Não é segredo para ninguém que a educação teológica está em crise hoje. Nos últimos anos, as demissões de professores e a redução de seminários evangélicos e faculdades cristãs mostram que não há exagero na gravidade desse diagnóstico.
No entanto, como teólogo, acho que essa tendência preocupante é um sintoma de um problema maior: há uma sensação crescente, pelo menos em alguns círculos, de que a teologia acadêmica — junto com seus estudantes e acadêmicos — é algo praticamente irrelevante. Embora o analfabetismo bíblico e o anti-intelectualismo estejam impactando a igreja local em todos os níveis, interações pessoais recentes me fizeram questionar se alguns pastores ainda levam o estudo formal da teologia a sério.
Um pastor com quem conversei expressou um sentimento não tão incomum, quando menosprezou a teologia como algo que não era prático e estava fora de sintonia com as necessidades de sua congregação. “Não leio mais muita teologia acadêmica”, confessou ele, “pois, na minha pregação, ela aparece de uma forma que não consegue se conectar com os leigos”. Este sentimento foi repercutido por outros amigos meus, também pastores, em vários momentos, e a esposa de um deles chegou a sugerir que tais esforços acadêmicos poderiam se beneficiar de uma abordagem mais “acessível”.
Comentários como esses revelam que há, em certos círculos, um ceticismo em relação à investigação teológica rigorosa, ceticismo que muitas vezes vem acompanhado de uma preferência por formas mais facilmente digeríveis de discurso espiritual, sem as amarras de instituições acadêmicas. É difícil competir com o volume — em ambos os sentidos [ou seja, da voz e de quantidade] — dos trechos espirituais produzidos por celebridades cristãs e pregadores de megaigrejas para públicos de massa. E, embora parte dessa teologia pública de nível popular seja boa, grande parte dela carece da profundidade e da nuance que resultam de um estudo teológico mais cuidadoso.
Em resumo, a teologia acadêmica não é perda de tempo, nem é obsoleta ou irrelevante. Como diz um dos meus mentores, Stephen Priest: “Questionamentos filosóficos exigem respostas teológicas. E todos fazem questionamentos filosóficos”. No entanto, proponho que levemos essa afirmação um passo além: questionamentos de todos os campos da investigação humana exigem respostas teológicas — e tais respostas exigem um estudo intelectual cuidadoso. A teologia não só é a mais relevante de todas as disciplinas, como também pode ser a mais significativa. Como R. C. Sproul disse certa vez:
Tudo o que aprendemos — economia, filosofia, biologia, matemática — deve ser entendido à luz da realidade abrangente do caráter de Deus. É por isso que, na Idade Média, a teologia era chamada de “a rainha das ciências” e a filosofia de “sua serva”. Hoje, a rainha foi deposta de seu trono e, em muitos casos, levada para o exílio.
Uma postura negativa ou mesmo ambivalente em relação à teologia não consegue perceber as contribuições valiosas de seus estudiosos e, em última análise, cultiva a superficialidade dentro da igreja e a ignorância em nossa cultura mais ampla. Mas, se a teologia deve desempenhar o mesmo papel vital que já desempenhou — tanto no púlpito quanto em praça pública —, devemos primeiro identificar quais fatores levaram ao seu declínio e, então, como devemos reagir [a eles].
Em 2020, o teólogo wesleyano Roger E. Olson fez uma pergunta difícil: “A teologia ainda importa?” Parece que esse foi um ponto de discussão com um amigo dele, o falecido teólogo batista Stanley J. Grenz, com quem Olson escreveu em coautoria a obra Who Needs Theology? An Invitation to the Study of God [Quem precisa de teologia? Um convite ao estudo de Deus] (1996).
Perto do fim da vida, no início dos anos 2000, Grenz compartilhou, em particular, sua preocupação de que o cristianismo estivesse entrando em uma “fase pós-teológica” — em uma nova era que veria o “fim da teologia” por completo. De muitas maneiras, essas preocupações ecoavam o alerta que Mark A. Noll emitiu em sua famosa obra The Scandal of the Evangelical Mind [O escândalo da mente evangélica], publicada apenas alguns anos antes.
