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A rebeldia punk rock de Bono foi um grito de esperançoso lamento

A dor e Deus sempre foram parte da história do U2, desde o início.

Christianity Today December 2, 2022
Photograph by Ross Stewart

“Recebemos esse convite uma vez”, Bono me conta. E a próxima frase dele tem um tom de reverência: “O reverendo Billy Graham adoraria conhecer a banda e oferecer uma bênção”.

Estamos em uma videochamada, e o vocalista do U2 está sentado no chão, em frente a um sofá verde, com o computador sobre a mesa de centro à sua frente. É fim de tarde em Dublin, e o sol que acaba de se pôr dá à sala um certo brilho. É quase teatral. Os olhos de Bono têm um certo brilho também. Ele sabe que tem uma boa história.

“Ele é o fundador da Christianity Today”, ele me lembra, sorrindo. “Eu não sabia disso na época, mas ainda queria a bênção. E eu estava tentando convencer a banda a vir comigo, mas, por vários motivos, eles não puderam. Foi difícil por causa da agenda, mas acabei encontrando um jeito.”

Isso foi em março de 2002, apenas algumas semanas depois que o U2 fez seu lendário show no intervalo do Super Bowl, e dias depois que seu single “Walk On” ganhou o Grammy de Música do Ano.

“Franklin, filho de Billy Graham, me pegou no aeroporto”, diz Bono. “Ele estava fazendo um trabalho muito eficaz com a ONG Samaritan’s Purse. Mas não tinha certeza sobre como agir comigo.” Ele ri. “No caminho para encontrarmos seu pai, ele continuou me fazendo perguntas.”

Bono reencena a conversa para mim:

“Você… você realmente ama o Senhor?”
“Sim.”
“Ok, você o ama. Você é salvo?”
“Sim, e econômico (um trocadilho que ele fez com a palavra “saving”, que significa “poupar”, “economizar”).
Ele não ri. Nenhuma risadinha.
“Você entregou a sua vida [a Jesus]? Você reconhece Jesus Cristo como seu Salvador pessoal?”
“Ah, eu conheço Jesus Cristo e tento não usá-lo apenas como meu Salvador pessoal. Mas, sim.”
“Por que suas músicas não são, hum, músicas cristãs?”
“Elas são!”
“Bem, algumas delas são.”
“O que você quer dizer com isso?”
“Bem, por que elas não… Por que não sabemos que são músicas cristãs?”
Eu disse: “Elas vêm todas de um lugar, Franklin. Olhe a sua volta. Olhe para a criação, olhe para as árvores, olhe para o céu, olhe para essa diversidade de colinas verdejantes. Nenhum deles traz uma placa que diz: ‘Louvado seja o Senhor’ ou ‘Eu pertenço a Jesus’. Eles apenas dão glória a Jesus.”

Por quatro décadas, Bono se envolveu em conversas como esta, respondendo a cristãos que não tinham muita certeza do que fazer com ele ou com o U2.

A ascensão da banda à fama coincidiu com o surgimento da música cristã contemporânea (MCC) que, em 1980 — quando o U2 lançou seu primeiro álbum, Boy — tornou-se popular. Jovens artistas, de fé sincera e rostos novos (e, em geral, bonitos) estavam sendo divulgados para pais e filhos que procuravam música que fosse “segura para toda a família”.

O sucesso da nova indústria foi uma faca de dois gumes. As gravadoras precisavam de bandas que pudessem tocar em um culto e vender álbuns em livrarias cristãs; por isso, além de ter talento e carisma, esperava-se que os artistas da MCC preservassem uma imagem completamente limpa e fizessem canções carregadas de letras abertamente cristãs. Alguns músicos se referem a isso, brincando, como o quociente “JPM” — isto é, um quociente para medir o quanto de “Jesus por minuto” (JPM) tem uma música cristã contemporânea.

O U2 se desenvolveu fora desse ecossistema e, na década de 1990, tinha se tornado uma das maiores bandas do mundo. Suas letras eram em geral saturadas de imagens cristãs, linguagem bíblica e um anseio espiritual, mas, com a mesma frequência, também falam sobre sexo, poder e política.

“A banda se formou cinco anos antes da estreia da MTV e era fiel às suas tendências pós-punk”, conta o músico Steve Taylor. “Eles evitaram deixar sua música ser ofuscada por qualquer imagem da banda que fosse excessivamente sofisticada ou por truques de marketing.”

Taylor foi um “insider intruso” na MCC, durante os anos 1980 e 1990, beirando os limites da aceitabilidade com um pós-punk satírico e ousado e música alternativa. Não foram poucas as vezes que ele cutucou as hipocrisias de companheiros de jornada evangélicos.

“A MCC optou por imagem e marketing em vez de conteúdo, tornando-se com o passar do tempo uma camisa de força, que recompensava o pensamento e a arte do menor denominador comum. Portanto, se o complexo industrial da MCC olhava o U2 com suspeita, tenho certeza de que o sentimento era mútuo”, diz Taylor. “Essa não era a verdade sobre os artistas que eu conhecia”, acrescentou. “O U2 eram os nossos Beatles.”

Bono apresentando-se com o U2 em 2011.AP
Bono apresentando-se com o U2 em 2011.

“Sua narrativa de origem,” eu digo a Bono, “dá uma sensação de que você é assombrado por fantasmas.”

Ele ri. “Foi T. S. Eliot… Quatro Quartetos?” ele pergunta: “‘O fim é onde começamos?’”

Estávamos falando sobre Surrender : 40 Songs , One Story (Rendição: 40 canções, uma história), o livro de memórias de quase 600 páginas do Bono, que estava a apenas algumas semanas de seu lançamento em novembro.

“O ano de 1974 tirou minha mãe de mim, mas me deu muito em troca”, Bono me diz.

“Minha mãe desmaiou, enquanto o pai dela estava sendo enterrado; nunca mais falei com ela”, acrescenta. “Eu a vi uns dias depois, num leito de hospital, enquanto ela dava seus últimos suspiros. Foi… quero dizer, as pessoas passaram por coisas muito piores”, disse ele, descrevendo alguns dos horrores que testemunhou em seu trabalho com algumas das pessoas mais pobres e vulneráveis ​​do mundo.

“Mas sim,” Bono continua, “a morte é um banho de água fria para um garoto que está entrando na puberdade. T. S. Eliot está certo, o fim é onde começamos. Você começa sua reflexão sobre a vida frequentemente em momentos como esse. Quero dizer, todos nós vivemos de fato em negação a maior parte de nossas vidas.”

A obra Surrender é um extenso confronto com a negação da morte, a começar por um susto relacionado a problemas no coração, em 2016, que quase o matou. Mas a morte de sua mãe se destaca na história — a ausência dela na casa e sua presença no coração e na imaginação do filho por cinco décadas, desde então.

Antes de ser Bono, ele era Paul Hewson, filho de Bob e Iris Hewson. Bob era católico, fanático por ópera e um homem cujo rosto anguloso dava indícios das arestas afiadas de seu comportamento. Iris era protestante, travessa, calorosa e propensa a dar gargalhadas incontroláveis ​​nos momentos mais inapropriados — como durante uma apresentação de ópera ou quando Bob enfiou uma broca de furadeira na virilha e pensou que havia feito um dano irreparável. (Ele ficou bem.)

Os pais de Bono, Bob e Iris Hewson.Cortesia do arquivo da família Hewson
Os pais de Bono, Bob e Iris Hewson.

Bono tinha 14 anos quando ela morreu. A ausência da mãe tomava conta da casa dos Hewson, intensificando a distância que já sentia entre ele e o pai.

“Existem apenas umas poucas maneiras de transformar uma criança pequena em um grande cantor que lota estádios. Você pode lhe dizer que ela é incrível… ou simplesmente ignorá-la. Isso pode ser mais eficaz”, ele escreve em Surrender.

“As feridas que a perda (da minha mãe) abriu em minha vida se tornaram esse tipo de vazio que preenchi com música e amizade”, Bono me disse. “E realmente, com uma ‘fé cada vez maior'”, acrescenta ele com um sorriso enorme, “como diria o evangelista galês Smith Wigglesworth”.

O amigo que o rebatizou de “Bono” foi quem lhe apresentou o tipo de cristianismo que moldou sua vida. Derek Rowen, também conhecido como “Guggi”, era um criador de apelidos, e a maioria das crianças que passaram pela gangue de amigos deles ganhou um novo nome em algum momento. (Um deles, David Evans, ganhou o apelido de “the Edge” por causa de suas características galesas marcantes. Esse também pegou.)

Bono escreve: “Guggi me apresentou a ideia de que Deus pode estar interessado nos detalhes de nossas vidas, um conceito que me ajudaria durante minha infância. E também em minha vida adulta.”

Nas igrejas e nas reuniões de oração que frequentavam, Bono encontrou uma direção e um nome para dar ao que chamava de um senso do divino que era inato, mas “incipiente e sem forma”. Isso o impactou profundamente, e ainda o impacta. Ele escreve,

A Bíblia me fascinou. As palavras saltavam das páginas e me seguiam até em casa. Encontrei mais do que poesia naquela escrita gótica da King James [uma das versões da Bíblia em inglês]. […] Eu era sempre o primeiro a levantar, quando ouvia um apelo, aquele momento do “venha para Jesus”. E ainda sou. Se eu estivesse em um café agora, e alguém dissesse: “Levante-se, se você está pronto para entregar sua vida a Jesus”, eu seria o primeiro a me levantar. Eu levava Jesus comigo para todos os cantos, e ainda levo.

