Ele não nos deixará sofrendo

A difícil labuta da fé encarnada.

Christianity Today December 8, 2023
Phil Schorr

Então se abrirão os olhos dos cegos e
se destaparão os ouvidos dos surdos.
Então os coxos saltarão como o cervo,
e a língua do mudo cantará de alegria.
Águas irromperão no ermo e riachos no deserto.
A areia abrasadora se tornará um lago;
a terra seca, fontes borbulhantes.
Nos antros onde outrora havia chacais,
crescerão a relva, o junco e o papiro.

Isaías 35.5-7

Não é fácil habitar em um corpo e, ao mesmo tempo, confiar na obra do Espírito. Enfermidades, deficiências e abuso fazem parte da nossa realidade e se apoderam com urgência do nosso foco. Nossa mente costuma ficar tomada por pensamentos vertiginosos e obsessivos, voltados para nós mesmos, e problemas pessoais monopolizam nossa atenção.

Queremos refrigério: um lugar onde nossas almas ressequidas possam encontrar água, onde as limitações do nosso corpo possam ser superadas. Clamamos por socorro e vingança pelas injustiças que nosso corpo absorveu. Esperamos ver Cristo em fontes murmurantes, mas nos distraímos com a areia escaldante sob nossos pés.

O profeta Isaías revelou a promessa de Deus em linguagem de cura. Sim, o Messias trará paz espiritual, mas não ignorará os corpos feridos dos remidos. Ele nos conduzirá a Sião com cânticos e nos guiará ao resplandecente alvorecer da nossa esperança. Ele não é do tipo que nos deixa sofrendo.

Embora conheçamos a promessa, somos propensos a vagar, seguindo por nosso próprio caminho de incredulidade. A redenção de Cristo em geral assume uma forma diferente daquela que imaginávamos, e, tal como João Baptista, nós nos perguntamos se devemos esperar por outro rei. Será que confiamos nossa esperança à pessoa errada? Ele não é quem pensávamos que era? Ansiamos pela chegada do nosso socorro e pela mudança tangível que ele trará para a nossa realidade. A resposta de Jesus à pergunta de João é dada nestes termos: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres” (Mateus 11.4-5).

Ele é a salvação profetizada por Isaías. A cura que flui de suas mãos atesta sua divindade. Israel esperou pela vinda de um Salvador que curaria espiritual e fisicamente aquilo que estava corrompido. Essa esperança se tornou realidade com o nascimento de um bebê. Os milagres que fez durante seu tempo na terra foram os primeiros sinais daquela cura há muito esperada. E, no entanto, ainda esperamos por ele, dilacerados e frágeis.

Em vez de permitir que as incapacidades desencorajem a nossa devoção, levantamos nosso olhar repleto de expectativa para aquele que pode salvar. Durante o Advento, ecoaremos as esperanças do antigo Israel ao cantar: “Ó, vem, ó, vem, Emanuel”. Haverá um tempo em que toda esta profecia será a nossa realidade. Andaremos no santo caminho com os redimidos. Felicidade e alegria eternas estarão sobre nossas cabeças e toda tristeza desaparecerá.

Até lá, recordamos o bebê nascido em Belém que veio para restaurar a visão dos cegos e anunciar as boas novas aos pobres, e que voltará para reunir e salvar o povo de Deus. Ele trará a retribuição divina aos erros e a cura para as nossas feridas, e seremos sarados: “digam aos desanimados de coração: ‘Sejam fortes, não temam! Seu Deus virá…’” (Isaías 35.4).

Para refletir:



De que modo a reflexão sobre as palavras proféticas de Isaías e o ministério de cura de Jesus traz consolo e esperança às nossas próprias lutas contra limitações físicas, enfermidades ou injustiças?

Como podemos encorajar uns aos outros a permanecermos firmes e fortes na fé, apesar das tribulações e dos desafios que enfrentamos?

Beca Bruder é editora-chefe da revista Comment.

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A visita à sinagoga que mudou tudo

Como a chegada de Jesus alivia nossa espera ansiosa.

Christianity Today December 7, 2023
Phil Schorr

"O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres.
Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e
recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos
e proclamar o ano da graça do Senhor".

Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se.
Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele;
e ele começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir".

Lucas 4.18-21

Não faz muito tempo, uma amiga foi ao shopping com sua família e levou minha filha. Fiquei grata por uma manhã de trabalho ininterrupto e estava prestes a ir buscá-la, quando ouvi o celular do meu marido tocar. Era o marido da minha amiga: “Aconteceu um tiroteio no shopping. Falei com minha esposa — ela e as meninas estão bem, mas estão detidas no local e ainda não foram autorizadas a sair.”

Cheguei ao shopping em tempo recorde e, um pouco desnorteada pela urgência, enfrentei a espera mais difícil de toda a minha vida. Aguardei atualizações da polícia; aguardei para poder falar com minha amiga e saber o que aconteceu. Aguardei para segurar minha filha nos braços; aguardei para verificar se ela tinha ferimentos; aguardei para dissipar os medos dela e os meus.

Esse medo repleto de urgência repercute em muitas coisas ao nosso redor, seja diretamente, nas vidas daqueles a quem amamos, ou no fluxo de notícias sobre guerras, doenças, corrupção e violência. A necessidade é premente — onde está a nossa esperança? Enquanto luto para manter a desesperança sob controle, imagino como a antiga comunidade judaica pode ter se sentido, enquanto aguardava a sua libertação e a chegada do Messias. Passaram-se 400 anos desde que eles tinham ouvido Deus lhes falar, e estavam subjugados por uma opressão avassaladora e um cativeiro esmagador. Eles devem ter se perguntado se Deus os havia esquecido e se o Salvador estava realmente vindo.

E então, um belo dia, um homem chamado Jesus entrou na sinagoga e levantou-se para ler o rolo do profeta Isaías:

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor (Lucas 4.18-19)

Jesus ainda não havia terminado. Ele não estava simplesmente lembrando-lhes de um futuro que eles poderiam esperar. Em vez disso, ele proclamou algo surpreendente que teria deixado as pessoas de queixo caído: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir ” (v. 21).

Este foi o anúncio oficial de Jesus de que ele estava inaugurando o reino de Deus. Quando o seguimos, não mais andamos desesperados com as notícias ruins do nosso mundo. Em vez disso, olhamos para Jesus assentado em seu trono. Podemos contar com a sua promessa de redenção, mesmo quando enfrentamos circunstâncias terríveis em nossa vida, como naquele dia em que fiquei aguardando minha filha sair do shopping. Quando finalmente vi seu rosto e abracei seu corpo contra o meu, senti um alívio e uma alegria diferentes de tudo que já havia experimentado antes. Foi um lembrete para mim de que Deus ainda não acabou de fazer o que planejou. Que este não é o fim. O Rei está aqui e o jubileu eterno está próximo.

Para refletir



Que repercussão essa história que fala de urgência e medo tem em suas próprias experiências de espera e de anseio por libertação ou por esperança em situações difíceis?

Quando Jesus proclamou o cumprimento do mandato messiânico de Isaías, ele declarou que o reino de Deus havia chegado. Como seguidores de Jesus, de que modo essa proclamação nos capacita a enfrentar os desafios e as trevas do nosso mundo com esperança e ação?

Kristel Acevedo é autora, professora de Bíblia e diretora de formação espiritual na Transformation Church, nos arredores de Charlotte, na Carolina do Norte.

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Uma consulta não agendada

O que a garantia tão esperada por Simeão significa para nós hoje.

Christianity Today December 6, 2023
Phil Schorr

Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, que era justo e piedoso, e que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor.

Lucas 2.25-26

Quando foi sua última experiência em uma sala de espera? A minha foi há algumas semanas, em um consultório médico. O espaço era iluminado, acolhedor e confortável. Após preencher uma ficha, o paciente podia ler uma pilha de revistas, assistir a um programa na TV, navegar pelas redes sociais ou simplesmente olhar pela janela para passar o tempo. Mas a espera era obrigatória. Ninguém na sala conseguiu evitá-la, e é quase certo que o atraso foi maior do que qualquer um de nós gostaria. Há algo em nós que deseja que a vida aconteça de acordo com um cronograma — o nosso cronograma.

Muitas vezes, a nossa espera tem a ver com um compromisso que marcamos. Concordamos em encontrar alguém em um horário combinado. Mas, se passar do horário combinado, nós esperamos, e quanto mais esperamos, mais incomodados ficamos.

E se você soubesse que tem uma espécie de encontro com a pessoa mais poderosa do universo, mas tal encontro não está marcado em um calendário? E se lhe dissessem que você teria uma audiência com o Rei dos Reis, mas não lhe fosse dada nenhuma data ou hora — e lhe dissessem apenas que seria algum dia antes de você morrer? Foi o que aconteceu com Simeão.

“Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, que era justo e piedoso, e que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor” (Lucas 2.25-26).

Que tal uma experiência de sala de espera? Imagine acordar todos os dias pensando: Será que vai ser hoje? Sem dúvida, a promessa revelada pelo Espírito Santo foi memorável e convincente. Mas certamente houve momentos em que Simeão sentiu o peso de esperar pela única fonte de salvação para a humanidade. Como ele perseverou ao longo dessa inquietação que surge por saber o fim da história, mas ter de conviver com a incerteza entre o presente e o fim?

Só posso concluir que a devoção de Simeão estava enraizada na pessoa que fazia parte desse plano, mais do que no plano em si. Ele talvez não tenha tido a pretensão de ter uma opinião sobre a ordem dos acontecimentos ou seus pormenores — talvez ele tenha sido capaz de tratar tudo isso como algo que pertencia ao domínio da soberania divina. Simeão ficou esfuziantemente feliz ao ver tudo se desenrolar diante de seus olhos, confiante de que aquele que prometeu faria exatamente como havia dito, no momento perfeito e para o bem de todos que “com grande expectativa, aguardam a sua vinda” (2Timóteo 4.8).

