History

As 10 principais descobertas da arqueologia bíblica em 2023

Do antigo DNA israelita a um fosso ao redor de Jerusalém, estas são as descobertas que deixaram os estudiosos do mundo bíblico maravilhados no ano passado.

Homens palestinos trabalham na escavação de um cemitério romano, na cidade de Gaza.

Homens palestinos trabalham na escavação de um cemitério romano, na cidade de Gaza.

Christianity Today January 12, 2024
Image: Majdi Fathi/NurPhoto via AP

As principais histórias da arqueologia bíblica de 2023 contêm muita desgraça, destruição e decepção. Elas também contêm mistérios que podem ser solucinados por escavações futuras — e talvez, em um caso específico, tragam a solução para uma controvérsia contínua, que tem atormentado os estudiosos do Novo Testamento na última década.

É evidente que descobertas realmente importantes de 2023 podem não ser conhecidas por anos, pois leva tempo para que os arqueólogos estudem cuidadosamente os achados de suas pesquisas e, depois, publiquem suas descobertas em revistas científicas. Mas estas que citamos abaixo são algumas das histórias que geraram manchetes para a arqueologia bíblica em 2023.

10. Túmulos perdidos em Gaza

Perto do final de setembro, arqueólogos que estavam na cidade de Gaza anunciaram a descoberta de túmulos em um cemitério da era romana. As equipes, que trabalham sob o comando do arqueólogo francês René Elter, encontraram informações importantes sobre a vida das pessoas que habitavam ao longo dessa rota comercial costeira, há 2.000 anos. Eles encontraram dois caixões de chumbo extremamente raros — um decorado com folhas de uva ornamentadas e o outro com imagens de golfinhos — sugerindo que elites da sociedade haviam sido enterradas ali.

“Um terreno construído que não chama a atenção — cercado por um mar de prédios de apartamentos que nada têm de especial — tornou-se uma mina de ouro para os arqueólogos”, informou a Associated Press.

Duas semanas depois, militantes do Hamas, provenientes de Gaza, atacaram Israel, precipitando uma guerra dispendiosa que provavelmente arrasou esses prédios de apartamentos de aparência comum, deslocando e talvez matando seus habitantes. O que aconteceu com as pessoas que trabalhavam no local e com o próprio local é algo desconhecido no momento. Elter respondeu a uma pergunta sobre sua segurança, mas não entrou em detalhes sobre a escavação.

A guerra, obviamente, interrompeu o trabalho da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA, na sigla em inglês) em todo o país. Alguns arqueólogos da IAA, com experiência adquirida no estudo de desastres antigos, viram suas habilidades serem requisitadas para um tipo diferente de trabalho. Eles foram chamados para ir às comunidades judaicas atacadas pelo Hamas e ajudar a encontrar e a identificar restos humanos.

“Uma coisa é escavar restos de destruição de 2.000 anos atrás; outra coisa bem diferente — desoladora e impensável — é realizar a tarefa atual de procurar evidências [dos corpos] de nossas irmãs e de nossos irmãos nos assentamentos”, disse a IAA.

Eles encontraram evidências que ajudaram a identificar pelo menos 10 pessoas mortas, que até então eram consideradas desaparecidas.

9. Antigo DNA israelita

Quase perdido, em meio a notícias sobre a guerra, foi o anúncio, feito no início de outubro, da recuperação de DNA de antigos israelitas do período do Primeiro Templo. O material genético foi extraído de dois indivíduos, cujos restos mortais foram encontrados em uma tumba familiar, que fica a oeste de Jerusalém, datada de cerca de 750-650 a.C.

O feito foi descrito como “um Santo Graal no estudo da civilização perdida”, que “promete abrir caminho para mais pesquisas sobre questionamentos de longa data a respeito das origens dos antigos israelitas”.

Os resultados preliminares deveriam ser discutidos em uma conferência sobre novas descobertas arqueológicas, mas o encontro foi adiado, devido ao conflito entre Israel e o Hamas.

8. Evidências antigas de uma guerra ancestral

A Bíblia descreve guerras que remontam à época de Abraão, em Gênesis 14. Agora, os arqueólogos descobriram evidências de conflito armado de vários milhares de anos antes, do período Calcolítico inicial, cerca de 5800-4500 a.C.

Centenas de pedras de funda — talhadas em um formato uniforme e aerodinâmico — foram descobertas em dois locais diferentes em Israel. Isso indica uma preparação organizada para a batalha. O tamanho dos dois sítios pré-históricos, na Baixa Galileia e na planície de Sarom (ao norte), mostra que eram necessárias muitas pessoas para se preparar para uma guerra.

7. Terremoto em Antioquia

Em 2022, arqueólogos turcos começaram a trabalhar pela primeira vez em áreas residenciais de Antakya, local em que ficava a antiga cidade de Antioquia, onde os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos pela primeira vez. A escavação gerou esperanças sobre a possibilidade de muitas novas descobertas sobre a vida em Antioquia. Mas, em 6 de fevereiro, um terremoto atingiu a Turquia e a Síria.

Antakya foi uma das cidades mais devastadas, com mais de 35.000 mortos. A parte antiga da cidade, que incluía monumentos de sua história diversificada, que remonta ao primeiro século e até antes disso, acabou em escombros. Os planos de escavação estão permanentemente suspensos.

6. A decepção de Siloé

Por quase duas décadas, os visitantes de Jerusalém têm visto degraus que ficavam em um dos lados do tanque de Siloé, nos tempos do Novo Testamento. O tanque era um local de purificação ritual para peregrinos judeus, antes de eles subirem para o templo. Em João 9, Jesus cura um homem cego e diz a ele para se lavar no tanque de Siloé.

Os degraus foram descobertos acidentalmente, durante um conserto de esgoto, em 2004. Mas a escavação foi limitada, para preservar um pomar. No entanto, os arqueólogos e as autoridades locais ficaram tentados com a possibilidade de encontrar mais coisas e decidiram arrasar o pomar para fazer uma escavação mais completa. Nada foi encontrado. Aparentemente, os degraus foram preservados quando uma estrada foi construída sobre eles, mas o restante das pedras do tanque não está lá. É provável que tenham sido levadas, em tempos antigos, e aproveitadas em outros projetos de construção.

5. Salmo 86 encontrado no topo de uma montanha no deserto

Arqueólogos escalaram até Hyrcania, uma fortaleza no topo de uma montanha no deserto, com vista para o mar Morto, para uma primeira temporada de escavações. A fortaleza foi construída pelos asmoneus, depois usada como prisão por Herodes, o Grande, e, mais tarde, como mosteiro bizantino. Em meio a uma camada de pedras da construção que desmoronaram, os arqueólogos descobriram, pintado em vermelho, um grafite de uma simples cruz com uma inscrição embaixo. Era uma oração que citava parte do Salmo 86: “Jesus Cristo, guarda-me, pois sou pobre e necessitado”.

A inscrição foi datada do século 6 d.C., a julgar pelo estilo epigráfico.

4. Davi e Salomão recuperam sua importância

Descartados como líderes de menor importância por minimalistas bíblicos, por várias décadas, os reis israelitas de 3.000 anos atrás mostraram uma resiliência notável em 2023. Um artigo publicado no meio do ano, pelo arqueólogo Yosef Garfinkel, da Universidade Hebraica, analisou escavações feitas em cinco locais ao redor de Jerusalém e concluiu que suas fortificações semelhantes, bem como outras características urbanas correspondiam à descrição bíblica de um reino centralizado naquele período.

“Essas cidades não estão localizadas no meio do nada”, escreveu ele. “É um padrão urbanístico com o mesmo conceito urbano.”

Os arqueólogos, que escavaram Tel Gezer por uma década, publicaram em novembro resultados de testes de radiocarbono que dataram a construção do famoso portão de seis câmaras de Gezer na primeira metade do século 10 a.C. Isso parece dar suporte a 1Reis 9.15, que descreve Salomão recrutando mão de obra para trabalhar em Jerusalém, Hazor, Megido e Gezer.

“Isso coloca Davi e Salomão de volta na discussão, por estarem envolvidos em pelo menos parte da arquitetura monumental da área”, disse Lyndelle Webster, do Instituto Arqueológico Austríaco, e principal autora do estudo.

3. O mistério do arco de tijolos de barro em Tel Shimron

Um arco de tijolos de barro, extraordinariamente bem preservado, foi cuidadosamente escavado na acrópole de uma cidade cananeia com vista para o Vale de Jezreel, no norte de Israel. O arco vai de um corredor abobadado até o tel, um monte arqueológico composto de camadas. Sua extremidade final ainda não foi descoberta.

A finalidade do arco ainda não é conhecida, embora alguns especulem que ele tenha um significado cúltico. O arco parece ter sido preservado por ter sido enterrado novamente, logo após a construção.

