Como um estudante do sexto ano, sem amigos, no início dos anos 80, eu estava disposto a tentar qualquer coisa para fazer novas amizades — inclusive assistir ao meu primeiro filme de terror. Hoje, aquele filme de baixo orçamento sobre uma múmia que ressuscita e atormenta estudantes universitários não me parece tão assustador assim; mas, naquela época, ele me deixou de cabelo em pé e me fez sair duas vezes da sala de cinema. Alguns anos depois, a adaptação de Silver Bullet, de Stephen King, povoada de lobisomens, me deixou tão perturbado que, por muito tempo depois, eu tive de me preparar muito bem psicologicamente, cada vez que me aventurava por bosques sombrios do nosso bairro.
Eu deveria ter desviado meus olhos completamente [da tela]? Ou o terror que senti — tirando a parte da ameaça real e imediata — me preparou para traumas do mundo real? Podem os crentes — que não receberam um espírito de medo, mas de “poder, de amor e de equilíbrio” (2Timóteo 1.7) — justificar esse brincar com o medo, mesmo que seja em espaços imaginários?
O poeta Samuel Coleridge lançou um desafio, nas guerras culturais do início do século 19, quando declarou que ler sobre “gigantes, mágicos e gênios” quando criança concedeu à sua mente “um amor pelo Grandioso e pelo Absoluto”. C. S. Lewis ecoou esses sentimentos um século depois. Ele sustentava que o medo gerado por certos tipos de ficção, como histórias de aventura e fantasia, poderia enobrecer leitores de todas as idades, ensinando-nos que “esplendorosos consoladores e protetores imemoriais” existem para combater o mal. Em vez de lançar histórias assustadoras e sobrenaturais num poço sem fundo, ambos os escritores afirmaram que tais contos preparam a mente para abraçar verdades profundas.
Ameaças fictícias — zumbis, vampiros e extraterrestres hostis — são uma coisa. Thrillers sobre terrores reais — sequestros, torturas, assassinatos em série — nos atingem de forma mais profunda, já que têm sua força dramática subtraída de crimes do mundo real.
Contos que dramatizam uma guerra espiritual, no entanto, são algo de outra espécie completamente diferente. Para o crente, eles podem parecer demasiadamente assustadores — não nos preparando para combater o mal, mas nos sobrecarregando com esse poder maligno.
Os filmes de exorcismo estão passando por um renascimento. Vários títulos recentes — O Exorcismo do Papa (2023), O Exorcista: O Devoto (2023), O Exorcismo (2024), A libertação (2024) — coincidem com o 50º aniversário do filme O Exorcista (1973), que salpicou as telas de cinema com linguagem e imagens das mais repugnantes que se possam imaginar. O que essas propostas cinematográficas buscam não é despir sutilmente aquele sombrio especialista em se disfarçar de anjo (2Coríntios 11.14), mas sim ostentar as depredações do leão gatuno que ronda, procurando a quem devorar (1Pedro 5.8).
O garoto que um dia fugiu para o saguão do cinema hoje atrai outros para assistir aos filmes, como vocação: sou professor de literatura e cinema. E embora eu não dê aulas focadas em terror, incorporo ocasionalmente uma história sobre exorcismo no meu curso introdutório de cinema. Filmes como O Exorcismo de Emily Rose, de Scott Derrickson (um dos meus favoritos), levam nossa luta com “este mundo sombrio” tão a sério quanto os primeiros cristãos o faziam (Efésios 6.12).
Revisitar esse tipo de coisa, principalmente no final de outubro [época em que o Halloween é celebrado nos EUA], nos lembra que as “forças espirituais do mal” identificadas por Paulo devem ser tratadas com mais seriedade do que sugerem as exibições irreverentes de sangue e coisas macabras do Halloween.
Embora estejam longe de serem tratados teológicos, cada um desses filmes de exorcismo levanta questões sobre a natureza da possessão demoníaca — sobre o bem e o mal, o livre-arbítrio e o destino. Se a submissão a Deus garante que Satanás fugirá, quando resistido (Tiago 4.7), e que os crentes podem resistir a qualquer tentação que enfrentem (1Coríntios 10.13), então, os demônios só conseguem entrar quando convidados — como os vampiros nos filmes de criaturas vetustas? Uma vez que eles conquistam um ponto de entrada, sua remoção requer intervenção externa? Qual papel o hospedeiro desempenha na própria emancipação deles?
Hollywood nos faria pensar que as respostas são tão numerosas quanto os diretores que abordam o assunto. O Exorcismo do Papa configura a possessão como uma ratoeira, que dispara, quando um inocente vulnerável e já traumatizado entra em seu domínio. O Exorcista: O Devoto coloca um pouco da culpa nos adolescentes possuídos, por tentarem contatar um pai falecido com vela e pêndulo na mão, mas, igualmente evita censurá-los pela devastação que eles causam, uma vez possuídos. Em vez de começar in medias res [começar já no meio da ação], com cada possessão já em andamento, ambas as histórias destacam o antes ligado à infância de suas vítimas, para dar maior relevo ao seu monstruoso depois.