Que presente ver a chegada da salvação de Deus através dos olhos de Simeão, durante o período do Advento. Do mesmo jeito que Simeão esperou, quero saber esperar, cheio da certeza de que o Rei voltará tal como prometeu. Ele cumpre seus compromissos. E, nesse dia, partiremos em paz, juntando-nos a uma grande nuvem de testemunhas, face a face com a nossa salvação (Apocalipse 22.1-5).

Para refletir



Somos convidados a considerar um tipo diferente de espera — em antecipação a uma audiência com o Rei dos Reis. Como esta mudança de perspectiva aprofunda a sua compreensão de esperar segundo o tempo e as promessas de Deus para a sua vida?

A devoção de Simeão estava enraizada na pessoa que fazia parte desse plano, em vez de focar apenas no plano em si. Como você pode aplicar esse princípio à sua própria vida? Como a confiança na soberania de Deus lhe dá esperança?

Monty Waldron é casado, tem quatro filhos e fundou a Fellowship Bible Church em 2000.

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Books

Caso Mike Bickle destaca desafios ligados à prevenção e à exposição de abusos sexuais

O escândalo revela problemas na abordagem das igrejas brasileiras à questão.

Mike Bickle, fundador do IHOPKC.

Mike Bickle, fundador do IHOPKC.

Christianity Today December 6, 2023
Image: Courtesy of IHOPKC

A mais de 8.000 quilômetros da Casa Internacional de Oração de Kansas City (IHOPKC), as acusações feitas contra Mike Bickle abalaram os evangélicos brasileiros e forçaram uma conversa sobre como as igrejas lidam com os abusos.

Dwayne Roberts — fundador da Casa de Oração de Florianópolis (FHOP), no sul do Brasil — está entre os líderes que emitiram uma declaração pública sobre Bickle, há pouco mais de um mês. No mesmo dia, a FHOP tornou-se a primeira igreja a se dissociar de Bickle, devido ao que Roberts e Vinicius Sousa, pastor sênior da FHOP, chamaram de “sérias alegações de abuso pastoral”.

No coração da ilha de Florianópolis, em uma cidade com mais de meio milhão de habitantes, a FHOP funciona como casa de oração, base missionária e igreja local. Foi criada há uma década, pelos americanos Dwayne e Jennifer Roberts, que também figuravam entre os primeiros integrantes da equipe da IHOPKC.

A FHOP tem uma presença significativa nas redes sociais: mais de 250 mil seguidores no Facebook e no Instagram e perto de 500 mil inscritos no YouTube. Através do grupo FHOP Music, a igreja ganhou destaque no cenário gospel brasileiro, tendo suas músicas classificadas entre as mais tocadas do gênero.

O impacto da FHOP e do próprio Mike Bickle se estende além de Florianópolis e alcança todo o mundo carismático no Brasil, o país mais evangélico da América do Sul. Agora, um grande número de líderes tem reagido com tristeza e perplexidade ao recente escândalo.

“Existem líderes carismáticos excêntricos e desequilibrados de quem se poderia esperar tais coisas”, disse Marcondes Soares, pastor da Igreja Episcopal Carismática do Brasil em Recife, Pernambuco. “Mas Bickle era considerado um líder sensato e altamente respeitado.”

Bickle vislumbrava um movimento global de oração que cresceria a partir da IHOPKC, e dedicou especial atenção para o Brasil nos últimos anos. Durante uma turnê por seis cidades do país, em 2018, ele proclamou que a igreja no Brasil estava à beira do avivamento mais significativo de sua história: “Creio que a mão de Deus repousa de maneira singular sobre o corpo de Cristo no Brasil, preparando-o para um impacto global.”

Nove dos livros de Bickle foram traduzidos para o português. Crescendo em Oração: Um verdadeiro guia para conversar com Deus é um dos títulos mais aclamados entre os carismáticos brasileiros.

Em seu canal JesusCopy no YouTube, que conta com dois milhões de inscritos, o pregador Douglas Gonçalves fez várias entrevistas com Mike Bickle, a última delas em março de 2023. No ano passado, Bickle fez o discurso principal na conferência JesusCopy para jovens, cujo tema foi “Lidere como Jesus”.

Israel Subirá, compositor, pregador, produtor de conteúdo e filho do proeminente pastor brasileiro Luciano Subirá, passou um ano como estudante na IHOPKC. Ele descreveu esse período como o tempo em que orou mais intensamente em sua vida: “Passei a maior parte do tempo no Kansas na sala de oração. E foi incrível!”

A FHOP trouxe para o Brasil o foco do movimento na intercessão contínua. Arthur Martins, pastor da Igreja Presbiteriana República, em Curitiba, Paraná, disse que “sua influência é notável”, sendo que a abordagem da FHOP provocou um avivamento entre as reuniões de oração das igrejas locais, impactando particularmente a geração mais jovem.

“Mergulhar neste ambiente naturalmente nos leva a buscar as intenções do Senhor para o mundo e o papel que a igreja desempenha no cumprimento de sua vontade”, disse Letícia Santos, missionária de tempo integral na FHOP há quatro anos. Ela descreve a experiência como um momento de inflexão em sua vida.

Mas a FHOP também atraiu algumas críticas. Ronaldo Crispim, pastor da Igreja Presbiteriana Bereia, em Goiânia, Goiás, expressa preocupação com o que considera uma visão reducionista na teologia do culto da FHOP e uma ênfase exagerada em apenas dois elementos: oração e louvor. Além disso, ele questiona a espiritualidade introspectiva e verticalizada que é intrínseca ao conceito de “casa de oração”, interpretando-a como desconetada da cultura e isolada da vida cotidiana.

Agora, tanto seguidores como críticos estão tentando lidar com as notícias das acusações contra Bickle e os contínuos apelos para que seja feita uma investigação independente.

“No ambiente eclesiástico dos EUA, isso é muito comum. A cada dois meses aparece alguém de uma megaigreja com problemas nessa área. Infelizmente isso não me assusta, mas me entristece”, diz Naamã Mendes, pastor da Igreja Presbiteriana Independente, em Maringá, Paraná, e que também já foi pastor em Miami.

Não é usual que as alegações de abuso sejam publicamente expostas no contexto evangélico brasileiro. Em geral, esses assuntos são tratados no âmbito eclesiástico, raramente chegando às autoridades legais.

No Brasil, o silêncio em torno do abuso sexual é emblemático, pois as igrejas muitas vezes ignoram as questões ligadas à resposta e à prevenção ao abuso.

“Eu desconheço qualquer tipo de esforço colaborativo por parte de pastores e líderes brasileiros com vistas à prevenção do abuso sexual no âmbito das igrejas”, disse Zé Bruno Santos, membro da Igreja Pentecostal Batista El Shaday, em Arapiraca, Alagoas.

Zé Bruno, host das lives “Entre Amigos” no YouTube, vê uma oportunidade para a igreja de Bickle modelar uma resposta para seguidores em todo o mundo. Nas redes sociais, ele disse:

Tenho acompanhado este caso com atenção e estou surpreso pela forma como a instituição IHOPKC, ou melhor, seus líderes, o têm conduzido.

A meu ver, trata-se de um divisor de águas no mundo carismático, não entre os que são a favor ou contra Bickle, mas em relação à forma como os carismáticos lidarão com casos de abuso e injustiça no seio da comunidade de fé.

A declaração emitida pela FHOP sobre o caso Bickle, em 27 de outubro, enfatizou que a igreja condena veementemente e inequivocamente qualquer forma de falha moral, em qualquer circunstância, e disse que a equipe de liderança da FHOP se compromete a partilhar publicamente novas informações, à medida que os fatos forem elucidados.

Vinícius Sousa, pastor sênior da FHOP, porém, se absteve de fazer comentários sobre o assunto, por respeito aos seus amigos do Kansas, que, segundo ele, “estão passando por um momento difícil”.

Três semanas após as acusações terem vindo a público, os líderes da IHOPKC divulgaram um relatório inicial que afirmava que as questões levantadas em torno de Bickle “careciam de qualquer aparência de confiabilidade ou [que justique o] devido processo legal”. Os líderes da IHOPKC declararam que as “supostas vítimas” que eles identificaram não tinham credibilidade ou se retrataram e, portanto, era prematuro “trazer um terceiro para investigar”.

Os antigos líderes da IHOPKC que apresentaram as acusações contestaram a resposta, levantando preocupações de conflito de interesses entre os consultores jurídicos, e continuaram a apelar para uma investigação independente.

Na semana passada, o ministério e os acusadores continuavam em conflito. Ex-membros da equipe protestaram na oração 24/7 do ministério. Líderes se apresentaram para defender Bickle, e uma suposta vítima compartilhou sua história de abuso sexual no Relatório Roys.

“Em casos como este, o controle social é importante para pressionar as instituições quanto à transparência e à lisura do processo de identificação das vítimas e da melhor forma de ajudá-las”, disse Zé Bruno. “Pode até parecer piedoso por parte dos líderes pedir que nenhum comentário seja feito nas redes sociais, mas isso é ingênuo”.

Ziel Machado, pastor da Igreja Metodista Livre de São Paulo, avalia que esta problemática decorre de vários fatores. Dentre eles está o orgulho dos líderes em seu desejo de trabalhar de forma independente. “Além disso, quando há supervisão, esta tende a focar apenas na eficiência da tarefa sem considerar a vocação do pastor”.

Naamã Mendes preocupa-se com a idolatria e a proteção aos líderes carismáticos, algo que pode ocorrer como parte de uma estratégia para proteger o crescimento da igreja.

