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Por que Bolsonaro mantém apoio de evangélicos, apesar das acusações de golpe?

Apesar dos problemas que ele enfrenta com a justiça, nacionalistas cristãos continuam a vê-lo como parte de um projeto redentor.

Brazil's former president Jair Bolsonaro speaks during a rally in Rio de Janeiro, Brazil.

Brazil's former president Jair Bolsonaro speaks during a rally.

Christianity Today May 16, 2025
Mauro Pimentel / Getty

Mais de dois anos após multidões invadirem as sedes dos Três Poderes, na capital do país, para protestar contra os resultados das eleições, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou, na semana passada, a denúncia contra sete indivíduos acusados ​​de planejarem um golpe para derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao todo, 21 pessoas enfrentam acusações, incluindo comandantes militares, ex-ministros, policiais e o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, que os investigadores identificaram como o líder e principal beneficiário, caso o golpe de Estado tivesse êxito.

Pesam contra o ex-presidente cinco acusações: organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União; e deterioração de patrimônio tombado. O suposto complô incluía planos para matar o então presidente eleito Lula, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Se for julgado culpado, Bolsonaro poderá passar mais de 30 anos na prisão.

Até o momento, os processos judiciais tiveram pouco impacto na popularidade de Bolsonaro entre os evangélicos: 44% continuam se definindo como “bolsonaristas”, em comparação com cerca de um terço da população do país como um todo.

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“Essa blindagem quase messiânica de uma figura política beira algo que a teologia define como idolatria”, disse o teólogo Gutierres Fernandes Siqueira, autor de Igreja Polarizada.

Muitos líderes evangélicos por pouco não chegam a declarar que Bolsonaro é ungido por Deus; ainda assim, consideram sua liderança boa para a igreja e desejam vê-lo de volta ao poder. O veredito do tribunal, esperado para o final do ano, pode definir o tom da política brasileira para a eleição presidencial de 2026.

Uma decisão anterior já havia tornado Bolsonaro inelegível para cargos públicos por oito anos, impedindo-o de concorrer na eleição do ano que vem. Seus apoiadores no Congresso, porém, apresentaram projetos de lei para conceder anistia a manifestantes, especificamente aqueles acusados ​​de crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado.

Em 8 de janeiro de 2023, Clayton Nunes foi um dos milhares de brasileiros que invadiram a Praça dos Três Poderes para protestar contra supostas fraudes eleitorais, após a derrota de Bolsonaro à reeleição. A multidão quebrou portas e janelas de vidro, saqueou escritórios, destruiu obras de arte e inundou corredores com mangueiras de incêndio, causando um prejuízo estimado em quase 25 milhões de reais.

Quando a polícia começou a usar gás lacrimogêneo, Nunes buscou abrigo dentro do Senado. Lá, encontrou outros evangélicos. “Vi pessoas orando e cantando o hino nacional”, disse ele. “Acabei me juntando a elas.”

Em 2018, Bolsonaro conquistou 55% dos votos para presidente do país, com 69% de apoio entre os evangélicos. Na eleição seguinte, em 2022, Bolsonaro obteve 63% dos votos evangélicos, mas perdeu para Lula, o candidato de esquerda.

As autoridades detiveram pelo menos quatro pastores, no dia do atentado de janeiro de 2023, e prenderam outros líderes religiosos e um cantor cristão, após investigações mais aprofundadas. A maioria dos evangélicos alegou que estava lá para orar e interceder pelo país e que a violência havia sido perpetrada por infiltrados.

Nunes foi acusado de cinco crimes, incluindo tentativa de golpe e destruição de patrimônio público. No ano passado, o STF decidiu que o barbeiro de 41 anos, da cidade de Brasília, passaria os próximos 16 anos e seis meses na prisão.

O ataque à capital do país guarda paralelos com uma reação semelhante dos apoiadores do presidente Donald Trump nos EUA, em 6 de janeiro de 2021. Os dois motins ocorreram para defender um político que se recusou a aceitar os resultados das eleições, e ambos contaram com o apoio de integrantes extremistas de movimentos nacionalistas cristãos.

Raimundo Barreto, professor de cristianismo mundial no Seminário Teológico de Princeton, vê integrantes de ambos os grupos de apoiadores como elementos motivados por diferentes versões da teologia do domínio. Alguns dos brasileiros que ele entrevistou após o atentado de 2023 estavam buscando conquistar autoridade sobre áreas da sociedade que consideravam controladas por demônios territoriais, bem como redimir o que percebiam como uma ordem moral corrompida.

Enquanto o nacionalismo cristão dos EUA sonha com a restauração da identidade cristã do país, sua versão brasileira enfatiza a redenção do que alguns cristãos brasileiros veem como uma “nação amaldiçoada e corrupta, afastada de Deus tanto espiritual quanto moralmente”, disse Barreto. “Para aqueles que defendem essa visão, a redenção da nação exige a quebra dessas maldições, por meio da submissão ao senhorio de Jesus”, não só espiritualmente, mas também politicamente.

Por conta dessas narrativas mais amplas, Trump e Bolsonaro desfrutam de um certo nível de invencibilidade entre suas bases evangélicas, mesmo quando as instituições tentam responsabilizá-los por seus atos.

Em resposta ao crescimento do bolsonarismo nas igrejas, uma pequena minoria de jovens brasileiros começou a sair da igreja, disse Barreto, “porque não conseguem conciliar sua leitura da Bíblia e sua fé com o comportamento de cristãos que rejeitam os processos democráticos, a ciência e o exercício da justiça secular”.

O público brasileiro vê essa sustentação da popularidade de Bolsonaro após a polêmica, mesmo com as acusações de golpe, e o acusa de manipular os evangélicos, disse o antropólogo Juliano Spyer, autor de dois livros sobre o crescimento do evangelicalismo no Brasil.

“Mas tenho ouvido algo diferente de alguns pastores”, disse Spyer. “Eles reconhecem que Bolsonaro é uma figura controversa, mas acreditam que ele está defendendo as causas certas.”

Assim como alguns apoiadores de Trump, os líderes equiparam Bolsonaro à “figura bíblica do rei Ciro da Pérsia — alguém que não fazia parte do povo de Israel, mas foi usado por Deus para protegê-lo”, disse Barreto.

Quando conversa com líderes cristãos, Barreto frequentemente pergunta se Bolsonaro é ungido por Deus. “Muitos respondem: ‘Não, mas ele é alguém que protege os valores da igreja’, e geralmente definem esses valores de forma restrita, concentrando-se principalmente em uma visão particular da família e de moralidade sexual.”

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