Theology

O verdadeiro avivamento não pode ser controlado

O avivamento é provocado pelo mover do Espírito, e não por um aumento dos números.

A dove symbolizing the Holy Spirit.
Christianity Today December 1, 2025
Illustration by Christianity Today / Source Images: WikiMedia Commons

Este texto foi adaptado da newsletter de Russell Moore. Inscreva-se aqui

“Vi num noticiário que as vendas de Bíblias aumentaram”, disse-me uma mulher esta semana. “Isso significa que estamos vivendo um avivamento?”

Notícias como essa são consistentes com algo que Bob Smietana, do Religion News Service, citou, e que ele extraiu de um estudo do Pew Research Center: um número crescente de norte-americanos — quase um terço — acredita, nos dias de hoje, que a influência da religião está aumentando nos Estados Unidos.

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Na semana passada, meu amigo David French observou em sua coluna no New York Times que sente uma mudança na temperatura espiritual, mas argumentou que isso que estamos sentindo talvez não seja um avivamento. French vê algo mais parecido com uma revolução — um movimento que combina a linguagem da fé com aquilo que o cientista político William Galston chama de as “paixões sombrias” da raiva, do ressentimento e da vingança.

Ao mesmo tempo, nos últimos anos, temos visto sinais de algo que muito poucos hesitariam em chamar de avivamento — como o episódio na Universidade Asbury, por exemplo. Independentemente do que se pense da palavra evangélico hoje em dia, uma característica de praticamente tudo o que se enquadra nessa designação é a esperança de um avivamento e uma abertura para isso.

Parece que este é um tempo tanto de exortação quanto de esperança. Certo tipo de avivamento é sinal do favor de Deus; o outro tipo é sinal da ausência de Deus — e devemos prestar atenção a ambos.

Há cerca de 20 anos, o comentarista judeu David Frum, que hoje trabalha no The Atlantic, ofereceu uma perspectiva de alguém de fora sobre por que os cristãos evangélicos pareciam querer se apresentar, com tanta frequência, como uma “maioria” na vida dos norte-americanos — uma maioria silenciosa ou moral ou “verdadeiramente norte-americana”.

“Os cristãos conservadores costumam reagir com hostilidade às más notícias, mesmo quando as ouvem de seus próprios amigos”, escreveu Frum. “Como bons populistas, eles confundem a constatação de que estão perdendo com a opinião de que deveriam perder. E geralmente reagem às más notícias citando pesquisas de opinião que indicam um apoio público substancial às suas posições.”

Eu me encolhi ao reler essas palavras, depois de tantos anos. Embora eu não me considere um populista, consigo perceber como, pelo menos psicologicamente, eu de fato encarnava essa mentalidade descrita por Frum. Essa era, por exemplo, uma das maneiras pelas quais eu defendia a superioridade do protestantismo evangelical em relação às denominações tradicionais — ou como eu embasava o argumento de que meu lado, o dos batistas mais conservadores, era superior ao dos batistas de esquerda. Afinal, as nossas igrejas estavam crescendo, enquanto as deles não.

Em certa medida, meu argumento era e ainda é válido. Afinal, eu estava reagindo a algumas das forças liberalizantes mais extremas, que defendiam que as pessoas de hoje não conseguem aceitar coisas como nascimentos virginais ou segundas vindas, de modo que o cristianismo precisa “mudar ou morrer”, descartando o sobrenatural. Mas se esse argumento apresentado por eles funcionasse em seus próprios termos, então deveríamos ver megaigrejas unitaristas universalistas ou movimentos globais de plantação de igrejas com bandeiras do arco-íris. E não vemos.

Se alguém me dissesse: “Quero largar meu emprego e começar a fazer origami, porque quero ser um milionário”, eu poderia muito bem responder: “Você já viu algum milionário que ficou rico fazendo origami?”. Isso seria abordar o argumento em seus próprios termos. Mas eu perderia a oportunidade de apontar um problema mais importante: “Você nem consegue fazer uma dobradura que se pareça um cisne [quem dirá virar milionário com origamis]”.

Muitos de nós fomos muito além do ponto de analisar o argumento do avivamento em seus próprios termos [por aquilo que ele realmente é] — e, muitas vezes, assumimos implicitamente que a grandeza é um argumento que comprova a bênção de Deus e que o fato de alguém “ser um justo” pode ser visto pelo seu sucesso em si. Esse argumento, porém, nos leva a uma visão herética de Deus.

