A situação dos jovens americanos [e dos jovens ocidentais em geral] tem se tornado uma preocupação séria nos últimos tempos. Eles estão conquistando menos diplomas universitários do que as mulheres, estão saindo do mercado de trabalho e morrendo de overdose ou suicídio com mais frequência do que as mulheres. Muitos deles estão viciados em pornografia, videogames ou em fomentar o discurso de ódio online.
Eles estão “experimentando novas identidades, muitas delas hediondas, todas elas acenando em direção a um desejo de pertencimento”, escreve Christine Emba em um ensaio contundente para o The Washington Post. “Parece uma crise de identidade generalizada — como se eles não soubessem mais como ser [homens].”
Qual é a causa de todo esse problema? Alguns defendem uma explicação puramente materialista, observando o declínio dos empregos na indústria, que costumavam proporcionar uma renda estável para homens sem diploma universitário. Outros sugerem que os homens não passam de pirralhos mimados — tão acostumados ao patriarcado que agora “a igualdade parece opressão” para eles. Outros ainda, como Richard Reeves, da revista The Atlantic, culpam problemas em nossos sistemas educacionais.
A enorme extensão dessa crise levou ao surgimento de influenciadores da “machosfera” que propõem uma certa visão de masculinidade e os passos para alcançá-la.
Aaron Renn tem sido um crítico persistente da superfeminização da igreja, acusando cristãos liberais e conservadores de uma “negatividade cruel em relação aos homens e uma excessiva tendência de colocar as mulheres em um pedestal”, o que “repele os homens”. Jordan Peterson, conhecido psicólogo, vem moldando essas conversas há anos. Na extrema direita, Andrew Tate, ex-campeão de kickboxing indiciado por tráfico sexual, tem uma presença massiva nas mídias sociais que foi construída a partir de hedonismo vulgar e de um materialismo descarado.
Se a massa de seguidores deles servirem de indicação, fica claro que muitos homens jovens são atraídos por uma visão de masculinidade que se inspira mais no Übermensch [super-homem] de Nietzsche do que em Jesus Cristo. John Ehrett, colaborador da revista American Reformer, chama isso de vitalismo.
Alguns comentaristas alertam para o fato de que a direita pós-cristã seduzirá os jovens sem rumo, ávidos por um senso de identidade. Eles insistem que a igreja deve adotar um “cristianismo masculino”, que enfatize o domínio, a liderança masculina no lar e na igreja, e a aptidão física, para impedir que os homens sejam atraídos para um mundo vil, que vê as mulheres como meros objetos sexuais e difunde propaganda nazista sobre raças superiores.
Não pretendo apresentar argumentos contra modelos positivos e saúde física. Mas é neste ponto que esses críticos erram: o cristianismo jamais poderá competir com o vitalismo nos próprios termos do vitalismo, assim como um culto na igreja sempre será menos emocionante do que um show de rock, se a base dessa comparação forem os próprios termos de um show de rock.
Se um homem jovem busca uma ideologia que lhe permita tratar as mulheres com desprezo e se considerar o Übermensch de Nietzsche, os gurus das mídias sociais sempre ganharão das Escrituras. Você pode promover uma conferência para homens, com fogos de artifício e um tanque militar em funcionamento, mas, mesmo assim, a Bíblia ainda nos mostrará que o maior homem que já viveu se submeteu a uma morte humilhante e nos disse que os verdadeiramente abençoados são os mansos.
A crise da masculinidade tem consequências graves para a igreja. Está mais difícil do que nunca para jovens cristãs que desejam se casar e ter filhos encontrar homens jovens que sejam maridos e pais decentes. De forma mais ampla, as congregações estão sofrendo, pois homens jovens que poderiam ser uma bênção para a igreja estão, em vez disso, desperdiçando sua vida em frente a telas.
Como os cristãos devem responder a isso?
A igreja sempre lutou contra o desequilíbrio entre gêneros, como observa Lyman Stone. Já na era romana, mais mulheres do que homens frequentavam os santuários, e encontrar homens cristãos em condições de se casar nunca foi tarefa fácil.
Além disso, cada igreja é diferente. Encontramos em um dos extremos igrejas que ainda operam de acordo com uma hierarquia de gênero mais rígida, enquanto, no outro extremo, há igrejas que ignoram a ideia das diferenças de gênero dadas por Deus.
Como missionário na África Oriental, posso dizer que não é uma cultura onde as diferenças de gênero ainda são respeitadas o que atrai mais homens à igreja. As mulheres ainda superam os homens aqui também. E o compromisso cultural com uma ética sexual que segue as tradições locais traz muitos problemas, entre eles taxas muito mais altas de violência contra mulheres.
A solução mais simples talvez possa ser a que elimina quaisquer distinções de gênero e encoraja cada homem jovem a ser simplesmente “uma boa pessoa”, em vez de ser “um bom homem”. Há algo de verdade nisso, pois a igreja é o lugar onde os homens se dizem “a noiva” de Cristo e as mulheres podem dizer que são mais que vencedoras. O fruto do Espírito é o mesmo para ambos os sexos.
No entanto, como Emba afirma num ensaio subsequente, “os jovens e os meninos nos dizem, muitas vezes literalmente, que eles necessitam de orientação, de normas e de uma ratificação concreta sobre como ser homem, e que desejam tudo isso com desespero”.
Em termos teológicos, somos criados à imagem de Deus, homem e mulher, e essa distinção traz consequências para a forma como pensamos sobre nós mesmos. Quando um conjunto de correntes culturais tenta apagar por completo essas distinções, dizendo aos homens que sua masculinidade não é real nem significativa, muitos deles simplesmente se sentem desencorajados de sequer tentarem ser uma boa pessoa.
Em The Toxic War on Masculinity [A Guerra Tóxica contra a Masculinidade], Nancy Pearcey defende um foco ministerial maior em meninos sem pai, e ela está totalmente certa. Em vez de competir com os influenciadores da machosfera, que acham que carros caros e conquistas sexuais definem a masculinidade, precisamos que as famílias cristãs convidem e recebam homens jovens em suas vidas e em seus lares. Lá, eles poderão aprender sobre as virtudes da masculinidade por meio da observação, e não por instruções didáticas (que muitas vezes são prejudiciais).
Solteiros, casais idosos e famílias com crianças podem participar dessa iniciativa. Ajudar a cuidar dos filhos de outras pessoas, compartilhar a vida juntos e conversar sobre algo além das redes sociais são atitudes que farão muito mais pelos homens jovens do que qualquer blog ou podcast. (Dica profissional para aqueles jovens que desejam encontrar uma esposa cristã: lavem a louça depois do jantar. Confiem nessa dica.)
A crise da masculinidade é real, e a igreja tem um papel a desempenhar. Em vez de ficar reclamando do feminismo ou dos pastores “beta-machos”, precisamos participar da mentoria e da construção de relacionamentos com homens jovens. Parafernálias militares e advertências vazias para que alguém “seja homem” não substituem as conexões genuínas entre as pessoas. A igreja é chamada para celebrar a bondade e a beleza da escolha de Deus de nos criar à sua imagem, homem e mulher, e essas identidades distintas se sobressaem melhor quando vivemos em comunidade.
À medida que lidamos com a crise da masculinidade, abrir a porta de nossas casas e arrumar lugar em nossas mesas é algo que todos nós podemos fazer, para impedir que meninos e jovens sem rumo se percam.
Matthew Loftus mora com a família no Quênia, onde leciona e pratica medicina de família. Saiba mais sobre seu trabalho e seus escritos em matthewandmaggie.org.