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Mike Bickle é acusado de abusar de uma menina de 14 anos, antes da fundação da IHOP

O ministério de oração sediado em Kansas City pediu desculpas e clamou por arrependimento, depois que outra vítima se manifestou.

Mike Bickle, fundador da IHOPKC.

Mike Bickle, fundador da IHOPKC.

Christianity Today February 19, 2024
Shane Keyser / Kansas City Star / Tribune News Service via Getty Images

Diante do surgimento de novas acusações contra seu fundador, Mike Bickle, a International House of Prayer Kansas City (IHOPKC) cancelou a transmissão ao vivo da sala de oração — que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana —, e cujo formato é característico da IHOP.

Na noite de quinta-feira (08/02), a tela da transmissão dizia: “A IHOPKC está entrando em um período de oração e arrependimento”. No dia anterior, o Kansas City Star publicou a história de uma mulher que disse ter sido abusada por Bickle aos 14 anos de idade, nos anos 80, quando ela era babá da família dele e ele era pastor em St. Louis.

A IHOPKC divulgou uma declaração condenando as ações “predatórias e abusivas” de Bickle, apoiando suas vítimas e pedindo desculpas por sua resposta inicial de permitir que ele se defendesse, quando as acusações surgiram, no ano passado.

O ministério cortou relações com Bickle em dezembro, mas isso não impediu que outras revelações e preocupações surgissem em torno da IHOPKC e de sua liderança.

Em um relatório de sete páginas, divulgado na semana passada, a empresa de investigação contratada pela IHOPKC para analisar as acusações de abuso contra Bickle concluiu:

Com base em todas as evidências confiáveis, incluindo o próprio reconhecimento [de Bickle] de ter feito contato com as duas Jane Does há mais de vinte anos, é mais provável que [Bickle] tenha adotado um comportamento inadequado, incluindo contato sexual e má conduta clerical, e caracterizando abuso de poder de uma pessoa em uma posição de confiança e liderança.

Os dois casos que Bickle reconhece — um deles como “comportamento inadequado”, que inclui duas ocorrências envolvendo beijo e outro que ele descreve como “contato sexual consensual, em que ela me tocou, mas eu não a toquei” — ocorreram em 1999 e 2002-2003.

O relatório não é exaustivo; ao menos duas das supostas vítimas de Bickle não participaram dos termos da investigação e estão pedindo que se faça uma investigação “verdadeiramente independente por terceiros”.

O relatório também não incluiu o último relato da ex-babá, Tammy Woods, que acabou de quebrar seu silêncio de 43 anos, a fim de denunciar o abuso à sua família, ao seu pastor e à polícia.

Woods disse ao Kansas City Star que conheceu Bickle na igreja, e o relacionamento entre eles cresceu de uma mentoria amigável e de incentivo espiritual para uma expressão de sentimentos um pelo outro. A amiga de infância e a irmã mais nova de Wood também contaram que o pastor tinha um vínculo estranhamente próximo com ela, quando a jovem entrou no ensino médio.

Woods disse que quando tinha 14 anos e Bickle tinha 25, eles se beijaram em segredo e progrediram para carícias e toques sexuais. Ela disse ao jornal: “Ele moveu minha mão para tocá-lo sexualmente. E ele também me tocou”.

Woods, hoje com 57 anos, contou um detalhe que outras vítimas também compartilharam: Bickle lhe disse que acreditava que sua esposa morreria e que eles poderiam ficar juntos.

De acordo com Woods, Bickle “se angustiava com sua falha” e pedia desculpas, depois de passar dos limites com ela fisicamente, e ela prometeu guardar o segredo dele até o túmulo, quando ele se mudou de St. Louis para Kansas City, em 1983.

Eles mantiveram contato intermitente ao longo dos anos, encontrando-se algumas vezes em ambientes ministeriais, segundo ela. Woods, que mora em Michigan, trocou mensagens de texto com Bickle, depois que as acusações vieram a público, em outubro, e quando ele fez uma declaração, em dezembro. Ela relata que ele lhe disse: “Eu sei que você disse ao longo dos anos que me perdoou, mas eu só quero dizer isso novamente. Por favor, me perdoe. Eu não tinha noção de nada. Eu poderia ter ido para a cadeia”.