Ele conclui: “O bem-estar espiritual e emocional do pastor e da congregação muitas vezes fica em segundo plano, com os membros das igrejas sendo vistos como meras estatísticas, em vez de seres humanos merecedores de compaixão e de cuidado enraizados na graça e no amor de Deus.”

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Culture

Um amor incansável

Quando temos medo, Deus busca nosso coração.

Christianity Today December 5, 2023
Phil Schorr

Disse ainda o Senhor a Acaz: "Peça ao Senhor, ao seu Deus, um sinal miraculoso,
seja das maiores profundezas, seja das alturas mais elevadas".

Mas Acaz disse: "Não pedirei; não porei o Senhor à prova".
Disse então Isaías: "Ouçam agora, descendentes de Davi!
Não basta abusarem da paciência dos homens?
Também vão abusar da paciência do meu Deus?

Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará
grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.

Isaías 7.10-14

Todo dia lembro ao meu filho o quanto o amo. Nos últimos meses, percebi que ele tem estado preocupado e tristonho. Como muitas crianças de sua idade, ele ficou abalado com as notícias de tiroteios em escolas, tumultos, uma pandemia e tensões políticas. Para ser sincera, também fiquei com muito medo. Mas eu o lembrava frequentemente: “Kingston, você é muito amado. Nós estamos seguros. Deus está conosco, mesmo que você não consiga sentir isso.” Meu filho, como muitos de nós, tem dificuldade em acreditar nisso. O mundo está carregado, sombrio — onde está a esperança?

Em Isaías 7.10-14, encontramos um rei Acaz assustado em meio a perigos e conflitos políticos iminentes. Os inimigos estavam se aproximando do reino de Judá e a necessidade de procurar socorro e alívio em outro lugar brotou no coração rebelde de Acaz. O rei conhecia a lei de Deus, mas não confiava nela. Naquilo que Deus procurava oferecer segurança, Acaz era governado pela idolatria, a ponto de sacrificar seu filho (2Reis 16). Deus deixou claro o que isso significava para Judá — se Acaz não ouvisse suas instruções e não atentasse para elas, a destruição seria inevitável (Isaías 10—11).

A busca incansável de Deus pelo rei de Judá não foi apenas pelo arrependimento de Acaz, mas em prol da salvação de todo o seu povo, assim como a vida, a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus são por nós. Os olhos de Acaz foram desviados por aquilo que era temporário, enquanto a perspectiva eterna batia à sua porta. Contudo, assim como a graça de Deus persiste ainda que em meio à nossa infidelidade, mesmo em meio à contenda e à rejeição de Acaz ao poder e à presença de Deus, Isaías lhe dá um sinal: “a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel” (Isaías 7.14).

Uma grande salvação chegará por meio do nascimento de Jesus. A esperança agora está aqui (Mateus 1.20-22). Deus está conosco, em meio às nossas turbulências e em meio a condições muitas vezes traiçoeiras. Ele desceu à terra para nos oferecer esperança eterna em nossas aflições momentâneas. Ele nos pede para ouvir e crer, e nos ajuda a fazer isso em nossa fraqueza e incredulidade.

Quando meu filho teve medo, fui incansável na busca pelo coração dele, assim como Deus é em sua busca pelo nosso. Eu precisava que meu filho soubesse que não precisávamos ser governados pelo medo, mas podíamos ser governados pela esperança. Numa época em que muitos de nós estão sensíveis à realidade da dúvida e do medo, o amor de Jesus por seu povo é incansavelmente abundante. Ele é o socorro e a razão para a vida de muitos, e promete que “Assim como uma mãe consola seu filho, também eu os consolarei” (Isaías 66.13). Ele é o nosso grande sinal — um rei que nos presenteia com vida em troca da sua morte. Hoje, não endureça o seu coração como fez Acaz; em vez disso, saiba que o poder de Deus está em você, que a presença dele está com você e a promessa dele está sobre você.

Para refletir



Como a história do rei Acaz demonstra a busca incansável de Deus pelo coração do seu povo e o seu desejo de salvá-los?

De que forma podemos encontrar esperança e consolo na certeza de que Deus está conosco, mesmo em meio ao medo e a turbulências?

Alexandra Hoover é esposa, mãe de três filhos, palestrante, líder de ministério e autora do best-seller Eyes Up: How to Trust God’s Heart by Tracing His Hand.

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Profetizando um Governante Perfeito

Promessas surpreendentes sobre o aperfeiçoamento do poder.

Christianity Today December 4, 2023
Phil Schorr

"Dias virão", declara o Senhor, "em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra.

Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça.

Jeremias 23.5-6

Jeremias foi profeta para pessoas que estavam passando por turbulências políticas. Durante anos, Judá foi governado por reis maus, homens cujos reinados foram caracterizados por ganância, idolatria e injustiça. Em vez de cuidar do povo, eles o oprimiram. Jeremias os convidou a se lembrarem da aliança e a pastorearem o povo de Deus. Em vez de imitarem as nações ao seu redor, ele chamou os reis a serem diferentes, para mostrar às nações como adorar o único Deus verdadeiro. Mas os alertas de Jeremias foram ignorados. Reiteradamente, os reis escolheram o seu pecado em vez de Deus, e o povo sofreu.

Em meio a esse tempo de caos, Deus não ficou em silêncio. Através de Jeremias, ele chamou a atenção para a inadequação e o fracasso dos líderes de Judá. Suas palavras lançaram acusações incriminatórias contra aqueles cuja autoridade não era definitiva, mas sim meramente derivada da autoridade daquele que é Soberano. Os reis tinham esquecido que eram mordomos, designados para cuidar de um povo que pertencia a Deus.

Então, em Jeremias 23.5-6, o profeta compartilhou uma promessa surpreendente. Deus não iria acabar com a teocracia de Judá. Ele iria aperfeiçoá-la. Da linhagem de Davi, Deus suscitaria um “justo renovo”, um legítimo herdeiro para o trono. Este rei faria o que os reis de Judá não puderam fazer: lideraria de uma forma que refletisse perfeitamente a justiça e a retidão de Deus. Sob seu governo, o povo prosperaria e Deus seria adorado. Este rei salvaria o povo da opressão.

Mas ele não seria outro rei humano. Ele seria Deus Filho, Jesus.

Com palavras repletas de esperança, o profeta lembrou o povo de que Deus não se esquecera deles. Ele não tinha ignorado o sofrimento deles. Pelo contrário, ele estava preparando o caminho para o fim desse sofrimento. Por amor, Deus Pai enviaria Deus Filho ao mundo para salvá-lo da raiz do problema, que atormentava tanto Judá quanto seus reis: o pecado.

Sob o reinado de Jesus, o pecado não mais existirá. Ele corrigirá o que está errado, punirá o mal e trará igualdade para todos. A humanidade será tratada com justiça e refletirá a retidão de Deus. Jesus restaurará o shalom que o pecado perturbou e tenta destruir.

Em todo o mundo, muitas pessoas conhecem o peso da turbulência política, pois são governadas por líderes que escolhem a ganância, a idolatria e a injustiça, em vez de cuidarem da criação de Deus. No entanto, da mesma forma que Deus viu a dor de Judá, ele vê a nossa, e a esperança do Messias prometido é também a nossa esperança. Quando celebramos a primeira vinda de Jesus, aguardamos ansiosamente a sua volta. Precisamos que “o Senhor [que] é a nossa justiça” reine. Precisamos de Jesus.

Para refletir



Tendo em mente os fracassos de reis humanos em Judá, o que isso revela sobre a importância de termos líderes que reflitam a justiça e a retidão de Deus? De que forma podemos aplicar este princípio em nossas próprias vidas e esferas de influência?

Como o reinado de Jesus como o “justo renovo” traz a restauração do shalom e a derrota do pecado?

Elizabeth Woodson é professora de Bíblia, teóloga, autora e fundadora do The Woodson Institute, uma organização que capacita crentes a compreender e crescer em sua fé.

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Embriões congelados: a nova crise dos órfãos

Mais de um milhão de embriões fertilizados in vitro e não utilizados estão armazenados em criostatos. Serão eles a próxima fronteira pró-vida?

: Embriões provenientes de fertilização in vitro, vistos em um microscópio.

: Embriões provenientes de fertilização in vitro, vistos em um microscópio.

Christianity Today December 4, 2023
Illustration by Christianity Today

Os evangélicos e outros ativistas pró-vida viram a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de 2022, no caso Dobbs v. Jackson Women's Health Organization [Dobbs contra Organização de Saúde das Mulheres de Jackson] como um ponto de virada na luta contra o aborto nos Estados Unidos. Depois que o tribunal anulou Roe v. Wade [decisão de 1973, proferida pela Suprema Corte dos EUA, que garantia o direito das mulheres americanas ao aborto] e retirou a tutela federal para o procedimento, alguns estados conservadores começaram a introduzir legislações sobre a personalidade do feto, concedendo aos nascituros os mesmos direitos que têm as crianças já nascidas.

Mas Hannah Strege observou o desenrolar de tudo isso com outro grupo vulnerável em mente: os embriões congelados. Nesta nova era, teriam eles algum direito? E caso tenham, alguém os respeitaria?

Strege tem 24 anos e foi concebida por fertilização in vitro (FIV) em 1996, tendo ficado congelada por dois anos. Em 1997, ela e 19 de seus irmãos foram adotados, no estágio de embriões, por John e Marlene Strege. Eles foram enviados por FedEx [sistema de correio norte-americano] para uma clínica de fertilidade local. Hannah foi o único embrião que sobreviveu ao descongelamento e que foi implantado com sucesso no útero de Marlene. Ela nasceu em dezembro de 1998.