A própria Escritura não fornece um caminho único para a possessão. Os leitores são convidados a imaginar como os sete demônios expulsos de Maria Madalena (Lucas 8.2) entraram nela, para começo de conversa, e se algum pecado em particular, cometido pelo homem de força descomunal que morava nos sepulcros, na região dos gerasenos, permitiu que a legião entrasse em sua mente (Marcos 5.1-20).
Há, no entanto, uma clara fuga da influência demoníaca, sempre envolvendo a pessoa ou o nome de Cristo. Quer o próprio Jesus expulse o demônio ou seus discípulos o façam em seu nome, a mensagem é a mesma.
Felizmente, filmes envolvendo exorcismos com frequência não só reconhecem a realidade do mal sobrenatural, mas também apontam para aquele que é capaz de derrotá-lo. A questão é: “Quem tem acesso ao seu poder?”
O socorro tradicionalmente chega na batina de um padre armado com as Escrituras, água benta e um suprimento invejável de fé. No filme original de 1973, fé e experiência não funcionam para impedir a morte prematura do padre Merrin; ele só salva a jovem Regan cometendo suicídio, depois que atrai o demônio para si. O Exorcista do Papa concede a Cristo um pouco mais de poder, com sua dupla sacerdotal eficazmente empunhando a Palavra de Deus (Efésios 6.17), depois de confessar um ao outro aqueles pecados que Satanás usaria contra eles. Mais uma vez, um padre salva um inocente por meio da absorção demoníaca — mas, desta vez, a invocação do nome de Jesus por seu parceiro impede qualquer fatalidade.
O Exorcista: O Devoto lança fora os precedentes. Uma trilha sonora em crescendo marca a entrada dramática do Padre Maddox, fingindo libertação. Mas seus esforços são interrompidos abruptamente, quando seu pescoço é quebrado telecineticamente. O esforço do roteiro para uma inclusão (com a ajuda de Scott Teems, coescritor e convidado do podcast da CT) exige que a salvação chegue com a ajuda de vizinhos variados, quatro pais com ideologias contrárias, uma enfermeira, pastores de diferentes tradições e um palestrante motivacional que vagamente invoca “o nome de todos os seres sagrados” e iguala “fé uns nos outros” com fé em Deus.
A libertação, de Lee Daniels, tem características em comum com seus antecessores, entre elas, uma casa mal-assombrada e algumas mortes para sinalizar o poder do demônio. Mas ele tem uma reviravolta contundente no sentido da ideia inesperada de que a fé de uma leiga é suficiente para repelir o Maligno. O pastor que tenta a “libertação” da jovem Dre descarta a necessidade de um intercessor profissional, proclamando que é preciso apenas agir com a autoridade de Cristo para expulsar um demônio. Quando falha em sua própria tentativa, ela explica em seu último suspiro que vacilou por causa do medo.
Cabe à pessoa que a ouviu, uma mãe solteira que há muito tempo rejeita a religião como uma “solução” tão viciante quanto o álcool que ela consome regularmente, provar o ditado de que “o perfeito amor expulsa o medo” (1João 4.18) e expulsar os demônios de seus próprios filhos. Carregar fardos como agressão sexual, abuso emocional, divórcio e dificuldades financeiras há muito tempo prejudica a capacidade de Ebony Jackson de criar seus três filhos. Estressada, irritada e habitualmente bêbada, ela reage às dificuldades dos filhos com agressão ou fala arrastada. É a última heroína que alguém esperaria ver em um filme de exorcismo.
Ela também poderia ser a heroína perfeita? Quando o comportamento inexplicável de seus filhos possuídos a faz cair de joelhos, pela primeira vez na vida, a oração que se segue é arrancada das profundezas de sua alma, assim como o grito torturado, “Jesus”, que mais tarde irrompe de uma moldura retorcida pelo ataque do demônio.
E basta.
As Escrituras oferecem uma série de alternativas diretas ao medo e a sua prima rebelde, a ansiedade, entre elas a confiança (Salmos 27.3), a coragem (Josué 1.9), a paz (João 14.27) e o deleite (Salmos 94.19). Juntos, esses fios formam um belo quadro que emerge do cristão que é preparado e firme na fé. As virtudes do cristão são semelhantes a um vitral, transformando a luz ofuscante do Espírito em cores que podemos suportar.
Mas em cada rosácea do vitral, linhas de chumbo ajudam a delinear o design. Cores sombrias contrastantes fazem as cores adjacentes se destacarem. Da mesma forma, dramatizações fantásticas e perturbadoras do pecado e do sofrimento acentuam as virtudes exaltadas por Paulo, em Filipenses 4.8: “tudo o que é verdadeiro” ganha maior relevo quando contrastado com o engano sedutor do Adversário.
A vitória não requer um especialista em demonologia ou um padre, nem água benta ou encantamentos mágicos. No que têm de melhor, os filmes de exorcismo nos lembram do encher-se do poder do Espírito que está disponível a todo crente. Com Cristo diante de nós, podemos nós mesmos nos tornar “consoladores e protetores imemoriais”. Não precisamos sair da sala de cinema.
Paul Marchbanks é professor de inglês na Cal Poly State University. Seu canal no YouTube é “Digging in the Dirt” [Cavando na terra].