Como alguém que cresceu na Igreja Episcopal Reformada, na minha infância eu achava o primeiro dia do Advento adorável, mas um pouco estranho. No culto da noite, cantávamos os mais tristes hinos, com versos como “Ó vem, ó vem, Emanuel, / E resgata o Israel cativo”. Eram sempre cânticos que lamentavam sobre nosso pecado e o cativeiro e, para ser bem sincera, eram hinos que me soavam sombrios.
E o mesmo acontecia com as Escrituras do Advento — como esta leitura do Advento baseada em Isaías 30.1, que diz: “‘Ai dos filhos obstinados’, declara o Senhor, ‘que executam planos que não são meus, fazem acordo sem minha aprovação, para ajuntar pecado sobre pecado’” Sim, eu era apenas uma garotinha, mas achava que essa era uma maneira muito estranha de abrir a estação do Natal.
Como podemos apreciar o presente de ter Jesus Cristo como Salvador dos nossos pecados, a menos que, primeiro — como fazemos neste exato momento — reservemos um tempo para considerar do que precisamos ser salvos?
Deus quer que entendamos a profundidade e a largura de nossas transgressões contra ele e que fiquemos cara a cara com a completa perdição da nossa condição. Ele quer que assumamos nossa triste e lamentável situação, compreendendo que nosso pecado o ofende e que sua ira está sobre nós. Que, sem Jesus, somos mantidos cativos pelo Inimigo.
Sei bem como é ser mantida em cativeiro por uma situação triste e lamentável. Décadas atrás, quando um mergulho imprudente me deixou tetraplégica, aos 17 anos, meu mundo ficou sombrio. Meu desespero parecia um poço sem fundo. Eu perdera aquela vida que conhecera até então — quando eu cavalgava, praticava esportes e fazia caminhadas em meio à beleza da criação de Deus. Mas e agora? Eu me sentia escravizada por uma sentença perpétua de tetraplegia.
Deitada no hospital de reabilitação, após meu acidente, eu queria acabar com a minha vida. Incapaz de fazer até mesmo isso, eu estava determinada a acabar com a minha vida espiritualmente. Eu disse à minha mãe para fechar a porta e cerrar as cortinas. Eu queria apagar a luz — apagar o mundo inteiro. Eu estava perdida.
Somente quando apreciamos o fato de estarmos perdidos é que podemos celebrar plenamente o fato de sermos encontrados. Talvez seja por isso que Tiago diz: “Entristeçam-se, lamentem-se e chorem” por seu pecado e Deus “os exaltará” (4.9,10). Somente quando enfrentamos nossa perdição podemos dizer:
Alegria ao mundo! O Senhor veio.
Que a terra receba seu Rei.
Que cada coração prepare lugar para ele,
e o céu e a natureza cantem!
Há uma metodologia para esse mistério do Advento. À medida que cada semana do Advento avança, as Escrituras — e os hinos — vão passando de sombrios a alegres. Eles se tornam mais leves, mais felizes e cheios de esperança.
Até o tom das passagens das Escrituras muda, no chamado cheio de esperança de Isaías 40.3: “preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus” E em Isaías 41.10, Deus diz aos cativos: “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa.”
A jornada pelo Advento nos ensina que precisamos de Jesus. A Luz do Mundo está vindo para libertar os cativos.
À medida que 25 de dezembro se aproxima, é tempo de refletir sobre como esperamos por Cristo na escuridão do nosso cativeiro e como reagimos à sua luz eterna.
Todos nós temos reações diferentes à encarnação do Filho de Deus. Você está à procura? Está querendo se aproximar? Ou está um pouco indiferente — e quase não se importa com o fato de que outro Natal já está às portas?
As pessoas provavelmente reagiram de forma semelhante à chegada de Jesus. Pense nas respostas que as pessoas deram, quando ouviram sobre o que aconteceu em Belém. Havia muitos, como o dono da hospedaria, que não poderiam ter se importado menos. Ele tinha coisas a fazer, panelas para lavar, camas para trocar, mercadorias para comprar.
Outras pessoas foram cruéis e até mesmo maliciosas, como Herodes. Ele fez tudo o que estava ao seu alcance para impedir a celebração, caçar esse suposto Rei e pôr um fim aos eventos que Deus já havia colocado em prática.
Outros ainda ficaram assustados, até mesmo aterrorizados — como os pastores. Foi somente depois que os anjos se curvaram para explicar o que estava acontecendo que os medos dos pastores se acalmaram.
Outras pessoas ficaram curiosas, como os reis magos — que eram do tipo que estava buscando. Eles genuinamente queriam saber o que estava acontecendo. Sentiram que tinha acontecido algo diferente, importante. E sabiam, mesmo sem ter a Bíblia para orientá-los, que isso significaria uma grande mudança para o mundo.
Algumas pessoas estavam à espera, como Simeão no templo. Outras tinham esperança, como Ana, a profetisa. Outras ainda, como Maria e José, sabiam a resposta para a pergunta “Que criança é esta?” e adoravam o pequenino bebê que dormia nos braços de sua mãe.
Você é como o dono da hospedaria, e também tem coisas demais a fazer para conseguir reservar um tempo a fim de celebrar verdadeiramente o nascimento de Cristo? Ou você é como Maria e José, e reserva um tempo para olhar para fora da escuridão de suas lutas diárias e contemplar o brilho da luz perfeita de Deus?
O milagre que iluminou a história humana também ilumina nossos corações cansados. O Deus que faz o universo transbordar derramou-se na carne de um bebê. O santo e exaltado Deus — que está envolto em sua própria luz deslumbrante, cuja carruagem é o vento e o fogo, que cruza os céus em tempestades e relâmpagos, que abala a fundação da terra — ingressou na história. Jesus pousou neste planeta caótico, frágil e ruidoso. Você pode até ouvir seus passos no Natal, se parar, olhar, ouvir e aquietar-se.
Hoje à noite, agasalhe-se e vá lá para fora. Olhe para as estrelas no céu e reflita: há mais de 2.000 anos, o mesmo céu noturno lá de cima olhou para aquele milagre de Natal. Então, se você puder, cante “Noite de paz, noite de amor”, bem fundo em sua alma.
Por causa daquela noite lá em Belém, o Espírito do Senhor invadiu seu coração e passou a habitar em sua própria alma. Ele, com ousadia, se intrometeu em seu pecado, chamando-o pelo que ele é e desafiando você a deixá-lo para trás.
Então, venha, ó venha, Emanuel! Nesta gloriosa estação do Advento, que possamos perceber novamente nossa necessidade de ti, nosso Salvador, e que possamos assumir nossa condição desesperadora. Só assim poderemos ter um Natal realmente muito feliz.
Joni Eareckson Tada é a fundadora e diretora-executiva do Joni and Friends, um ministério cristão sem fins lucrativos comprometido em alcançar e servir pessoas com deficiências com ajuda prática e o amor redentor de Jesus.