“O bebê é criado em um laboratório e transferido para o útero. Ele tem todos os componentes de uma vida individualizada para se tornar totalmente desenvolvido, no momento da fertilização. O embrião congelado vive fora do útero matreno, ‘embora com suporte artificial’”, escreveram os autores de um amicus curiae [ou amigo da corte, pessoa que ingressa no processo judicial para oferecer subsídios ao órgão julgador], apresentado em julho de 2021 para o caso Dobbs para destacar a personalidade nos primeiros estágios de desenvolvimento. “A vida da Hannah é uma prova definitiva desse fato.”

Hannah não foi o primeiro ser humano nascido de um embrião doado — acredita-se que o primeiro caso tenha acontecido em 1984. Mas Hannah nasceu no auge do debate sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, e é conhecida como o primeiro “bebê floco de neve” a ser formalmente adotado em estado congelado.

Com sua defesa da adoção de embriões, a família Strege elevou esse conceito nos EUA, em uma época em que os evangélicos não tinham certeza sobre muitas tecnologias de reprodução artificial. Aos cinco meses de idade, Hannah apareceu em rede nacional no programa de rádio Focus on the Family, de James Dobson. Ela também compareceu perante o Congresso aos dois anos de idade e, aos sete, conheceu o presidente George W. Bush.

“Estávamos na vanguarda de um movimento pela adoção de embriões que começou a possibilitar que inúmeros outros embriões congelados tivessem as mesmas oportunidades que Hannah teve”, escreveu John Strege em seu livro de memórias, A Snowflake Named Hannah [Um Floco de Neve chamado Hannah]. “Fomos obrigados a nos posicionar em favor daqueles que não podiam falar por si mesmos, como a Bíblia nos instrui a fazer, e concordamos em fazê-lo.”

A Hannah cresceu. E a indústria da fertilidade também.

Desde o nascimento da Hannah, o número de embriões congelados que estão armazenados nos Estados Unidos aumentou de aproximadamente 100.000 para cerca de 1,5 milhão. Os casais britânicos estão congelando 100.000 embriões por ano. Somente a Austrália Ocidental registrou 30.000 embriões congelados em 2022. Muitos desses embriões — óvulos fertilizados em seus primeiros estágios de desenvolvimento — são remanescentes de tratamentos de fertilização in vitro que estão indefinidamente resfriados em recipientes de nitrogênio líquido, e sem planos para o futuro.

Há complexidades técnicas em torno do armazenamento de embriões; é caro, além de requer espaço e supervisão. E há também complexidades legais — embriões congelados são geralmente considerados propriedade pessoal, portanto, destruí-los ou manejá-los de forma incorreta pode acarretar grave responsabilização.

Mas os cristãos que acreditam que a vida começa com a fertilização também veem sérias complexidades morais nesse processo de armazenamento de embriões. Alguns embriões congelados serão gerados por suas mães genéticas, mas milhares de outros pertencem a pais que não querem ter mais filhos. Alguns embriões foram armazenados por décadas ou abandonados, ao mesmo tempo em que mais embriões são congelados a cada dia.

Os Streges guardam uma foto de uma visita à Casa Branca, em 2006, na qual Hannah aparece com a mãe e o presidente George W. Bush.Photography by Austin Keith for Christianity Today
Os Streges guardam uma foto de uma visita à Casa Branca, em 2006, na qual Hannah aparece com a mãe e o presidente George W. Bush.

Cada vez mais evangélicos estão adotando e dando à luz a esses embriões, como se fossem seus próprios filhos. Em dezembro de 2022, o programa Snowflakes de adoção de embriões, uma divisão da Nightlight Christian Adoptions, registrou seu milésimo nascimento desde sua fundação, em 1997. A diretora Kimberly Tyson disse que o programa está crescendo 20% a cada ano, e que em 2023 eles atenderam mais de cem novas famílias adotivas. Outra organização sem fins lucrativos e confessional, o National Embryo Donation Center (NEDC) [Centro Nacional de Doação de Embriões] em Knoxville, Tennessee, registrou este ano seu 1.400º nascimento originado da adoção de embriões.

Em todo o país, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estimam que, de 2004 a 2019, mais de 21.000 embriões doados foram implantados em úteros e quase 8.500 deles nasceram. Desde 2002, o governo federal tem destinado anualmente fundos, mais recentemente a quantia de US$ 1 milhão, para a conscientização sobre a adoção de embriões.

Ocasionalmente, esses embriões “flocos de neve”, como a Nightlight os chama, aparecem nas manchetes: “Embrião é apenas um ano mais novo do que a mãe que o gerou”. “Nascem gêmeos de embriões congelados quase 30 anos”. “Elas doaram seus embriões e 20 anos depois , conheceram os trigêmeos que nasceram.”

Mas essas notícias que desafiam a natureza muitas vezes não percebem a gravidade da situação mais ampla: Em todo o mundo, cerca de um milhão ou mais de embriões congelados correm o risco de serem abandonados.

Em outubro, tive um encontro com Hannah e sua mãe na sede da Focus on the Family, em Colorado Springs. O ministério foi um marco na infância de Hannah e parte integrante de sua história. Dobson abordou o dilema ético de John e Marlene em 1997 e, mais tarde, recebeu a família em seu programa de rádio por várias vezes, intitulando-se padrinho de Hannah.

Durante um intervalo em nossas conversas, eu caminhei, acompanhado das duas mulheres, por um mercado de produtores locais. Em uma barraca, Marlene Strege apontou para um castiçal decorado com flocos de neve. Sua família recebeu muitos presentes com o tema de flocos de neve, em homenagem a Hannah. A própria Marlene costuma usar um colar com um floco de neve.

A princípio, Hannah parece quieta e séria. Mas ela conta que, quando está com amigos, seu lado extrovertido vem à tona. Ela é uma leitora ávida e atualmente está empenhada em passear e treinar seu filhote de golden retriever, Aspen.

Ela também está dando continuidade à missão que seus pais iniciaram. E tem muito trabalho pela frente: terminou neste verão um mestrado em serviço social, pela Baylor University, que planeja usar para promover a adoção de embriões e aumentar a conscientização sobre práticas éticas de fertilidade. Está estudando para obter sua licença como profissional da área de serviço social e acha que um dia poderá vir a fazer um doutorado.

“Se eu não estivesse fazendo esse trabalho, ele não seria feito [por outras pessoas]”, disse ela. “Deus me deu uma história única para compartilhar. Não falar abertamente sobre minha história seria um desserviço.”

Desde pequena, Hannah tem se conectado com outras pessoas como ela, graças à Nightlight e aos esforços de conscientização de sua família. Ela participou de encontros de embriões adotados, viajou várias vezes para Washington, D.C., e concordou em dar dezenas de entrevistas à mídia. Ela administra uma página no Instagram para pessoas com mais de 14 anos que foram adotadas ainda na fase embrionária (a maioria dos adotados é adolescente ou mais novo), pois o número desses adotados ainda é pequeno, e por isso é difícil encontrar pessoas com uma história semelhante.

“Assumi a responsabilidade de ser porta-voz, pois a maioria dos flocos de neve é mais jovem do que eu”, disse Hannah.

Hannah Strege, hoje com 24 anos, nasceu em 1998.Photography by Austin Keith for Christianity Today
Hannah Strege, hoje com 24 anos, nasceu em 1998.

Mas ser porta-voz também é um papel que a história escolheu para ela. A família Strege tem sido uma fonte de referência para muitas outras famílias que adotaram ou que planejam adotar embriões. Na pós-graduação, a pesquisa da Hannah se concentrou em adoção, e ela leu estudos de caso escritos sobre ela. “Já se passaram 24 anos [de ativismo nessa área] e não sei por que isso ainda não é amplamente conhecido", disse Hannah.

Embora esteja cansada, em muitos aspectos ela está apenas começando sua carreira de ativista nessa área. Além de apoiar os adotados, Hannah sonha em fundar uma organização sem fins lucrativos que facilite as adoções, instrua as clínicas de fertilidade e apoie os pais adotivos.

Trocando em miúdos, seu objetivo é “ver mais bebês nascendo”.

Há um ano, em Birmingham, Rodney e Mary Leah Miller tiveram gêmeos. Dalton e Mary Elizabeth foram os bebês número 1.000 e 1.001 nascidos por meio do programa Snowflakes.

Após 10 anos lutando com a infertilidade, o que incluiu várias rodadas fracassadas de fertilização in vitro, o médico do casal Miller sugeriu a doação de óvulos. Não se sentindo à vontade com essa opção, a família Miller ouviu de uma amiga sobre a adoção de embriões e começou a pesquisar a possibilidade.

“Acho que foi a primeira vez que tivemos um senso renovado de esperança”, disse Mary Leah. Em espírito de oração e aconselhados por seu pastor, eles foram em frente, e os gêmeos nasceram após uma transferência fracassada e um aborto espontâneo. Eles têm mais três embriões dessa adoção e planejam continuar aumentando sua família.

“Essas crianças são tudo o que sempre esperamos e sonhamos”, disse Rodney Miller.

A maioria das mulheres que está buscando a adoção de embriões já tentou a fertilização in vitro, disse Kimberly Tyson. Cerca de um em cada seis adultos lida com a questão da infertilidade, que pode afetar tanto homens quanto mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Um estudo recente do Pew Research Center revelou que cerca de 1% das mulheres americanas já fez fertilização in vitro ou inseminação artificial.

Mas os tratamentos para fertilidade estão se tornando mais comuns. O estudo do Pew também constatou que 42% dos adultos nos EUA já se submeteram a algum tipo de tratamento de fertilidade ou conhecem alguém que se submeteu, em comparação com um terço dos adultos [que se submeteram] há cinco anos.

A fertilização in vitro é cara, variando de US$ 10.000 a US$ 25.000 por ciclo, durante o qual a mulher recebe uma injeção de hormônios e seus óvulos são retirados e fertilizados. E os casais nem sempre são plenamente informados sobre suas desvantagens: Embora a FIV tenha avançado muito em termos de segurança e eficiência, a maioria dos ciclos de tratamento ainda não é bem-sucedida.