Embora Olson tenha protestado contra o prognóstico na época em que foi feito, ele veio a concordar com ele desde então, com base em observações anedóticas de seus “quarenta anos de experiência como teólogo”. Olson relata situações em que discutiu tópicos teológicos, os quais ele sentia serem ricos em relevância cultural, apenas para vê-los serem descartados como meros exercícios “acadêmicos”, palavra que, segundo ele, com frequência é usada como sinônimo de “irrelevante”.
Além dos problemas notórios com a “religião popular americana” de hoje — a democratização de um cristianismo populista —, Olson oferece várias razões pelas quais a teologia perdeu sua influência em nossa nação. Primeiro, ele observa uma percepção crescente de que teólogos só se importam em conversar uns com os outros, e não com um público mais amplo, e que eles não buscam mais ter uma voz unificada. E, se os próprios teólogos têm entre si vários pontos de discordância, como as pessoas podem confiar que seja verdade o que qualquer um deles tem a dizer?
Olson também aponta para mudanças na teologia acadêmica nos anos 60, quando os departamentos de estudos religiosos sucumbiram à visão de que ninguém sabe nem pode dizer nada sobre Deus. Os teólogos deixaram de discutir Deus para discutirem as discussões sobre Deus, levando a uma falta de consenso entre eles e a uma incerteza quanto ao papel e à relevância da teologia na sociedade. Como disse um artigo da revista Time, a teologia passou da “reflexão sobre Deus — o devido objeto da teologia — para uma consciência religiosa humana”. Ou, como Sproul declarou: “Substituímos a teologia pela religião”.
Em meio a essas mudanças, a teologia como disciplina perdeu autoridade aos olhos do público. Por exemplo, Olson observa que, desde 1966, quando foi publicada a famosa edição “Deus está morto”, nenhum teólogo apareceu nas capas da revista Time — como já acontecera com Karl Barth, Reinhold Niebuhr e Paul Tillich, entre outros. Isso leva Olson a se perguntar se o mundo, ao assistir a tudo isso, chegou à conclusão de que, uma vez que os teólogos declararam que Deus estava morto, a própria teologia também deve ter morrido.
Ao mesmo tempo, precedentes legais contribuíram para reforçar ainda mais essa percepção. Em um artigo da CT de 1975, “A teologia está morrendo?”, o acadêmico e jurista evangélico John Warwick Montgomery explicou que a ascensão de seminários teológicos independentes foi, em parte, resultante de uma decisão de 1963, da Suprema Corte, no caso Abington School District versus Schempp, que restringiu o estudo da religião à análise literária e histórica, em instituições educacionais seculares — distanciando efetivamente a teologia do discurso intelectual dominante. (Compare isso com o contexto europeu, onde Wolfhart Pannenberg defendeu com sucesso a teologia acadêmica como uma ciência adequada para ser acolhida em universidades seculares, algo para o qual não temos paralelo em nosso contexto dos EUA.)
Os comentários de Montgomery sobre a percepção que se tem da teologia nos EUA merecem ser novamente ouvidos: “A teologia hoje é superficial e passageira”, ele escreveu. “A questão importante é por que [ela é assim], e a resposta tem a ver com algo muito mais profundo do que separar teologia de religião ou seminário teológico de universidade.” De fato, “a fonte central do problema”, segundo ele, “é que a teologia não tem mais certeza de seus dados”: o estudo das Escrituras foi desconstruído a ponto de a Bíblia não ter mais autoridade suficiente para fundamentar a teologia.
Tomadas em conjunto, as afirmações de Olson e de Montgomery oferecem dois pontos vitais para levarmos em consideração. Para ressucitar o estudo da teologia, devemos resgatar tanto seu objeto quanto sua fonte.
Primeiro, o objeto principal da teologia é Deus. O teólogo britânico John Webster disse: “O princípio ontológico da teologia é o próprio Deus — não algum ente proposto, mas o Senhor que, da plenitude insondável de seu ser triúno, amorosamente se estende às criaturas em Palavra e Espírito”. Ele também clamou por um avivamento da teologia como havia sido proposto no passado, no qual “Deus não é convocado à presença da razão; a razão é convocada diante da presença de Deus”.