A morte de Iris Hewson não foi o único evento devastador em 1974. Quatro meses antes de seu ataque, três carros-bomba explodiram em Dublin, e um quarto carro explodiu em Monaghan, matando 33 pessoas e ferindo mais de 300.

Um deles explodiu perto da Dolphin Discs, a loja de discos que Bono costumava frequentar depois da escola; mas ele não estava lá. Uma greve de ônibus, que aconteceu naquele mesmo dia, fez com que ele fizesse de bicicleta seu trajeto de ida e volta para a escola; Bono estava em casa quando as bombas explodiram. Ele escreve: “Naquele dia eu não escapei de uma bala; eu escapei de uma carnificina.”

Explosão de bomba em Dublin, 1974.Getty
Explosão de bomba em Dublin, 1974.

Dois anos se passaram. Para Bono, foram dois anos de internalização de trauma, terror e dor. Então, em 1976, Larry Mullen Jr. fixou um cartaz na parede de sua escola: “Baterista procura músicos para formar uma banda”. Entre os que responderam ao chamado estavam Bono, The Edge e Adam Clayton.

O U2 faz parte da era musical pós-punk e surgiu ao lado de bandas como The Clash, Stiff Little Fingers e Sex Pistols. O pós-punk evoluiu da força bruta de predecessores como os Ramones, mas o som era mais dinâmico, as músicas mais compostas. Foi uma época em que o espírito rebelde do rock-and-roll se tornou mais político, mais revoltado com a hipocrisia das elites e os abusos dos poderosos.

Mas enquanto seus contemporâneos se entregavam ao cinismo, cantando sobre “nada fazer sentido” ou “nada ter futuro”, o U2 cantava lamentos, clamava: “Por quanto tempo?” e um triste “Nós poderíamos ser um”. A banda era mais profética do que dissidente, consciente de que havia uma esperança de restauração por baixo daquele sentimento de injustiça.

Perguntei a Bono sobre esse contraste. “Mesmo nos trechos mais sombrios de suas letras”, eu digo, “elas [as letras] não transmitem desespero. São lidas como um lamento. E, por baixo do lamento, sempre há uma espécie de esperança. A música punk é o som da rebeldia. Você traz todo esse trauma de seu passado, essa sensação de perda. Parece que a própria esperança era um ato de rebeldia em seu mundo, naquela época.”

Ele pensa por um momento, repetindo uma frase. “Por trás do lamento esconde-se a esperança. Sim, o luto se torna uma espécie de invocação, não é? Uma oração a ser atendida?” Ele ri. “Sim. Orações punk rock. Isso é provavelmente o que elas eram.”

“Foi uma época incrível, o punk rock”, diz ele. “Eles realmente me inspiraram. Suponho que no U2 nos rebelamos contra algo um pouco mais elíptico, talvez mais difícil de seguir para alguns, mas estávamos nos rebelando contra nós mesmos.”

“Eu tinha uma Bíblia e me lembro de grifar Efésios 6: Porque a nossa batalha não é contra a carne e o sangue, mas contra as potestades e principados espirituais, portanto, tomai toda a armadura de Deus, a couraça da justiça, o escudo da fé, o capacete da salvação, as sandálias do evangelho da paz… Isso me impactou imensamente. E eu, com 18, 19 anos, pensei: essa é a verdadeira luta que está acontecendo. Todo o resto é uma expressão disso. E, aliás, eu não achava que as pessoas religiosas entendiam suas próprias Escrituras, pois muitas vezes usavam sua religião — na Irlanda, com toda certeza — como um porrete para acertar os outros. Quer dizer, católicos e protestantes… é meio ridículo, se você pensar bem. Sim, escolhemos uma luta mais interessante.”

Ele se senta e ri. “Se você suportar esse cantor de rock irlandês ferveroso citando suas próprias letras, há uma música em No Line on the Horizon chamada 'Cedars of Lebanon' [Cedros do Líbano], e acho que diz assim: ‘Escolha seus inimigos com cuidado, porque eles definirão você. Faça deles algo interessante, porque, de certa forma, eles vão observar você.' E continua: ‘Eles não estão lá no começo, mas quando sua história termina. Eles estarão com você por mais tempo do que seus amigos.’ Acho que aquilo que o U2 provavelmente acertou foi que nós apenas… escolhemos lutar com um inimigo muito mais interessante do que um mais óbvio para o punk rock.”

Isso me lembrou de algo que Bono disse, certa vez, em uma entrevista com David Fricke, para a revista Rolling Stone. Fricke estava cobrindo a turnê do U2 em 1992, para o álbum Achtung Baby, no qual a banda se entregava a um glamour selvagem, absurdo e autoparodiante. Comentando sobre a contradição entre criticar os excessos do rock-and-roll e, ao mesmo tempo, condescender com eles, Bono disse: “Zombe do diabo e ele fugirá de você.”

À direita, Bono com membros da banda e amigos, em 1979Fotografia de Patrick Brocklebank
À direita, Bono com membros da banda e amigos, em 1979

Após o lançamento de seu primeiro disco, o U2 chegou a uma encruzilhada. “Eles estavam seriamente convencidos de que estávamos no caminho errado”, diz Bono, descrevendo os líderes da comunidade cristã bastante unida de que faziam parte, em Dublin. Eles colocaram muita pressão sobre a banda, convencidos de que seguir o chamado de Deus significava deixar a estrada e se concentrar no evangelismo e na vida da igreja em Dublin.

The Edge desistiu. Bono não conseguia imaginar o U2 sem ele, então, desistiu também. Larry entendeu. O Adam não, mas não queria arrumar uma briga. Eles dirigiram até a casa de seu empresário, Paul McGuinness, e disseram a ele que o U2 chegara no fim da estrada. Bono descreve a cena em Surrender:

“Devo deduzir disso que vocês têm falado com Deus?”, perguntou McGuinness.
“Achamos que é a vontade de Deus”, respondemos com sinceridade.
“Então, vocês conseguem simplesmente falar com Deus?”
“Sim”, entoamos.
“Bem, talvez da próxima vez vocês possam perguntar a Deus se está certo que o representante de vocês na terra rompa um contrato legal?”
“Como assim?”
“Você acha que Deus quer que vocês rompam um contrato legal? … Como é possível que esse seu Deus queira que vocês infrinjam a lei e não cumpram com suas responsabilidades para fazer essa turnê? Que tipo de Deus é esse?”

Era um bom argumento. É improvável que Deus nos faça infringir a lei.

Essa conversa foi fundamental. Sem perceber, McGuinness lhes dera a permissão de que precisavam para viver na tensão de estar no mundo, mas não ser do mundo. Bono escreve: “Como artistas, estávamos lentamente descobrindo o paradoxo e a ideia de que não somos compelidos a resolver todo impulso contraditório”.

“Seu trabalho é sempre ‘sim, e’”, diz Sandra McCracken. Ela própria uma artista, McCracken leva a música para santuários de igrejas e bares fétidos — algo que teria sido inimaginável para muitos músicos cristãos da geração anterior à dela. Bono demonstrou aos artistas cristãos como poderia ser viver nesses espaços liminares, permitindo que o amor e a imaginação os levem a fazer música em que acreditam, antes de mais nada.

“É como se o artista sangrasse os jornais e as Escrituras igualmente. Não há distinção, ele vive com os dois à sua frente”, diz McCracken. “E isso me pareceu tão atraente. Isso me lembra das conversas dos melhores tipos que alguém tenta ter com seus filhos. Você percebe o que chamou a atenção deles e pergunta: ‘O que você gosta nisso?‘ Há uma espécie de generosidade nessa visão.”

É fevereiro de 2002. O primeiro Super Bowl após o 11 de setembro foi uma exibição ininterrupta de bandeiras americanas, hinos e ex-presidentes. Mas quem sobe ao palco no intervalo são os quatro irlandeses do U2.

É difícil imaginar outra banda ou outro artista capaz de falar às ansiedades que fervilhavam na psiquê americana, após o 11 de setembro. Nas duas décadas desde o lançamento de seu primeiro disco, suas orações punk rock deram a eles credibilidade como testemunhas da presença de Deus e da esperança de justiça em um mundo sombrio.

Quando a música começou, the Edge estava tocando a guitarra Gibson Explorer que ele comprou na cidade de Nova York, quando criança. Bono apareceu no meio da multidão, cantando,

O coração é uma flor,
Que brota de solo pedregoso.

Makoto Fujimura, pintor e autor de Art and Faith: A Theology of Making, descreveu a “guerra cultural” como uma mentalidade polarizada, que vê a cultura como um território a dominar, e não como um espaço comum que os cristãos compartilham com seus próximos. Em vez de um jogo em que um jogador só pode ganhar se o outro perder, ele nos convida a uma postura de “cuidado cultural” e “criatividade generativa” — por meio da qual as pessoas criam e colaboram para trazer beleza e cura a um mundo fragmentado.

