Era nosso primeiro Natal como uma família de quatro pessoas, e estávamos animados para assistir ao culto natalino da nossa nova igreja. Enquanto meu marido carregava nossa filha menor, durante o culto, notei que meu filho estava maravilhado com a decoração e a música. Eu podia vê-lo absorvendo tudo aquilo com reverência e encantamento.
Depois de alguns hinos que meu filho não conhecia, ficou claro que ele queria cantar algo familiar. Infelizmente, sua música preferida não estava no hinário. Enquanto ele continuava a expressar, com crescente urgência e aflição, o desejo de cantar “Jingle Bells”, eu gentilmente tentei fazê-lo ficar quietinho, oferecendo um livro para colorir e sugerindo que cantaríamos a música juntos, em outro lugar ou depois do fim do culto.
O casal que estava sentado na fileira à nossa frente se virou, quando meu filho começou a chorar. A mulher me olhou nos olhos, e me encarou, enquanto dizia com firmeza: “Talvez você devesse simplesmente ir embora”. Chocados, pegamos nossos filhos e saímos dali o mais rápido que meu corpo permitiu, pois ainda sofria os efeitos do pós-parto.
Assim que saímos, comecei imediatamente a chorar. O grupo de mulheres que preparava os refrescos, do lado de fora do santuário, correu até mim e me garantiu que nossa família era sempre bem-vinda. Uma delas pegou meu filho pela mão e lhe ofereceu um pedaço grande de bolo. No dia seguinte, nosso pastor me enviou uma mensagem de texto, para dizer que tinha ouvido o que havia acontecido e que lamentava o ocorrido. Ele reiterou que nossa família era sempre bem-vinda na igreja.
Infelizmente, gestos de gentileza como esse não costumam acontecer com famílias como a nossa.
Meu filho e eu somos autistas, e vários membros da nossa família são neurodivergentes — termo que se refere a diferenças no funcionamento cerebral, como autismo, TDAH, dificuldades de aprendizagem e outras. Em outras palavras, pessoas neurodivergentes em geral vivenciam o mundo de forma diferente das pessoas ao nosso redor. Meu filho e eu somos sensíveis ao que nos cerca e percebemos padrões sutis que os outros podem não perceber. Para ele, isso também significa que ele pode sentir medo e ficar aflito de forma intensa, quando percebe alguma ameaça, mas também significa que ele sente alegria e prazer de forma mais intensa do que a maioria de nós.
Nos últimos anos, tenho notado um aumento nas discussões sobre inclusão e hospitalidade dentro da igreja. De fato, a igreja é chamada a exercer hospitalidade (Hebreus 13.2) e a cuidar dos marginalizados em nossas comunidades (Lucas 14.12-14; Mateus 25.35-40). Sou grata por essas discussões.
Ao mesmo tempo, frequentemente ignoramos a necessidade de as igrejas acolherem melhor e incluírem, em todas as áreas da vida eclesiástica, adultos e crianças com alguma deficiência. Uma estimativa sugere que 80% ou mais das igrejas não têm nenhum tipo de ministério voltado para pessoas com deficiência; ainda assim, quase todos os que frequentam igrejas e os pastores afirmam que alguém com deficiência seria bem-vindo em sua comunidade. É um desafio singular para minha família participar dessa discussão — defender ou buscar uma adaptação — porque nossas deficiências não são fisicamente visíveis.
Em 2018, um estudo robusto indicou que crianças com certas condições crônicas de saúde têm muito menos probabilidade de frequentar uma igreja do que crianças com desenvolvimento típico. Especificamente no caso das crianças que lidam com deficiências “invisíveis” aos olhos, como autismo, ansiedade, depressão, TDAH e outros tipos de questões de saúde mental e neurodivergência, elas são as menos propensas a frequentar uma igreja.
Outros estudos constataram que a maioria dos pais entrevistados apontou que seus filhos com deficiência haviam sido excluídos na igreja. Os pais também relataram ter saído de uma igreja ou ter deixado de participar de atividades na igreja porque o filho ou a filha não foi incluído ou porque a igreja pareceu não estar disposta a aprender mais sobre aquela condição específica ou a fazer as adaptações necessárias [para incluir aquela criança].
No entanto, ao longo das Escrituras, vemos Jesus estendendo a mão a indivíduos esquecidos, marginalizados ou excluídos de alguma forma — curando-os e restaurando-os às suas comunidades e aos entes queridos. Quando Cristo encontrou um cego, em João 9, deixou claro que a deficiência não era um castigo pelo pecado. Em vez disso, nosso Salvador disse que a deficiência daquele homem era “para que se manifestasse nele a obra de Deus” (v. 3).