Se o crescimento do evangelicalismo conservador, no final do século 20, implicasse que nós fôramos aprovados por Deus, então, isso significa que Deus havia aprovado o protestantismo liberal quando, na primeira metade do século, este estava crescendo? Será que, naquela época, Deus tomou partido da enorme e liberal Igreja Riverside, na cidade de Nova York, e rejeitou alguma outra igreja pequena e problemática que ficava na mesma rua?

Será que Deus era um episcopal que se tornou um batista do sul, depois se tornou não denominacional e agora se batizou com o Espírito Santo e se tornou pentecostal? É a esse absurdo que nos levará a métrica que julga a fidelidade pelo “sucesso”.

Vinte e cinco anos atrás, o historiador Martin Marty percebeu essa mudança sutil em nós, algo que ele descreveu como uma transição de “declarações de verdade baseadas na impopularidade para declarações de verdade baseadas no sucesso popular”.

Marty disse que, ao longo da história, a mentalidade típica dos evangélicos conservadores incluiu uma insistência em um padrão objetivo de verdade — que se colocava acima e fora da história. Isso geralmente resulta em algo que é visto como estranho, fraco e tolo, quando julgado pelos padrões do mundo exterior. Marty destacou que Jesus usa a metáfora de um “pequeno rebanho” ao falar de seu povo, prometendo o reino a pessoas desse tipo (Lucas 12.32).

A implicação nas palavras de Jesus é que aqueles que o seguem serão tentados a temer, pois, com base em evidências de sucesso quantificável, sentirão que correm perigo. Esse rebanho será pequeno quando julgado pelos padrões das categorias humanas, mas receberá um reino que lhe é dado em Cristo — e, portanto, um reino que não será visível até que ele venha (17.20-24).

Quando o sucesso é medido pela opinião pública, as apostas são altas. Quando o sinal do favor de Deus é medido pela resposta popular, inevitavelmente começamos a ver o mercado — seja qual for a definição que dermos a esse mercado — como a revelação de Deus. E quando o mercado muda o que deseja, os empresários devem mudar com ele. Em algumas épocas, isso pode significar “liberação” sexual; em outras, a humilhação dos oponentes.

Jesus descreve a besta do Apocalipse a João como um ser de popularidade e sucesso quase universais: “Quem é como a besta? Quem pode guerrear contra ela?” (Apocalipse 13.4). Nesse caso, o que parece ser avivamento é, na verdade, colapso, enquanto o que parece ser colapso — os crentes sendo derrotados (v. 7) — é, na verdade, avivamento.

O avivamento conforme Jesus revela implica uma mudança de afeição (2.4-5). Às vezes, isso se manifesta em um crescimento explosivo (como no dia de Pentecostes) e, outras vezes, como um pequeno remanescente que preserva a verdade. Em ambos os casos, a igreja — e os cristãos individualmente — devem saber tanto como serem humilhados quanto como prosperar (Filipenses 4.11-12).

Sim, devemos orar por avivamento. E isso começa por conhecer o que avivamento realmente é. O avivamento não é um mercado nem um produto. Não pode ser controlado; ele só pode ser recebido. O avivamento é o vento do Espírito — um vento que muitas vezes destrói uma Babel antes de chamar um Abrão a deixar Ur.

O avivamento não começa com um projeto nem com um plano de marketing [que Deus nos livre disso], mas sim com um estado de impotência e de dependência. Quando Deus mostrou a Ezequiel um vale cheio de ossos secos e disse: “Filho do homem, estes ossos poderão tornar a viver?”, o profeta respondeu: “Ó Soberano Senhor, só tu o sabes” (Ezequiel 37.3-4). Essa foi a resposta certa. E deveria ser a nossa resposta também.

Deus pode enviar avivamento. Mas isso significará, como em geral acontece, que o tipo de religião que a época atual quer — o tipo que pode ser transmitido ao vivo e monetizado — primeiro terá que cair. O verdadeiro avivamento é perturbador e disruptivo, e é por isso que muitos de nós, se isso ficasse por nossa conta, iríamos preferir os falsos avivamentos.

Avivamento? Não conseguimos lidar com o avivamento. Esse é o ponto. O avivamento — o que é do tipo verdadeiro, do tipo que não pode ser controlado — nos controla. E a primeira coisa que ele destrói é a régua pela qual medimos o nosso sucesso.

Russell Moore é colunista da Christianity Today e lidera o seu projeto de Teologia Pública.

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