Ontem, quando os Estados Unidos ultrapassaram um marco sombrio, publiquei no Twitter:
Já são 200 mil mortos nos Estados Unidos. Apenas um lembrete de que ainda estamos em uma pandemia global, mesmo que seu pastor diga que não.
A reação da maioria dos pastores foi extremamente positiva — o tweet foi amplamente compartilhado, com centenas de retuítes e milhares de curtidas. Muitos pastores e líderes de igreja disseram ter a mesma preocupação.
No entanto, alguns ficaram chateados. Alguns pastores se sentiram atacados, o que pode ser compreensível, se estiverem entre os que negam a pandemia global.
Caso contrário, parece não haver razão para considerar minha declaração controversa.
Deixe-me explicar.
Os pastores que negam a pandemia estão errados e espalhando desinformação.
Tenho tentado entender por que alguns pastores negariam que a COVID-19 seja uma pandemia global. Eu esperava que os pastores não se deixassem facilmente enganar por um meme recente do Facebook, que dizia que essa pandemia havia sido rebaixada para um surto.
O USAToday desmascarou facilmente essa afirmação, ao publicar: "Verificação de fatos: A COVID-19 ainda é uma pandemia, mesmo que o site do CDC a chame de ‘surto’”
Classificamos esta afirmação como FALSA. O meme está errado. Nenhum elemento disso é verdade. O surto de COVID-19, embora muitas vezes seja descrito dessa forma, ainda é uma pandemia e tem sido desde 11 de março.
E espero que eles não tenham aderido ao equívoco da estatística de 6%, que não foi “discretamente atualizada” e foi claramente desmascarada por quase todo o setor médico.
Como um estatístico e professor de epidemiologia explicou ao USAToday:
Nenhum de nós viverá para sempre, então, a morte é sempre uma questão de "quando", não "se". O fato de que muitas pessoas que morreram de COVID-19 podiam estar mais perto da morte do que o restante de nós não muda o fato de que o vírus as matou antes do tempo.
Argumentar que apenas 6% dessas mortes são “reais” não apenas diminui o impacto da pandemia da COVID-19 nos Estados Unidos, mas desvaloriza as semanas, os meses ou os anos que todos aqueles com doenças preexistentes ainda teriam para viver, se o vírus nunca tivesse aparecido.
Um artigo explicava de forma bem direta: “A alegação que viralizou de que apenas 6% das mortes por COVID-19 foram causadas pelo vírus é totalmente errada.”
Então, se a questão não é o meme ou o equívoco da estatística de 6%, o que é?
Visto que ambos foram claramente desmascarados, por que alguns pastores (uma minoria, com toda certeza) continuam a compartilhar a desinformação?
Como a desinformação se espalha
A desinformação corre solta durante as crises. Uma vez que tenha sido corrigida, como o meme e a estatística foram, eu esperaria que aqueles que espalham essas informações falsas também as corrigissem. É do interesse de todos estarmos unidos durante a crise. Por que rejeitar o que a COVID-19 realmente é — uma pandemia?
Talvez seja porque alguns pastores acham que esta pandemia afeta principalmente aqueles com comorbidades ou pessoas com 65 anos ou mais. Talvez vejam que a taxa de mortalidade de idosos está diminuindo desde o início da pandemia. Talvez vejam que as hospitalizações não estão fora de controle.
Ou talvez não consigam tolerar a politização da pandemia pelos dois partidos. Talvez estejam cansados do medo infundido pela mídia. Talvez estejam cansados do fechamento de nossos negócios, cidades e comunidades; cansados de ver seus filhos lutando com o e-learning, deprimidos por não poderem praticar esportes ou por não poderem encontrar os amigos na igreja.
Eu entendo que tudo isso pode levar à negação. Faz parte do luto. E nós, coletivamente, como nação, estamos vivendo uma dor descomunal.
No entanto, nada disso muda a verdade.
A pandemia da COVID-19 tem sido como uma viagem de avião com turbulência, que cria estresse sobre estresse, tensão sobre tensão, e só queremos que o avião pouse e que este pesadelo de viagem termine.
Mas nenhuma das opções citadas é razão para negar a verdade de nossa realidade. E nossa realidade é que estamos vivendo uma pandemia. CDC, NIH, OMS, democratas, republicanos, o Congresso, seu hospital local, seu médico pessoal e o presidente Trump, todos sabem que se trata de uma pandemia.
