Culture

Conheça fãs de The Chosen que não são crentes

“Senti arrepios pelo corpo todo e eu não sei por que fiquei tão emocionada.”

Christianity Today April 3, 2025

Há cerca de um ano, Vicki Neulinger enfrentava algo que ela agora chama de “o abismo”: um quadro que misturava intenso sofrimento por conta da ansiedade, um divórcio difícil e uma total apatia em relação à vida.

“Eu estava completamente confusa”, disse Neulinger, uma mulher de 43 anos que mora na Virgínia. “Naquele momento sombrio, eu não estava vivendo. Eu estava apenas sobrevivendo.”

Certo dia, em março de 2024, depois de se mudar para a casa dos pais, ela estava procurando o que assistir na Amazon Prime, quando a série The Chosen apareceu na sua tela. O amado drama histórico sobre Jesus e seus discípulos lançou os dois primeiros episódios da quinta temporada nos cinemas, no dia 28 de março.

O começo da primeira temporada não conquistou Neulinger logo de cara. Ela saiu à procura de outra série. Mas, então, ela conta que escutou uma voz.

Receba nossas atualizações diretamente no seu celular! Faça parte do nosso canal no WhatsApp.

“Juro, eu escutei [Deus] dizendo: ‘você vai voltar para aquela série, vai começar de novo, e vai assistir até o fim’. Então, fiz isso”, ela lembra.

À medida que Neulinger assistia, ela se lembrava dos seus encontros com Deus ainda na infância. Sua avó, uma cristã devota, frequentemente levava a neta para a escola dominical. Mais tarde, Neulinger se afastou da fé cristã e foi explorar o materialismo, a espiritualidade da Nova Era e a magia. Ela aprendeu feitiços, praticou o voduísmo e fez parte de grupos no Facebook nos quais pessoas que se diziam bruxas criticavam o cristianismo.

Todo esse contexto fez com que ela sentisse uma profunda ligação com a personagem de Maria Madalena, que no primeiro episódio da série sofre com uma possessão demoníaca. A princípio, Neulinger não percebeu que o personagem interpretado por Jonathan Roumie era Jesus. A descoberta veio quando ele falou com Maria Madalena. Naquele momento, Neulinger lembrou-se das palavras que sua avó lhe dizia na infância: “O Senhor nos chama pelo nome.”

“Foi naquele momento que eu percebi: ‘É Jesus!’, e aquilo me fez chorar”, afirma.

Desde a sua estreia, em 2019, a série The Chosen se tornou tremendamente popular. De acordo com a produção, aproximadamente 280 milhões de pessoas assistem à série em plataformas como Netflix, Amazon Prime e no próprio aplicativo da série. Essas pessoas foram atraídas pelo valor de uma produção de prestígio e pela atuação humilde e culturalmente informada dos atores que fazem o papel de Jesus e dos discípulos. The Chosen quebrou o recorde de série mais traduzida do mundo, e hoje está disponível em mais de 50 idiomas. Seus criadores, liderados pelo diretor Dallas Jenkins, afirmam já ter arrecadado aproximadamente 100 milhões de dólares e planejam produzir sete temporadas.

A quinta temporada será focada na Semana Santa. Depois de sua estreia nos cinemas, será exibida na Amazon Prime por 90 dias, e só então estará disponível no aplicativo.

Muito do que se discute a respeito da série tem se concentrado na sua recepção entusiasmada — e às vezes controversa — por parte dos evangélicos, que formam a maioria da base de fãs da série. Mas a trama também tem gerado identificação com outro tipo de público: fãs que não se identificam (ou que, pelo menos, não costumavam se identificar) como cristãos. Segundo informações da produção, um terço dos fãs da série não são religiosos.

Alguns, como Neulinger, foram criados na igreja, mas abandonaram a fé quando se tornaram adultos; agora, eles estão explorando o cristianismo novamente através da série. Outros são agnósticos ou ateus que apreciam a forma realista e pessoal como Jesus é retratado. Alguns começaram a assistir a The Chosen com um sentimento de hostilidade pelo cristianismo e finalizaram a quarta temporada com o coração transformado.

Matthew Page, pesquisador independente que mora no Reino Unido e tem estudado adaptações da Bíblia para o cinema, e é autor do livro 100 Bible Films (100 Filmes sobre a Bíblia), afirmou que o Jesus da série The Chosen parece ser distinto de muitas outras representações de Cristo: ele tem um sorriso fácil, dança, tem a aparência e os sentimentos de um ser humano comum.

“Vemos nele algo bem corriqueiro e comum”, disse Page, que também tem escrito bastante sobre a série em seu blog. “Vemos momentos em que Jesus está agindo com poder divino, mas ele é muito humano, alguém com quem é muito fácil se identificar, bem judeu.”

Taylor Chee-Schmidt, que mora em Seattle e trabalha como gerente de programa para uma empresa de tecnologia, identifica-se como ateia. Ela começou a assistir à série há um mês e tem maratonado os episódios das temporadas anteriores para conseguir assistir à nova temporada, que estreou recentemente.

“Eu assisti ao primeiro episódio e, logo de início me deparei com um exorcismo”, Chee-Schmidt disse. “Pareceu real. Foi um exorcismo humanizado. Lembrou-me de momentos em que estou perto do metrô, em Seattle, e me deparo com moradores de rua e pessoas com transtornos mentais e, às vezes, eles têm quadros parecidos [com esse que foi mostrado na série]”.

Chee-Schmidt também gostou da maneira como o programa parece ser autêntico em relação à Galileia e à Judeia do primeiro século.