Como C. S. Lewis certa vez declarou: “Eu acredito no cristianismo assim como acredito que o sol nasce: não apenas porque o vejo, mas porque, por meio dele, vejo todo o resto”. Se tudo na vida, nisso incluindo todas as disciplinas educacionais, só pode ser visto de forma adequada e plena à luz da verdade de Deus, então, a teologia (especificamente como disciplina acadêmica, rigorosa e cuidadosa) é pertinente a todos os aspectos da vida. Em outras palavras, se Deus existe e criou o universo, então, a teologia importa universalmente.
Segundo, a fonte dos dados da teologia não é outra senão a Bíblia, ordenada por Deus para sua autorrevelação. Webster pediu um retorno à “teologia teológica” mediante o envolvimento com textos cristãos clássicos e uma fundamentação das alegações em exegese bíblica sólida. “A Escritura é o lugar para o qual a teologia é direcionada a fim de encontrar seu objeto de estudo e a norma pela qual suas representações são avaliadas”, ele disse. E como Montgomery alertou: “Ou a Escritura fala unívocamente de Deus, ou a morte da teologia é uma certeza inquestionável.”
Resgatar esses dois elementos — o objeto e a fonte da teologia — deve permanecer em nossa mente como prioridade, se quisermos ver a teologia restaurada ao lugar que historicamente ocupou em nosso mundo. E, felizmente, acredito que os ventos podem finalmente estar mudando nessa direção, à medida que os teólogos de hoje estão trazendo a relevância da verdade de Deus para as preocupações contemporâneas e usando essa lente para se envolver com várias áreas de estudo.
Houve desdobramentos recentes na teologia analítica e na teologia engajada com a ciência, por exemplo, que receberam ampla atenção e estimularam uma série de publicações, conferências, eventos e discussões produtivas. Esses campos em expansão sustentam a natureza “científica” da teologia — tanto em sua linguagem quanto em seu conteúdo conceitual — para que ela esteja melhor equipada para dialogar com outras disciplinas acadêmicas. Esse movimento, sem dúvida, permite que a teologia lance luz em campos sociológicos e científicos, fornecendo confirmação sobre algumas questões ou esclarecendo outras.
Uma área específica a fornecer recursos da teologia evangélica é a doutrina da criação. Considere o Creation Project [Projeto Criação], do Carl F. H. Henry Center, e os vários volumes publicados nos últimos anos, que demonstram como a doutrina da criação tem importância para todas as áreas de interesse científico. Questões como a idade da Terra, Adão e Eva e evolução ainda são discussões vivas entre teólogos, e por um bom motivo. Nas palavras do teólogo John Polkinghorne: “A ciência não pode dizer à teologia como construir uma doutrina da criação, mas não se pode construir uma doutrina da criação sem levar em conta a idade do universo e o caráter evolutivo da história cósmica”.
E por falar em cosmologia — o estudo do universo e nosso lugar nele — alguns teólogos estão fazendo uma volta contemporânea ao design inteligente cristão em sua defesa do teísmo. Isso lança luz sobre campos adjacentes — como biologia, física, química, cuidado da criação e estudos da consciência —, na intersecção entre ciência e religião. Alguns teólogos até têm algo a dizer sobre o potencial de vida extraterrestre e suas implicações para a existência de Deus e para a teologia em geral.
Também houve um renascimento da investigação teológica sobre a vida após a morte — um tópico sobre o qual muitas pessoas, religiosas ou não, frequentemente se perguntam —, como fica evidenciado por uma série de livros lançados recentemente sobre o céu, o inferno e o estado intermediário. Teólogos cristãos estão mostrando que têm algo vital a dizer sobre experiências de quase morte, e também estão aprofundando nossa compreensão de doutrinas negligenciadas como deificação, transfiguração, bem como a ressurreição e a ascensão de Cristo.