Portanto, quando pastores espalham informações falsas, isso é prejudicial não apenas para o público, mas para o nosso testemunho público. Também é prejudicial para a unidade da igreja. Além disso, torna a liderança ainda mais difícil para os pastores que estão levando esta pandemia a sério.
Portanto, sim, estou criticando os pastores que espalham informações incorretas e falsas.
Permaneçam em sua missão.
Se tivessem lido meu tweet em tempos normais, as pessoas diriam, como a maioria dos pastores disse: “Sim, faz sentido. É uma pandemia, mesmo que seu pastor pense que não é.” Claramente, ele não foi um ataque aos pastores. Se você achou que foi, não leu meu tweet direito. O que fiz foi confrontar pastores que estão espalhando informações errôneas perigosas por meio de minha plataforma do Twitter. Acredito que tenha sido por isso que milhares de pessoas o compartilharam — elas sabem os danos que a desinformação causa.
Estamos de fato vivendo dias difíceis. Eu entendo o estresse que todos estamos sentindo e a pressão que todos estamos sofrendo — em especial os pastores. Mas, em uma crise, não devemos esquecer de enfrentar os fatos brutais e a realidade da situação. Não devemos nos deixar influenciar facilmente por nossos sentimentos, nossas emoções ou mesmo por nossos desejos pessoais. E, com toda certeza, não devemos nos curvar à massa da Internet.
Aqui está a realidade: vocês são pastores — arautos das boas-novas de Cristo, pastores do rebanho do Senhor e agentes mobilizadores para a missão de Deus. Pastor não é médico nem epidemiologista. É bastante interessante o fato de que algumas das vozes mais conservadoras no Twitter tenham gritado: “Não fale sobre raça, apenas pregue o evangelho”. No entanto, essas mesmas vozes agora dizem: “Eu vi um meme do Facebook, essa pandemia não existe”.
Meu encorajamento para os pastores seria este: permaneçam em sua missão. Portanto, pode ser melhor pregar o evangelho e deixar de fora palpites médicos baseados em um meme.
Ainda vivemos uma pandemia e devemos tentar fazer o melhor que pudermos.
Essa é a verdade em que nós, pastores, precisamos nos basear.
- Ainda estamos em uma pandemia, mesmo que outros pastores digam que não.
- Existem milhões de pastores bons e piedosos fazendo as coisas funcionarem em seu contexto local. Os pastores que negam a pandemia estão tornando as coisas mais difíceis para esses que estão trabalhando, pois semeiam divisão e desinformação.
- Os pastores sabem que há um chamado bíblico para a comunhão e o estão cumprindo. As igrejas (incluindo a minha) estão se reunindo presencialmente, algumas ainda on-line (somente ou principalmente), com extremo cuidado e muitas vezes a um custo elevado.
- Esses pastores fiéis são gratos por eu estar denunciando a desinformação. (E estou fazendo isso aqui mais uma vez).
Posso entender que alguns questionem a gravidade da situação (está bem menos grave desde que adotamos medidas de isolamento. Como disse o presidente Trump, poderíamos ter tido dois milhões de mortos se não o tivéssemos feito). Portanto, sou grato por muitos no governo levarem a pandemia a sério e agirem. E sou grato pelo bom trabalho de muitos pastores, que estão fazendo o mesmo, ou seja, levando a situação a sério e liderando fielmente o povo de Deus.
Entenda esta realidade: 200 mil pessoas morreram nos Estados Unidos durante esta pandemia. Negar essa verdade ou argumentar “Mas… elas tinham diabetes” não muda o fato. Este ano, 200 mil pessoas deram seu último suspiro e entraram na eternidade — e muitas delas sem Jesus.
Em vez de tentar desqualificar a COVID-19 como pandemia, o que resulta em desinformação, divisão e mau testemunho público, desejo que cada pastor que proclama Jesus como Senhor e prega as boas-novas de Cristo renove sua paixão por alcançar este mundo envolto em sombras e morte. Essa é nossa tarefa e nossa missão, e é assim que vamos fazer o melhor que pudermos nesta pandemia.
Então, conforme postei no Twitter:
Sejamos gratos pelos muitos pastores piedosos que ESTÃO cientes de que estamos em uma pandemia E estão tomando decisões sábias e cuidadosas, que são eficazes em seu contexto local.
Mas isso ainda é uma pandemia, mesmo que seu pastor (ou alguém nas redes sociais) diga que não é.
Ed Stetzer é diretor executivo do Wheaton College Billy Graham Center , atua como reitor no Wheaton College e publica recursos de liderança da igreja através do Mission Group. A equipe do Exchange contribuiu com este artigo e o atualizou.