“É preciso um certo tipo de coragem para permanecer no meio da devastação e não se tornar cínico”, ele me diz. “Considerando a história de Bono, faz sentido que ele queira falar de ‘Shalom’ para o sofrimento no mundo.”

Durante o show do intervalo, “Shalom” soou muito como “It’s a beautiful day” [um dos hits da banda].

: Bono se apresentando com o U2, durante o intervalo do Super Bowl XXXVI, em 2002.Getty / Michael Caulfield
: Bono se apresentando com o U2, durante o intervalo do Super Bowl XXXVI, em 2002.

Parece fácil esquecer o choque do 11 de setembro e a ansiedade que ele deixou em todo o mundo ocidental. Mas, quando experimentamos esse tipo de violência, precisamos de testemunhas proféticas que possam não apenas reacender nossa coragem e nossa esperança, mas também nos ensinar a lamentar.

Quando o U2 começou sua segunda música, uma tela preta surgiu bem no alto, atrás deles, com os nomes projetados das vítimas do 11 de setembro rolando em direção ao céu. The Edge começou a tocar a conhecida melodia percussiva de “Where the Streets Have No Name”, e Bono orou o Salmo 51.15: “Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor.” A banda entrou na música, e Bono gritava “América!”, oferecendo um clamor atônito que se situava entre um grito primitivo e um aleluia.

“Os artistas precisam aprender a ficar em pé sobre as cinzas do marco zero e acreditar que terão uma nova missão e uma nova música”, disse Fujimura. “Isso significa prestar atenção a tudo — ao bom e ao ruim […] Para alguém como Bono e o U2, suas experiências de trauma permitiram que ouvissem um chamado. Prestar atenção às sarças ardentes — a esses lugares onde Deus está falando — e compartilhar o que eles veem e ouvem com o mundo.”

“Where the Streets Have No Name” é um lamento, uma oração por uma unidade que transcende as divisões de raça, classe e nação. Quando a música terminou, Bono abriu sua jaqueta e revelou as estrelas e listras costuradas no forro — mais um símbolo de solidariedade.

Bono mais tarde descreveu esse momento como uma noite de “alegria desafiadora”. É uma descrição que se aplica não apenas àquela noite, mas a todo o seu testemunho sem igual.

Com bastante frequência, os artistas cristãos são confrontados com códigos não escritos — assuntos que devem ser evitados, autoimagens que devem ser projetadas, mensagens a serem enfiadas em seus projetos, pessoas que não se deve ofender e políticas a ser endossadas ou evitadas. Poucas coisas são mais venenosas para a criatividade do que esse tipo de dogmatismo.

A resposta do U2 a esses confrontos tem sido a de aceitar o paradoxo e a contradição de viver em um espaço entre esses extremos. Isso levou alguns a sugerir que eles são cristãos demais para o mainstream e muito mainstream para os cristãos. O que me admira é que esta estrutura está precisamente errada. Viver nesse espaço limiar os tornou mais capazes de falar com ambas as comunidades. Isso lhes deu a oportunidade, naquela noite de 2002, de conceder a dádiva do lamento e da esperança a um mundo que os observava.

Bono também se viu confrontando essas divisões de uma nova maneira. Perto da virada do século, ele se envolveu em uma campanha para acabar com a dívida do mundo em desenvolvimento, que se chamava Jubileu 2000. O sucesso dessa campanha e a exposição que ela deu à epidemia de HIV/AIDS na África inspiraram um nível muito mais profundo de compromisso com o trabalho ativista, que mais tarde levou à criação da campanha ONE — que incluiu um esforço maciço para fornecer medicamentos antivirais ao continente africano.

Para que a campanha fosse bem-sucedida, ele precisava da adesão de políticos conservadores e de líderes evangélicos, mas dados de pesquisas da época sugeriam que os cristãos evangélicos tinham muito pouco interesse em ajudar as vítimas da AIDS, incluindo órfãos. Bono tomou a iniciativa de construir pontes com políticos com quem jamais imaginou sentar à mesa. Ele escreve: “Eu estava começando a ver que a Bíblia era uma porta pela qual eu poderia passar com pessoas que, de outra forma, ficariam estagnadas”.

“Essas não são questões partidárias”, Michael Gerson me diz. Ele foi redator de discursos e assessor de políticas no governo de George W. Bush e trabalhou com a campanha ONE nos anos seguintes. “Bono encontrou um terreno comum com outras pessoas, por causa de seu senso próprio de dignidade humana, que está enraizado na Bíblia.”

Foi assim que Bono se viu recebendo uma oração no escritório do senador Jesse Helms (que foi uma das inspirações — e não no bom sentido — para a música antiguerra do U2 “Bullet the Blue Sky”). É difícil imaginar um político que tenha opiniões mais diametralmente opostas às de Bono. Helms chamou a AIDS de “a doença gay” e se opôs à legislação de direitos civis por décadas. “E aqui está ele”, escreve Bono, “impondo as mãos sobre a minha cabeça”.

Helms estava orando por Bono.

“Helms tinha lágrimas nos olhos e mais tarde vai se arrepender publicamente da maneira como se referiu a AIDS no passado. Foi um choque grande tanto para a esquerda quanto para a direita. O que comoveu Helms foi a analogia com a lepra, nas Escrituras. Lá, ele teve que seguir seu Jesus”.

Durante o governo Bush, Bono e outros participantes da campanha ONE construíram uma ponte atrás da outra, alcançando mais de US$ 100 bilhões do dinheiro dos contribuintes, que foram alocados para esforços que visavam prevenir a transmissão do HIV e fornecer tratamento.

“O que mudou a América”, Bono me diz, “o que ajudou a inspirar um presidente conservador dos Estados Unidos a lutar contra o HIV/AIDS e a liderar o mundo naquela que foi a melhor, a maior intervenção na história da medicina, foram os cristãos conservadores.”

Digo a ele que sou fascinado por essas histórias, especialmente nesses nossos tempos tão polarizados.

“Vou me definir como centro radical”, diz ele. “Ter sua fé sequestrada pela política é algo com que todos nós precisamos ter muito cuidado.”

Se o lamento esperançoso foi um ato de rebeldia em 1981, quando Boy foi lançado, talvez ser centro radical seja punk rock em 2022.

“Acho que não devemos nos permitir essa visão binária do mundo, entre progressistas e conservadores. Eu acho que isso é muito divisivo”, diz ele. “Encontraremos um terreno comum se buscarmos por um terreno mais elevado.”

“Precisamos chegar a um lugar de sabedoria”, continua Bono. “E eu antevejo avivamento.” Na verdade, ele prevê que as igrejas, de várias denominações, “poderiam ficar cheias, em vez de se esvaziarem. Mas depende de como são usadas. Temos de esperar que as pessoas vivam sua fé, e não apenas a preguem. Temos de pregar isso. Se você é um pregador, pregue isso. Mas se você não consegue vivê-la, pare.”

Quando pensei em entrevistar Bono pela primeira vez, achei a escala e o escopo de sua vida meio avassaladores. Ele não é apenas um dos maiores astros do rock mundial — ele é um de seus ativistas mais visíveis e eficazes. E, claro, ao ler Surrender, fiquei impressionado com a forma como sua vida extraordinária também é cheia da ordinária complexidade da nossa experiência humana — de amor, perdas, tristeza, graça, feridas, redenção.

“Eu queria explicar o que tenho feito com a minha vida para minha família, meus amigos e meus fãs”, diz Bono sobre a obra Surrender. “Também queria explicar à minha família o que fiz com a vida deles. Foram eles que me permitiram ficar longe, fosse no circo itinerante que era o U2 ou no meu ativismo. Eu só queria que eles…” Ele faz uma longa pausa. “Eu queria que eles entendessem o que eu estava fazendo com a minha vida.”

Como alguém que passou a maior parte da vida se identificando com o caráter espiritual das letras de Bono, acho que faz todo o sentido que Bono escreva um livro espiritual de memórias. É um gênero que Agostinho provavelmente não inventou, mas cujo padrão certamente modelou em Confissões. As expressões de anseio, arrependimento e esperança de Agostinho ressoam até os dias de hoje, pois refletem a experiência de toda alma que se permite sentir esse anseio por Deus. A oração mais famosa de Agostinho, “Nosso coração está inquieto até que descanse em ti”, soa muito como uma letra do U2: “I still haven’t found what I’m looking for” [Ainda não encontrei o que estou procurando].

Mesmo nas páginas finais de Surrender, Bono se identifica como um peregrino, não como um sábio — e sim como alguém que ainda está em busca. Ele conta uma história sobre como viu o filho tocar com sua banda, Inhaler, e a conversa que tiveram depois. Bono disse a ele: “Ser você mesmo é a coisa mais difícil, e isso é fácil para você. Nunca fui eu mesmo.”

Digo a Bono que ler essa frase realmente me surpreendeu.

“A palavra rendição [surrender] ainda parece fora de alcance para mim. A integração que se espera de uma pessoa que foi restaurada por sua fé provavelmente ainda me falta. Eu tenho a alegria, tenho alguns insights, tenho muito. Mas o que eu estava falando é de me sentir confortável na minha pele”, diz ele.

