo, antes de me conectar com os outros. Isso não é egoísmo; é o caminho mais rápido para prestar atenção ao que realmente está acontecendo, a fim de que eu possa entregar isso a Deus e relaxar em sua presença. Seguir esse caminho aumenta a chance de eu agir com base na força e no mover de Deus, e não com base na minha própria reatividade desenfreada.
Líderes equilibrados sabem o que está acontecendo sob a superfície. Eles sabem como focar nas dinâmicas entre as pessoas tanto quanto na missão em questão. São capazes de entrar em locais repletos de alta ansiedade ou de alta ambiguidade e, em vez de absorver e espalhar a ansiedade, descansar na presença de Deus. Eles são capazes de ouvir para aprender, e não para se defender ou para sair consertando tudo. Têm clareza a respeito do fardo que lhes pertence e precisa ser carregado por eles, do fardo que pertence ao outro e do fardo que pertence a Deus. (A maioria dos líderes assume responsabilidades demais. Carregamos mais do que Deus nos pediu para carregar.)
Líderes equilibrados conhecem e gerenciam seus gatilhos antes de uma reunião, para aumentar sua capacidade de conexão naquele momento. Eles se permitem ter uma estatura humana, em vez de tentarem ser sempre super-humanos. Não precisam provar nada a si mesmos nem parecer impressionantes e gerenciam o desejo de exagerar ou de se exibir. São capazes de ter uma conversa difícil com um crítico sem se tornarem defensivos ou agressivos.
Quando você percebe que não está bem, o que faz logo em seguida? Muitos de nós simplesmente continuam em frente, alguns até chegar ao burnout ou ao fracasso. Quando um pastor ou um líder não está bem e, ainda assim, oferece Jesus a alguém, pode causar danos colossais em nome de Cristo.
Pense nos líderes cristãos dos últimos oito anos que ofereceram Jesus, enquanto eles mesmos não estavam bem. É uma lista longa, dolorosa e que gerou graves consequências. Você teve uma experiência pessoal com algum líder cristão local que não estava bem, mas tentava proclamar a Cristo? O que teria sido diferente [nessa experiência], se esse líder tivesse primeiro verificado o próprio pulso?
Mas chega de falar dos outros. Deus nos convida a assumir as nossas próprias responsabilidades.
Eu apresento um podcast para a Christianity Today chamado Being Human [Sendo Humano]. Em uma das partes do podcast faço a cada convidado uma série de perguntas chamadas “Desafio: Perguntas sobre Ansiedade”. Como você pode imaginar, o título basicamente se vende sozinho. Uma das perguntas mais populares do desafio é: “Como você sabe quando não está bem?”
Aqui está outra: “Quem percebe que você não está bem, antes de você mesmo perceber?”
Mas a pergunta mais provocativa sobre o bem-estar não está no meu desafio. É uma pergunta que Jesus fez: “Você quer ser curado?”
Essa pergunta me incomoda desde a primeira vez que a li nas Escrituras.
Jesus estava em Jerusalém, para uma festividade, quando passou pelo famoso tanque de Betesda. Dizia-se que, se alguém conseguisse entrar no tanque quando a água se agitava, seria curado. Vou deixar que João continue a contar a partir daqui:
Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles esperavam um movimento nas águas. De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque, depois de agitada as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.
Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?” Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”.
Então Jesus lhe disse: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”. Imediatamente o homem ficou curado, pegou a maca e começou a andar. (João 5.3-9)
Note que o homem não respondeu apenas com um “Sim, quero, por favor”. Ele rebateu a pergunta de Jesus com uma espécie de desculpa. Penso muito nisso. Você quer ser curado? Em vez de dizer “sim”, tenho a tendência de dizer: “Deixe-me explicar minha situação.”
Acontece que minhas respostas cheias de ansiedade como líder muitas vezes são mecanismos de enfrentamento que uso desde criança. Há décadas, eles têm sido uma ajuda constante, mas insuficiente em tempos de dificuldade. Embora sejam pouco confiáveis, continuo a depender deles. Desvencilhar o que minha ansiedade me chama a fazer daquilo que Deus me chama a fazer é um trabalho difícil e lento. Embora atualmente eu ensine pessoas nessa área, em tempo integral, o bem-estar não é uma experiência corriqueira para mim. Exige intencionalidade, coragem e prática.
Você quer ser curado? Espero que sim. Estamos carentes de líderes cristãos que assumam a responsabilidade pelo próprio bem-estar. A liderança está se tornando algo cada vez mais complexo, e as pessoas parecem estar mais reativas e mais reservadas do que nunca. Precisamos de líderes que saibam como se conectar profundamente — com os outros, é claro, mas também com Deus e consigo mesmos, o que é ainda mais importante.
Fiquei surpreso ao descobrir que, às vezes, eu precisava me conectar comigo mesmo, antes de me conectar com Deus. Ao prestar atenção primeiro naquilo que estava acontecendo em mim, eu tinha mais para levar a Deus, mais para entregar a ele, mais para lhe confiar. Isso me ajudou a relaxar, a descansar na presença de Deus.
Duas superpotências na gestão da ansiedade são a percepção e a curiosidade. Se você aprender a perceber a ansiedade — em você e nos outros —, é menos provável que a assimile e a espalhe. Se você conseguir adotar uma postura de curiosidade, para consigo mesmo e para com os outros — mesmo com pessoas mais desafiadoras —, aumentará suas chances de estar bem. Aqui estão algumas perguntas que você pode se fazer:
Como sei quando estou ansioso?
Quem sabe antes de mim [que estou ansioso], e quais são os sinais?
O que me pertence e devo carregar, o que pertence a eles, o que pertence a Deus?
O que acho que preciso, mas na verdade não preciso?
Qual é a prática que leva cinco minutos ou até menos e me ajuda a relaxar na presença de Deus?
Nos últimos tempos, quando me senti completamente amado(a)?
Como uma pessoa de fé, seu bem-estar é um presente que você pode dar às pessoas que fazem parte dos seus círculos de convivência. Elas serão gratas, e isso as ajudará a estar bem também. Mas, decididamente, você vale o esforço necessário para ficar bem. Seu bem-estar também é importante para Deus. Espero que você possa fazer uma pausa e descansar na presença de Deus hoje.
Steve Cuss é o apresentador do podcast Being Human da CT.