Recentemente, temos visto uma avalanche de desinformação sobre ministérios cristãos e suas fontes de verbas. Diante disso, consideramos que seria prudente e saudável, do ponto de vista jornalístico, ajudar nossos leitores a entenderem de onde vêm nossos recursos e como protegemos nossa independência editorial.
Primeiro, vamos abordar a desinformação. Na semana passada, espalhou-se um rumor pelo X [antigo Twitter] que dizia que a Christianity Today tinha recebido verbas do governo em 2023. Influenciadores que, há muito tempo, já são críticos ferrenhos da CT amplificaram essa afirmação. Nas afirmações mais extremadas, eles disseram que tínhamos recebido US$ 9 milhões de investimento da USAID e, por isso, estávamos na “folha de pagamento” do Biden.
A histeria em torno da USAID tem tido consequências catastróficas, não apenas para ministérios cristãos cujo trabalho verdadeiramente salva vidas ao redor do mundo, mas sobretudo para os pobres e vulneráveis ao redor do mundo que são amparados por ministérios como esses. Um diálogo prudente sobre se ou quando ministérios devem fazer parcerias com agências governamentais, e onde a corrupção pode ser erradicada é algo sábio. Atirar esses ministérios e essas pessoas na fogueira e dançar ao redor dela, enquanto tudo queima, não é nada sábio.
No entanto, para esclarecer algo que já deveria ser óbvio, afirmo: a Christianity Today nunca recebeu verbas da USAID.
Em 2023, demos entrada em um pedido de Crédito Fiscal para Retenção de Funcionários (ERC, em inglês), um programa cuja lei foi sancionada pelo Presidente Trump, em 2020, para dar assistência a organizações impactadas pela pandemia da COVID-19. Os contadores inserem o pedido do ERC em um campo-padrão para “subsídios” do governo, nos formulários de impostos, embora seja um crédito que não acarrete impostos sobre a folha de pagamento. Ainda não recebemos de fato esse crédito, mas mantemos nossos livros em regime de competência e fomos incentivados por nossos auditores a registrar o valor como uma conta a receber em 2023.
Portanto, nossos críticos estão errados em relação aos fatos. No entanto, eles não estão errados quando dizem que fontes de recursos podem ser uma fonte de tentação.
Essa tentação é praticamente inata no ramo jornalístico. E não acontece especificamente com receitas filantrópicas. Periódicos encaram a tentação de publicar algo falso, ou pensam duas vezes antes de publicar algo que é verdadeiro, com o intuito de bajular acionistas, diretores, parceiros, doadores, anunciantes, assinantes, e, dessa forma, melhorar ou não prejudicar suas finanças. Essa tentação também não se limita à direita ou à esquerda, ou somente a organizações. Empreendedores podem manter uma dinâmica de conflito nas redes sociais para aumentar sua renda.
A diferença de uma instituição jornalística sólida é que nossos padrões e práticas protegem a imparcialidade da voz editorial. [Esses padrões e práticas] São imperfeitos, sujeitos a escrutínio e ferozmente defendidos. Em uma organização jornalística como a Christianity Today, eles estão entrelaçados com nosso senso de chamado. Nós falharíamos em nossa vocação como jornalistas cristãos se não prezássemos pela verdade de cada história e pelo alinhamento com as Escrituras de cada opinião, sem medo nem favorecimentos.
É exatamente por este motivo que separamos o setor editorial do setor administrativo. Membros da diretoria supervisionam a missão e os valores do ministério, mas não interferem no processo editorial. Aqueles que trabalham na parte operacional da CT sabem que não podem pressionar o nosso time editorial para ganhar ou reter favores de nossas fontes de recursos. Aqueles que pertencem à equipe editorial entendem que são livres para seguirem suas consciências sem se preocupar com possíveis consequências que seu trabalho poderá ter para a organização. Nós deixamos claro para fundações, anunciantes e parceiros que protegemos nossa independência editorial porque ela é essencial para que tenhamos a confiança dos nossos leitores, e só trabalhamos com aqueles que respeitam esse compromisso.
Os leitores que quiserem conhecer nosso código de ética jornalística serão muito bem-vindos. Nossas finanças são minuciosamente analisadas pela nossa diretoria, independentemente auditadas todos os anos, e tornadas públicas em nosso 990 [um formulário do Internal Revenue Service dos Estados Unidos que fornece ao público informações sobre uma organização sem fins lucrativos]. Recebemos avaliações altas, nos quesitos transparência e confiabilidade, do Charity Navigator e do MinistryWatch [organizações que avaliam a confiabilidade de organizações sem fins lucrativos].
Alguns de nossos críticos poderão ficar surpresos por saber (apesar de não haver motivo para surpresa) que nós deixamos de publicar um artigo do então presidente Joe Biden, em 2021, porque o julgamos demasiadamente político. Nós também rejeitamos uma entrevista com Biden, no meio da campanha de 2024, porque sentimos que seria algo parcial entrevistar apenas um candidato. E esses claramente não são atos de uma organização comprometida com o governo Biden.
Nós publicamos artigos que têm reflexos negativos para instituições estimadas por membros da nossa diretoria, quando acreditamos que tais artigos são verdade. Nós noticiamos histórias de pastores com conduta inadequada, mesmo sabendo que isso nos fará perder assinantes, quando acreditamos que isso será importante para a saúde da igreja. Podemos publicar um artigo que fruste uma fundação mais à esquerda na segunda-feira, e outro que frustre uma fundação mais à direita na terça. Esse cenário descreve bem uma semana típica na CT.
Nossa visão sobre questões morais e sociais — como a santidade da vida, a liberdade religiosa, a ética cristã do casamento e da sexualidade, a paixão de Deus pela justiça, o chamado cristão para cuidar do vulnerável, a mordomia do meio ambiente, e até mesmo a importância da democracia e do livre mercado para a prosperidade humana — permanece praticamente a mesma há décadas. Isso torna difícil sustentar o argumento de que nós adotamos determinadas posições para agradar fontes recentes de recursos.
Nós entendemos que seja frustrante para alguns que a Christianity Today não se alinhe perfeitamente à sua agenda política. Consideramos tal fato um ponto forte da CT. Billy Graham gostava de dizer que ele não servia à [asa] esquerda nem à [asa] direita, mas ao passarinho todo [nos Estados Unidos é comum utilizarem o termo “wing”— neste caso traduzido como “asa”, por causa da metáfora — para se referir às diferentes alas políticas]. Nós servimos à igreja toda. Isso incomoda aqueles que querem nos recrutar para um partido. Mas, ao mesmo tempo, nos torna indispensáveis para aqueles que desejam examinar todos os partidos e lados de acordo com as Escrituras.
Se você anseia por bom senso cristão em um mar de nonsense, deveria se tornar um assinante. Nós ficaremos felizes de ter você ao nosso lado e esperamos que nos ajude a nos mantermos fiéis à nossa visão.
Timothy Dalrymple é presidente e CEO da Christianity Today.