Esquerda: Após entrar em menopausa precoce, Roslyn Cheatham, de Mooresville, na Carolina do Norte, e seu marido, Joe (que segura a filha mais velha, Joslyn), encontraram o NEDC on-line e buscaram a adoção de embriões. Roslyn é apaixonada por adoção, pois ela mesma foi adotada. À direita: Marissa e Joslyn, as filhas adotadas pelos Cheathams em estágio embrionário, têm agora 12 e 15 anos.Courtesy of the Cheatham Family
Esquerda: Após entrar em menopausa precoce, Roslyn Cheatham, de Mooresville, na Carolina do Norte, e seu marido, Joe (que segura a filha mais velha, Joslyn), encontraram o NEDC on-line e buscaram a adoção de embriões. Roslyn é apaixonada por adoção, pois ela mesma foi adotada. À direita: Marissa e Joslyn, as filhas adotadas pelos Cheathams em estágio embrionário, têm agora 12 e 15 anos.

“Os 770.000 bebês nascidos em 2018, pelo processo de fertilização in vitro, demandaram cerca de 3 [milhões] de ciclos”, informou um editorial da publicação The Economist. “Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, apenas cerca de metade volta para casa com um bebê nos braços, mesmo depois de vários anos e de ter passado por até oito ciclos de tratamento.”

Uma das razões para essas estatísticas assustadoras é que os centros de fertilidade incentivam as mulheres a retirarem muitos óvulos e a criarem vários embriões no início do tratamento. Isso aumenta as chances de concepção e, com frequência, cria mais embriões do que a mulher pode realmente dar à luz.

Chris e Rebecca Henderson se casaram em 1992. Depois de 12 anos tentando ter filhos, eles foram aconselhados a experimentar a fertilização in vitro. Incertos sobre o procedimento, mas em oração, eles seguiram em frente e criaram 13 embriões, sendo que dois deles nasceram como gêmeos fraternos [ou seja, formados em placentas diferentes].

Quando os gêmeos tinham seis meses de idade, a clínica de fertilidade começou a perguntar aos Hendersons sobre os próximos passos para os 11 embriões restantes. Rebecca foi aconselhada a não ter mais filhos; então, os Hendersons tiveram de enfrentar uma decisão difícil.

A maioria das pessoas que tem embriões remanescentes armazenados dispõe de algumas opções. Elas podem descartá-los. Podem doar os embriões para pesquisa científica — embora poucos laboratórios aceitem embriões oriundos de fertilização in vitro, devido ao financiamento governamental limitado. Depois do caso Dobbs [caso da Suprema Corte de 2022], o “volume de embriões doados para pesquisa foi reduzido significativamente”, disse ao The Washington Post um diretor do laboratório de FIV da Stanford Medicine Fertility and Reproductive Health [Medicina de Saúde Reprodutiva e de Fertilidade de Standford].

Como alternativa, os embriões podem ser congelados e armazenados em um depósito, por uma taxa mensal que varia de US$ 500 a US$ 1.000. Ou podem ser doados a outra família que queira criá-los como se fossem seus.

“Quanto mais tempo os embriões ficam armazenados, é mais provável que [as famílias] desistam deles”, disse Tyson.

Algumas clínicas se sentem sobrecarregadas pelo volume crescente de embriões armazenados, pois os cânisters [recipientes] de nitrogênio ocupam espaço e os médicos podem criar dezenas de embriões por paciente. Um médico disse à NBC News, em 2019, que algumas pacientes têm de 40 a 60 óvulos retirados em um ciclo, e “o embriologista recebe ordens do médico para inseminar todos eles — e não se pergunta se a paciente quer mesmo que tantos óvulos sejam inseminados… Ninguém vai ter 30 filhos”.

“Não estávamos preparados para nada disso”, disse um endocrinologista reprodutivo da Flórida à NBC News. “21% dos nossos embriões foram abandonados.”

Esquerda: Os Gassmans, em 2022. Centro: As crianças Gassman e Henderson juntas, em 2016. Direita: Os Hendersons, em 2022Courtesy of the Henderson and Gassman Families
Esquerda: Os Gassmans, em 2022. Centro: As crianças Gassman e Henderson juntas, em 2016. Direita: Os Hendersons, em 2022

Os Hendersons, no entanto, encontraram o programa de adoção de embriões Snowflakes, e foram colocados em contato com Dan e Kelli Gassman.

“É uma montanha-russa de emoções decidir assinar a doação, mesmo quando você se distancia e pensa racionalmente”, disse Rebecca. “Adoramos essa opção, mas emocionalmente demoramos um pouco para chegar a esse ponto.”

Kelli se casou aos 40 e poucos anos. Depois de vários anos tentando engravidar, os Gassmans recorreram à adoção de embriões e, por fim, adotaram os 11 embriões dos Hendersons. Aos 46 anos, Kelli deu à luz Trevor, que hoje tem 10 anos. Um ano depois, ela deu à luz Aubrey.

“É o presente mais altruísta que alguém já me deu”, disse Kelli.

A adoção das famílias Henderson-Gassman foi, a princípio, uma adoção parcialmente aberta, na qual toda a comunicação foi mediada pela agência de adoção. Mas logo as famílias decidiram se encontrar, e depois continuaram a se encontrar. Hoje, eles passam férias juntos uma vez por ano e as crianças são como primos. A história deles é única, mas as famílias dizem que ela é “maior do que nós”.

“É uma jornada de muita emoção”, disse Rebecca. “Mas se você conseguir se colocar em segundo plano e perceber que esse é um ótimo caminho para a maternidade/paternidade […] pode ser um excelente caminho para ajudar outras pessoas a terem filhos que antes não puderam ter.”

Muitos casais cristãos que lutam contra a infertilidade não se sentem à vontade em usar óvulos ou esperma doados. E se eles não buscam a fertilização in vitro, por causa do custo, das baixas taxas de sucesso ou das objeções morais, geralmente recorrem à adoção para aumentar a família.

Mas nem toda adoção é igual.

Há pelo menos 369 clínicas de fertilidade nos Estados Unidos que realizaram transferências de embriões doados, segundo revela um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Elas raramente funcionam como agências de adoção tradicionais, uma vez que a doação de embriões envolve muito menos burocracia do que a adoção de uma criança. As pessoas que recebem os embriões geralmente chegam a uma clínica de fertilidade já tendo encontrado um doador de embriões — por meio de grupos de relacionamento ou até mesmo pelas mídias sociais.

No lado positivo, essa informalidade ajuda a tornar a adoção de embriões relativamente acessível. O implante de um embrião doado custa metade do preço da fertilização in vitro e um terço do preço de uma adoção particular.

Mas, embora algumas clínicas de fertilidade exijam que os pacientes participem de algum nível de aconselhamento, os novos pais geralmente recebem pouco apoio além disso, em comparação com os pais que adotam da maneira tradicional [ou seja, que adotam crianças que já nasceram].

Hannah Strege acredita que as famílias que adotam embriões devem participar de todas as etapas de um processo de adoção, entre elas estudos e entrevistas domiciliares, algo que a maioria das clínicas de fertilidade não oferece. Ela também quer que os padrões sejam elevados em todo o setor de doação de embriões. Afinal, se os embriões são pessoas, eles não deveriam ser simplesmente comercializados nas mídias sociais sem ter algumas camadas adicionais de proteção.

“Na adoção de embriões deve ser feito o que é melhor para a criança, e não para a família [doadora]”, disse Hannah. “Deus sabe onde ele coloca o seu filho.”

Apenas umas poucas organizações que trabalham com embriões facilitam transferências de embriões na forma de adoções, colocando em contato famílias adotivas em potencial com famílias “doadoras” que queiram colocar seus embriões para adoção. A maioria dessas organizações é confessional, e as duas maiores são a Nightlight, uma agência de adoção que tem filiais em todos os EUA, e o National Embryo Donation Center (NEDC), em Knoxville.

O NEDC foi fundado em 2003 como uma organização sem fins lucrativos que facilita as doações e adoções de embriões. Famílias doadoras de toda a América do Norte transferem seus direitos para o NEDC, e a família adotiva pode navegar por um catálogo digital com milhares de embriões armazenados no local. A organização não exige que as famílias sejam religiosas, mas exige que os casais adotivos sejam heterossexuais e casados.

“Não há dados empíricos, mas, segundo relatos, em sua grande maioria, as pessoas que passam por lá são cristãs, e a maioria delas é evangélicas — e há uma quantidade significativa de católicos também”, disse o porta-voz Mark Mellinger. A adoção de embriões “tende a repercutir entre os crentes evangélicos”. Ele estima que o NEDC realiza cerca de 10% de todas as transferências de embriões para adoção nos EUA por ano.

A maioria dos embriões doados é caucasiana, asiática ou hispânica. Poucos são afro-americanos, disse Mellinger, e estes são reservados para famílias adotivas negras. “Geralmente, reservamos embriões ligados a minorias para receptores de mesma origem étnica”, acrescentou.

O NEDC facilita tanto as doações quanto as transferências para famílias que desejam adotar. Ele trabalha em estreita colaboração com uma clínica local em Knoxville e terceiriza parte do processo de adoção, como a etapa dos estudos domiciliares, para prestadores credenciados como a Nightlight. O NEDC oferece adoções abertas e fechadas.

Ao contrário do NEDC, o programa Snowflakes da Nightlight não é filiado a clínicas de fertilidade. Ele funciona como um elo entre as famílias que querem entregar seus embriões, as famílias adotivas e as clínicas de fertilidade em todo o país que podem realizar o procedimento de transferência. Tyson e sua equipe fazem a triagem das famílias adotantes e doadoras com base em requisitos mútuos, o que significa que muitas dessas famílias são evangélicas, constituídas de pai e mãe. Eles incentivam as famílias a se comunicarem desde o início, e ambas as famílias escolhem o tipo de relacionamento que manterão no futuro.

