Em 2021, o Springtide Research Institute publicou um relatório sobre o “Estado da Religião e dos Jovens”. A partir dos dados reunidos, o instituto identificou uma tendência que chamou de “fé desagregada”.
• 53% dos jovens disseram: “Concordo com algumas coisas, mas não com todas as coisas que a minha religião ensina”.
• 55% dos jovens disseram: “Não sinto que preciso estar ligado a uma religião específica”.
• 47% dos jovens disseram: “Sinto que poderia enquadrar-me em muitas religiões diferentes”.
Esses números não foram uma surpresa para mim. A Geração Z é ao mesmo tempo o grupo etário com maior diversidade racial e étnica e o menos religioso da história americana. Em 2019, o instituto de pesquisas Barna Group descobriu que, entre os cristãos praticantes, os millennials “informaram uma taxa (mediana) de quatro amigos próximos ou familiares que praticam uma fé diferente do cristianismo; a maioria dos pais e avós da geração Baby Boomers, em comparação, tinha apenas um.” Presumo que este número seja ainda maior entre os meus pares cristãos, à medida que nos encontramos em comunidades com pessoas de outras religiões e com os “sem igreja”.
Os dados também mostram que os membros da Geração Z olham com desconfiança os espaços religiosos tradicionais. Segundo o relatório do Instituto Springtide:
• 55% dos jovens disseram: “Não sinto que posso ser eu mesmo numa congregação religiosa.”
• 45% dos jovens disseram: “Não me sinto seguro dentro de instituições religiosas ou relacionadas a alguma fé”.
• 47% dos jovens disseram: “Não confio na religião, na fé ou em líderes religiosos deste tipo de organizações”.
• Quase 50% dos jovens disseram ao Instituto Springtide que não recorrem às comunidades religiosas devido à falta de confiança nas pessoas, nas crenças e nos sistemas da religião organizada.
Quando ouvem falar sobre as formas como a Geração Z está “desagregando” ou “desconstruindo” a sua fé, os cristãos mais velhos podem ficar temerosos. Talvez uma mentalidade aberta seja algo equivalente a relativismo moral. Talvez a confiança perdida não possa ser recuperada.
Como membro da Geração Z, não compartilho dessa preocupação. Muitas vezes, estar em diálogo com pessoas com outras perspectivas nos leva de volta à “Verdade” objetiva com V maiúsculo ― e não para longe dela. À medida que amadurecemos na fé, precisamos de cristãos mais velhos que nos apoiem nessa avaliação, em vez de cristãos que recuam diante das nossas questões e preocupações.
Este outono, como parte da nossa Iniciativa NextGen e em parceria com a TENx10, a CT organizou uma série de workshops de escrita, para cristãos no fim da adolescência e começo dos vinte anos. A nossa esperança era ver mais jovens em nossas páginas, refletindo a diversidade geracional da igreja e permitindo que os crentes mais velhos compreendessem melhor os pontos fortes e os desafios dos seus irmãos e irmãs mais jovens na fé.
Para começar, selecionamos algumas respostas enviadas pelos participantes do workshop, para a pergunta a seguir.
Claire Nelson, Coordenadora do Projeto Impacto, CT.
Como os crentes mais velhos podem apoiar melhor os cristãos da Geração Z?
Os crentes mais velhos podem apoiar melhor os cristãos da Geração Z abandonando a mentalidade do tipo “não pergunte, não fale” em relação a assuntos como sexo e intimidade, a qual prevaleceu nos círculos cristãos nas últimas décadas.
Durante os meus anos do ensino fundamental e do ensino médio, na década de 2010, sofri muitas das repercussões dessa cultura da pureza ― vergonha do corpo, sexualização de mulheres jovens e uso de táticas de medo para afastar os adolescentes do sexo antes do casamento. A minha experiência em grupos de jovens foi uma fusão bizarra de uma hiperfixação nos corpos das mulheres e da “ameaça” que representávamos aos nossos equivalentes masculinos, combinada com uma aversão (e muitas vezes com um medo) de temas como intimidade e sexualidade.
As narrativas que aprendi na igreja me levaram a acreditar que meu corpo era algo perigoso, que os homens eram monstros cheios de lascívia em quem não se podia confiar e que, contanto que eu esperasse até o casamento, minha vida sexual seria abençoada e gratificante. Cheguei aos vinte anos sem nenhum conhecimento prático sobre como tratar relacionamentos saudáveis ou questões sexuais ligadas à nossa condição caída. A única coisa de que eu tinha certeza era que as mulheres da minha igreja não se sentiam à vontade para discutir as coisas sobre as quais eu precisava conversar.
Recentemente, quando comecei a abordar timidamente tópicos sobre sexualidade com mulheres da minha idade, descobri que estamos todos desesperados por conselhos sábios sobre nossos corpos, sobre o casamento e sobre a feminilidade piedosa. Também descobri que a maioria de nós não acha que existam muitas mulheres na igreja com quem a gente se sente seguro para discutir esses tópicos.