Já ouvi a expressão “a obra de Deus” nesta passagem ser definida como o milagre que deu ao homem a capacidade de enxergar. Mas, e se ao lermos passagens como esta, considerarmos que o milagre e a obra de Deus também são a restauração da comunidade e da dignidade? Muitas vezes me pego refletindo que, talvez, a obra de Deus e de sua igreja resida em capacitar todos os que são portadores de sua imagem a participarem plenamente da vida da igreja, independentemente de sua condição.
Lamar Hardwick, um pastor autista, escreve em seu livro Disability and the Church: A Vision for Diversity and Inclusion [Pessoas com deficiência e a igreja: Uma visão em prol da diversidade e da inclusão] sobre a importância de promovermos uma mudança de cultura, juntamente com mudanças práticas e tangíveis, para que todos possam participar da vida da igreja. Assim como eu, Hardwick recebeu seu diagnóstico de autismo na idade adulta.
Melhorias de caráter físico certamente podem ser feitas, por meio de melhorias nas instalações, como rampas, elevadores, banheiros acessíveis e áreas designadas para pessoas com necessidades especiais de mobilidade. As igrejas também podem oferecer acomodações sensoriais e recursos de comunicação, como intérpretes da língua de sinais, dispositivos de auxílio à audição e boletins impressos em letras grandes. Podemos criar programas educacionais acessíveis, fornecer treinamento para líderes [que atuem nessa área] e apoiar cuidadores.
Mas isso não basta, enfatiza Hardwick. A verdadeira inclusão requer uma mudança de cultura — um movimento rumo a um senso radical de pertencimento e acolhimento que valorize as perspectivas das pessoas com deficiência e as defenda.
A inclusão começa com o reconhecimento de que cada pessoa, independentemente de sua condição, é criada à imagem de Deus e tem dons a oferecer à comunidade da igreja. Em vez de ver as pessoas com deficiência como pessoas que precisam de caridade, somos chamados a reconhecer a plena humanidade delas e as maneiras como contribuem para nossa adoração coletiva. Gálatas 3.28 nos lembra que, em Cristo, “não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; pois todos vocês são um em Cristo Jesus” (ESV). Esse “ser um” inclui também pessoas com deficiências de todas os tipos.
Poucos meses depois desse culto natalino, meu filho foi “promovido” na igreja, e passou da creche para a sala do ministério infantil. Não foi uma transição tranquila. Ele deixou claro que ainda não queria ir, e concordamos que talvez ele não estivesse pronto mesmo.
Ficamos sem saber o que fazer durante o culto. Coloríamos e líamos livros na pequena biblioteca da nossa igreja ou caminhávamos pelo prédio. Ele colhia flores no meio do jardim e me oferecia pequenos buquês, enquanto conversávamos. Certo domingo, enquanto caminhávamos em direção à capela, ao ar livre, ele se abaixou para colher um dente-de-leão. Ao me presentear com a flor amarela, perguntou: “Por que Deus fez coisas com cores diferentes?”
Titubeei na resposta, dizendo que as cores servem a muitos propósitos, tanto na natureza quanto no mundo construído pelo homem — desde polinizar as flores até nos dizer quais cobras são venenosas ou saber a hora que devemos parar ou prosseguir em um cruzamento. Lembro-me de olhar para a mãozinha dele estendida, segurando ainda mais flores, e perceber que talvez eu não estivesse lhe respondendo de uma forma que transmitia a ele o afeto do Pai por nós. Peguei as flores na minha mão, coloquei uma delas atrás da orelha e acrescentei: “Mas às vezes é só porque Deus quer mesmo que apreciemos coisas bonitas.”
Há um movimento no mundo do design para criar desde início espaços universalmente acessíveis, e há designers como Susie Wise e Sara Hendren que argumentam que a manifestação tangível dessa mudança de cultura tem a ver com a forma como criamos e organizamos nossos espaços físicos de modo a cultivar o pertencimento no mundo que construimos. Por exemplo, quando colocamos uma lixeira que atrapalha o espaço de entrada das pessoas com deficiência, o que estamos comunicando sobre o quanto valorizamos essas pessoas?
A igreja tem a oportunidade de transformar radicalmente nossas comunidades rumo ao pertencimento — a fim de tornar cada aspecto da maneira como nos envolvemos um aspecto universalmente acessível e singularmente belo, para cada membro do corpo de Cristo, de modo que ninguém seja impedido de participar plenamente da vida da igreja.
A inclusão não é apenas um imperativo moral; é uma prática espiritual para toda a vida. Ao criar intencionalmente espaços em que as pessoas com deficiência sejam acolhidas e celebradas, a igreja pode se tornar um verdadeiro reflexo do reino de Deus, esse reino no qual todos são valorizados e todos têm lugar.
Sunita Theiss é escritora, consultora de comunicação e mãe adepta do homeschooling. Ela vive no estado da Geórgia.