Culture

Como lidar com o término de um relacionamento amoroso?

Às vezes, amar o próximo é dizer para ele que você não o ama mais.

An image of a valentine card showing Jesus inside a heart shape.
Christianity Today May 21, 2025
Illustration by Elizabeth Kaye / Source Images: Pexels, Wikimedia Commons

Em um término recente, na tentativa de recuperar o controle da minha vida, fiquei me debatendo para descobrir o que poderia ajudar. Fazer um piercing novo? Uma tatuagem? Pintar o cabelo? Mas eu odeio agulhas e gosto da cor natural do meu cabelo. Depois de cantar muitas músicas da Olivia Rodrigo no carro, depois de tomar muitos potes de sorvete sem lactose, depois de dormir abraçada com meu “ursinho do término” (fica aqui a dica para uma campanha de marketing perfeita para lojas que fazem ursinhos de pelúcia), e muitas lágrimas depois, comecei a me sentir um pouco mais como eu mesma novamente.

No entanto, não resolvi o problema da tensão que eu sentia sempre que meus relacionamentos amorosos acabam. Como posso amar o meu próximo, quando estou dizendo a ele que não o amo mais? Ou quando ele está me dizendo isso? Como nós, cristãos, devemos nos comportar em nossos términos? O que devemos fazer?

Em certo sentido, essas são questões práticas. Independentemente de a decisão ter sido sua ou não, ou de ter sido uma decisão de ambos, mesmo os términos amigáveis trazem à tona o que há de pior em nós. Cristãos podem procurar ter um comportamento melhor nessas últimas conversas tão dolorosas, que antecedem o fim de um relacionamento, deixando-se guiar pelas instruções dadas às comunidades da igreja primitiva que estavam enfrentando desentendimentos (Efésios 4.15, 29; Colossenses 4.6). Mesmo diante da nossa raiva, da nossa tristeza e do nosso pesar, podemos escolher palavras que causarão o menor nível de prejuízo, optando por clareza e concisão, em vez de recorrer a monólogos shakespearianos ou a cartas que alegam dar um “desfecho” para o relacionamento, mas que, na verdade, são feitas para que tenhamos sempre a última palavra. Podemos ser prontos para ouvir o ponto de vista do nosso ex, tardios para falar e ainda mais tardios para nos irar (Tiago 1.19).

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Terminar um relacionamento como cristãos também significa evitar alguns costumes contemporâneos a respeito do fim de relacionamentos. Desabafos, fofocas ou publicação de posts sobre como sua vida tem melhorado só leva à amargura. (Depois dos meus términos, tento evitar por completo as redes sociais). Conversar e trocar confidências com amigos de confiança ​​e expressar frustrações a Deus em oração são coisas que nos permitem uma forma saudável de processar o fim de um relacionamento, mas sem espalhar boatos.

Mas amar o próximo durante um término exige uma mudança não apenas de comportamento, mas também de filosofia — exige querer o melhor para o seu ex no sentido mais amplo dessa expressão. “Nosso amor pelos outros, por quem eles são, nos move a buscar o melhor para a vida deles”, escreveu o papa Francisco em uma encíclica recente. Esse amor pode não ser mais romântico, mas é fraternal. O amor que busca o melhor para o outro pode envolver tomar a decisão de não ficarem mais juntos — ou aceitar essa decisão, depois de ela ter sido tomada pelo outro.

Deixe-me ser mais clara: não estou endossando o uso daquela frase devastadora: Deus me disse para terminar com você. Como alguém que já usou essa desculpa e já viu essa desculpa ser usada, posso garantir que ela geralmente não ajuda em nada. Quando somos destinatários dessa frase, ficamos sem espaço para questionar tal declaração. Se Deus lhe disse isso, por que Ele não me diria também? Mesmo que a pessoa tenha sentido a inspiração do Espírito para terminar um relacionamento, usar a justificativa de que “Deus me disse” muitas vezes soa como a saída mais fácil.