Outra área de investimento que foi revitalizada é a doutrina da humanidade e como ela tem pontos de contato com quase todas as preocupações contemporâneas. Como um artigo da CT explica: “Teólogos evangélicos estão pegando tópicos que ‘tendemos a considerar mais sociológicos’ … e mostrando que eles são, de fato, ‘profundamente teológicos’”. Trabalhos recentes notáveis reforçam a importância, para outras disciplinas, da antropologia vista das perspectivas teológica e cristológica.
Por exemplo, os avanços da ciência, da medicina e da tecnologia despertaram um interesse renovado em áreas como psicologia, deficiência, demência, neurociência e a ética da vida nos cuidados de saúde reprodutiva e paliativa. Da mesma forma, o advento da inteligência artificial e do transumanismo, ou “tecno-humanismo” — que prioriza organismos humanos tecnologicamente avançados em detrimento da “mera” humanidade — trouxe à tona antigos questionamentos sobre o que define a natureza humana e o que separa nossa consciência de outras criaturas ou entidades tecnológicas.
“Quanto mais tecnológica uma sociedade se torna”, disse o teólogo Gabriel Vahanian, “mais ela se preocupa com questões espirituais”.
Tais desdobramentos representam oportunidades significativas para os teólogos consolidarem uma voz de autoridade sobre questões existenciais e éticas urgentes do mundo de hoje — em todas as áreas, desde política até saúde pública. E, felizmente, estamos vendo sinais de que a erudição teológica está de fato descendo da torre de marfim da academia para se envolver em discussões vitais, que impactam todas as facetas da nossa vida contemporânea.
A transcendência da teologia como disciplina informativa para todas as demais disciplinas é o que continuará a atrair a mente e o coração dos jovens — como um dia atraiu os meus. Na minha fase de amadurecimento, eu ansiava por entender o mistério do evangelho e a riqueza da criação de Deus, sabendo que, para entender o mundo de verdade, é preciso abordá-lo à luz de seu Criador e Redentor. Como o salmista afirma no Salmo 19: “Os céus declaram a glória de Deus”, e, como Paulo nos diz, os atributos de Deus e seu caráter são revelados em sua criação (Romanos 1.20). Toda a criação está constantemente apontando para seu Criador.
Quando eu estudava na faculdade e no seminário, percebi que a teologia não é meramente uma abordagem metodológica rica para questões de importância vital; é também uma cultura em si mesma e, em última análise, uma prática espiritualmente formativa que pode levar a comunidade cristã à maturidade piedosa. A teologia é o processo gradual de permitir que a palavra de Cristo habite em nós ricamente (Colossenses 3.16).
Porque Deus falou e continua a falar, a teologia não só ainda importa — ela é necessária. Sem a voz de Deus, nossa compreensão do mundo é limitada. Embora alguns secularistas possam sugerir que as ciências naturais são capazes de nos dar tudo o que precisamos, elas nunca conseguem nos dar uma perspectiva coerente sobre o mundo e nosso lugar nele, e muito menos nos dizer o que é importante e significativo.
Hoje, temos bons motivos para ter esperança de que a teologia possa, um dia, recuperar seu lugar de direito como rainha das disciplinas e ser restaurada a seu papel vital de manter a saúde de nossas igrejas locais. A teologia, quando feita da forma correta, deve impulsionar a igreja global a cultivar uma comunidade de fé mais profunda, bem como uma face pública que convoque o mundo para uma vida mais elevada e melhor.
Toda vez que nos envolvemos no trabalho da teologia, ecoamos as palavras de Francis Schaeffer, que proclamou, alguns anos após o anúncio da morte de Deus pela Time: “Deus está presente e não está em silêncio”.
Joshua R. Farris faz parte do corpo docente de pesquisa da Ruhr Universität Bochum, na Alemanha, e é o fundador do Soul Science Ministries e do Spiritually Driven Leadership [Ministério da Ciência da Alma e Liderança Espiritualmente Orientada]. Seus livros mais recentes são The Creation of Self [A criação do “eu”], The Banquet of Souls: A Mirror to the Universe [O Banquete das Almas: Um espelho para o universo] e Humanizing AI Business [Humanizando os negócios de IA].