A filosofia é vital, hoje, para os cristãos. Ela nos prepara para amar a Deus com nosso coração e nossa mente. Ela nos ensina a pensar bem e a cultivar o caráter cristão. Ela nos ajuda a entender a história da fé e o desenvolvimento de doutrinas fundamentais, como a Trindade e a encarnação. E isso nos permite engajar a cultura.
Como C. S. Lewis escreveu: "A boa filosofia deve existir, se não por outro motivo, porque é preciso responder à má filosofia". Eu acrescentaria que a boa filosofia também deve existir para nos ajudar a buscar a bondade, a verdade e a beleza, todas baseadas na natureza de nosso grande Deus.
Minha experiência estudando filosofia na Talbot School of Theology continua a me moldar não apenas como professor de filosofia, mas como membro da igreja local, marido, pai, treinador de futebol e amigo. Quaisquer que sejam as virtudes intelectuais e morais que possuo, devo, em grande parte, ao meu treinamento em filosofia.
É por isso que fiquei consternado ao saber que a Liberty University extinguiu seu departamento de filosofia. Que notícia terrível para os cinco excelentes acadêmicos e professores que não estarão mais empregados a partir de 30 de junho; para os alunos que perderão a experiência transformadora de estudar filosofia em uma escola cristã; e para a igreja americana, que precisa de mais evangélicos treinados em filosofia – e não de menos.
Qualquer universidade digna desse nome – especialmente uma cristã – precisa de filósofos para fazer o que fazem na sala de aula e além. Como Francis Beckwith, da Universidade Baylor, disse:
A decisão de Liberty reflete uma tendência no ensino superior. A filosofia e outros campos das ciências humanas não são vistos por alguns como essenciais para a educação universitária. As pessoas pensam erroneamente que os graduados nessas áreas são incapazes de encontrar um emprego remunerado, mesmo que os dados mostrem o contrário, e desconsideram completamente o papel que a filosofia e as humanidades podem desempenhar no crescimento espiritual dos estudantes, a despeito de sua graduação.
Como presidente da Sociedade Filosófica Evangélica, fico desapontado quando os cristãos não enxergam o valor na busca pelo bem, pelo verdadeiro e pelo belo. Mas também vejo um panorama mais amplo do que apenas notícias sobre o fechamento de um departamento. Embora, em alguns casos, as perspectivas dos departamentos de filosofia sejam sombrias, a filosofia evangélica também está florescendo.
Houve um renascimento na filosofia cristã desde os anos 1960, e os filósofos evangélicos têm sido parte significativa desse movimento. Filósofos cristãos como Alvin Plantinga, Eleonore Stump, Robert e Marilyn Adams e William Alston foram fundamentais. Filósofos evangélicos como William Lane Craig, J. P. Moreland, Doug Geivett e Jerry Walls também fizeram parte disso.
Agora, uma nova geração de evangélicos continua esse trabalho, tanto nos Estados Unidos quanto em todo o mundo. A filosofia evangélica está florescendo em lugares como Biola University, Houston Baptist University e Tyndale University, para citar apenas alguns.
Os alunos do seminário podem receber uma educação filosófica de primeira linha no Southeastern Baptist Theological Seminary, no Denver Seminary ou na Talbot School of Theology. A Palm Beach Atlantic University acaba de anunciar um novo mestrado em filosofia da religião, que será inaugurado no outono de 2021.
Filósofos evangélicos também publicam em todas as áreas da filosofia. A Sociedade Filosófica Evangélica realiza inúmeras conferências nos Estados Unidos, todos os anos, com a presença de centenas de estudiosos e apologistas. A revista da sociedade, Philosophia Christi, publica excelentes trabalhos filosóficos de evangélicos, outros cristãos e nossos colegas seculares.
Kent Dunnington, na Biola, e Ross Inman, no Southeastern Seminary, são representantes de muitos evangélicos que publicaram excelentes trabalhos acadêmicos com as principais editoras acadêmicas. "A humildade, o orgulho e a teoria das virtudes cristãs", de Dunnington, e "Substância e a fundamentalidade do familiar", de Inman, são apenas dois exemplos do excelente trabalho que os estudiosos estão fazendo.