É melhor ser corajoso e honesto sobre os motivos pelos quais vocês precisam se separar. É possível reconhecer as dificuldades em um relacionamento sem transformar esse reconhecimento em crítica. Podemos dizer, por exemplo: “Passamos muito tempo discutindo”, “Não somos bons em ouvir um ao outro” e “Acho que você não respeita meu tempo com a minha família”.

Terminar um relacionamento como cristãos muitas vezes significa considerar o que é melhor para o seu ex, mesmo que você também respeite o que é melhor para si mesmo. (Estou falando aqui de relacionamentos que terminam por incompatibilidade ou por mudança de sentimentos, não por abuso). Você não é responsável pela forma como a outra pessoa reage a um término. Mas você é responsável por suas próprias ações.

Se você for quem recebe a má notícia, é ainda mais difícil manter as necessidades da outra pessoa em foco: essa pessoa é horrível, egoísta e está errada! É preciso agir com empatia radical (e humildade) para ouvir explicações sobre a decisão e respeitar os limites da outra pessoa.

Embora fossem parceiros no ministério, e não em um relacionamento amoroso, a separação de Paulo e Barnabé é um modelo útil para o fim de um relacionamento. A diferença de opinião entre ambos sobre se João Marcos deveria ou não se juntar a eles causou “um desentendimento tão sério que se separaram” (Atos 15.39).

Mas ambos foram, em última análise, instrumentais para a propagação do evangelho. E não há registros de nenhum deles falando mal do outro. Barnabé nunca postou sobre as deficiências de Paulo no Facebook, e Paulo nunca espalhou boatos sobre Barnabé enquanto escrevia suas epístolas. Às vezes, relacionamentos simplesmente precisam terminar, por razões que talvez não sejamos capazes de entender na época, mas que podem resultar em crescimento para ambos os lados.

Ver o término como um ato de amor não significa que precisamos ficar felizes em relação a ele. Um terapeuta me disse certa vez que terminar um relacionamento muitas vezes exige passar pelos cinco estágios do luto. O Senhor nos encontra em nossa tristeza; Salmos 56.8 diz que Deus recolhe e anota todas as nossas lágrimas. Nos meus momentos de maior fraqueza, no fim de um relacionamento, olhei para Cristo clamando na cruz, consciente de que ele também se sentiu abandonado.

Para mim, a parte mais difícil de qualquer término é sempre o pós-término, depois de devolvermos os moletons, os elásticos de cabelo, os livros emprestados e de enviarmos as últimas mensagens. Fico envergonhada e quero seguir em frente o mais rápido possível. Mas conselhos terríveis de familiares e amigos nos mostram como isso é inútil. “Essa pessoa não era a última bolacha do pacote”. Ora, mas e se eu quisesse aquela bolacha? “Você ainda vai encontrar sua alma gêmea.” Mas Deus não promete casamento. E se essa foi a minha única chance? “Ele nem era tão bonito assim.” Então você acha que eu tenho mau gosto?

Quando nos lembra de amar o próximo como a nós mesmos, Jesus insiste que devemos amar a Deus acima de tudo: “Ame ao Senhor, o seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com todas as suas forças” (Marcos 12.30-31). Por mais indesejado ou mal compreendido que seja, um término talvez seja uma oportunidade de amar mais a Deus. Talvez a outra pessoa tenha se tornado uma pedra de tropeço para você; talvez você tenha se tornado um ídolo [para a outra pessoa]. De qualquer forma, é o amor a Deus que sempre sustenta o amor ao próximo.

Você pode decidir evitar a tatuagem, a resolução repentina de cortar o cabelo e as longas cartas tentando reconquistar alguém. Mas se permita tomar sorvete, chorar com os amigos e ir ao cinema. E saiba que o amor de Deus alcança graciosamente tanto você quanto o seu ex.

Mia Staub é gerente de projetos editoriais da Christianity Today.

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