“O principal motivo pelo qual as famílias optam pela adoção de embriões é que a mulher quer experimentar a gravidez e o parto”, disse Tyson. “Elas querem dar à luz um bebê”.

Tyson estima que talvez 20% dos adotantes de embriões sejam movidos pelo altruísmo, e são pessoas ansiosas para dar aos embriões uma chance de viver, em vez de buscarem uma criança que já tenha nascido.

Mas também há críticos ferrenhos à adoção de embriões. Eles argumentam que participar desse setor é participar de um sistema antiético e promover a produção excessiva de embriões. Alguns dizem que as crianças adotadas terão dificuldades com suas histórias de origem da mesma forma que os adotados tradicionais. Outros críticos são pais que lutam com a ideia de entregar seus embriões a outras famílias.

Jennifer Lahl, ativista na área de bioética e fundadora do Center for Bioethics and Culture Network, acredita que “nossa obrigação é primeiro para com o órfão que está entre nós e com as necessidades das crianças que estão aqui e agora sem um lar amoroso onde serem criadas”.

Matthew Lee Anderson, especialista em ética cristã e professor da Universidade Baylor, acredita que a adoção não pode resolver o problema dos embriões excedentes. Ele argumenta que os evangélicos, em seu todo, não têm capacidade de adotar todas as crianças que precisam de uma família e todos os embriões que merecem nascer.

“Não é um problema; é uma grave crise moral”, disse ele. “Se a adoção de embriões, como prática, amplia a maneira de pensar que trouxe [os embriões] à existência em primeiro lugar, então, acho que devemos olhar para ela com cautela.” Ele acredita que os embriões que não puderem nascer devem ter permissão para “voltar para Deus” com contrição e lamento.

A maioria dos outros críticos, no entanto, concorda que se um embrião não puder nascer na família dos pais genéticos, a adoção — idealmente, a adoção aberta — é o único desfecho positivo para essas pequenas vidas presas em uma crise global de fertilidade.

Os embriões não são sobras ou coisas que não foram usadas,” como se fossem objetos ou ferramentas”, escreveu Russell Moore (hoje editor-chefe da CT), em 2012. “São pessoas portadoras de uma imagem e que são dotadas — por seu Criador, e não por sua ‘utilidade’ — de certos direitos inalienáveis. Abrir nossos corações, nossos lares e, por vezes, nossos ventres para o menor destes pequeninos é agir como Cristo agiria.”

Aaron e Jennifer Wilson concordam. Evangélicos americanos por excelência, eles moram em Nashville, onde Aaron trabalha para a Lifeway e Jennifer trabalha para a Union University, e ambos cuidam da educação escolar de seus gêmeos de 12 anos em casa. Quando eram recém-casados, eles se depararam com um artigo da Baptist Press sobre adoção de embriões e ficaram imediatamente entusiasmados com a possibilidade. Mas deixaram a ideia de molho.

Três anos depois, ainda sem filhos, foram incentivados a tentar a fertilização in vitro — um processo que não se sentiram à vontade para seguir.

“Fizemos uma ligação, no estacionamento do consultório médico, no dia em que recebemos o diagnóstico”, disse Aaron, 42 anos. Duas semanas depois de falarem com o NEDC por telefone, eles se candidataram à adoção de embriões. Depois de duas transferências fracassadas, eles deram as boas-vindas a seus gêmeos ao mundo, por meio de uma cesariana. “A adoção de embriões nos tocou, pois também somos muito apaixonados por alternativas pró-vida […] Os embriões são invisíveis a olho nu, mas são almas microscópicas.”

Deus se referiu a Jesus como pessoa, quando este ainda estava no ventre de Maria,” ressaltou Aaron. “Deus se humilhou na forma de um embrião […] com apenas algumas células, do tamanho de um pixel”, disse ele. “A adoção de embriões realmente abriu meus olhos para a maravilha da Encarnação.”

Para muitos cristãos como a Hannah, que acreditam que a vida começa com a fertilização, não é suficiente ver embriões armazenados nascerem, virem ao mundo. Eles querem que o número de embriões congelados pare de crescer.

“A adoção de embriões está tentando resolver um problema de excesso de embriões", disse John Strege, pai de Hannah. O problema, e sua solução, é duplo, dizem os ativistas que militam nessa área: estão sendo criados embriões em excesso e muitos estão sendo abandonados. (Alguns estudos também sugerem que o congelamento prolongado pode prejudicar os embriões).

Esses ativistas concordam que, em um mundo ideal, a primeira solução é evitar a proliferação de embriões congelados, por meio de regulamentações ou simplesmente de conscientização e educação. Alguns consideram que a solução está nas leis e nos regulamentos do setor de fertilidade. Na Alemanha, por exemplo, o congelamento de embriões é proibido, exceto em raras circunstâncias.

“Não acredito que a adoção de embriões deve ser necessária — o que é necessário é uma lei federal como a da Alemanha”, disse Lahl, um ativista da área de bioética.

Os médicos e as clínicas de fertilidade também devem instruir os pacientes sobre as implicações de longo prazo da criação e do armazenamento de embriões, dizem pessoas envolvidas nessa luta, como Hannah.

“Eu recomendaria com veemência que [as famílias] criassem o número de embriões que seriam imediatamente implantados em cada ciclo”, disse Jeffrey Barrows, ex-ginecologista e obstetra, e vice-presidente sênior de bioética e políticas públicas da Associação Médica e Odontológica Cristã.

Ele reconhece que isso é mais caro e exige mais esforço físico — retirar e fertilizar um óvulo por vez é menos eficiente do que criar lotes inteiros de embriões. Mas Barrows acredita que essas escolhas pessoais são uma solução melhor do que uma legislação, porque as leis podem ser um tiro pela culatra para as organizações cristãs (visto que os governos podem impor exigências que vão contra as convicções de um grupo). “Você está salvando vidas humanas — isso justifica o dinheiro e os ciclos a mais.”

Muitas famílias que doam ou oferecem seus embriões para adoção dizem que não foram devidamente instruídas ou não pensaram bem nos resultados de longo prazo decorrentes da criação de mais embriões do que poderiam dar à luz.

Alguns, como Lahl e Barrows, dizem que as famílias, se puderem, devem trazer seus embriões restantes ao mundo como a melhor solução possível para as crianças. E Aaron Wilson observou que, se os pais morrerem sem entregar seus embriões, essa responsabilidade legal poderá ser transferida para seus filhos — os irmãos dos embriões.

“A perspectiva da criança é frequentemente ignorada”, disse Barrows. “O ideal é que a criança cresça com os pais genéticos.”

Além de querer que sejam formados menos embriões excedentes, Hannah quer que mais famílias considerem a adoção de embriões, independentemente de conseguirem engravidar naturalmente ou não. “As pessoas estão tão apaixonadas por seus próprios óvulos e espermatozoides que não consideram a adoção”, disse ela. “Eu quero ver mais vidas sendo salvas por meio da adoção de embriões”.

A família Strege ouviu muitas histórias de famílias que acabaram buscando a adoção de embriões depois de ouvirem a história da Hannah no rádio, em uma reportagem de jornal ou por meio do boca a boca.

Enquanto Hannah e sua mãe conversavam comigo entre fumegantes pratos de chili da cafeteria da Focus on the Family, Whit's End, uma jovem canadense que estava em uma mesa próxima nos interrompeu.

“Senti que Deus me disse para falar com vocês, porque os ouvi conversando”, disse ela, segurando as lágrimas e tropeçando nas palavras. “Meu marido e eu estamos lutando contra a infertilidade há vários anos e estamos conversando sobre os próximos passos. Ouvi falar sobre a adoção de embriões e estava esperando uma confirmação de que essa é a direção certa para nós.” Conhecer Hannah e Marlene em uma tarde aleatória me pareceu uma confirmação divina,” disse ela.

Essas pequenas conversas no dia a dia são tão importantes para o trabalho de conscientização sobre a adoção de embriões quanto viagens a Washington e entrevistas na rádio, segundo Hannah.

O trabalho pode parecer exaustivo — explicar pela milésima vez o que é um embrião ou por que alguém deve usar a linguagem da adoção para reconhecer a humanidade dos embriões. Mas são conversas assim que estão lentamente tornando a adoção de embriões mais comum entre os evangélicos.

Os números podem parecer impossíveis, mas não são um caso sem esperança. Se os sonhos da Hannah se tornarem realidade, todos os flocos de neve poderão um dia ter a chance de nascer e crescer.

Kara Bettis Carvalho é editora associada da Christianity Today.

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O caráter humilde do nosso rei

Proclamações ousadas de um grande líder.

Christianity Today December 3, 2023
Phil Schorr

"Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá,
de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel.
Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos.

Por isso os israelitas serão abandonados até que dê à luz
a que está em trabalho de parto. Então o restante dos irmãos do
governante voltarão para unir-se aos israelitas.

Ele se estabelecerá e os pastoreará na força do Senhor,
na majestade do nome do Senhor, o seu Deus.
E eles viverão em segurança, pois a grandeza dele
alcançará os confins da terra.

Miquéias 5.2-4

Quando lemos as profecias das Escrituras do Antigo Testamento, somos lembrados de que sempre foi dito que um governante eterno viria de Belém. Miqueias 5.2 proclama, como se anunciasse de cima dos telhados para alcançar os ouvidos de toda a cidade: “[..]de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos”.

Com esta proclamação ousada, fica claro que Deus não planejou que a notícia deste nascimento fosse mantida em segredo, mas sim que fosse espalhada por toda aquela terra com confiança. Sim, o Ungido, que diziam que viria da linhagem davídica, estava de fato vindo, para salvar Israel daquilo que eles próprios não podiam suportar.