Bickle não respondeu publicamente ao relato de Woods.

O grupo que apresentou as acusações — formado por ex-líderes da IHOPKC que procuraram Bickle e seu ministério com as denúncias, no fim de 2023 — defendeu sua preocupação, depois que algumas mulheres que se autodenominam “jamais seremos uma Jane Doe” se manifestaram contra sua inclusão no grupo inicial de acusações, e disseram que não eram vítimas de Bickle.

Em um vídeo desse grupo, os integrantes Dean Briggs e John Chisholm explicaram que se demitiram da liderança da IHOPKC em setembro, por causa de outro incidente: o tratamento indevido que foi dado pelo ministério a um suposto envolvimento amoroso entre o filho de Mike Bickle e a esposa de um funcionário da IHOPKC. Eles citaram um testemunho de 50 páginas, dado pelo marido da mulher, que, segundo eles, foi apresentado aos principais líderes.

Outras pessoas deixaram o ministério em meio às contínuas revelações sobre Bickle, entre elas o antigo diretor-executivo da IHOPKC, Stuart Greaves, e o ex-presidente da Universidade IHOP, David Silker.

Eric Volz, responsável pelas comunicações sobre a crise e que estava gerenciando a resposta pública da IHOPKC, concluiu seu trabalho para o ministério na semana passada. Na quarta-feira, ele disse que nem ele “nem a IHOP” estavam cientes das acusações de Woods.

Boz Tchividjian, advogado e ativista contra casos de abusos, que está representando pelo menos uma das vítimas de Bickle, criticou a resposta do ministério.

“Os líderes da IHOPKC deveriam escrever um livro sobre as medidas que as comunidades cristãs tóxicas podem tomar para falhar miseravelmente em proteger aqueles com menos poder e, ao mesmo tempo, marginalizar e difamar outros que trazem luz à escuridão”, escreveu ele no Threads. “Tudo começa com uma liderança que abraça a arrogância e a ignorância”.

O escândalo frustrou ex-membros da IHOP que dizem ter vivenciado uma cultura doentia no ministério e que estão orando por mais transparência e responsabilização. Nas últimas semanas, líderes carismáticos que estiveram próximos ao movimento também se manifestaram sobre o escândalo.

Lou Engle, fundador do ministério de oração TheCall [O Chamado], passou cinco anos na IHOP e fundou a Justice House of Prayer [Casa de Oração Justiça], em Washington, D.C. Ele divulgou uma declaração na terça-feira, dizendo que acredita no grupo que apresentou as acusações e em “Jane Doe”, que está orando por uma confissão completa de Bickle e que deseja ver uma investigação independente por mútuo acordo.

Clamando por “extrema contrição”, Engle escreveu que Deus está de olho “na tolerância da frouxidão moral e da imoralidade sexual — e especialmente nos abusos cometidos pelo clero na igreja” e que os líderes precisam ouvir o clamor de “milhares de mulheres […] que foram feridas por líderes no corpo de Cristo”.

Há duas semanas, Jeremiah Johnson, que se autodenomina profeta, compartilhou um sonho em que ele dizia a Bickle que este estava sendo exposto e que o movimento se deslocaria de Kansas City para as nações. Ele pediu a seus seguidores que orassem pela situação na IHOPKC, pelo futuro do movimento de oração e por verdade e arrependimento.

O evangelista Matt Brown, que estava entre os muitos que sintonizavam a transmissão ao vivo da oração da IHOP, disse que estava enojado com as acusações contra Bickle e com sua confissão parcial.

“Não tenho a menor ideia de como explicar de que maneira alguém que se dedicou tanto a um movimento de oração pode manipular e abusar secretamente daqueles que estão sob seus cuidados ministeriais. Isso é absolutamente errado e maligno”, disse Brown, fundador do ministério Think Eternity [Pense na Eternidade].

Tenho a sensação de que haverá muitos “órfãos” no movimento de oração. Eu oro por cura e consolo para aqueles de quem ele abusou, pela exposição de tudo que tenha sido feito e por misericórdia para muitas pessoas de oração que também ficaram confusas e arrasadas.”

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