“As pessoas não são todas loiras, brancas e de olhos azuis. Eles realmente têm no elenco pessoas negras interpretando os personagens”, segundo Chee-Schmidt. “Não parece que eles simplesmente juntaram caracterizações de personagens bíblicos tiradas da década de 1930 e aproveitaram figurinos da era de ouro de Hollywood.”

Para outros, assistir à série foi uma forma de se reconectar com a fé da infância. Michael Lamping, um jovem de 29 anos que trabalha na área de tecnologia em Wisconsin, cresceu frequentando as missas na igreja católica, mas deixou de acreditar no cristianismo depois que o ritual semanal passou a parecer cada vez mais uma tarefa, em vez de uma expressão de adoração.

Durante a pandemia da COVID-19, Lamping descobriu a série The Chosen e foi cativado. A partir daí, ele ficou inspirado para aprender mais sobre o cristianismo e começou a se interessar por documentos históricos relacionados à Bíblia, análises críticas das Escrituras e palestras sobre fé.

“A história [da série] me ajudou muito a perceber que a fé não é algo que devemos temer, como parte da mídia retrata”, disse ele.

The Chosen também impactou pessoas de outras religiões. Sabi Ali, uma administradora de escritórios de 26 anos que vive em Londres, cresceu muçulmana e frequentemente debatia com seus primos cristãos sobre fé. No ano passado, seus primos a convenceram a começar a assistir à série The Chosen.

Após o primeiro episódio, o ceticismo de Ali ainda persistia. Mas, no final do segundo, ela estava em lágrimas e acabou assistindo à série em uma semana e meia. Uma cena em particular a tocou profundamente.

“Quando Jesus se aproximou dos barcos com Simão Pedro e André, e nenhum deles estava pescando nada”, disse Ali. “Jesus disse: ‘Lancem a rede novamente’.” “Senti arrepios pelo corpo todo e eu não sei por que fiquei tão emocionada”.

Ela começou a duvidar dos ensinamentos do islamismo e do Alcorão, que afirmam que Jesus foi apenas um profeta que fazia milagres, mas não o Filho de Deus encarnado.

Então, um dia, na época em que estava maratonando a série, ela e os primos estavam voltando para casa, quando apareceu um homem e entregou para Ali um folheto evangelístico. “Jesus te ama”, ele disse, e então desapareceu. Ali interpretou aquilo como um sinal de Deus.

“Meu primo estava de frente para ele, mas o homem não deu [o folheto] para meu primo. Ele o deu para mim”, disse ela. Ali começou a ir à igreja regularmente e agora se identifica como cristã.

Ali também apresentou a série à sua mãe — uma muçulmana convicta que desaprovava o cristianismo. Elas começaram a assistir juntas; pouco tempo depois, sua mãe já estava assistindo à produção mesmo quando Ali estava no trabalho. Hoje sua mãe também se tornou cristã e passa seu tempo livre lendo a Bíblia e assistindo a vídeos sobre fé.

“Era exatamente o que eu estava procurando”, disse Ali sobre a série The Chosen. “Eu precisava de algo, mas não percebia que era isso que eu estava buscando. Deus me disse: ‘Você precisa saber a verdade, e isso vai te ajudar a entender.’”

Assim como a mãe de Ali, Vicki Neulinger também começou a ler mais a Bíblia por causa de The Chosen. Depois de começar a assistir à série, ela comprou uma Bíblia de Estudo NVI e encontrou guias online que combinavam passagens das Escrituras com cada episódio. Ela desenvolveu uma rotina: antes de assistir a um episódio, ela lia a passagem bíblica designada. Dessa forma, ao longo de seis meses, ela leu a Bíblia de capa a capa pela primeira vez.

Ela ainda enfrenta muitas dificuldades, mas sente que hoje está numa posição melhor do que em março do ano passado. Pela graça de Deus, ela está rastejando para fora do abismo e, por algum estranho milagre, é um programa de televisão que a tem ajudado a fazer isso.

“Eu acho que Deus tem batido à minha porta durante toda a minha vida. Ele tem batido sem cessar”, disse ela. “E essa foi finalmente sua maneira de dizer: ‘Abra a porta.’”

Christopher Kuo é jornalista freelancer e mora na Irlanda. Seus artigos são publicados no The New York Times, The Los Angeles Times, Duke Magazine e em outros veículos.

Our Latest

As crianças já nascem acreditando em Deus

Griffin Gooch

Pesquisas mostram que as crianças são naturalmente inclinadas a crer em Deus. Nós, adultos, temos muito a aprender com isso.

O Natal perfeito não existe

Clare Coffey

O importante não é a celebração em si, mas sim o motivo pelo qual celebramos.

Quem são e onde estão os ‘povos não alcançados’ hoje?

Chris Howles

Um mobilizador de missões britânico pretende que o termo “grupos de povos não alcançados” seja repensado, diante de um mundo com novos padrões migratórios e digitalmente conectado.

Public Theology Project

O verdadeiro avivamento não pode ser controlado

O avivamento é provocado pelo mover do Espírito, e não por um aumento dos números.

Vivendo como um monge em uma era acelerada

Evan B. Howard

Lições sobre o estilo de vida intencional do movimento monástico moderno.

Lágrimas de Natal

Jonah Sage

A vida de Jesus começou e terminou com lágrimas, para que, por meio da ressurreição, nosso tempo de lágrimas estivesse com os dias contados.

Perseverança e redenção

Nana Dolce

O povo de Deus vive em um mundo onde acontecimentos traumáticos nos deixam abalados. No entanto, Deus está conosco em meio à escuridão.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube