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O Quarto Congresso de Lausanne acolhe líderes mais jovens, cristãos do ‘mercado’ e tecnologia

Mais de 5.000 evangélicos de mais de 200 países se reúnem na Coreia do Sul para celebrar e elaborar estratégias para o evangelismo.

Em 24 de setembro de 2024, participantes dos painéis falam sobre a influência que o Movimento de Lausanne teve em seus ministérios.

Christianity Today September 25, 2024
GOY

Esta matéria será atualizada.

Steve Oh pode traçar a herança cristã de sua família até a chegada de missionários protestantes à Coreia, nos anos 1800.

“Minha família foi abençoada pelo movimento missionário global”, disse Oh, um pastor coreano-australiano que lidera a Sydney Living Hope Community Church.

Esta semana, Oh é um dos 5.200 cristãos de mais de 200 países que estão em Incheon, Coreia do Sul, para o Quarto Congresso de Lausanne. O encontro acontece como um “momento em que se completa um círculo”, pois comemora os frutos, tanto pessoais quanto coletivos, do evangelismo global nos últimos 50 anos.

Cinquenta anos depois que Billy Graham e John Stott fizeram história, reunindo 2.700 evangélicos de 150 países, os líderes do movimento acreditam que essa colaboração pode ir ainda mais longe.

“As quatro palavras mais perigosas para a igreja global de hoje são: ‘Eu não preciso de você’”, disse o diretor-executivo global e CEO do Movimento de Lausanne, Michael Oh (que não tem parentesco com Steve Oh). Colega da diáspora coreana, Oh usava um hanbok [tradicional traje coreano] durante sua fala de abertura, no domingo.

Nesses 15 anos desde que Lausanne convocou seu último congresso, na Cidade do Cabo, África do Sul, o movimento buscou ampliar o perfil de quem ele inclui como parceiros essenciais na Grande Comissão. Foram organizados eventos para líderes com menos de 40 anos, na cidade de Jacarta, em 2016, e para cristãos do “mercado”, ou seja, aqueles que não trabalham no ministério profissional, na cidade de Manila, em 2019.

Desde seu evento inaugural, em 1974, Lausanne aprofundou a cooperação entre evangélicos ao redor do mundo, segundo disseram os líderes que a CT entrevistou no local, durante Lausanne 4. Como o movimento presta atenção ao desenvolvimento de líderes mais jovens e à expansão de suas redes, foram lançados um enorme Relatório de Status da Grande Comissão e a Declaração de Seul, dois documentos que reafirmam o compromisso do movimento em servir como líder na reflexão sobre evangelismo e teologia.

Na preparação para o evento, Lausanne começou a desafiar igrejas locais a adotarem uma postura de cooperação.

Muitas congregações coreanas têm historicamente lutado para corresponder nesse sentido; em 2014, a Aliança Evangélica Mundial cancelou sua assembleia geral, programada para acontecer na capital sul-coreana, por causa de divisões entre os evangélicos do país.

No início do processo de planejamento para o Congresso de Lausanne deste ano, a Igreja Onnuri, uma das maiores congregações presbiterianas da Coreia, reuniu mais de 430 igrejas para orar. Cerca de 200 congregações começaram a pregar coletivamente sobre o livro de Atos. Muitas levantaram fundos para cobrir os custos da conferência. Cerca de 4.000 cristãos locais estão orando pelo evento.

A igreja coreana fez uma contribuição financeira significativa para custos como o centro de convenções, refeições, transporte e outros custos de produção.

Forjar esse elo de confiança entre líderes cristãos coreanos não tem sido fácil, de acordo com Yoo Kisung, um organizador local que lidera a Igreja Bom Pastor, em Seul. Mas ele reconhece essa preparação como uma oportunidade para fazer uma reflexão e para inspirar a próxima geração: “Os jovens que trabalharam com Lausanne são os futuros líderes da igreja coreana.”

Líderes de Lausanne que viajaram para o evento, como Menchit Wong, que é membro do conselho e veio das Filipinas, também enfatizaram o impacto geracional.

“Agora que já sou bem mais sênior, minha tarefa é ver líderes cada vez mais jovens assumirem seu lugar em levar filhos a Jesus”, disse ela.

O Congresso de Seul apresenta uma porcentagem histórica e recorde de delegadas mulheres (29%) e de delegados com menos de 40 anos (16%). Mais de 1.450 participantes trabalham em áreas que não são ligadas ao ministério de tempo integral. Na terça-feira, foi realizado um jantar para líderes mais jovens que lotaram um enorme salão de baile do centro de convenções e, no final desta semana, Lausanne terá uma cerimônia de comissionamento específica para os participantes que são cristãos “do mercado” (28%).

Passar a semana com essa audiência tão diversa e heterogênea lembra ao ganês Casely B. Essamuah, secretário do Fórum Cristão Global que atualmente mora nos EUA, que “a igreja é mais grandiosa, maior e mais abrangente do que qualquer uma de nossas denominações ou do que qualquer um de nossos redutos”.

“Quem vem aqui não tem como deixar de sair inspirado por ver o que Deus está fazendo ao redor do mundo”, ele disse. “Também ficamos com o coração partido pela perseguição que outros estão sofrendo, e isso informa a nossa vida de oração. Vemos pessoas e somos capazes de nos conectar com elas, pelo bem maior da igreja global”.

Ouvir, em primeira mão, cristãos do mundo inteiro contando histórias sobre a perseguição e sobre a graça de Deus é uma experiência sem igual, diz Christian Maureira, diretor e professor do Seminário Martin Bucer no Chile. “Ouvir o que Deus está fazendo em lugares como Paquistão, Malásia, Europa ou o mundo muçulmano […] é muito impactante.”

Para Claudia Charlot, reitora da área de business da Université Emmaüs, em Cap-Haïtien, no Haiti, a conferência possibilitou que ela se conectasse com missionários asiáticos da One Mission Society, a organização que fundou a escola em que ela trabalha.

“Eu jamais teria conhecido essas pessoas se não fosse neste evento de Lausanne”, ela disse.

Todos os congressos de Lausanne anteriores lançaram um documento evangélico histórico: o Pacto de Lausanne (1974), o Manifesto de Manila (1989) e o Compromisso da Cidade do Cabo (2010). Mantendo a tradição, Lausanne anunciou, no domingo, que havia lançado a Declaração de Seul, um tratado com sete partes que afirma publicamente posições teológicas sobre o evangelho, a Bíblia, a igreja, a “pessoa humana”, o discipulado, a “família das nações” e a tecnologia.

A Declaração de Seul “foi elaborada para preencher algumas lacunas, para ser um complemento em sete tópicos-chave sobre os quais não pensamos o suficiente, ou não refletimos ou não escrevemos o bastante dentro do Movimento de Lausanne”, disse David Bennett, diretor-associado global de Lausanne.

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“Não estávamos tentando criar um quarto documento que substituiria ou tornaria obsoletos aqueles três documentos anteriores”, ele acrescentou.

A declaração — um texto com 97 pontos e 13.000 palavras — foi apresentada no domingo. Sua divulgação surpreendeu alguns delegados, cuja expectativa era de que teriam chance de oferecer suas contribuições, já que nos congressos anteriores as declarações haviam sido elaboradas coletivamente, ao longo da semana.

“Baseada em uma história rica e diversa, esta declaração do @LausanneMovement tem muita coisa boa, e sou grato por sua clareza teológica para este momento”, escreveu no Instagram Ed Stetzer, diretor regional de Lausanne para a América do Norte. “No entanto, gostaria que tivesse um chamado maior para priorizar o evangelismo.”

Ao menos um grupo, o Korean Evangelicals Embracing Integral Mission (KEEIM, Evangélicos coreanos que abraçam a missão integral ), organizou uma reunião, na terça-feira, para que os delegados compilassem suas preocupações.

Partes da Declaração de Seul sobre o tópico da homossexualidade foram alteradas após sua divulgação, segundo observou uma matéria do Christian Daily International.

Líderes cristãos coreanos manifestaram objeções às versões originais, particularmente pelo modo como elas podem ter colocado que “muitas igrejas locais e comunidades cristãs agiram errado, embora a maioria das igrejas locais e das comunidades cristãs não tenham agido assim”.

No parágrafo 69, em vez de descrever como os cristãos que são atraídos por pessoas do mesmo sexo enfrentam desafios “em muitas igrejas locais, devido à ignorância e ao preconceito”, o texto do documento agora afirma que isso ocorre “mesmo em comunidades cristãs”. Em vez de dizer que a igreja se arrepende de suas “falhas”, o texto agora diz que ela se arrepende de “nossa falta de amor”.

A palavra “fieis”, que fora usada para descrever crentes que sentem atração por pessoas do mesmo sexo, também foi cortada no parágrafo subsequente. O plano era que essas edições tivessem sido feitas antes da publicação da Declaração de Seul, disse o porta-voz de Lausanne, na terça-feira.

Ivor Poobalan, diretor do Seminário Teológico de Colombo, no Sri Lanka, e Victor Nakah, diretor internacional da Mission to the World para a África Subsaariana, lideraram conjuntamente o grupo de trabalho de teologia de Lausanne, que passou cerca de 18 meses trabalhando nessa declaração.

Segundo Bennett, as pessoas que redigiram o documento estavam se perguntando:

• O que precisa ser feito?

• Existem áreas do pleno desejo de Deus para as nações, de seu desejo para a igreja, áreas em que não ouvimos com atenção suficiente, ou nas quais nosso mundo em transformação está levantando novas questões, que não foram respondidas por completo e a contento em nossos três documentos fundacionais anteriores?

Este documento veio na esteira do relatório do Status da Grande Comissão, lançado há algumas semanas. O relatório de 500 páginas explorou o status atual da evangelização mundial por meio de dados e pesquisas, e sugeriu ideias e oportunidades para líderes continuarem ministrando com eficácia em várias regiões.

“Existem centenas de milhares de congregações de igrejas com centenas de milhões de seguidores de Jesus Cristo”, escreveram na introdução Poobalan e Nakah, que também trabalharam neste relatório. “Mas, para executar com sucesso a Grande Comissão, precisamos de uma igreja que esteja à altura, que combine corações e mentes voltados para a Grande Comissão.”

Esse compromisso com o trabalho teológico profundo atrai Tom Lin, presidente do braço da InterVarsity Christian Fellowship sediado nos EUA.

“Pode ser apenas um conceito, que sai de um encontro de Lausanne e vai se espalhando, ao longo de muitos anos, para muitos lugares ao redor do mundo”, ele disse.

Kim Jongho, da KEEIM, tomou conhecimento dos documentos de Lausanne quando ainda era um calouro na faculdade. “O compromisso deles com a missão integral me inspirou a ser um cristão responsável na sociedade”, disse ele. “Eles foram um sinal de esperança para mim.”

Embora Lausanne tenha demonstrado essa extensa influência no mundo evangélico, durante 50 anos, um movimento como esse tem que ter cuidado para não viver apenas de sua história, de seu passado, diz Ruslan Maliuta, estrategista de rede da OneHope, na Ucrânia.

“Nos anos 70, reunir [milhares de] pessoas de todo o mundo, foi, por si só, uma façanha incrível e imensa”, disse ele. “Ainda é uma façanha, mas uma rede de megaigrejas pode fazer o mesmo. Embora ainda seja um grande esforço, não é algo que se destaque.”

Em vez disso, neste mundo em transformação, as organizações com esse nível de capacidade para reunir pessoas devem refletir sobre o tipo de reuniões que organizam.

 “Todo grupo global de expressão, incluindo Lausanne, precisa ser muito intencional no que diz respeito a se reinventar neste tempo e nesta era”, disse Maliuta.

Para esse fim, Lausanne criou um Digital Discovery Center [Centro de Descoberta Digital], uma série de exibições interativas para ajudar os participantes a aprenderem mais sobre onde o evangelismo e a tecnologia estão colidindo. As sessões vespertinas tratam de tópicos como inteligência artificial e transumanismo.

Durante seu discurso de terça-feira à noite, que comemorou o 50º aniversário de Lausanne, Michael Oh lembrou aos delegados que o movimento estava “apaixonadamente comprometido com três Ds: fazer discípulos no mundo, amadurecer discípulos da igreja e com o digital”.

“Estamos em um momento decisivo para o corpo de Cristo”, disse Paul Okumu, do Kenya Center for Biblical Transformation. “Por um lado, há muito entusiasmo e muita comemoração pelo que Deus está fazendo. Mas, por outro lado, há uma preocupação excepcional por causa da perseguição e da intolerância religiosa que estão surgindo”.

 “Estou aqui para me solidarizar com a igreja evangélica global — abraçando tanto sua beleza e resiliência, quanto suas imperfeições e seu lado caótico”, disse Lisman Komaladi, que serve em Cingapura como secretário regional da IFES para a Ásia Oriental. “Acredito que, todos juntos, possamos nos tornar uma testemunha mais fiel de Cristo para o mundo, onde quer que estejamos.”

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