E os filósofos evangélicos escrevem para a igreja, o que torna nosso trabalho acessível aos membros. Escrevemos sobre uma ampla variedade de tópicos, explorando as implicações de nossa fé para toda a vida. Engajamos a cultura em prol do reino, ajudamos a equipar as pessoas em nossas igrejas e procuramos moldar o coração e a mente de nossos alunos para uma vida inteira de serviço a Deus em seus lares e naquilo para que foram vocacionados.
Por exemplo, o livro premiado de Paul Gould "Cultural Apologetics" expande nossa visão do que é a apologética, como ela pode ajudar a construir a igreja e as maneiras pelas quais ela pode ser usada para realmente alcançar outras pessoas com o evangelho. Meu próprio livro recém-lançado, "God and Guns in America", une a filosofia, a teologia e estudos bíblicos para participar sobre os debates acerca do uso de armas nos Estados Unidos, de um ponto de vista completamente cristão.
Mas, sem dúvida, o trabalho mais importante realizado por muitos filósofos evangélicos acontece na sala de aula. Esse trabalho assume formas diferentes. Sou professor de uma universidade pública, por isso me esforço para amar meus alunos e ajudá-los a pensar com cuidado e bem sobre as grandes questões da vida. Nas instituições cristãs, os filósofos evangélicos ajudam seus alunos a integrar a fé a toda a vida. Eles treinam futuros médicos, enfermeiros, professores, cineastas, pastores, missionários, profissionais de negócios e professores universitários a ver a vida pessoal e profissional à luz de Cristo. Eles os ensinam a pensar bem e a pensar de maneira cristã.
Isso importa para a vida da igreja. Se você já lamentou a falta de discipulado no evangelicalismo americano, a filosofia pode nos ajudar com isso, porque pode ajudar aqueles que a estudam a desenvolver virtudes intelectuais e morais. Pode ser um exercício proveitoso na formação espiritual cristã uma leitura lenta e cuidadosa de "A República", de Platão; de "Confissões", de Agostinho; de "Obras do amor", de Kierkegaard; ou de "Glittering Vices", da filósofa contemporânea Rebecca Konyndyk DeYoung.
Na melhor das hipóteses, uma educação filosófica cristã nos ajuda a amar a Deus com todo coração, alma, mente e forças. Ela nos equipa a amar o próximo como a nós mesmos, de maneiras que talvez não consigamos fazer sem o treinamento filosófico. Você não precisa de uma aula ou um curso de filosofia para amar a Deus e ao próximo, é claro, mas isso pode ajudá-lo a fazer tudo isso de maneira maravilhosa e única.
A educação prática é importante, mas, dado o ritmo das mudanças em nosso mundo, a prática logo se torna obsoleta. Os alunos com educação filosófica, no entanto, sabem pensar. Por isso, eles são capazes de se adaptar às mudanças na indústria. Eles podem se adaptar às mudanças na cultura que afetam como um ministério se sai bem em determinado contexto.
De fato, a filosofia é intensamente prática. Isso pode parecer ridículo, mas os filósofos exploram questões como o caráter de Deus, a verdadeira natureza da justiça, a aplicação adequada do conhecimento científico, a estrutura dos bons argumentos, a natureza da virtude e sua conexão com o florescimento humano. Tudo isso é obviamente relevante para nossa vida diária.
Em uma cultura em que a humildade é escassa e na qual são raras as pessoas que podem emitir sons e, também, argumentos convincentes, a filosofia cristã evangélica tem muito a oferecer. Não devemos deixar isso de lado. Devemos fazer o que pudermos para incentivar seu impacto na cultura, no crescimento na igreja e na presença contínua em nossas instituições cristãs de ensino superior.
Michael W. Austin é o presidente da Sociedade Filosófica Evangélica. Ele ensina filosofia na Eastern Kentucky University e seu último livro é "God and Guns in America".
Traduzido por Mariana Albuquerque