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À medida que os evangélicos emergem como um bloco de eleitores com força política, o que deve influenciar suas prioridades políticas?
Guilherme de Carvalho: Creio que, acima de tudo, uma sólida doutrina social cristã, baseada na Bíblia e em diálogo com a tradição teológica. Precisam ser compreendidos e atualizados temas como a ordem criacional bíblica, incluindo sua visão elevada da pessoa humana, da família e do trabalho; a questão da natureza da autoridade política; do sentido político do Êxodo; da ética social da Torá; do profetismo bíblico e da economia da graça no Novo Testamento. Essas coisas deveriam estruturar nossas agendas.
Como isso não tem sido feito, os evangélicos têm atuado a reboque das forças políticas dominantes. No desespero por relevância, não agimos de forma principiológica, e nos tornamos meros espelhos religiosos do debate político secular.
Não vejo problema em evangélicos elegerem pessoas que sejam representantes de sua visão de mundo — isso é parte da democracia. Mas creio que deveriam priorizar candidatos com uma visão voltada para o “bem comum”, e não voltada para a proteção do seu próprio grupo. Uma política “cristã” que só pensa em como proteger os interesses da comunidade cristã seria a própria negação da missão cristã.
Iza Vicente: Não é uma questão simples, pois evangélicos podem ter posicionamentos distintos sobre a complexidade de temas que estão na arena pública. Apesar disso, acredito que a defesa da liberdade religiosa, junto com uma atuação em prol do fortalecimento das instituições democráticas e da proteção dos vulneráveis devem ser pontos prioritários na atuação de qualquer evangélico na política.
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Ziel Machado: O compromisso com a justiça do Reino de Deus e o compromisso ético derivado dessa justiça, algo que está muito bem expresso no Sermão do Monte, especialmente nas bem-aventuranças. Além disso, um realismo esperançoso, que reconhece a realidade do pecado na história, mas também conhece a força do amor, a obra da redenção e as expectativas de um novo céu e uma nova terra.
Jacira Monteiro: O bem-estar social e o Shalom (a paz harmoniosa). Os evangélicos devem ter, assim como Deus tem, uma preocupação especial com a justiça e com ações que beneficiem os mais vulneráveis. Os evangélicos devem especialmente se preocupar com aqueles com quem ninguém dos outros espectros da sociedade se preocupa.
Ricardo Barbosa: O compromisso com o bem comum. Não se trata do bem privado de cada um, mas daquilo que é comum a todos, como educação, saúde, segurança, trabalho, moradia, alimentação, meio ambiente etc. Algumas pautas, porém, tornaram-se muito mais destacadas politicamente, nas últimas décadas, sobretudo as de natureza moral, como ideologia de gênero, drogas, aborto, família, para citar algumas.
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