Imagine como foi a espera durante os tempos dos profetas — afinal, o Ancião de Dias estava a caminho. Crentes curiosos e sonhadores devem ter vivido com grande expectativa. Como será esse Rei? Eles devem ter se perguntado: Com que sabedoria ele nos abençoará, para então nos tirar do exílio? Como esse Rei seria reconhecido, quando finalmente chegasse?

De acordo com a sua natureza, Jesus assume o manto de Pastor Supremo que agracia as suas ovelhas com a doce presença cheia de força e segurança. Há algo profundamente tranquilizador em ter um Salvador que nos guia como um pastor guia suas ovelhas — pelo caminho que devemos seguir, em vez do caminho que imaginamos ser melhor. Nós todos somos “propensos a nos desviar” do caminho seguro, para longe do seu coração, como coloca com tanta vulnerabilidade o hino “Come Thou Fount of Every Blessing” [Vem Tu, Fonte de Todas as Bênçãos].

O Pastor cobriria Israel com seu caráter de majestade e honra em nome do Pai. Ele permaneceria firme como o derradeiro encarregado de suas vidas, conduzindo-os com bravura e ousadia para pastos eternos. Isto não só era algo pelo qual o povo de Deus ansiava; também era algo de que precisava desesperadamente — um porto seguro que lhes proporcionasse descanso. Miqueias 5.4 nos assegura da santa proteção que Cristo trará: “E eles viverão em segurança, pois a grandeza dele alcançará os confins da terra”.

Como ovelhas suas, recebemos uma porção abundante de prosperidade e proteção. E mais do que isso, os que habitam esta terra descobrirão que o Pastor Supremo “será a fonte de paz” (v. 5, NVT). O que isso significa? Poderíamos imaginar um rebanho de dóceis ovelhas descansando à vontade sob a sombra de uma árvore frondosa, enquanto ele está em pé, com o cajado na mão, garantindo total serenidade durante o seu cuidado. Sua paz introduz o shalom eterno em todas as áreas da vida. Nem mesmo as forças opositoras da Assíria contra Israel, [atacando] por todas as frentes, seriam capazes de atravessar aquele portão (v. 5). Na verdade, não há lugar mais seguro do que estar plenamente envolvido pelo amoroso domínio do nosso Criador, a fim de florescer nos campos, eternamente livres de ameaça.

Para refletir



Como o caráter humilde do nosso Rei desafia a nossa compreensão dos misteriosos planos de Deus?

De que forma abraçar Jesus como nosso Pastor Supremo transforma nossa vida e nossos relacionamentos diários?

Alexis Ragan é uma escritora criativa e instrutora de ESL, apaixonada por missões globais.

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Books

O acesso das crianças à pornografia é um problema. Será que criar leis é a solução?

Enquanto alguns ativistas cristãos lutam para haver verificação de idade em sites pornográficos, outros dizem que o monitoramento é responsabilidade dos pais.

Christianity Today November 30, 2023
Edits by CT / Source Image: Getty Images

Quando os pais perguntam a Chris McKenna em que idade devem dar um smartphone aos filhos, ele tem uma resposta padrão: “A idade em que você quiser que eles vejam pornografia”.

O ex-pastor de jovens fundou, em 2015, a Protect Young Eyes — uma organização sem fins lucrativos que ensina segurança tecnológica a escolas, empresas, igrejas e pais —, devido à sua preocupação com o desaparecimento das barreiras entre a pornografia e os jovens.

“Eu estava observando que, pela primeira vez na história da humanidade, estávamos colocando a Internet no bolso das crianças”, disse ele, “e isso me aterrorizou.”

Nos anos seguintes, a idade média em que as crianças eram expostas à pornografia pela primeira vez tendeu a diminuir. Os pesquisadores estimaram, em 2021, que ela girava em torno dos 11 anos.

Como os dados continuam a mostrar os danos causados pela exposição à pornografia, especialmente em crianças, tem crescido o apoio em favor de limites legais mais rígidos para conteúdos pornográficos. A descrição de função de McKenna, como chefe da Protect Young Eyes, também cresceu — agora inclui a militância política.

Em 2019, McKenna testemunhou perante o Comitê Judiciário do Senado dos EUA, recomendando que os legisladores tornassem uma obrigação das empresas de tecnologia a facilitação do uso de filtros de segurança e do controle parental nos dispositivos que produzem.

Este ano, McKenna consultou profissionais especializados na criação de textos de lei e testemunhou perante legisladores em vários estados, em defesa de novas leis que imponham a verificação de idade, que exijam que os sites pornográficos verifiquem se seus usuários têm 18 anos ou mais. Sete estados — Texas, Louisiana, Utah, Mississippi, Carolina do Norte, Arkansas e Virgínia — aprovaram leis com verificação de idade este ano.

No Texas, McKenna ajudou especialistas na criação de textos de lei a redigirem o que se tornou o Projeto de Lei 1181 da Assembleia estadual, que o governador Greg Abbott transformou em lei no verão. A medida foi imediatamente contestada com base na Primeira Emenda, e um juiz do tribunal distrital a revogou, invocando questões relacionadas à liberdade de expressão e à privacidade. O gabinete do procurador-geral do Texas, Ken Paxton, está apelando dessa decisão.

Angela Paxton, esposa de Paxton e senadora estadual do Texas, foi a propositora original do Projeto de Lei 1181. Os Paxtons são membros da Prestonwood Baptist Church, uma megaigreja localizada em Plano [cidade do Texas]. Um pastor da Prestonwood, Mike Buster, trabalhou com Paxton e Chris McKenna na elaboração e na defesa desse projeto de lei na Assembleia estadual do Texas.

O mecanismo adotado por cada lei para a verificação de idade difere de um estado para outro. Na Louisiana, os sites pornográficos redirecionam automaticamente os visitantes para um site estatal, onde eles devem carregar suas informações de identificação. A maioria dos outros estados exige que os próprios sites pornográficos coletem e verifiquem as informações de identificação dos usuários.

Mas não há dúvida de que as leis restringiram o acesso à pornografia on-line, de forma direta ou indireta.

O Pornhub, o maior site de pornografia do país, agora bloqueia o acesso a seu site para usuários de pelo menos quatro estados — Utah, Arkansas, Virgínia e Mississippi —, em um esforço para não ter que cumprir as exigências de coleta de dados para identificação do usuário. Quatro meses depois que a lei da Louisiana entrou em vigor, em janeiro passado, um porta-voz do Pornhub disse à CNN que acessos ao seu site provenientes de endereços IP da Louisiana haviam diminuído em 80%.

Ministérios cristãos como o Focus on the Family e o Covenant Eyes têm lutado há décadas por limites mais rígidos para a obscenidade no entretenimento e nas leis, muitas vezes sem nenhum apoio secular. O National Center on Sexual Exploitation [Centro Nacional sobre Exploração Sexual], uma organização não sectária com raízes cristãs, semelhante a anteriormente conhecida Morality in Media [Moralidade na Mídia], também se manifestou a favor de regulamentações.

Às vezes caricaturados como puritanos ou repressores, os cristãos envolvidos nessa luta contra a pornografia fundamentam sua militância no ensinamento bíblico de que o sexo é sagrado e de que cada pessoa humana, bem como seu corpo, devem ser tratados com respeito e dignidade. (As reações ao uso do Covenant Eyes pelo novo presidente da Câmara, Mike Johnson, destacam a diferença entre a forma como os evangélicos e a cultura secular abordam o uso da pornografia).

Mas McKenna e outros militantes cristãos antipornografia argumentam que criar ou assistir à pornografia não é pecado apenas para os cristãos. Eles acreditam que é algo nocivo para todo mundo, como todos os outros pecados.

As pesquisas continuam a confirmar isso, fato que levou a posição contra a pornografia a se aproximar da agenda predominante. Até agora, 17 estados aprovaram resoluções que consideram a pornografia uma “crise de saúde pública”.

Ainda assim, McKenna espera que mais cristãos se envolvam com a questão. “Acredito que os líderes de igreja deveriam comparecer em massa para apoiar a legislação que batalha para criar espaços digitais mais seguros para as crianças”, disse ele. “As famílias precisam de mais ajuda.”

Alguns cristãos e conservadores, no entanto, não apoiam essa abordagem legislativa. A XXXChurch, nome provocativo de um ministério que ajuda pessoas que lutam contra o vício em pornografia, diz em seu site que “culpar a indústria pornográfica por nossos problemas ou confiar em leis para nos proteger não funciona".

Outros se preocupam com a questão de as leis de verificação de idade serem uma invasão de privacidade ou com o fato de que a responsabilidade de proteger as crianças da pornografia seja dos pais, não do governo.

Steve Demetriou tem dois filhos pequenos e um novo bebê a caminho. Ele também é deputado estadual em Ohio, onde recentemente apresentou um projeto de lei em prol da verificação de idade. Demetriou é membro da Igreja Ortodoxa Grega e disse que sua fé, bem como o incentivo de um assessor legislativo católico, motivaram-no a apresentar esse projeto de lei.

“Já é ilegal em Ohio distribuir pornografia para crianças”, disse Demetriou. “Estamos apenas trazendo isso para a era digital e criando barreiras on-line de bom senso.”

Demetriou diz que é sensível às preocupações da Primeira Emenda em relação ao projeto de lei de Ohio, que inclui penalidades criminais pelo uso, em vídeos pornográficos, de imagens de pessoas reais, manipuladas por IA, sem o conhecimento ou sem o consentimento do indivíduo. Ele disse que planeja perguntar à Comissão de Controle de Cassinos de Ohio como eles verificam a idade de seus clientes sem violar as leis de liberdade de expressão ou que regulam a privacidade.