“Sabe como é, essa questão do U2 nos palcos… muita coisa acontece,” ele diz. “Nós realmente temos de nos preparar antes de entrar no palco. Temos de orar uns pelos outros. É algo como: ‘Vamos lá, rapazes. É apenas um show de rock-and-roll. Parem de se achar tão importantes’. Mas não podemos fazer isso sem aquilo [sem orar]. Ontem mesmo eu estava falando na escola em que fiz o colegial, para os alunos do sexto ano. Eu estava lendo o livro para eles; e fiquei tão nervoso.”

Ele respira devagar. “Mas vou te dizer, lá no fundo, existe uma âncora”, diz ele. “Estou preso a uma rocha, e essa rocha é Jesus.”

Mike Cosper é diretor da CT Media.

Traduzido por Mariana Albuquerque

Editado por Marisa Lopes

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Jesus reinará

Leitura do Advento do dia 1 de dezembro.

Christianity Today December 1, 2022
Stephen Crotts

Semana 1 do Advento: O Deus poderoso


A criança envolta em panos e colocada em uma manjedoura é o glorioso Criador e sustentador de todas as coisas. Ouvimos falar de seu poder e força nos ensinamentos de João Batista. Aguardamos sua volta prometida e seu reinado final. Jesus é o Deus Poderoso.

Leia Mateus 24.29-44

Assim, também vocês precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam. (Mateus 24.44)

As perguntas surgem com a primeira palavra desta passagem: “Imediatamente” (Mateus 24.29)!

A maior parte do restante do conteúdo dos versículos 29 a 31 quase sempre foi entendida como um texto que descreve a volta de Cristo, retratada poeticamente na linguagem de Isaías 13.10 e 34.4 como algo que envolve uma disrupção cósmica. (Alguns, em vez disso, tomaram-na como uma espécie de vinda invisível de Jesus em juízo, através da destruição de Jerusalém por Roma, em 70 d.C. — muito embora a ideia de reunir os eleitos de um canto ao outro do mundo não se encaixe nessa interpretação.)

Quando Cristo voltará? Esta mensagem proferida no monte das Oliveiras foi provocada pela pergunta dos discípulos de Jesus sobre quando ele voltaria (Mateus 24.3). Ele citou uma longa lista do que deveria acontecer primeiro (v. 4-26) e, agora, diz, em essência: Fiquem atentos a essas coisas para saber quando minha vinda está próxima, assim como as folhas de uma figueira anunciam a chegada do verão.

Exemplos de todas “estas coisas” ocorreram por volta de 70 d.C., de modo que a igreja, em todas as suas gerações desde então, acreditou que poderia ver sua volta. Jesus não está dizendo que voltará no período de vida dos discípulos, mas apenas que todos os eventos preparatórios terão ocorrido. A expressão “essas coisas” no versículo 34 tem de significar o mesmo que a expressão “estas coisas” no versículo 33 — ambas mostram que o retorno de Cristo “está próximo”, mas ainda não chegou. Portanto, estas coisas não podem abranger a sua volta de fato — elas são meros sinais que preparam a volta de Cristo. Quando ele voltar, não estará mais apenas “próximo, às portas” (Mateus 24.33), mas terá chegado!

Não podemos saber o momento preciso de tudo isso, por isso, devemos estar sempre preparados. Aqueles que não estiverem serão pegos de surpresa pela rapidez e pelo espanto diante dos acontecimentos finais. Se permanecermos alertas o tempo todo, não precisamos nos preocupar com o ladrão que vem à meia-noite. Jesus, evidentemente, não está voltando para roubar nada de nós; é a ideia da imprevisibilidade que ele está destacando nesta comparação.

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Mas o que dizer sobre as palavras “Imediatamente após a tribulação daqueles dias” (Mateus 24.29)? Talvez a angústia retratada aqui seja a que caracteriza todo o período entre as duas vindas de Cristo. Afinal, 2Timóteo 3.12 promete perseguição a todos os piedosos (mesmo em meio aos muitos momentos de alegria da vida cristã).

Seja como for que interpretemos isso, temos aqui o testemunho de Jesus sobre como o Deus Poderoso consertará todas as coisas no seu devido tempo. Hoje, muitos cristãos resgataram o chamado bíblico por justiça neste mundo, e com razão — devemos fazer tudo o que pudermos para ajudar os outros. Mas guerras, enfermidades, desastres naturais, ferimentos e deficiências, pobreza e relacionamentos rompidos exigem que, em última análise, confiemos em Deus para a plena restituição e restauração na eternidade. E, no grande esquema da eternidade, a sua volta provavelmente parecerá aos olhos de todos nós algo que de fato aconteceu “imediatamente”!

Craig L. Blomberg é distinto professor emérito de Novo Testamento no Denver Seminary e autor de vários livros, entre eles seu comentário sobre Mateus e Interpreting parables.

Reflita em Mateus 24.29-44.


Que perguntas esta passagem levanta para você? Que sentimentos desperta? Ore, refletindo sobre como essa passagem aponta seu foco para a força e o poder de Jesus.

Jesus merece toda a atenção

Leitura do Advento para o dia 30 de novembro.

Christianity Today November 30, 2022
Stephen Crotts

Semana 1 do Advento: O Deus poderoso


A criança envolta em panos e colocada em uma manjedoura é o glorioso Criador e sustentador de todas as coisas. Ouvimos falar de seu poder e força nos ensinamentos de João Batista. Aguardamos sua volta prometida e seu reinado final. Jesus é o Deus Poderoso.

Leia João 1.19-34 e 3.22-30

É necessário que ele cresça e que eu diminua. (João 3.30)

Ele deve aumentar, mas eu devo diminuir” (KJV). Lembro-me de ouvir esse versículo quando criança, e imaginar Jesus crescendo e crescendo cada vez mais, enquanto João Batista encolhia! O contexto da declaração de João esclarece seu significado: Os discípulos de João lhe disseram que “todos estão indo” até Jesus, então, João declara: “É necessário que ele cresça e que eu diminua.”

O ministério de João Batista começou antes do de Jesus, de modo que João viu o número de seguidores de Jesus crescer do zero para muito mais do que os que ele mesmo tinha. Isso poderia ter partido o coração desse pregador, pois “toda a região da Judeia e todo o povo de Jerusalém” estavam indo para o deserto para ver João Batista (Marcos 1.5).

O Evangelho de João, no entanto, consistentemente descreve João Batista como uma mera testemunha — alguém que dá testemunho — da identidade e da grandeza de Jesus. Cada pedacinho das duas passagens que estamos vendo hoje nos mostra João explicando quem ele é, quem não é ou quem é Jesus. Líderes judeus de Jerusalém questionam João Batista sobre sua identidade, e ele nega ser qualquer tipo de Messias. Afirma que está apenas preparando o caminho para o Cristo. Sim, ele tem um ministério de batismo nas águas, mas seu status é muito inferior ao daquele que virá. João aponta Jesus como o cordeiro sacrificial de Deus, que tirará os pecados do mundo e mergulhará as pessoas no poder do Espírito Santo.

Mais tarde, quando os seguidores de Jesus ultrapassaram os de João Batista em número, este insiste em que isso é plenamente apropriado. Ele se compara a um simples padrinho de um casamento no qual o noivo é Jesus. A analogia de João em 3.29 é impressionante, particularmente quando entendemos seu contexto cultural. O costume judaico antigo exigia que o padrinho esperasse do lado de fora do quarto, quando a noiva e o noivo consumavam o casamento. Pela tradição, o noivo gritava de alegria para confirmar sua nova intimidade conjugal, e o padrinho compartilhava dessa alegria.

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A vida cristã consiste em se submeter cada vez mais a Jesus, o Deus Poderoso. Uma geração depois, Paulo diria em Filipenses 1.18 que “o importante é que de qualquer forma […] , Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro”.

Eu me aposentei recentemente e preciso mais do que nunca aprender essa lição. Estar no centro das atenções não é o ponto. O ponto é humildemente engrandecer Jesus. É necessário que eu diminua.

Craig L. Blomberg é distinto professor emérito de Novo Testamento no Denver Seminary e autor de vários livros, entre eles seu comentário sobre Mateus e Interpreting parables.

Medite em João 1.19-34 e 3.22-30.


Considere o que o exemplo de João Batista nos mostra sobre quem é Jesus. Como a postura de João é instrutiva para nossa própria vida espiritual? Como podemos “diminuir”?

Purificação verdadeira

Leitura do Advento para o dia 29 de novembro.

Christianity Today November 29, 2022
Stephen Crotts

Semana 1 do Advento: O Deus poderoso


A criança envolta em panos e colocada em uma manjedoura é o glorioso Criador e sustentador de todas as coisas. Ouvimos falar de seu poder e força nos ensinamentos de João Batista. Aguardamos sua volta prometida e seu reinado final. Jesus é o Deus Poderoso.

“Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo”. (Mateus 3.11)

Se formos honestos, à primeira vista, João Batista é praticamente o pior dos excêntricos que poderíamos imaginar. Ele vestia roupas feitas de pêlo de camelo com um cinto e comia gafanhotos. Seguindo pelo deserto da Judeia adentro, ele começa a pregar. Com certeza até nós mesmos conseguiríamos imaginar uma proclamação da vinda do Messias que aguçaria um pouco mais os ouvidos. João Batista poderia ter lembrado as pessoas das grandes promessas associadas ao Messias — que o Messias trará justiça, proporcionará cura, oferecerá estabilidade. Ele poderia lhes contar as boas novas.

