Em uma noite quente de verão, na cidade de Cirênia, no Chipre, o porto fervilhava com conversas animadas sob a luz fraca do entardecer. Famílias, turistas e moradores locais — que não falavam inglês, em sua maioria — reuniam-se perto do mar, procurando escapar do calor escaldante do dia. Os sons dos gritos de crianças brincando de pega-pega e da melodia suave de um violonista ao longe cercavam o porto. Assim que me acomodei à sombra de uma árvore, meu coração se voltou para uma missão: eu estava naquele lugar para falar às pessoas sobre o evangelho. Orei em silêncio, pedindo a Deus que alguém que falasse inglês cruzasse meu caminho.
Poucos minutos depois da minha chegada, um homem se aproximou de mim segurando um panfleto. Ele se apresentou como Caleb, um estudante nigeriano que havia se mudado recentemente para a cidade. “Gostaria de convidá-lo para um culto que será transmitido ao vivo”, disse ele, entregando-me o panfleto. “Você não pode perder.”
No panfleto, o texto em negrito prometia cura, sucesso financeiro e favor divino. Era a clássica mensagem do evangelho da prosperidade: Venha para Jesus e obtenha tudo o que deseja.
“Um amigo me disse certa vez que nós, nigerianos, viajamos pelo mundo com duas coisas: nossa comida e nossa igreja [religião]”, comentei.
“É verdade. Deus é importante para nós”, respondeu ele com um sorriso. Então me explicou que sua fé havia sido moldada por vários milagres. Deus havia respondido às suas inúmeras orações nesses cultos regulares transmitidos ao vivo. Agora, ele estava ansioso para compartilhar sobre aquele evento com outras pessoas. Tudo o que você precisa é de um dispositivo móvel, uma conexão com a internet e fé, disse ele.
A Nigéria é o país mais populoso da África e também um dos mais religiosos do mundo. Um estudo de 2018 do Pew Research Center revelou que 89% dos adultos cristãos na Nigéria frequentam cultos semanais, a maior taxa registrada globalmente. No entanto, a igreja na Nigéria é fortemente influenciada pelo evangelho da prosperidade.
O pentecostalismo na Nigéria com frequência enfatiza milagres, curas e prosperidade material. O movimento atrai milhares de pessoas para as megaigrejas e se orgulha de ter pastores influentes: David Oyedepo, da Living Faith Church [Igreja da Fé Viva, também conhecida como Capela dos Vencedores]; Enoch Adeboye, da Redeemed Christian Church of God [Igreja Cristã Redimida de Deus]; e Chris Oyakhilome, da Christ Embassy [Embaixada de Cristo]. Os sermões desses pastores, transmitidos para o mundo todo, repercutem entre aqueles que enfrentam dificuldades econômicas na Nigéria, onde cinquenta e seis por cento da população vive abaixo da linha da pobreza, de acordo com um relatório de 2024 do Banco Mundial.
Em 2011, um amigo me convidou para um culto de três dias promovido pelo Corpo Cristão Conjunto da nossa universidade. O evento tomou um rumo surpreendente, quando o pregador convidado nos incentivou a semear uma oferta substancial para garantir as bênçãos de Deus. Ele alegou que doar 50.000 nairas (valor em moeda nigeriana, o equivalente a US$ 320 naquela época) desbloquearia recompensas abundantes para nós. Para estudantes como eu, essa quantia — que representava milhares de nairas acima da minha renda mensal — era um valor praticamente impossível de conseguir.
À medida que o sermão prosseguia, o pastor foi gradativamente reduzindo o valor pedido, passando de 50.000 nairas para 30.000, depois 10.000 e, então, para 5.000. Apesar das reduções, eu ainda não conseguia contribuir. E me senti excluído dessas bênçãos prometidas. Isso foi o mais perto que já cheguei do evangelho da prosperidade. E o detestei.
Essa lembrança me veio à mente, enquanto eu conversava com Caleb. Curioso sobre a perspectiva dele, perguntei: “E se eu não receber o que quero nesse culto?”. Sem hesitar, ele respondeu: “A culpa será sua”. Fiquei perplexo.