“Precisamos fazer com que seja tão difícil para crianças (…) assistirem à pornografia on-line quanto é para menores de idade fazerem apostas esportivas ou comprarem cigarros”, disse Demetriou.

Danny Huerta é conselheiro profissional licenciado e vice-presidente na área de criação de filhos e jovens da Focus on the Family, onde supervisiona a Plugged In, uma publicação que traz avaliações e classificações de mídia feitas pela organização conservadora. Ele disse que as leis de verificação de idade são um “bom começo” no esforço para proteger as crianças da pornografia on-line.

“Eu de fato acho que isso pode ajudar um pouco”, disse Huerta. “Ainda não substitui o fato de os pais precisarem colocar filtros […] e serem muito intencionais em suas conversas com as crianças.”

Huerta, que também aconselha famílias em seu consultório particular há 20 anos, disse que tem visto um aumento alarmante na última década no número de crianças que assistem à pornografia, bem como um aumento preocupante no grau de perversões ligadas à pornografia, o que inclui violência sexual, atividade sexual com animais e até mesmo atração sexual por sangue.

Huerta frequentemente recomenda que os pais instalem softwares de bloqueio de pornografia nos dispositivos de seus filhos, mesmo que isso possa tornar o processamento do sistema mais lento. Produtos como o Net Nanny, o FamilyShield da OpenDNS, o BrowseControl e o Net Angel oferecem o bloqueio de determinados sites identificados como portadores de “conteúdo adulto”. Huerta está particularmente esperançoso com o Canopy, um software de filtragem que usa IA para verificar, em tempo real, se uma imagem é pornográfica, e poder bloqueá-la instantaneamente.

Ainda assim, Huerta disse que os filtros e até mesmo as leis de verificação de idade não resolverão tudo. “Digamos que haja um irmão de 18 ou 19 anos que esteja acessando [pornografia]. As crianças ainda podem se deparar com isso acidentalmente”, disse ele.

É por isso que Huerta está focado principalmente em ajudar os pais a discipularem seus filhos para que escolham, por iniciativa própria, desviar o olhar das imagens pornográficas. Para isso, a Focus on the Family criou um modelo de “contrato telefônico” que pais e filhos podem preencher juntos, quando negociam limites e consequências para o uso de tecnologia.

McKenna, da Protect Young Eyes, disse que a responsabilidade de proteger as crianças da pornografia não pode e não deve recair somente sobre os pais. Ele se preocupa particularmente com as crianças cujos pais não têm tempo, conhecimento ou motivação para monitorar o uso que seus filhos fazem da tecnologia.

Em vez disso, McKenna acredita que as empresas de tecnologia devam ter a obrigação de tornar seus dispositivos o mais seguro possível para as crianças. No Texas, ele ajudou a elaborar uma legislação complementar à lei de verificação de idade, voltada para criadores de dispositivos como a Apple e o Google, a qual teria definido requisitos para configurações padrão mais rígidas e controles parentais mais simples.

“Atualmente, são necessárias mais de 30 passos para configurar adequadamente o controle parental em um iPhone”, disse McKenna a legisladores federais, em 2019. Ele pediu aos legisladores do Texas que forcem os fabricantes de dispositivos a simplificar esse processo e a tornar o mais rigorosas possíveis as configurações padrão de qualquer dispositivo que possa ser usado por crianças. Isso poderia incluir o bloqueio do acesso à Internet ou a determinados aplicativos durante o horário escolar ou durante a noite.

Os legisladores do Texas não conseguiram aprovar esse projeto de lei a tempo este ano, disse McKenna, mas ele acredita que concentrar os esforços em políticas voltadas para o “nível dos dispositivos” é o melhor caminho a seguir.

“Criamos padrões de vida e de aprendizado que exigem que as crianças estejam on-line”, disse McKenna. “Cada dispositivo sabe quando uma criança o está usando. […] O padrão desse dispositivo não deveria ser a versão mais segura possível? Não é assim que fazemos com tudo o mais que as crianças usam — berços, assentos de carro, bicicletas, playgrounds?”

Alguns militantes dizem que são a favor das leis de filtragem de dispositivos, pois as leis de verificação de idade correm o risco de serem revogadas por motivos constitucionais, como no Texas.

No entanto, McKenna, da Protect Young Eyes, tem esperança de que a lei de verificação de idade do Texas sobreviva ao escrutínio judicial e acabe se mostrando proveitosa — e de que outros estados considerem medidas semelhantes.

“Ela tem que funcionar em algum nível”, disse ele.

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Nossa espera no Advento remonta ao Éden

No momento certo, Deus cumpre sua promessa.

Christianity Today November 22, 2023
Illustration by Rick Szuecs / Source Images: Wikimedia Commons / Evemilla / Getty

Na infância, meus filhos tinham um livro sobre o Advento que contava a história do nascimento de Jesus. O livro ensinava a arte da espera. A cada noite, eles liam uma nova página. Hoje já adultos, eles ainda conseguem recitar o livro de cor. Só tenho um problema com esse livro: sua maneira de contar a história da dedicação de Jesus no templo apresenta Simeão, mas deixa de fora Ana, a profetisa.

Deuteronômio 19.15 decreta que uma questão “precisa ser confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas”, tema que pode ser rastreado por toda a Bíblia. Precisamos tanto de Simeão quanto de Ana em nosso imaginário do Advento, porque ambos foram colocados lá para estabelecer um testemunho confiável. Juntos, eles atestam o cumprimento da promessa de Deus, uma promessa feita milhares de anos antes a outro homem e a outra mulher.

Considere a dupla que saúda o menino Jesus, 40 dias após seu nascimento, quando Maria e José o apresentam no templo. Em Lucas 2, Simeão é descrito como um homem “justo e piedoso […] que esperava a consolação de Israel”, e que foi informado pelo Espírito Santo que ele “não morreria antes de ver o Cristo do Senhor”. Ana, “profetisa, filha de Fanuel”, atingira a idade avançada de 84 anos.

A idade dela é igual a sete vezes doze, simbolizando a plenitude divina. Começamos a ver que algo aconteceu no momento certo. O nome do pai dela foi apropriadamente tirado do local onde Jacó contemplou Deus face a face [a saber, Peniel, que é outra grafia do nome Fanuel] e, mesmo depois dessa experiência, continuou vivo (Gênesis 32.30). Um homem e uma mulher, esperando ansiosamente no templo de Deus para contemplar Deus face a face.

Agora, pense no mais antigo dos templos, o Jardim do Éden. Face a face com Deus, um homem e uma mulher testemunharam a profecia de um filho que esmagaria a cabeça da Serpente. Adão ouviu e deu um nome profético à mulher: Eva, mãe de todos os seres viventes. Eva ouviu e, após o trabalho de parto, proclamou: “Com o auxílio do Senhor tive um filho homem” (Gênesis 4.1).

A exclamação de Eva revela que nunca fomos bons em esperar, que o Advento sempre demorou mais do que esperávamos. As palavras dela comunicam menos a ideia de Olha, tive um filho! e mais a ideia de Aqui está ele! Como James Montgomery Boice observa em seu comentário, é a proclamação de um libertador. Embora você e eu saibamos que a espera seria de milênios, Eva não sabia. Ela esperava que Caim fosse o cumprimento imediato da promessa de Deus. Ela não poderia estar mais errada.

Embora Adão e Eva não tenham podido viver para ver o Messias, Simeão e Ana não puderam morrer até que o vissem.

Em vez de ter sido alguém que deu vida, Caim foi alguém que tirou vida. Após o assassinato de Abel, Caim zombou: “Sou eu o responsável por meu irmão?” (Gênesis 4.9). Essa é uma pergunta erroneamente feita e erroneamente respondida — não apenas por Caim, mas por todos nós.

A espera pelo Messias continuou, ampliada pela tristeza do pecado que se difundiu. Adão e Eva envelheceram e morreram. Eles não viveram para testemunhar o cumprimento da promessa. Outra geração assumiu a espera.

Por séculos, no trabalho de parto, as mães hebreias que tiveram filhos teriam se perguntado: É este aquele que esperamos? Sara, Rebeca, Lia e Raquel, mães no Egito, mães no deserto, mães em Canaã, mães no exílio, mães nos 400 anos de silêncio, mães sob o domínio romano. As mães hebreias sussurravam: É este aquele que esperamos? Pais hebreus oravam: Envia-nos a consolação de Israel.

Até que finalmente aconteceu. No momento certo. E duas testemunhas aparecem no templo do Senhor, um homem e uma mulher, não para ouvir profecias, mas para proferi-las. Lá está Simeão, com lábios repletos de aclamação. Ele viveu para ver o dia. Lá está a idosa profetisa Ana, proclamando: Aqui está ele! Ela não poderia estar mais certa.

Aqui está aquele que não tira a vida, mas que a dá. Aqui está aquele que corretamente pergunta “Sou eu o responsável por meu irmão?”, e que responde: “EU SOU”. A espera acabou. Embora Adão e Eva não tenham podido viver para ver o Messias, Simeão e Ana não puderam morrer até que o vissem. Simeão, em sua velhice, foi consolado por Deus. Ana, em sua velhice, foi alegrada por Deus.

Consolação. E alegria.

O testemunho de Simeão e de Ana no Advento nos exorta a aguardar com esperança cheia de expectativa. Aquele que promete é fiel. Ele virá novamente. E, naquele dia, todas as nações, tribos e línguas darão testemunho. Uma multidão verá a face de Deus e proclamará: “Aqui está ele!”

Jen Wilkin é esposa, mãe e professora de Bíblia. É autora de Women of the Word [Mulheres e a Palavra] e de None Like Him [Ninguém como ele]. Ela escreve no Twitter em @jenniferwilkin.

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