João Batista, no entanto, fez algo bem diferente. Ele disse: “Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo” (Mateus 3.2), e através do uso que Mateus faz da citação de Isaías 40.3, vemos João dizer ao povo, com palavras familiares e revestidas de autoridade, para que “façam veredas retas” — ou “Façam um caminho reto” (veja também João 1.23). João Batista começa por aquilo que pode ser considerado uma má notícia, na verdade; ele lhes diz que precisam mudar.

E muitos deles ouvem. Como esse homem estranho é tão bem-sucedido em seu ministério? Mateus nos dá algumas pistas. Ele faz uma descrição seletiva de João Batista em que cada detalhe está carregado de significado. João veste roupas de pêlo de camelo com um cinto de couro? Esse era o traje de Elias. Ele come gafanhotos e mel? Essa era a refeição dos pobres. Mateus apresenta João Batista ao estilo dos profetas do passado, como um homem de Deus investido de autoridade que declara a palavra do Senhor.

As pessoas se aproximam de João Batista em busca de purificação — de uma lavagem ritual que simboliza seu arrependimento —, mas ele lhes promete que uma purificação mais eficaz está por vir. Essa purificação do Senhor virá através do “Espírito Santo e do fogo”.

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Conforme João continua a explicar o ministério daquele que virá, suas metáforas nos ajudam a entender o que significa ser batizado com o Espírito e com fogo. É purificação (em parte) por meio de separar o que é bom do que é ruim. João usa uma metáfora agrícola, que vemos em passagens como Salmos 1, um processo bem conhecido de sua audiência. Os agricultores usavam uma espécie de garfo para jogar os grãos para cima. Os grãos pesados e comestíveis caíam no solo, mas o joio, que era mais leve, geralmente era soprado pelo vento. Se ainda sobrasse algum joio a mais depois disso, o agricultor o separava e o queimava.

Esta é uma limpeza mais permanente do que uma lavagem, e acho que esse é exatamente o ponto. O batismo que João ministrava ao povo era importante, mas se não fosse acompanhado da obra do Espírito, seus efeitos eram temporários. Com o batismo de João apenas, eles precisariam se purificar novamente, mas a obra de Jesus por meio do Espírito é eficaz para sempre.

Madison N. Pierce é professora associada de Novo Testamento no Western Theological Seminary. Entre seus livros está a obra Divine Discourse in the Epistle to the Hebrews.

Reflita sobre Mateus 3.1-12.


Como você descreveria a mensagem de João Batista? Por que ela é uma boa notícia? Em oração, considere o que as palavras de João enfatizam sobre o poder e o propósito de Jesus.

Desmistificando 3 equívocos comuns em relação ao Advento

Líderes de países como Brasil, Colômbia, Filipinas e França comentam sobre esse tempo litúrgico em seus respectivos contextos.

Christianity Today November 28, 2022

Para os cristãos amantes da liturgia, o Advento é uma época de prenúncio, marcada por uma postura de espera repleta de esperança e expectativa.

Para muitos evangélicos, porém, o Advento pode passar quase despercebido, como algo para o qual não atentam, seja por desconhecimento do calendário litúrgico da igreja ou por um certo cinismo, pela suposição de que se trata de uma prática católica.

Advento significa “chegada” ou “aparição” e vem da palavra latina adventus. A cada ano, essa época começa quatro domingos antes do Natal e vai até 25 de dezembro. É dividida em um período que se concentra na Segunda Vinda de Cristo e em outro que se concentra em seu nascimento. (Os cristãos ortodoxos celebram um evento semelhante, o Jejum da Natividade, que vai de 15 de novembro a 24 de dezembro, antes da Festa da Natividade, em 25 de dezembro.)

O Advento começou nos séculos quarto e quinto, na Gália e na Espanha, como uma época destinada a preparar os corações dos fiéis para a Epifania (em 6 de janeiro), não para o Natal. A Epifania é o dia em que se comemora a visita dos reis Magos, após o nascimento de Jesus (no Ocidente), ou o seu batismo no rio Jordão (no Oriente).

Hoje, as práticas do Advento podem incluir a leitura e a oração de um devocional do Advento e o costume de acender, a cada um dos quatro domingos, uma vela, a qual é colocada dentro de uma coroa do Advento; cada vela corresponde a um dos quatro temas semanais: esperança, amor, alegria e paz. A maioria das coroas também inclui uma vela colocada no centro, para simbolizar Jesus, a Luz do mundo.

No entanto, em partes do mundo majoritário e em países onde o catolicismo é a religião dominante, os evangélicos normalmente não observam o Advento.

As igrejas evangélicas francesas ignoram o Advento como parte de “uma reação instintiva contra qualquer coisa que seja litúrgica, porque cheira a catolicismo”, disse Gordon Margery, professor batista do Instituto Bíblico Nogent-sur-Marne, que mora nos arredores de Paris.

Poucas “igrejas evangélicas históricas, pentecostais e neopentecostais” na América Latina participam do Advento, diz o pastor colombiano Dionisio Orjuela. “Apenas igrejas como a luterana, a anglicana e a episcopal (juntamente com os católicos) observam a época do Advento.”

A CT conversou com líderes cristãos do Brasil, da Colômbia, da França e das Filipinas para saber mais sobre como esses equívocos comuns em relação ao Advento podem ser abordados, particularmente em contextos de maioria católica.

Equívoco #1: O Advento é uma prática exclusivamente católica romana.

“A maioria dos protestantes de hoje não tem ideia do que aconteceu na igreja por um período de quase mil anos. No entanto, eles estão convictos de uma coisa: o que quer que tenha ocorrido durante a era pré-moderna não vale o nosso tempo e só pode corromper o cristianismo”, escreveu o professor do Midwestern Baptist Theological Seminary, Matthew Barrett, no início deste ano.

Em geral, o calendário eclesiástico era visto como uma invenção católica. Os protestantes que desconfiavam das inovações tentaram voltar às práticas da igreja do Novo Testamento e se livraram do calendário. (Os puritanos nunca celebraram o Natal, muito menos o Advento.)

Esse sentimento pode muito bem se aplicar às percepções evangélicas do Advento, onde muitos consideram a época como um ritual predominantemente católico que tem pouco ou nenhum propósito ou relevância para a vida espiritual de alguém.

Contudo, há evangélicos de todo o mundo, das Filipinas ao Brasil, que participam do Advento.

“Esses evangélicos vêm de denominações históricas (por exemplo, anglicana, reformada, luterana, metodista) que levam a sério a evolução histórica do culto e abrem espaço para condições históricas em suas práticas, ao mesmo tempo em que buscam ser fiéis ao implementar princípios bíblicos na contextualização do culto”, disse Timóteo Gener, presidente da FEBIAS College of Bible, nas Filipinas.

No Brasil, o Advento é o período litúrgico de maior aceitação entre os evangélicos, diz Daniel Vieira, diretor do projeto Lecionário.

Na opinião de Daniel, a boa prática do calendário litúrgico ajuda a desenvolver uma “visão sacramental da realidade”, que combate o consumismo religioso e dá nova ênfase à formação espiritual e ao discipulado.

Por isso, segundo ele, ajudar os crentes a distinguir entre o Advento e o Natal é uma necessidade vital para a igreja brasileira neste momento.

“A maior dificuldade é entender melhor a diferença entre Advento e Natal e observar o Advento de forma adequada, com o auxílio de práticas cristãs tradicionais e de um lecionário, ferramenta que temos divulgado no Brasil.”

Equívoco #2: O Advento não é bíblico.

Alguns evangélicos também podem ter a percepção de que o Advento não é bíblico, pois não é mencionado em nenhum lugar das Escrituras.

Os evangélicos muitas vezes se encontram “divorciados” da história e da tradição da igreja. Alguns podem vir de contextos religiosos que dão pouca ênfase a rituais, que colocam maior ênfase na pregação tópica e na piedade pessoal do que em seguir o calendário eclesiástico histórico para a liturgia dos cultos ou o uso de orações comunitárias de invocação e resposta.

Mas resgatar a compreensão da tradição da igreja pode esclarecer por que o Advento é um período baseado na Bíblia, no qual os crentes podem moldar sua fé segundo a Palavra e a verdade de Deus.

“Os evangélicos devem estudar a tradição [da igreja], pois não somos os primeiros a buscar respostas para questões e problemas difíceis da teologia. No entanto, não devemos elevar a tradição a um status inviolável e autoritativo”, escreveu o teólogo batista Roger E. Olson.

O Advento reflete a Bíblia ao destacar a centralidade de Cristo e de sua obra salvífica, argumenta Fleming Rutledge, padre da Igreja episcopal.

“O Advento sempre começa no escuro. Contudo, há um ‘mas’, e o encontramos revelado na história que as Escrituras contam”, escreveu Rutledge.

“Esta é a mensagem do Advento: em um mundo de profundas trevas e angústia, de pecado e mal generalizados, olhamos para a única luz verdadeira — Cristo Jesus, o Filho de Deus.”