Shimron, pouco mencionada na Bíblia, foi amplamente ignorada pelos arqueólogos até o início da escavação atual, em 2017. A cidade cobria 48 acres em seu auge, no período do Bronze Médio, há 4.000 anos.

2. Identificando Betsaida na costa da Galileia

Os arqueólogos têm escavado cuidadosamente os restos de uma basílica bizantina perto do mar da Galileia, convencidos de que estão descobrindo o verdadeiro local de Betsaida. No ano passado, eles encontraram uma inscrição em mosaico que faz referência ao “chefe e comandante dos apóstolos celestiais”, o que sugere que essa antiga igreja pode ter sido construída para homenagear Pedro. De acordo com a tradição, a Igreja dos Apóstolos foi construída sobre a casa dos apóstolos Pedro e André. Essa descoberta foi a número 6 em nossa lista de histórias de arqueologia de 2022.

Em 2023, a escavação recebeu maior destaque por descobrir, nas profundezas da abside, os restos de uma muralha do primeiro século. A descoberta dá mais peso ao argumento de que essa é a histórica Betsaida, e não et-Tel, um sítio que fica a vários quilômetros para o interior.

A continuação da escavação poderia nos contar mais sobre a vida dos primeiros apóstolos. João chama Betsaida de a cidade de André e Pedro. Marcos, porém, sugere que ele [Pedro] viveu em Cafarnaum. Será que Pedro viveu em duas vilas de pescadores diferentes? Uma escavação em meados do século 20 alegou ter descoberto a casa de Pedro. O local agora é ocupado por uma igreja ultramoderna, em forma de disco voador. Talvez a clareza sobre o local venha com mais descobertas da arqueologia.

1. O misterioso fosso de Jerusalém

Os arqueólogos ficaram perplexos com os canais escavados no leito rochoso da parte mais antiga de Jerusalém. Eles poderiam ter sido projetados para algum tipo de produção industrial de líquidos? Os especialistas arriscaram várias suposições e até chamaram uma equipe de CSI [que investiga cenas de crimes], do Departamento de Polícia de Jerusalém, para tentar solucionar o mistério.

Em seguida, descobriram que os canais faziam parte de um fosso que datava do século 9. De acordo com um relatório, publicado no outono de 2023, o fosso separava o monte do Templo da área mais antiga e mais baixa da Cidade de Davi, quando Jerusalém era a capital de Judá, e possivelmente centenas de anos antes.

“Em todas as nossas reconstruções de como era Jerusalém naquela época, temos apenas uma paisagem urbana contínua que vai do monte do Templo até a parte baixa da Cidade de Davi”, disse o codiretor da escavação, Yiftah Shalev. “Essa descoberta muda completamente esse cenário.”

O fosso, com quase 30 metros de largura e pelo menos 6 metros de profundidade, havia sido visto nas escavações anteriores de Kathleen Kenyon, mais a leste, mas os especialistas acharam que era uma característica natural da paisagem, e não parte da arquitetura da cidade. Mas Shalev e sua equipe concluíram que o fosso criava uma barreira entre o templo, o palácio e a área onde o restante das pessoas vivia. Em uma época anterior, antes da construção do templo e do palácio, ele pode ter protegido a cidade de um ataque ao norte.

Essa escavação em particular, conhecida como escavação do estacionamento Givati, produziu muitas descobertas surpreendentes, desde que começou, em 2007, entre elas um tesouro de moedas de ouro da era bizantina e telhas de cerâmica que datam do período helenístico. O codiretor da escavação, Yiftah Shalev, estima que ainda há mais um ano de trabalho a ser feito.

Bônus: uma das descobertas mais empolgantes anunciadas em Israel, em 2023, não é tecnicamente do período bíblico. Os arqueólogos entraram em uma caverna perto do mar Morto para ver melhor uma inscrição em estalactite, que tinham notado anteriormente. Na parte superior da caverna, eles viram um pilo [pilum, em latim] com haste pontiaguda, uma arma semelhante a uma lança. Em uma inspeção mais detalhada, eles encontraram um esconderijo de espadas romanas bem preservadas, aparentemente tiradas de soldados durante a revolta de Bar Kokhba, entre 130 e 135 d.C. As espadas ainda estavam em suas bainhas de madeira e couro.

Gordon Govier escreve sobre arqueologia bíblica para a Christianity Today, apresenta o programa de rádio The Book & The Spade , e é editor da revista de notícias sobre arqueologia bíblica ARTIFAX.

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