Quando comecei a namorar, percebi que homens da minha idade também estão à procura de ajuda. Os homens da Geração Z estão em busca de ajuda para lidar com questões sexuais ligadas à nossa condição caída, e anseiam por orientação masculina quando pensam em casamento e paternidade.
Como Cristo disse: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mateus 9.37). A geração mais velha pode apoiar melhor a Geração Z preocupando-se o suficiente para superar o seu próprio constrangimento em relação a estes tópicos e promovendo conversas francas com a geração mais jovem. O mundo secular tem muito a dizer sobre o que significa ser homem ou mulher no mundo moderno. A cultura popular não é tímida quando se trata de sexo, portanto, a igreja também não deveria ser.
Os cristãos da Geração Z querem e precisam que os cristãos mais velhos sejam honestos sobre o que significa ser uma mulher de Deus. O que é preciso para superar o vício sexual. O que significa ter um casamento centrado em Cristo. Não é uma questão de saber se a geração mais jovem aprenderá ou não sobre casamento, sexo ou prazer. É uma questão de quem está ensinando isso. Meu apelo aos cristãos que vieram antes de mim é: por favor, que o professor seja você.
Olivia Voegtle é escritora, musicista e editora freelance que mora na cidade de Nova York. Ela fez seu bacharelado em Inglês no The King's College.
Não podemos permitir que diferenças entre gerações impeçam a nossa “irmandade espiritual”.
Os crentes mais velhos que tentam apoiar a Geração Z não deveriam estar pensando em como podem adaptar melhor os seus métodos de discipulado e suas estratégias de ministério à cultura jovem. Isso logo parece artificial e indulgente. Em vez disso, pensem: como os crentes mais velhos podem ser construtivos para a cultura da Geração Z?
Grande parte da conversa sobre as diferenças entre as gerações gira em torno de como o distanciamento é irreparável. E se os cristãos fossem um grupo demográfico que contrariasse essa tendência? O que tantos crentes da Geração Z procuram é não serem mais vistos como crianças, mas sim receberem uma dose de respeito. Não o tipo de honra conquistada por profissionais, professores ou políticos ― mas o respeito que naturalmente se atribui aos adultos.
Uma forma eficaz de respeitar alguém, mas muitas vezes esquecida, é considerá-lo digno de amizade. Muitas vezes, os cristãos mais velhos querem “discipular” os mais jovens sem ter qualquer tipo de relacionamento pré-existente. Os jovens cristãos não querem ser discipulados por qualquer cristão mais velho, mas sim por alguém que eles queiram imitar. Como eles podem saber se querem imitar alguém sem nem conhecer essa pessoa?
Se estivermos conscientes do fato de que somos todos irmãos e irmãs em Cristo, há espaço para que pessoas separadas por uma, duas ou até três gerações sejam verdadeiramente amigas. Quando as gerações mais velhas encaram uma ligação com alguém da Geração Z como uma oportunidade de serviço ou de evangelização, isso muitas vezes deixa a geração mais jovem na posição de alguém digno de pena, humilhado, e até mesmo igualado a um projeto (1Timóteo 4.12). Muito melhor seria se a geração mais velha de cristãos pudesse olhar para a Geração Z como seus irmãos e irmãs em Cristo; como sua própria família (1Timóteo 5.1-2; Efésios 3.19-22; Gálatas 6.10; Tito 2.1-8).
Não seria irracional nem inimaginável, mas, na cultura de hoje, esta amizade entre gerações certamente não seria convencional. Na prática, compartilhar um café, refeições e conversas autênticas são formas de promover esta “irmandade espiritual” (1Pedro 4.9). Imagine a influência que emanaria de uma igreja que pudesse promover com sucesso esse tipo de relacionamento. A vida não apenas com pares ou iguais, mas com irmãos, pais, primos, tias, tios espirituais — com uma família espiritual que seja um reflexo do reino.
Elijah O’Dell é pregador associado e líder de louvor; ele mora no Centro-Oeste dos EUA.
Em Tito 2, Paulo incentiva homens e mulheres de Deus não só a viverem de acordo com a Palavra de Deus, mas também a ensinarem, treinarem e encorajarem os crentes mais jovens a viverem a vida para a qual Deus os chamou.
Quando os crentes da Geração Z florescem espiritualmente, esse florescer não permanece em suas igrejas ou em seus ministérios universitários. Estende-se para além dos seus círculos cristãos, plantando sementes da Palavra de Deus entre as pessoas ao seu redor. A orientação espiritual não apenas fortalece um jovem cristão, mas também equipa o jovem crente a compartilhar amor e sabedoria com os incrédulos ao seu redor, fazendo com que sejam como faróis de luz e verdade para o evangelho.
Em Mateus 5.16, Jesus diz: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. Quando vivem o amor, a santidade e a justiça de Cristo, os crentes alcançam o mundo.
Se não houver companheirismo e amizade genuína entre os crentes mais velhos e a Geração Z, os crentes jovens perderão encorajadores exemplos do poder de Deus.
Hannah Davis está no último ano da faculdade, onde estuda língua inglesa. Ela passou o verão passado na África do Sul, em um estágio de jornalismo cristão.
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