Alguns cristãos podem ter uma visão de que o culto litúrgico só deve ser modelado de acordo com textos do Novo Testamento, e não com base em sua evolução histórica ao longo dos séculos, diz Gener, teólogo filipino.

Mas a formação do ano litúrgico cristão — incluindo o Advento — remonta a como a igreja primitiva incorporou práticas culturais de sua época em sua vida de adoração.

“As práticas e festivais da sinagoga judaica foram incorporados por Jesus e seus discípulos, que deles tomavam parte; essas práticas foram remodeladas pelos discípulos de Cristo, à luz do evento de Cristo, algo que evoluiu mais tarde para o culto cristão histórico”, disse Gener.

Lula Derœux, pastor batista da França, considera importante observar o Advento, mesmo que a Bíblia não o mencione explicitamente: “Mesmo que a Bíblia não nos diga como nem quando celebrar o nascimento de Cristo, ela nos encoraja a lembrar e a construir nosso relacionamento com Deus.”

“Nossa necessidade de celebrar, de preparar nossos corações desejosos e de louvar o Senhor nessa espera transcende todas as culturas e todas as eras.”

Equívoco #3: O Advento é apenas sobre o nascimento de Jesus.

Como o Advento ocorre antes do Natal, que é em 25 de dezembro, supõe-se que seja simplesmente uma preparação para a celebração do dia do nascimento de Cristo.

No entanto, quando os cristãos observaram o Advento pela primeira vez, eles anteviam a volta de Cristo, e não seu nascimento. Isso mudou na Idade Média, quando o Advento se tornou um tempo para lembrar e celebrar a encarnação de Jesus, ainda que a abordagem “tradicional” do Advento permanecesse.

“A espiritualidade do Advento não é um tempo para meditar sobre o nascimento real de Cristo. Segundo a tradição, não devemos cantar canções natalinas até o Natal em si, pois o Advento não é uma época para celebrar o nascimento de Jesus na manjedoura, mas sim uma época para ansiar pela vinda do Salvador”, escreveu Robert E. Webber em Ancient-Future Time.

Em sua origem, o Advento também foi um tempo de jejum e autorreflexão, escreveu Ted Olsen, editor executivo da CT.

Para Daniel Vieira, o Advento é uma época “penitencial”, que proporciona aos fiéis um tempo para disciplina e arrependimento intencional.

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“Uma profunda reflexão sobre a tradição litúrgica nos mostra que o Advento incorpora uma tensão de unir a representação da expectativa dos povos da antiga aliança por redenção e a expectativa dos povos da nova aliança pela consumação, que virá com a segunda vinda de Cristo”, disse ele.

Alguns hinos e leituras tradicionais durante o tempo do Advento refletem um anseio pela volta de Cristo, diz Margery.

“Penso particularmente em O Come, O Come, Emmanuel. Esse hino em geral é cantado como uma espécie de súplica para que Cristo nasça e quem o canta se coloca no lugar dos santos de Israel, que ansiavam por sua vinda. Mas tenho a impressão de que está ecoando a oração final do Apocalipse [22.20, ‘Vem, Senhor Jesus!’].”

O anseio escatológico que o Advento encapsula é um componente-chave desse período que não pode ser negligenciado.

“As profecias das Escrituras sobre o Prometido geralmente têm camadas de significado e múltiplos cumprimentos”, escreveu Kelli Trujillo, editora de produtos impressos da CT, na introdução do devocional do Advento de 2022 da Christianity Today.

“Elas frequentemente apontam para um cumprimento no próprio tempo do profeta, mas também direcionam nosso olhar para o Messias e sua primeira vinda, bem como para o Segundo Advento que esperamos”.

“Estar no Advento é habitar no ‘já/ainda não’ do Reino de Deus”, disse Derœux.

“Isso nos permite lembrar as promessas do Senhor e o quanto ele se importa conosco. A paciência e a preparação necessárias para dar um Salvador à humanidade é algo de tirar o fôlego, e ser capaz de não apenas lembrar, mas também de viver esse tempo específico é uma bênção.

Poderíamos ler todo o Antigo Testamento e ver um Advento, uma aurora para um novo começo”.

Isabel Ong é editora associada da CT na Ásia.

Nota do editor

: O devocional diário da CT para o Advento de 2022,

O Prometido

, está disponível para download e impressão gratuitos em sete idiomas: inglês, chinês (simplificado e tradicional), espanhol, português, francês, coreano e indonésio.

Você também pode ler os devocionais diários on-line, escolhendo seu idioma (incluindo o russo) nos links amarelos.

Um caminho no deserto

Leitura do Advento para o dia 28 de novembro.

Christianity Today November 28, 2022
Stephen Crotts

Semana 1 do Advento: O Deus poderoso


A criança envolta em panos e colocada em uma manjedoura é o glorioso Criador e sustentador de todas as coisas. Ouvimos falar de seu poder e força nos ensinamentos de João Batista. Aguardamos sua volta prometida e seu reinado final. Jesus é o Deus Poderoso.

LeiaIsaías 40.1-5 e Malaquias 3.1-4; 4.5-6

Uma voz clama: “No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus”. (Isaías 40.3)

Em Isaías 40, encontramos os israelitas deportados para uma terra estrangeira — exilados e cativos na antiga Babilônia. A cidade localizava-se a cerca de uma hora ao sul da moderna Bagdá, no Iraque, e era considerada o centro da civilização mesopotâmica, uma cidade cosmopolita desértica, com jardins suspensos, que era famosa por Hamurabi e seu código. Mas o povo de Deus não queria ficar preso ali. Eles queriam ir para casa, voltar para Jerusalém. No entanto, estavam longe, muito longe de casa, sem esperança de retornar.

Nesse contexto destituído de esperança, eles experimentaram o irromper da graça de Deus. “Consolem”, bradou o profeta — verbo em hebraico com o sentido de encoragem e fortaleçam. Sua mensagem era algo semelhante a “Sejam consolados, tenham esperança! Este não é o fim. Vocês verão e experimentarão algo que jamais poderiam ter imaginado em sua vida no deserto”. Assim como seus antigos ancestrais experimentaram provisão e libertação miraculosas no deserto egípcio, eles também veriam Deus abrir um caminho no deserto para eles.

Se colocarmos lado a lado Isaías 40.1-5 e Malaquias 3.1-4 e 4.5-6, veremos a promessa que Deus fizera de enviar um mensageiro que prepararia os corações de seu povo para a libertação. Eles seriam purificados como que por fogo, para que pudessem ver a Deus, a si mesmos e ao mundo com mais clareza. Nessa libertação, o que havia sido dilacerado pelo exílio, como os relacionamentos familiares, um dia seria emendado novamente (Ml 4.5-6).

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Deus manteve sua palavra; mais tarde, os israelitas voltaram para Jerusalém. No entanto, essa volta não foi o fim da profecia. Séculos mais tarde, outro profeta, João Batista, prepararia o caminho para que o Deus Poderoso, nosso Senhor Jesus Cristo, salvasse seu povo de sua existência exílica — uma existência como exilados de Deus e uns dos outros, devido ao pecado. João Batista abrandaria o coração das pessoas para a chegada de Cristo.

Há ainda outra camada de cumprimento da profecia de Malaquias (3.1-4). Ela aponta para a segunda vinda de Jesus, quando seremos refinados — purificados — à medida que o Senhor fizer novas todas as coisas (veja Ap 21.5).

Libertações fantásticas em situações desesperadoras não estão relegadas à história antiga. Deus Todo-Poderoso realiza todos os dias proezas espetaculares de libertação. Na verdade, Deus surge quando toda esperança parece estar perdida. Podemos confiar no poder de Deus. Durante o Advento, somos lembrados de confiar naquele que foi Prometido e veio até nós como um recém-nascido que, mesmo sendo um bebê, detinha em suas pequenas mãos todo o poder e toda a força do universo, e muito além!

Você está no deserto, precisando de libertação — precisando que Deus, em seu poder, intervenha? Podemos não saber como ou quando a libertação vem, mas ela virá. Deus sempre vem. Peça a Deus que prepare o seu coração para a chegada dele e para a libertação que sempre a acompanha.

Marlena Graves é professora de formação espiritual no Northeastern Seminary. É autora de vários livros, entre eles The Way Up Is Down.

Reflita sobre Isaías 40.1-5 e Malaquias 3.1-4; 4.5-6.


Como você vê o poder de Deus nessas promessas, em suas camadas de cumprimento? Como essas passagens ecoam nossos próprios anseios e desejos?

Cristo, o eterno Senhor

Leitura do Advento para o dia 27 de novembro.

Christianity Today November 27, 2022
Stephen Crotts

Semana 1 do Advento: O Deus poderoso


A criança envolta em panos e colocada em uma manjedoura é o glorioso Criador e sustentador de todas as coisas. Ouvimos falar de seu poder e força nos ensinamentos de João Batista. Aguardamos sua volta prometida e seu reinado final. Jesus é o Deus Poderoso.