Para ele, a fé era uma força que atraía riqueza material, saúde e felicidade para o cristão. Quanto mais forte for a fé de alguém, mais bênçãos essa pessoa atrairá. Quanto mais fraca for a fé de alguém, menos bênçãos essa pessoa atrairá. Toda pessoa tem poder para fazer confissões positivas [declarar coisas positivas para a sua vida] e, consequentemente, afastar o sofrimento. Mas isso só acontecerá se a pessoa crer, disse ele.
Oyakhilome ensinava seus membros a fazerem declarações como esta: “A dívida não tem domínio sobre mim! Eu ajo com liberdade financeira, e não devo nada a ninguém, exceto amor. Tenho mais do que o suficiente para financiar meus sonhos, sustentar minha família e ser uma bênção para os outros”. Caleb argumentou que crer nisso com convicção nos leva à vitória.
O evangelho da prosperidade explora meias-verdades: sim, Deus nos abençoa. Mas a Bíblia nunca nos diz que a intensidade da nossa fé suprirá todas as nossas necessidades como num passe de mágica.
A fé bíblica é uma profunda confiança em Deus. Confiamos nele por causa de seu caráter e de suas promessas, não importa o que aconteça — confiamos nele nos momentos bons e nos momentos ruins, na riqueza e na pobreza. Sabemos que Deus é fiel e faz com que todas as coisas cooperem para o nosso bem (Romanos 8.28). Mas o evangelho da prosperidade cria um relacionamento transacional com Deus. Como se fosse uma máquina caça-níqueis, da qual você espera conseguir aquilo que deseja. O evangelho da prosperidade cria um Deus que serve aos nossos propósitos, em vez de reconhecer o Deus verdadeiro, que nos criou para si mesmo. A fé genuína é voltada para Deus, e não para o próprio indivíduo.
Com base em Mateus 6.33 (“Busquem, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês”), Calebe argumentou ainda que Jesus prometeu nos dar tudo o que pedirmos. Por isso, disse ele, o evangelho promete riquezas materiais. No entanto, não é isso que o contexto ensina. Sim, Jesus promete que Deus proverá “todas essas coisas” — alimento, abrigo, vestimenta (v. 25). Ele nos chama a confiar que Deus provê para nós, assim como provê para os pássaros e veste as flores (v. 26-30). Correr atrás dessas necessidades gera uma ansiedade ímpia, como a dos gentios que não conhecem a Deus (v. 32). Jesus busca nos proteger das preocupações do mundo. Ele nos encoraja a buscar a Deus e a confiar em nosso Pai, todos os dias.
A Bíblia alerta contra várias formas de idolatria, entre elas o amor ao dinheiro (1Timóteo 6.10). Ela nos convida a fixar nossos olhos nas recompensas eternas, não nas posses terrenas (Mateus 6.19-20): “Pois, onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração.” (v. 21).
A batalha está entre confiar em Deus e confiar nas riquezas, entre ter fé em Cristo e ter fé na fé. O verdadeiro evangelho guerreia contra o falso evangelho. Embora Calebe tivesse começado a entender, ele ainda tinha outro obstáculo a superar.
A Nigéria tem uma cultura de honra. Os fiéis das igrejas frequentemente reverenciam os pastores como “homens de Deus”, e as palavras desses pastores raramente são questionadas. No início de abril, outro pastor influente da Nigéria, David Ibiyeomie, do Salvation Ministries [Ministério da Salvação], foi criticado por um sermão em que disse que Jesus “odeia os pobres”. Ele argumentou que Jesus só visitava pessoas ricas, como Zaqueu e Lázaro. “Isso significa que ele odeia a pobreza”, disse ele.
Após ter recebido intensas críticas online por distorcer o evangelho, Ibiyeomie dobrou a aposta. “Se essas pessoas estão me ouvindo, então, isso significa que sou mesmo muito importante”, disse ele em outro sermão, no final de abril. A congregação recebeu seus comentários com aplausos.
Muitos evitam discordar de seus pastores, mesmo quando são confrontados com seus erros. Caleb enfrenta um desafio semelhante: será que ele discordará do pastor a quem tanto respeita?
Naquela noite, nossa conversa começou com Caleb me convidando para assistir à transmissão de um culto do evangelho da prosperidade. E terminou comigo convidando Caleb a fazer de Cristo o objeto de sua fé.