Leia Isaías 9.6-7; Colossenses 1.15-20; e Hebreus 1.1-12

Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. (Isaías 9.6)

De todos os sinais comuns a esta época que antecede o Natal — luzes enfeitando as casas, exposição de presépios, árvores de Natal enfeitadas — o que aguardo com mais expectativa são as músicas. Os cânticos do Advento e do Natal convidam-nos a retratar os acontecimentos que nos são familiares: a sagrada família na cena do nascimento, os anjos cantando para os pastores maravilhados, os reis magos a caminho da “pequena” Belém. Esses amados hinos e cânticos de Natal nos aquecem o coração.

No entanto, entre os nossos muitos hinos e cânticos favoritos, há letras tecidas que rompem essa nossa familiaridade e declaram uma realidade teológica surpreendente: O recém-nascido que está na manjedoura é o Deus Poderoso.

Hinos como “Hark the Herald Angels Sing” [Ouçam os anjos mensageiros a cantar] e “We Three Kings” [Nós, os treis reis magos] nos exortam a compreender quem esta criança realmente é: “Envolto em carne a Divindade vemos; salve a Divindade encarnada.” “Glorioso agora eis que ele se levanta; Rei e Deus e sacrifício.”

“Vem, Jesus, há muito esperado” ecoa este profundo paradoxo em palavras simples: “Nasceu criança e, ainda assim, rei”. Essas letras repercutem a verdade de Isaías 9.6-7. Essa criança é o Prometido que reinará eternamente no trono de Davi, estabelecendo seu reino de justiça, retidão e paz.

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É um mistério insondável sobre o qual o Novo Testamento também nos convida a refletir. O autor de Hebreus proclama: “O Filho é o resplendor da glória de Deus” e o “herdeiro de todas as coisas” (1.2-3). Paulo enfatiza que “nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis […] nele tudo subsiste” (Cl 1.16-17). Jesus Cristo é soberano sobre todas as coisas; nele, a plenitude de Deus habita.

Ele é o filho prometido que o povo de Deus aguardava, cujo nascimento estamos nos preparando para celebrar. Ele é o Senhor para quem Deus enviou um mensageiro, a fim de que lhe preparasse o caminho, pregando uma mensagem de arrependimento. Ele é o Salvador que, em sua missão de amor e redenção, viria a derrotar o poder do pecado e da morte por meio de seu sacrifício na cruz e de sua ressurreição vitoriosa. Ele é aquele cujo retorno aguardamos com esperança, confiantes no “Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que é imortal e habita em luz inacessível” (1Tm 6.15-16).

Essa realidade — que a criança na manjedoura é o Deus Poderoso — é algo que está muito além do que podemos compreender plenamente. E, ainda assim, é verdade. Com admiração e humildade, atendemos à exortação feita no cântico “Oh Holy Night” [Ó noite santa]: “Caiam de joelhos!” Em humilde gratidão, nós o adoramos.

Que todos dentre nós louvem seu santo nome. Cristo é o Senhor! Ó louvem o seu nome para sempre! Proclamem para sempre seu poder e sua glória! Proclamem para sempre seu poder e sua glória!

Kelli B. Trujillo é a editora dos produtos impressos da Christianity Today.

Reflita sobre Isaías 9.6-7; Colossenses 1.15-20; e Hebreus 1.1-12.
Opcional: Leia também 1Timóteo 6.13-16.


Qual descrição da força e do poder de Jesus chama sua atenção nessas passagens? Por quê? Como essa verdade pode moldar sua adoração nesta época do Advento?

Porque um menino nos nasceu…

Leituras devocionais para o Advento 2022.

Christianity Today November 24, 2022
Stephen Crotts

Introdução do Advento 2022: O prometido


Leia Isaías 9.6

Durante o Advento, preparamos o coração para celebrar a chegada desta criança — o menino Jesus, que está deitado em uma manjedoura, amado por Maria e José, adorado por pastores e sábios. Mas o Advento — que significa “chegada” — nos convida a uma preparação que vai muito além da noite santa de seu nascimento.

Ao longo da história da igreja, o Advento tem sido uma época de antecipação. Começou nos primeiros séculos do cristianismo como um período penitencial, em preparação para a Epifania — a celebração da aparição de Jesus e a revelação de sua identidade, dia que também era reservado para o batismo de novos crentes. Logo depois, o Advento começou a se concentrar na antecipação de outra aparição: a segunda vinda de Cristo. Na Idade Média, os temas que costumamos associar ao Advento hoje se tornaram parte da observância da igreja, pois os cristãos incluíam a antecipação da celebração do Natal ao lado da contemplação da volta de Jesus.

Cada um desses temas históricos se entrelaça ao longo das leituras bíblicas tradicionais do Advento, pois as promessas e profecias da Bíblia falam amplamente sobre a identidade e o propósito de Jesus. À medida que nos aprofundamos nessas verdades, nossa adoração do bebê na manjedoura é enriquecida, pois nos ajoelhamos diante daquele que tornaria sua identidade manifesta por meio de milagres de grande poder. Nós nos curvamos diante daquele que um dia virá novamente em glória, para julgar os vivos e os mortos.

Isaías contém algumas das profecias mais cativantes que apontam para Jesus. Lemos sobre um filho prometido que seria chamado Emanuel — Deus conosco (7.14). Aprendemos sobre uma luz que brilhará sobre os que vivem em trevas (9.2). E encontramos esta promessa retumbante:

Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso. (9.6-7)

As profecias das Escrituras sobre o Prometido em geral possuem camadas de significado e múltiplos cumprimentos. Elas frequentemente apontam para um cumprimento na própria época do profeta, mas também direcionam nosso olhar para o Messias e sua primeira vinda, bem como para o Segundo Advento que aguardamos.

Neste devocional da CT, exploramos o que as Escrituras nos dizem sobre o Prometido, aprofundando nossa fé no Salvador que conhecemos e amamos. As reflexões diárias mergulham em passagens-chave que nos ajudam a entender mais sobre quem é Jesus. Cada tema semanal gira em torno de um aspecto central da identidade de Jesus extraído das profecias de Isaías.

O Deus poderoso

As tradicionais primeiras leituras do Advento podem parecer chocantemente em desacordo com nossas expectativas de Natal. Em vez de azevinho [planta natalícia utilizada na decoração] e luz de velas, lemos sobre os horrores do fim dos tempos. Em vez de anjos que se regozijam, começamos com um profeta clamando em alta voz por arrependimento. Essas passagens nos tiram de nossa mentalidade acomodada para nos lembrar que Jesus é o Deus Poderoso. O Salvador, cujo nascimento estamos nos preparando para celebrar, é o próprio Filho do Homem que um dia voltará para julgar os vivos e os mortos. Ele é aquele para quem Deus enviou um mensageiro, a fim de lhe preparar o caminho: João Batista, a voz que clamava no deserto, dando testemunho do poder e da glória de Jesus. A criança na manjedoura é o Deus Poderoso cujo reino nunca terá fim.

O Príncipe da paz

Muitas das passagens do Antigo Testamento que falam do Advento nos levam a refletir sobre a paz pessoal que podemos experimentar com Deus e a vislumbrar a paz definitiva que o Prometido um dia trará. Guerra, violência e dor chegarão ao fim. Povos e nações há muito divididos vão adorar juntos, como um só. Mas as Escrituras nos levam para além dessa nossa inclinação a uma visão sentimentalista de paz, desafiando-nos a ver que a paz que Cristo traz é robusta e abrangente. Ela vem não apenas por meio do amor de Jesus, mas também por seu grande poder — pois sua paz está diretamente ligada à sua justiça. Ela está ligada ao seu justo juízo. E a paz que ele traz foi comprada por um alto preço.

A Luz do mundo

Do início ao fim das Escrituras, vemos a luz ser usada como metáfora para nos ajudar a entender a presença de Deus, a salvação, a vida de fé e o próprio Jesus. Lemos promessas de uma luz que brilhará de forma intensa e não poderá ser contida pela escuridão. Quando andou pela terra, Jesus se identificou como essa luz prometida — a mesma cuja presença um dia iluminará a cidade de Deus (Apocalipse 21.23). E, de uma forma crucial, Jesus é luz não apenas para você e para mim, mas para o mundo. Como as Escrituras deixam claro repetidamente, ele é o Prometido para todas as nações, que inaugura seu reino global e multiétnico.

Emanuel

Na última semana do Advento, concentramos nosso foco nos acontecimentos em torno da Natividade, quando o Prometido — o Deus Poderoso, o Príncipe da Paz, a Luz do Mundo — entrou na humanidade como uma criança recém-nascida. Ali estava Emanuel, o Deus conosco. Ali estava o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (João 1.14). As promessas seculares sobre ele reverberam na aclamação dos anjos, na mensagem dos pastores, no louvor profético de um homem e uma mulher idosos e na jubilosa adoração dos gentios que vieram de longe para se curvar diante do Rei dos reis.

Ele é o prometido

Neste Advento, enquanto nos preparamos para celebrar o nascimento de Jesus, que possamos contemplar profundamente as promessas das Escrituras sobre quem ele é e o que veio fazer. Ao adorarmos diante da manjedoura, que possamos nos maravilhar pelo fato de que esta criança é o Deus Poderoso, é o Príncipe da Paz e é a Luz do Mundo. Ele é aquele que veio para morrer. É aquele que ressuscitou triunfante, que ascendeu aos céus e que cumprirá sua promessa de voltar em glória. Ele decretará a justiça e trará ao auge o seu reino de paz. Ele é o Emanuel, o Deus conosco.

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Leituras devocionais do Advento 2022 da Christianity Today

Todas as leituras devocionais do Advento em um só lugar.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Leituras devocionais do Advento 2022.

Christianity Today November 22, 2022
Stephen Crotts

Dos editores e colaboradores da Christianity Today, O Prometido é um devocional de 4 semanas para ajudar pessoas, pequenos grupos e famílias durante a estação do Advento de 2022.

Semana 1: O Deus todo poderoso

Semana 2: O Príncipe da paz

Semana 3: A luz do mundo

Semana 4: Emanuel

Epifania

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Books

Buscar uma arca não pode garantir a sobrevivência neste dilúvio de ansiedade

Em um mundo de medo e turbulência, a história de Noé traz a esperança do batismo.

Christianity Today November 21, 2022
Wikimedia Commons /Edits by Rick Szuecs

Algumas semanas atrás, um comentarista identificou o que ele acredita ser a mentalidade dominante do nosso tempo. Ele a chama de “mente voltada para a arca”, baseando-se no relato bíblico de Noé e do dilúvio.

A “mente voltada para a arca”, segundo argumenta Venkatesh Rao, surge quando desistimos de resolver nossos grandes problemas globais e procuramos uma “arca” para enfrentar as tempestades desta era de ansiedade.

Rao destaca a indiferença ou um certo entorpecimento com que a maioria das pessoas encara os “problemas e as crises globais que se avolumam, como uma bola de neve, e para os quais estamos caminhando”, quer se trate da perspectiva de uma Terceira Guerra Mundial nuclear, de outra pandemia global ou da economia em colapso. Ele especula que mesmo as notícias de uma invasão alienígena seriam recebidas com um simples O que se pode fazer a respeito disso?, numa espécie de aceitação entediada. Isso, segundo ele, é um mecanismo de enfrentamento para as pessoas em uma nova era das trevas.

O objetivo de uma arca, afinal, é “sobreviver a um dilúvio cataclísmico, ao mesmo tempo em que preserva o máximo possível de tudo aquilo com que alguém se importa”, escreve Rao.

Para alguns do setor da tecnologia, a arca pode ser a criptomoeda, a inteligência artificial ou o metaverso. Outros parecem estar reduzindo-a a suas estreitas subculturas de trabalho, ou a interesses ou vida pessoais.

“Se a pessoa puder recuar para dentro dela e sintonizar ou recodificar delirantemente o restante da realidade, isso funciona como uma arca”, diz Rao.

Se a “geologia do dilúvio” é a visão defendida por alguns grupos criacionistas, para explicar fenômenos como o Grand Canyon, suponho que se poderia chamar a tese de Rao de uma espécie de “psicologia do dilúvio”.

Sua metáfora chamou minha atenção porque atualmente estou ensinando sobre Gênesis 1–11 (que inclui a narrativa de Noé) em um seminário realizado aos domingos em minha igreja. Parei para me perguntar se a metáfora de Rao poderia realmente chegar a algo verdadeiro sobre este momento e, em caso afirmativo, o que a igreja pode aprender com ela.

Rao, sem dúvida, está certo quanto a vivermos em uma era de extraordinária ansiedade. Ele também está certo quando diz que vivemos em uma época em que o cinismo muitas vezes se manifesta sob a forma de uma indiferença ou um entorpecimento visando à autoproteção. Pelo menos parte disso se deve ao fracasso de grandes esforços utópicos para a solução de problemas, os quais não obtiveram êxito. Para muitas questões — em geral, para algumas das piores — de fato as respostas são de pequena escala e locais, [e se encontram] nos “pequenos pelotões” da igreja, da família e da comunidade.

Ainda assim, acho que Rao não captou o sentido da história da arca de Noé, e talvez nós, cristãos, também não tenhamos captado.

A arca não era um mecanismo de enfrentamento. Noé não queria construir uma arca. De fato, o Livro de Hebreus descreve a construção da arca como um ato de fé, feito por alguém que foi “avisado por Deus a respeito de eventos que ainda não se viam” (Hebreus 11.7, ESV). Quando Jesus comparou os últimos dias com os “dias de Noé”, ele não estava falando do quanto esses dias foram chocantes e disruptivos, mas sim de como eles foram calmos, tediosos e corriqueiros.

As pessoas daquela época não estavam ansiosas; pelo contrário, elas viviam “comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles não perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos” (Mateus 24.37-39).

A arca não era o mecanismo de enfrentamento; a vida cotidiana é que era.

O apóstolo Pedro escreveu a um grupo de cristãos da dispersão, no primeiro século, que esperavam pela volta de Cristo. Como Jesus, Pedro advertiu que o maior obstáculo para estar pronto é o senso de cotidianidade.

Os escarnecedores dirão: “O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação” (2Pedro 3.4).

Essa estabilidade mundana pode levar a pessoa a se esquecer da rapidez do dilúvio que um dia inundou a terra. O sinal do arco-íris nos céus aponta para uma aliança, pela qual Deus prometeu nunca mais destruir a terra com um dilúvio.

Para aqueles que se acreditavam abandonados por Deus — visto que o fim ainda não havia chegado, a terra não havia sido purificada com fogo, e os novos céus e a nova terra ainda não estavam aqui — Pedro escreveu que aquilo que eles estavam vendo não era a desatenção de Deus, mas sua paciência, “não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2Pedro 3.9).

De certa forma, o que é preciso da igreja é uma versão dessa mentalidade de buscar uma arca, à qual Rao se refere. Devemos lembrar que, como, através da arca, “oito pessoas foram salvas por meio da água”, assim também nós somos batizados em Cristo. Nós, nele, já atravessamos a maior crise de todas — o juízo divino.

É por isso que a vida cristã começa com algo tão estranho quanto a passagem pela água. O apóstolo Paulo nos ensinou que nossos ancestrais, o povo de Israel, foram “batizados” ao passarem ilesos pelas mesmas águas que subjugaram os exércitos egípcios (1Coríntios 10.1-2). Eles passaram pelas águas do Jordão para entrarem na Terra Prometida. E no início de seu próprio ministério, Jesus foi até o mesmo rio Jordão para ser batizado. Essa é a nossa história.

Até certo ponto, o que a igreja faz é apontar para a arca e avisar, como diz a velha canção: “Chega de água; da próxima vez, fogo”. E, no entanto, talvez também devêssemos nos ver não apenas à frente da inundação, mas também no fim dela.

Quando as águas baixaram, diz a Bíblia, Noé enviou alguns pássaros como exploradores. O corvo nunca mais voltou. Este era um sinal sinistro, já que os corvos são carniceiros, isto é, animais que se alimentam do que está morto. A destruição ainda tomava conta de tudo.

Contudo, Noé, então, soltou uma pomba. No início, a pomba voltou porque “não encontrou lugar onde pousar os pés” (Gênesis 8.9). Também eram más notícias. No segundo voo, a pomba voltou com uma folha de oliveira recém-colhida. Significava esperança e um sinal de vida. Havia algo lá fora, do outro lado. Melhor ainda foi quando a pomba não voltou mais. Havia o suficiente para um futuro lá fora, a ponto de o pássaro poder pousar fora da arca. Ele tinha encontrado um lar.

Quando Jesus foi batizado, seu primo João ficou escandalizado. Afinal, o batismo de João era para pecadores e víboras que precisavam temer a ira vindoura. E João sabia, desde os dias no ventre de sua mãe, que Jesus não se enquadrava nessa categoria. E, no entanto, Jesus se identificou conosco, pecadores, assim como fez quando se submeteu ao batismo de fogo em uma cruz romana (Lucas 12.49-50).

E, ao sair da água, o Espírito Santo desceu sobre ele como uma pomba. Mais uma vez, uma pomba explorou a nova criação, encontrou vida, após o juízo, e apontou para o lar.

Quando Jesus foi embora, ele disse que não havia nos abandonado, mas sim enviado o mesmo Espírito Santo para nos lembrar que “na casa de seu Pai há muitas moradas” (João 14.1-18, ARA).

A ansiedade que nos cerca por todos os lados é real. Às vezes, parece que o mundo inteiro, de uma só vez, está tendo um colapso nervoso. Vemos isso talvez com mais clareza no aumento do número de adolescentes que enfrentam uma alta sem precedentes nos problemas de saúde mental. Outros — muitos deles, pais, avós, amigos e pessoas próximas desses adolescentes — já não sentem nenhuma ansiedade, mas perderam a esperança no futuro.

Para um mundo como esse, nossa mensagem não deveria ser encontrar distrações — trivialidades para nos entorpecer, diante de um mundo que nos parece aterrorizante. Tampouco devemos nos acostumar com a forma como as coisas são, nem nos contentar em nos alimentar do que está morto.

A mentalidade de buscar uma arca não pode garantir nossa sobrevivência nesta era marcada por um dilúvio de ansiedade. As arcas que construímos não são páreo para as águas que enfrentamos. No entanto, há vida do outro lado das águas.

Russell Moore é editor-chefe da Christianity Today.

Traduzidor por Mariana Albuquerque.

Editado por Marisa Lopes.

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